• Nenhum resultado encontrado

Suspirei fundo ao sair do quarto, tentei ajudá-la, mas nada do que eu fizesse adiantaria naquela situação. Precisava ser forte, mas estava sendo muito difícil.

- Como ela está?

- Na mesma, os médicos falaram que o estado dela é grave, ela entrou no coma muito profundo. Tentei falar com ela, mas não me ouve. Sinto que eu preciso ajudá-la. - Fica calmo Victor, vai dá tudo certo.

- Queria poder acreditar nisso Leonardo, mas não consigo. E se eu perdê-la de vez? - Não fala isso Victor, por favor. – disse Mariani.

- Você é a melhor amiga dela, me diga o que eu posso fazer, eu não quero perdê-la, precisamos animá-la, ela precisa de nós.

Sentei no chão, parecia tão refugiado naquele local, sem querer adormeci com a cabeça na perna de Mariani.

Muitos pensamentos viam em forma de sonhos, me deixando cada vez mais preocupado. Acordei com um susto.

- A culpa foi minha.

- Do que você está falando?

- Foi tudo por minha causa, Kelly me viu e saiu correndo para me encontrar, maldita hora que...

- Victor para com isso, foi um acidente, ficar se culpando só vai piorar as coisas, lamentamos muito é verdade, mas precisamos ser fortes, daqui a pouco ela vai acordar precisará mais que nunca do nosso apoio, principalmente do seu.

De repente alguém entrou em pânico na sala de espera, gritava e chorava bastante. - Onde está a minha filha? O que houve com ela? Preciso vê-la.

Nunca a tinha visto, mas a julgar pelo desespero e o cabelo castanho com certeza deveria ser a mãe de Kelly.

- Senhora Andrews, Kelly está sendo bem cuidada, fica calma. - Mariani o que aconteceu com a minha filhinha?

- Vamos à lanchonete, aposto que não comeu absolutamente nada, vamos tomar um café.

- Não quero comer nada, preciso vê-la, por favor, deixe-me vê-la.

Coloquei minha cabeça entre meus joelhos, o medo, o pavor, a tristeza, tudo tomava conta de mim, inclusive a saudade.

Tentei ficar mais aliviado quando o médico chegou.

- Senhora Andrews, sou Dr. Vicente, especialista no caso da paciente Kelly, infelizmente não poderá ver sua filha agora porque ela está passando por alguns exames, mas quando possível mandarei avisá-la, só peço que fiquem todos calmos, nervosismo só atrapalhará a nossa equipe. Voltarei com mais notícias.

- Obrigada Doutor – respondeu a mãe de Kelly.

- Agora poderemos tomar um café, descansar um pouco, a viajem foi muito longa. Victor você nos acompanha?

- Não, ficarei aqui caso surja alguma novidade. Kelly precisa de mim. - Quem é esse garoto?

- Vamos querida.

Já tive muitas experiências de perdas, frustrações, mas nunca de expectativa,

principalmente quando envolvia a pessoa que amava. Ter Kelly ao meu lado, mesmo que por pouco tempo significou bastante para mim, nunca esqueceria aqueles nossos momentos, o primeiro encontro, o nosso primeiro beijo, enfim, da minha vida. Porque era o que Kelly significava para mim, ela era a minha vida, sem ela nada teria sentido. Mas o que fazer quando o amor da sua vida está tão perto, mas tão distante de você? Quando você sabe que ela escuta, mas não consegue responder? Preferia estar morto ao ter de viver com essa situação. Kelly era tudo pra mim, não queria passar nenhum segundo sequer em um lugar onde ela não esteja.

Vi um homem alto falando com o médico que cuidava do caso de Kelly. Tinha outro rapaz próximo a ele que se debatia muito, chorava bastante. Será a família dela? Provavelmente o pai, e com certeza aquele era o seu irmão de quem ela tanto falava. Não tive muitas duvidas disso, eles se pareciam bastante, principalmente os olhos. Criei coragem para ir falar com ele, me apresentar como namorado da irmã.

- Você está bem? – que pergunta mais estúpida, é lógico que ele não estava bem, a irmã dele está em coma. Idiota. Debati em meus pensamentos.

- Não, nem um pouco bem, minha irmã está muito mal.

- Kelly vai sair dessa, se tivesse aqui agora ficaria muito feliz com a sua presença. - Como você sabe?

- Eu sou o... – não queria que ele soubesse dessa forma. -... Sou um amigo dela. Desculpa não me apresentar, me chamo Victor Oliver. Ela sempre fala de você. Ele me olhou fixamente, depois se contraiu. Algum tempo depois, disse:

- Felipe Andrews. Você sabe como tudo aconteceu?

E agora? Como sair dessa situação? Poderia muito bem dizer: “Sei sim, ela estava vindo ao meu encontro quando um carro desgovernado a atingiu em cheio”, ou poderia simplesmente sair por cima: “Foi apenas um acidente, descuido do motorista,

infelizmente ela estava no lugar errado e na hora errada”, essa explicação teria sentido. Mas como pessoas desesperadas não pensam muito no que vai dizer, sai com essa:

- Não lembro perfeitamente, acredito que ela atravessou sem olhar direito. Uma coisa lamentável.

- Eu não acredito nisso. A minha pequena irmã, ela sempre foi tão indefesa, não conseguia nem descer o corrimão da escada sem se machucar. Sinto falta dela. - Vai ficar tudo bem Felipe, os médicos estão cuidando muito bem dela.

Na realidade não foi uma mentira tão grave assim, quando Kelly acordasse poderia contar tudo para a sua família. Preferi ficar por fora, atuando nos bastidores, disfarçando para que não percebessem o quanto que estava preocupado. Não sabia como lidar com essa situação, estava perto da família de Kelly, qualquer movimento em falso poderia estragar tudo. Será que conto a eles que durante o passeio escolar ela arranjou um namorado? E que foi por causa dele que a filha está nessa situação? Senti uma mão fria sobre o meu ombro.

- Você está bem? - Não.

- Posso te pedir uma coisa? - Pode. –dei de ombros.

- Vai para casa. Você precisa descansar, ficou a noite inteira aqui, Kelly não está sozinha, tem a família, daqui a pouco os amigos dela chegarão e então você vai para casa descansar um pouco, comer alguma coisa, e ainda tem a sua formatura se aproximando, precisa estar disposto, ensaiar. O que me diz?

- Não acredito que está pedindo isso para mim, não posso simplesmente abandoná-la Mariani, preciso ficar com ela, e não vou sair daqui antes de falar com Kelly, que se dane a formatura. Se ela tivesse aqui pediria que eu ficasse.

- Não, se ela tivesse aqui pediria que você fosse ensaiar. - Eu não vou.

- Eu já sabia disso.

- E porque me pediu que fosse?

- Achei melhor arriscar, é até bom ter você por perto.

Dei um sorriso sem expressão. Mariani era muito legal, por isso Kelly a amava bastante.

Uma enfermeira chegou e disse que os exames de Kelly estavam prontos, e que a família podia entrar para vê-la, apenas quinze minutos. Isso com certeza aliviaria o coração aflito da senhora Andrews, ela estava entrando em parafuso.

- Acho que agora podemos fazer uma visitinha á lanchonete.

-UAL! Olha só quem evoluiu. Estou impressionada com você. Lá tem um bolo maravilhoso, você vai ver.

- Não se empolgue. Onde está Leonardo? - Já está lá.

Tinha apenas cinco pessoas em mesas distantes, o que deixava a lanchonete um pouco isolada.

- Nunca pensei que estivesse lanchando em um hospital. - Você não faz esse tipo Mariani. – respondi.

- Pra tudo existe a sua primeira vez. Não concorda meu amor?

- Absolutamente. – disse Leonardo enquanto se esbaldava em uma enorme fatia de bolo de chocolate.

- Vocês formam um casal... Legal.

- Obrigada, você e Kelly também. –disse ele. - Acho melhor voltar, pode ser que ela acorde.

- Relaxa Victor. Você precisa descansar comer alguma coisa, ela estará segura. - Mariani tem toda razão, ficar preocupado não adianta nada, precisa se preocupar com você também.

- Obrigado. É muito importante pra Kelly ter todos os amigos e os familiares aqui, isso só prova o quanto que ela é amada por todos.

Tomei um baita susto quando Mariani se levantou bruscamente. - Diretora Lucy.

- Olá senhorita Houston, senhor Sampaio. – ela passou muito tempo olhando para eles, medindo-os. Depois do longo silêncio ela resolveu falar algo. -Posso sentar?

- Com certeza.

- Temos um aluno novo? - Não, ele é...

- Desculpa a indelicadeza da minha parte, sou Victor Oliver.

- Sei. –ela me encarou por um tempo. - Você é o amiguinho da Kelly? - Não necessariamente senhora, sou o namorado dela.

- Estou ciente do fato. Já a alertei sobre isso, espero que tomem as devidas precauções para que não atrapalhe as nossas férias, quer dizer, á essa altura as férias já estão ameaçadas.

- Então quer dizer que não vamos continuar com as atividades?

- Senhorita Houston, precisamos estar à disposição de Kelly, não podemos continuar com as atividades enquanto ela estiver no hospital, isso pode prejudicá-la, esperaremos até que ela se recupere e voltaremos às atividades. Bom, agora vou falar com os pais dela, pode ser que estejam precisando de ajuda.

- Como quiser Diretora Lucy. Posso acompanhá-la?

- Não se preocupe, pode ficar com os seus amigos, estou bem. Então, até mais. Por apenas uns trinta segundos ficamos em um silêncio constrangedor, mas como sempre Leonardo resolveu falar.

- Ela é legal.

- Quem?- perguntei.

- A diretora, ela é legal. Nunca foi muito com a minha cara, não sei por quê.

- Meu amor, nessa altura do campeonato é melhor nem ficar sabendo. A coisa já tá feia para o nosso lado.

- Feia por quê? – perguntei de novo sem entender nada.

- Você já pensou no que falar para o senhor Andrews? Ele vai querer saber o real motivo do acidente, sobre você. E todos nós estamos envolvidos no seu relacionamento com Kelly, não se esqueça de que Leonardo e eu também contribuímos para manter o segredo de vocês em segredo.

Fiquei sem fala, Mariani estava coberta de razão. O que falar aos pais de Kelly? Ou melhor, como falar, essa é a questão.

- Senhora Andrews já está ciente da história. Contei pra ela. Bom, pelo menos a mãe gostou de você.

- Então agora só resta o pai dela. – falei colocando um sorriso no canto dos lábios. - Você que pensa o pior ainda está por vir. Felipe. Ele é muito ciumento e controlador, não vai aceitar numa boa. Mas deixemos de papo furado, vamos ver se precisam do nosso apoio.

- Não sei se devo.

- Vamos, Felipe está preocupado demais para ligar pra isso. Deixa rolar. – disse Leonardo.

- Espero que tenha razão.

- Vamos meninos. – sussurrou Mariani.

Quando chegamos parecia que tinham acabado de receber uma péssima notícia. Meu coração bateu ritmicamente acelerado. O que houve com Kelly? Tentei me segurar, mas pensei alto de mais.

-Ela está bem?- todos olharam pra mim. Sabe quando se está em um casamento e na parte: “Se tiver alguém contra esse casamento, que fale agora ou se cale para sempre”, alguém entra pra impedir e todos olham para o indivíduo? Foi o que me aconteceu, lógico, eu era um estranho pra todos os efeitos. Que situação.

-Não muito. O coma é muito profundo. Os médicos não têm muita certeza, mas a qualquer momento pode piorar, e se isso acontecer... - Senhora Andrews baixou a cabeça e chorou bastante, eu sabia do que se tratava, mas não quis acreditar, perder o

grande amor da minha vida. Não, isso não podia estar acontecendo, só pode ser um pesadelo.

- Posso vê-la? Por favor!- senti uma lágrima quente escorrendo por meu rosto, a mais dolorosa lágrima que já derramei.

- Claro filho, você tem todo direito. – disse senhora Andrews com seu jeito doce. Fiquei impressionado com o termo “Filho”, e confesso que fiquei mais calmo com a aceitação dela.

No documento Kelly Andrews Por toda a minha vida (páginas 51-56)