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Análise de uma organização à luz do modelo multidimensional-reflexivo de Alves (2003)

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Academic year: 2021

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(1)Universidade Federal de Pernambuco Centro de Ciências Sociais Aplicadas Departamento de Ciências Administrativas Programa de Pós Graduação em Administração - PROPAD. Milka Alves Correia. Análise de uma organização hospitalar à luz do modelo multidimensional-reflexivo de Alves (2003). Recife, 2007.

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(3) Milka Alves Correia. Análise de uma organização hospitalar à luz do modelo multidimensional-reflexivo de Alves (2003). Orientador: Profº Dr. Sérgio Alves. Dissertação apresentada como requisito complementar para obtenção do grau de Mestre em Administração, na área de concentração em Organização e Trabalho, do Programa de PósGraduação em Administração da Universidade Federal de Pernambuco. Recife, 2007.

(4) Correia, Milka Alves Análise de uma organização à luz do modelo multidimensional-reflexivo de Alves (2003) / Milka Alves Correia. – Recife : O Autor, 2007. 174 folhas : fig. e quadros. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco. CCSA. Administração, 2007. Inclui bibliografia e apêndice. ......1. Análise organizacional. 2. Hospital universitário – Administração. I. Título. 658.3 658.3. CDU (1997) CDD (22.ed.). UFPE CSA2007-024.

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(6) Agradecimentos. A Deus, que me protege e guia minha existência. Aos meus pais, que sempre me apoiaram e incentivaram com seu amor, seu cuidado, sua paciência, em todos os momentos, incondicionalmente. Minha gratidão por toda vida! Amo vocês! Ao meu irmão Marcus, minha cunhada Alana e minhas sobrinhas Jú e Mari , por seu carinho. Ao Professor Sérgio Alves, pela orientação deste trabalho. A todos os meus amigos, por sua paciência; e em especial a Elisa Barros e Sônia Alves, por seu companheirismo ao longo desta caminhada. Aos colegas da turma de mestrado, pela agradável convivência durante esses dois anos. Aos amigos que encontrei na cidade do Recife: Ana Márcia, Fátima, Ceiça, Gabriela, Ana Beatriz, Alessandra, Daniel, Renata, Vinícius, Christianni, Marcelo, com os quais compartilhei alegrias, descobertas, tristezas, medos. Levarei esta Banda comigo! Aos colegas do Hospital Universitário Professor Alberto Antunes, pela solidariedade e contribuição à minha pesquisa. Ao Professor Duílio Marsiglia, cuja ajuda viabilizou a realização desta pesquisa. Aos docentes do PROPAD/UFPE, pelas aulas e discussões que ampliaram meus horizontes, em especial a Professora Cristina Carvalho. Às funcionárias Irani e Ana pelo apoio acadêmico. À banca examinadora, por suas relevantes sugestões e contribuições a este trabalho. A todos que, pela presença ou ausência, me ajudaram a crescer durante esse processo..

(7) Resumo O presente trabalho tem como propósito analisar a configuração organizacional-administrativa do Hospital Universitário Professor Alberto Antunes (HUPAA), órgão de apoio acadêmico da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), que desempenha ações nas áreas de ensino, pesquisa e assistência. Para tanto, foi utilizado o modelo multidimensional-reflexivo de Alves (2003) como instrumento de análise. Inicialmente, procura-se ultrapassar a visão que se limita a descrever os hospitais como um sistema integrado por estruturas com mecanismos de autoridade, linhas de comando, regras escritas e formalizadas. Nesse sentido discute-se a necessidade de se ter outros modelos analíticos que se ocupem também das singularidades e dos desafios presentes nos hospitais enquanto um locus organizacional dotado de complexas relações internas e externas. Trata-se de um estudo qualitativo básico que adota uma perspectiva descritivo-analitica e coleta os dados através de entrevistas semi-estruturadas, observação participante e análise documental. Foram descritos e comentados as características estruturais e dispositivos de coordenação adotados pelo HUPAA, seus agentes organizacionais e relacionamentos internos, bem como o relacionamento desse hospital com o ambiente externo; a seguir, promoveu-se o encontro entre o modelo de Alves (2003) e a realidade estudada. A pesquisa identificou que a configuração organizacional-administrativa do HUPAA aproxima-se do tipo equiparativo-adaptador, entre as variantes II e III, com um agente tipo adaptador. O OMR mostrou-se satisfatório para a análise do HUPAA, embora a compreensão de algumas peculiaridades do hospital demandem ajustes no Modelo. Acreditase que esta pesquisa pode oferecer aos gestores do HUPAA subsídios que possibilitem melhor entendimento sobre sua organização, auxiliando-os no aperfeiçoamento dos processos organizacionais, bem como na melhoria do atendimento de saúde à comunidade. Palavras-Chave: Análise Organizacional. Hospital Universitário. Modelo multidimensionalreflexivo..

(8) Abstract This work aims to anlyse the organizational administrative configuration of Hospital Universitário Professor Alberto Antunes (HUPAA), part of Federal University of Alagoas which develops actions of teaching, research and patient care. For this purpose, it was taken Alves´ Multidimensional-reflevixe model (2003) as instrument of analysis. Firstly, it is seek to overcome the vision which only describes hospitals like a system with hierachical authority stuctures, command lines, written and formalized rules. In this sense it is discussed the need to find out other analytial models that pay attention to the singularities and challenges presented on hospitals while being a organizational setting with complex internal and external relationships. This is a basic qualitative study that adopts an anlytical-descritive perspective and collects data through semistructured interviews, participant observation and documental analysis. The structural characteristics and coordinating mechanism taken by HUPAA were described and commented, its organizational agents and internal relationships, as well as the relationship between the hospital and the external environment. On the sequency, the meeting of Alves´model (2003) and the studied emprirical reality happened. This research identified that the organizational administrative configuration of HUPAA is similar to the equiparativoadaptador, between variante II e III types, and the organizational agent is adaptador type. OMR has shown to have a satisfactory performance for analyzing HUPAA, despite the fact that some features of this teaching hospital demand some adjustments on Model. As conclusion, it is believed that this study can provide to HUPAA´s managers insights that may lead them to know better their organization, help them to improve organizational processes and promote community health assistance improvement. Key-words: Organizational analysis. Teaching hospital. Mutidimensional-reflexive Alves´ Model..

(9) Lista de figuras Figura 1(2): Indicadores para fins de análise organizacional ................................................. 46 Figura 2(2): Os diferentes mundos do hospital ....................................................................... 54 Figura 3(2): A visão do HU a partir dos diferentes segmentos que o compõem ................... 65 Figura 4(4): Organograma do nível estratégico do HUPAA ................................................ 101 Figura 5(4): Organograma da Diretoria de Enfermagem do HUPAA .................................. 102 Figura 6(4): Organograma da Diretoria Administrativa do HUPAA ................................... 102 Figura 7(4): Organograma da Diretoria Técnica do HUPAA .............................................. 103 Figura 8(4): Organograma da Diretoria de Ensino do HUPAA ........................................... 103 Figura 9(4): O HUPAA e seu ambiente externo .................................................................. 134 Figura 10(4): Categorização do agente do HUPAA conforme área de atuação e vínculo empregatício .......................................................................................................................... 142 Figura 11(4): Categorização do agente do HUPAA conforme vínculo empregatício ......... 143 Figura 12(4): Categorização do agente do HUPAA conforme cargo 143.

(10) Lista de quadros Quadro 1(2): Tipologia organizacional de Etzioni .......... ...................................................... 31 Quadro 2(2): Posicionamento e atuação do agente na estrutura conforme o Modelo de Alves .................................................................................................................................................. 37 Quadro 3(2): Caracterização dos tipos estabelecidos pelo OMR a partir dos componentes da dinâmica organizacional ........................................................................................................... 40 Quadro 4(2): Tipos estruturais do OMR ................................................................................ 41 Quadro 5(2): Variações internas do tipo-base equiparativo-adaptador ................................. 42 Quadro 6(2): Variações do tipo ordenativo-conservador ....................................................... 43 Quadro 7(2): Variações internas do tipo liberativo-transformador ........................................ 44 Quadro 8(3):Variáveis de análise, definições constitutivas e operacionais adotadas na pesquisa .................................................................................................................................. .75 Quadro 9(3): Setores do HUPAA escolhidos para coleta de dados primários ...................... 78 Quadro 10(3): Perfil dos entrevistados conforme lotação e posição na estrutura hierárquica 86.

(11) Lista de abreviaturas e siglas ABRAHUE – Associação Brasileira dos Hospitais Universitários e de Ensino AMR – Agente Multidimensional-reflexivo ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária CACON – Centro de Alta Complexidade em Oncologia CD – Comunicação Interna CDI – Coordenação de Desenvolvimento Institucional CDRH – Coordenação de Desenvolvimento de Recursos Humanos CLT – Consolidação das Leis Trabalhistas CREMAL – Conselho Regional de Medicina/Alagoas EnANPAD – Encontro da ANPAD EnEO – Encontro de Estudos Organizacionais FUNDEPES – Fundação Universitária de Desenvolvimento de Extensão e Pesquisa HU – Hospital Universitário HUPAA – Hospital Universitário Professor Alberto Antunes MEC – Ministério da Educação e Cultura MS – Ministério da Saúde NEMED – Núcleo de Ensino Médico CSAU – Centro de Ciências da Saúde NPD – Núcleo de Processamento de Dados OMR – Organização Multidimensional- Reflexivo OMS – Organização Mundial de Saúde POA – Plano Operativo Anual REFORSUS – Reforço a Reorganização do Sistema Único de Saúde SAME – Serviço de Arquivo Médico e Estatística SMS – Secretaria Municipal de Saúde SND – Serviço de Nutrição e Dietética SRH – Setor de Recursos Humanos SUS – Sistema Único de Saúde UFAL – Universidade Federal de Alagoas UTI – Unidade de Terapia Intensiva.

(12) Sumário 1 Introdução: contextualizando a temática ............................................................................ 12 1.1 Objetivos ............................................................................................................................ 21 1.2 Justificativa da pesquisa .................................................................................................... 22 1.3 Estruturação do estudo ....................................................................................................... 26 2 Fundamentação Teórica ..................................................................................................... 28 2.1 Tipologias organizacionais ................................................................................................ 28 2.2 O Modelo de Organização Multidimensional-reflexivo (OMR) de Alves (2003) ............ 33 2.2.1 Caracterização do Modelo .............................................................................................. 33 2.2.2 Características do agente ................................................................................................ 36 2.2.3 A dinâmica organizacional ............................................................................................. 38 2.2.4 Tipos e subtipos do Modelo ........................................................................................... 40 2.2.4.1 O tipo-base equiparativo-adaptador ............................................................................. 41 2.2.4.2 O tipo ordenativo-conservador .................................................................................... 43 2.2.4.3 O tipo liberativo-transformador ................................................................................... 44 2.3 A organização hospitalar: uma abordagem teórica ............................................................ 48 2.3.1 A evolução histórica do hospital .................................................................................... 48 2.3.2 Conceitos e características das organizações hospitalares ............................................. 52 2.4 Os hospitais universitários ................................................................................................. 61 3 Metodologia ......................................................................................................................... 68 3.1 Delineamento da pesquisa ................................................................................................. 68 3.2 Questões norteadoras da pesquisa ..................................................................................... 71 3.3 Categorias de análise ......................................................................................................... 72 3.4 Amostragem ...................................................................................................................... 76 3.5 Coleta de dados primários e secundários ........................................................................... 81 3.5.1 Entrevistas semi-estruturadas ......................................................................................... 83 3.5.2 Observação participante ................................................................................................. 87 3.5.3 Análise documental ........................................................................................................ 88 3.6 Técnica de análise de dados ............................................................................................... 90 4 Descrição e análise dos dados ............................................................................................ 92 4.1 A trajetória histórica do HUPAA ...................................................................................... 92 4.2 O HUPAA: situação atual .................................................................................................. 98 4.2.1 Características estruturais e dispositivos de coordenação .............................................. 99 4.2.1.1 Complexidade .............................................................................................................. 99 4.2.1.2 Centralização ............................................................................................................. 106 4.2.1.3 Formalização ............................................................................................................. 108 4.2.1.3.1 Missão, crenças e valores organizacionais ............................................................. 108 4.2.1.3.2 Regimento Interno, normas e rotinas ...................................................................... 113 4.2.1.3.3 Metas organizacionais ............................................................................................ 117 4.2.1.3.4 Treinamentos e Sistema de recompensas e punições ............................................. 119 4.2.1.4 Processos Organizacionais ........................................................................................ 123 4.2.1.4.1 Comunicação .......................................................................................................... 123 4.2.1.4.2 Processo de Mudança ............................................................................................. 126 4.2.1.4.3 Articulação Setorial ................................................................................................ 129 4.2.2 Ambiente externo e relacionamentos interorganizacionais .......................................... 131 4.2.3 Caracterização do Agente organizacional e relacionamentos internos ........................ 135.

(13) 4.2.3.1 Orientação que determina ações do agente ................................................................ 135 4.2.3.2 Dimensão do tempo e ações do agente ...................................................................... 137 4.2.3.3 Representação do agente conforme posição na estrutura da organização ................. 138 4.2.3.4 Sucessão dos dirigentes ............................................................................................. 140 4.2.3.5 Quadro de pessoal ...................................................................................................... 141 4.2.3.6 Relacionamento no local de trabalho ......................................................................... 145 5 O Modelo de ALVES (2003) e o HUPAA ....................................................................... 148 6 Considerações Finais ........................................................................................................ 157 REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 166 APÊNDICES ........................................................................................................................ 172.

(14) 11. 1 Introdução: contextualizando a temática Poucas organizações têm importância tão fundamental para a sociedade quanto os hospitais. Essa relevância pode ser percebida quando se observam as relações que a organização hospitalar mantém com os indivíduos em particular e com a coletividade em geral, na medida em que se faz presente em seus momentos cruciais: no nascimento, na doença e na morte. No ambiente hospitalar, são encontradas situações marcantes e contravenientes, tais como:. vida/morte,. doença/saúde,. alegria/tristeza,. racionalidade/emoção,. objetividade/subjetividade, dor/alívio. Ao pensarmos o hospital como um espaço social onde circulam os mais variados tipos de pessoas, portadoras das mais diferentes necessidades, em distintos momentos de suas vidas, talvez seja possível reconhecê-lo como locus em que o lado mais íntimo e frágil dos seres humanos se evidencia. Na realidade, quando ingressamos como pacientes em um hospital, não detemos a capacidade de negociação, isto é, em geral, não temos argumento para discutir tecnicamente sobre as condutas terapêuticas recomendadas ou adotadas, o que nos provoca um sentimento de vulnerabilidade e dependência, e a percepção de uma intensa assimetria de poder. O hospital nos acolhe como pacientes, segundo seus próprios termos, clarificando que espera que nos submetamos às suas regras e regulamentos e às decisões dos especialistas envolvidos. De fato, os hospitais podem ser considerados como um dos ambientes microssociais mais singulares e complexos. Nesse sentido, Minotto (2002) caracteriza-os como prestadores de serviços com estrutura híbrida, multidisciplinar, multifuncional e focada, sobretudo, na recuperação da saúde ou na minimização da dor das pessoas que deles necessitam. Para melhor se entender a complexidade das organizações hospitalares, é necessária compreensão de que, em sua “intimidade”, o hospital tem muito mais do que unidades e.

(15) 12. setores encarregados do atendimento dos que ali procuram o tratamento de sua doença. Na ambiência sócio-técnica hospitalar, encontram-se também atividades que mesclam ciência, tecnologia e procedimentos, além de componentes sociais, culturais e educacionais, todos interferindo em sua estrutura, em seus processos e em seus resultados (BITTAR, 1996). Para um grande número de autores (CARAPINHEIRO, 1997; PUZIN, 1996; CECÍLIO e MERHY, 2003a, 2003b), não há redundância em ressaltar-se o relevante papel desempenhado pelas organizações hospitalares dentro do sistema de saúde em que se encontram inseridas, uma vez que têm por finalidade garantir à comunidade assistência à saúde, preventiva e curativa, incluindo serviços à família, formação de profissionais e pesquisas biossociais, entre tantas outras atividades. Considerável parte da literatura sobre hospitais (CECILIO e MERHY, 2003a, 2003b; MCKEE, e HEALY, 2001; MINTZBERG, 1997; GONÇALVES 1983) costuma apresentá-los a partir de algumas perspectivas principais. A primeira, como uma organização constituída por partes que se articulam entre si e trabalham perseguindo o alcance do seu objetivo fundamental: o cuidado ao paciente; com seus departamentos e setores, cada um com sua especificidade, numa trama de atos, procedimentos, fluxos, rotinas e saberes. A segunda perspectiva trata o hospital como um subsistema dentro de um sistema social mais amplo. Para essa última, a Teoria dos Sistemas tem oferecido ferramentas que ajudam a explicar o funcionamento de um hospital. Uma dessas ferramentas possibilita vê-lo como um sistema aberto, em constante inter-relacionamento com seu ambiente externo, para assegurar os meios necessários a sua sobrevivência, adaptação e crescimento; a outra aponta o hospital como um sistema que existe dentro de uma hierarquia de outros sistemas — nos níveis local, regional, nacional. Vale dizer, um hospital pode ser estudado individualmente, desde que seja também considerado um ente dentro de um sistema mais amplo de organizações hospitalares, que por.

(16) 13. sua vez está inserido em um sistema de cuidados de saúde de um país e, como tal, é parte de um dado contexto sócio-econômico-político. Uma terceira abordagem realça a interdependência dos vários elementos que compõem a organização hospitalar: Um hospital é uma organização complexa, que contém uma série de subsistemas. Estes subsistemas têm seus próprios interesses, sendo que qualquer mudança significante em uma parte irá ter repercussões nas demais (MCKEE e HEALY, 2001, p. 10).. Obviamente que uma abordagem de caráter mais funcionalista e sistêmica explica vários aspectos da dinâmica organizacional de um hospital, e por isso acaba se (re) produzindo como a mais adequada para se entendê-lo. Entretanto, privilegiam-se mais os aspectos estruturais e formais, o instituído, não se dando a devida atenção à esfera instituinte da organização. Com efeito, os processos organizacionais no campo da saúde são também reconhecidos por seu relativamente alto grau de incerteza e de imprevisibilidade e pela natureza da ação dos agentes no ato de produzir saúde. Nos hospitais, equipamentos e saberes tecnológicos estruturados convivem com processos de intervenção em ato (em tempo real) e um “objeto” (o paciente) que não é plenamente estruturado; pelo contrário, cada um desses pacientes é distinto e traz em si suas expectativas, necessidades, patologia a ser tratada. Isso significa lidar com relações e interações de subjetividades e com comportamentos que exigem significativa liberdade para escolha do modo de produzir (MERHY, 2002). Em sendo assim, não se pode deixar de considerar a organização hospitalar como um lugar de instabilidade, com a presença de forças instituintes e atores em constante interação, construindo redes de convivência, vivendo consensos/dissensos e conflitos/harmonias. À primeira vista, pareceria suficiente explicar um hospital como uma estrutura organizacional com seus mecanismos de autoridade, linhas de comando, regras escritas e formalizadas, bem próximo da burocracia, enquanto tipo ideal weberiano, ou como um.

(17) 14. sistema, com suas entradas, saídas, processos e retroalimentação. No entanto, uma organização hospitalar também é: [...] lugar de forças instituintes, de marcantes graus de liberdade para a ação dos atores institucionais, de negociação e construção de complexas e fluidas redes de contratualidades, de conflitos, de configuração de coalizões e grupos de interesse e disputa e, por tudo isso, lugar de possibilidades de caminhar em outros sentidos e direções [...] (CECILIO e MERHY, 2003a, p.112).. Significar dizer que, por um lado, em um hospital há os aspectos estruturais e estruturantes e, também, o instituído — representado por normas, regulamentos, rotinas. Por outro lado, há o movimento instituinte da vida hospitalar, com diversos atores interagindo e mobilizando recursos para atingir seus objetivos operacionais, seus interesses pessoais, grupais e corporativos (BAREMBLITT, 1995). O ponto que aqui se quer considerar não é a renúncia às teorias que tratam as organizações hospitalares enquanto sistemas ou estruturas, mas sim alertar para a necessidade de que os modelos teóricos adotados para a compreensão desse tipo de organização preocupem-se também com as peculiaridades e com os desafios específicos da vida hospitalar, os quais são responsáveis pelo reconhecimento do hospital como um complexo e singular ambiente organizacional. Carapinheiro (1997) mostra o quanto é visível no hospital o debate entre a estrutura (com seus constrangimentos, papéis e funções previamente definidos) e os graus de liberdade da ação humana. A autora também ressalta que, nos estudos sobre hospitais, a estrutura da organização e as ideologias, os valores e os comportamentos dos seus membros têm sido tratados. como. duas. entidades. distintas,. analisadas. separadamente,. “valorizando. fundamentalmente a análise da estrutura e reforçando o seu aspecto rígido estandardizado” (p. 57). Um outro aspecto a ser observado sobre as organizações hospitalares é o avanço da lógica de mercado que prioriza a obtenção do lucro, cada vez mais permeando as ações.

(18) 15. desenvolvidas nos hospitais (MARTINS, 2003; LIMA-GONÇALVES, 1998, 2002; COLAUTO e BEUREN, 2003, SMITS e VAN DER PIJL, 1999). Há uma quase exigência para que os hospitais produzam melhor, através de uma agressiva política de incorporação tecnológica e de crescente aperfeiçoamento e controle dos seus processos internos. Os que não se “atualizam” e não modernizam seus processos de gestão acabam sendo ultrapassados pela competitividade que parece dar a nota nestes tempos de globalização (CECILIO e MERHY, 2003a). Disso convém refletir se os hospitais também estão vivenciando a situação descrita por Solé (2004): A linguagem, os métodos, ferramentas, técnicas, práticas das empresas penetram, cada vez mais, as organizações que podemos razoavelmente considerar como não sendo empresas, posto que não estão submissas a uma competência ou ao imperativo do benefício econômico (p. 5).. Outrossim, ainda que se concorde com a afirmativa de RIBEIRO FILHO (2005) de que: [...] qualquer entidade hospitalar, independente de sua natureza pública, privada ou filantrópica, deve desejar que o fruto de seu trabalho, durante um período de tempo qualquer, seja suficiente para remunerar todos os fatores envolvidos (p.20),. não se deve deixar de ter em mente que hospitais são organizações singulares, onde a relação com os pacientes não deve ser conduzida apenas (e prioritariamente) pela lógica do lucro. Afinal, independente de sua natureza (pública ou privada), trata-se de uma organização onde a manutenção e/ou recuperação da saúde dos pacientes são seus principais objetivos, suas razões de ser. Especificamente no caso dos hospitais públicos no Brasil, a lógica do mercado não está prevista na natureza do Sistema Único de Saúde (SUS). Esse é um sistema público destinado a toda a população e financiado com recursos arrecadados através dos impostos que são pagos pela maioria; as diretrizes que o norteiam estão previstas na Constituição Federal de 1988, a saber: a descentralização, a integralidade e a participação da comunidade..

(19) 16. Nesse contexto, em contraste com uma organização empresarial que precisa sobreviver no mercado, um hospital público deverá estar voltado à execução da política nacional de saúde; assim sendo, seus dirigentes enfrentam o desafio de lidar com temas como a universalidade do acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência (todas as pessoas, sem discriminação, têm direito ao atendimento público e gratuito à saúde), a igualdade da assistência à saúde (mesmo tipo de atendimento deve ser oferecido a todas as pessoas, sem preconceitos ou privilégios) e a resolutividade dos serviços (capacidade de resolver os problemas de saúde da população) (LACERDA, 1998). Nessa ótica, cabe ainda ressaltar que o serviço público atende a cidadãos no exercício de seus direitos, mais do que a clientes. Segundo Gurgel Júnior e Vieira (2002), para que alguém seja cliente de uma organização, é necessário que sejam preenchidos dois requisitos básicos: o primeiro pressupõe a liberdade de escolha — “um cliente tem que ter o direito de escolha sobre o que lhe é oferecido” (p. 331) e, sob nosso ponto de vista, esse não é o caso dos usuários dos serviços públicos, que procuram esses hospitais muito mais por necessidade do que por escolha. E, o segundo diz respeito ao tipo de contrato estabelecido entre o indivíduo e quem vai lhe oferecer o serviço: Tal contrato deve ter fundamento comercial. Portanto, em uma organização pública ou em um hospital ou escola, só para dar alguns poucos exemplos, o conceito de cliente perde validade, uma vez que o contrato que fundamenta a relação nesses casos é do tipo “contrato social”, fundamentado no direito e na cidadania, em que o fato de um serviço ou produto ser pago através de impostos não significa necessariamente que o contrato seja de natureza mercantil (p.331).. Como também, os hospitais públicos estão entrelaçados em uma ampla rede de outros serviços de saúde e em tantas outras políticas governamentais de defesa da vida dos cidadãos. Dessa forma, a lógica que os orienta é aquela que se preocupa com o seu papel dentro de um sistema de saúde e não no mercado; a orientação dos hospitais públicos e a atuação de seus.

(20) 17. profissionais da saúde é voltada a tornar mais fácil a vida do cidadão-usuário no usufruto de seus direitos. Atenta-se ainda para o fato de que os trabalhos produzidos pela área da gestão ou administração hospitalar, em sua maioria, centram-se mais nas dimensões consideradas mais relevantes para objetivos de planejamento e de rentabilização da aplicação de recursos econômicos e financeiros, deixando vazios consideráveis na sua abordagem como instituição social e deixando permanentemente na sombra os aspectos mais significativos da sua relação com a sociedade (CARAPINHEIRO, 1997). Considerando todos os aspectos até aqui abordados, a presente pesquisa emerge da especial preocupação em se buscar modelos analíticos que dêem conta das peculiaridades e dos desafios específicos presentes nos hospitais — lugares de complexas relações — e que resguardem a precípua responsabilidade dessas organizações para com as pessoas enquanto pacientes. A oportunidade de pesquisar uma organização hospitalar de uma maneira mais abrangente e apropriada talvez seja possível através do modelo de organização multidimensional-reflexivo (OMR) proposto por Alves (2003). Esse Modelo contempla mais de uma dimensão para fins de caracterização e análise das organizações, o que representa um diferencial em relação à maior parte das tipologias encontradas na literatura especializada, as quais se concentram, em sua maioria, em apenas uma dimensão, a burocrática. A perspectiva multidimensional praticamente não tem sido adotada em estudos organizacionais: As organizações são descritas e/ou analisadas tendo em vista a sua maior ou menor aproximação em relação ao tipo ideal de burocracia. Vale dizer, outras estruturas puras de domínio, como a patriarcal e a carismática, não têm recebido dos pesquisadores a atenção devida, muito embora possa ocorrer a presença de seus componentes em configurações organizacionais encontradas na realidade concreta (ALVES, 2004b, p. 72)..

(21) 18. O OMR tem por fundamento a tipologia da ação social e os tipos ideais de dominação de Weber e assim sendo, a abordagem de uma organização a partir da sociologia weberiana acena com a possibilidade de melhor visualizar as diversas interações sociais que ocorrem em seu âmbito interno, especialmente ao se considerar que na ambiência microssocial das organizações tem-se de maneira mais evidente a reflexividade dos agentes. Dito de outra maneira, supõe-se que no cenário organizacional seja ainda mais visível a percepção de que as ações e as interações dos agentes estão vinculadas à sua capacidade de auto-reflexão. Ademais, cabe ressaltar que uma das preocupações fundamentais desse modelo analítico é a de superar a dualidade presente nas posições que destacam ora a estrutura, ora o indivíduo. O modelo de Alves (2003) trata a estrutura e o agente individual como dimensões básicas estreitamente articuladas (e não excludentes) e que se condicionam mutuamente, “afastando-se, por conseguinte, do voluntarismo individualista e do determinismo estruturalista” (ALVES, 2002, p. 1). Esse tratamento dispensado pelo Modelo ao agente e à estrutura é de fundamental importância para a análise de um hospital, na medida em que não subestima a ação dos agentes organizacionais e, nesse sentido, representa um diferencial em relação às abordagens que descrevem a organização hospitalar primordialmente como um sistema e/ou como uma estrutura rígida. O Modelo contempla ainda as trocas e transações entre a organização e o ambiente, prevendo a coexistência de um conjunto de fenômenos simultaneamente opostos e complementares: a conservação e a mudança, a tradição e a contemporaneidade, a estabilidade e a instabilidade, a rigidez e a flexibilidade, a disciplina e a autonomia, entre outros. “O OMR procura não tratar estes fenômenos organizacionais de maneira simplista, e sucumbindo ao maniqueísmo do ‘ou-um-ou-outro’” (ALVES, 2003, p.14). O contínuo processo de organização-interação-reordenamento desses fenômenos constitui-se em uma.

(22) 19. instigante oportunidade para a compreensão de novos e variados desenhos estruturais, que podem ser mais ou menos adequados às organizações hospitalares. O OMR busca ainda favorecer o diálogo interdisciplinar, posto que utiliza conceitos correlatos oriundos de diferentes disciplinas, em especial, da Sociologia e da Administração, o que lhe confere uma capacidade de análise mais ampla das organizações. Partindo de todas essas considerações preliminares acerca das propriedades do OMR, propomo-nos a melhor compreender um hospital universitário, utilizando-se do referido Modelo. Os hospitais universitários (HU´s) têm, além das características descritas anteriormente sobre os hospitais em geral, uma missão diferenciada, na medida em que agregam outras funções além da assistencial: a formação de recursos humanos e o desenvolvimento de pesquisa. A partir dessas funções, há o desenvolvimento de um complexo conjunto de atividades voltado ao desenvolvimento profissional e às práticas de ensino e de pesquisa. No interior de um sistema local de saúde (no âmbito municipal ou no estadual), um hospital universitário é considerado uma referência no atendimento médico de nível terciário (ABRAHUE, 2006) — ou seja, é um centro de atenção de saúde de média e alta complexidade. Além desse destacado papel assistencial, os HU´s respondem pela formação de praticamente todos os estudantes da área de saúde, de considerável parte dos residentes do país, além de dar suporte a muitos cursos de pós-graduação strito e lato senso. São ainda responsáveis por vários dos projetos cadastrados na Comissão Nacional de Ética em Pesquisa, o que bem demonstra a relevância do hospital como campo de pesquisa (ABRAHUE, 2006). Nesse perfil, enquadra-se o Hospital Universitário Professor Alberto Antunes (HUPAA) da UFAL, organização escolhida como campo empírico desta pesquisa. Fundado.

(23) 20. em 1973, órgão de apoio acadêmico da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), desempenha ações que abrangem as áreas de ensino, pesquisa e assistência. Sendo o único hospital público federal do Estado de Alagoas, encontra-se vinculado ao Ministério da Educação, através da UFAL, na condição de hospital de ensino e centro de pesquisa científica. No âmbito da assistência, o hospital reporta-se ao Ministério da Saúde, atende exclusivamente a pacientes do SUS, integra a rede pública de saúde em Alagoas e desempenha importante papel como referência terciária da região. Atualmente, o HUPAA é reconhecido pelos diversos segmentos da sociedade alagoana como o maior hospital público do Estado, devido à sua área física, ao seu corpo clínico e às atividades que desenvolve voltadas à assistência, à pesquisa e ao ensino. Diante das considerações até aqui apresentadas, o presente trabalho se propõe, mais precisamente, a investigar: “quais aspectos da configuração organizacional-administrativa do HUPAA podem ser ressaltados a partir do modelo multidimensional-reflexivo de Alves (2003)?”. 1.1 Objetivos A clara definição dos objetivos de uma pesquisa visa delimitar o estudo do problema proposto e apontar o caminho a ser percorrido pelo pesquisador. Nesse sentido, tem-se como objetivo geral do presente trabalho: analisar aspectos da configuração organizacionaladministrativa do HUPAA, com base no modelo multidimensional-reflexivo de Alves (2003). Partindo-se do objetivo principal, desdobraram-se seis objetivos específicos. Aplicando-se o referido Modelo de análise, pretende-se:.

(24) 21. 1.. Identificar e descrever as características estruturais e os dispositivos de. coordenação do Hospital Universitário Professor Alberto Antunes (HUPAA); 2.. Discutir as características estruturais e os dispositivos de coordenação do. HUPAA; 3.. Identificar e descrever a natureza dos agentes e as interações internas no. HUPAA; 4.. Comentar sobre a natureza dos agentes e as interações internas no HUPAA;. 5.. Descrever o relacionamento do HUPAA com o seu ambiente externo;. 6.. Identificar e comentar aproximações e/ou distanciamentos da organização. estudada (tipo real) em relação aos tipos e subtipos definidos pelo modelo de análise de Alves (2003).. 1.2 Justificativa da pesquisa Compartilhamos do pensamento de Demo (1987) de que a pesquisa científica justificase na medida em que possibilita descobrir novos horizontes do conhecimento e da prática. Nesta seção, serão explicitadas as justificativas para a realização desta pesquisa, bem como as contribuições que se pretende oferecer. Segundo Martins (2003), “[...] tudo que diz respeito à doença, à saúde e à cura de cada um de nós ou de pessoas próximas, ocupa espaços importantes de nossas vidas cotidianas” (p. 30); nesse contexto estão as organizações hospitalares, que contam hoje com grande disponibilidade de recursos de diagnóstico e tratamento, com diversas possibilidades de pesquisa e aperfeiçoamento, fatores esses que caracterizam-nas como um organismo.

(25) 22. fundamental no encaminhamento de soluções para os problemas de saúde da comunidade em que se encontram inseridas (LIMA-GONÇALVES, 1998). Ademais, os hospitais são importantes componentes de um sistema de saúde e como tais correspondem a uma substancial parcela do orçamento público (MCKEE e HEALY, 2001). Quanto mais próximas ao núcleo do sistema de saúde estiverem as unidades hospitalares, mais as ações que desenvolvem terão impacto para a política de saúde. Logo, caso os hospitais estejam ineficientemente organizados, seu impacto potencialmente positivo na saúde da população poderá ser sensivelmente reduzido ou até mesmo anulado. Dessa forma, emerge a importância de se estudar com cuidado esse tipo de organização em sua funcionalidade e sua estruturação. Essa perspectiva alinha-se a Martins (2003), segundo o qual, “[...] tudo que ocorre no domínio da saúde pública e dos cuidados médicos, e em quaisquer outros domínios da saúde, interessa diretamente ao conjunto da sociedade, de seus atores e agências” (p.32). Nesse sentido, o presente trabalho espera produzir conhecimentos os quais, em última análise, possam contribuir para a melhoria dos serviços prestados pelos hospitais à sociedade em que nos inserimos. O esforço aqui é para oferecer um exercício acadêmico vinculado à comunidade circundante e com alguma utilidade à organização estudada, pois partilhamos com Demo (1987) o entendimento de que as ciências sociais, em nosso caso a Administração, não devem apenas produzir conhecimento teórico sem algum desdobramento na realidade cotidiana. Levantamento realizado por esta pesquisadora revelou que nos dois maiores eventos científicos da área de Estudos Organizacionais — EnANPAD e ENEO —, no período de 2000 a 2006, em média, somente 1% dos trabalhos publicados refere-se a estudos realizados em/sobre organizações hospitalares, o que indica que a produção científica sobre esse tipo de organização ainda precisa conquistar um espaço compatível com sua relevância. Diante desse.

(26) 23. quadro, tentamos contribuir na busca de referenciais teóricos para análise das organizações hospitalares (CECÍLIO e MERHY, 2003a, 2003b; CARAPINHEIRO, 1997). Como contribuição acadêmica, este trabalho traz a possibilidade inédita de aplicar o modelo multidimensional-reflexivo para a análise de um hospital universitário público. Alves (2003) sublinha que “um modelo de análise organizacional necessita de uma adequada conexão entre o pensamento teórico e a experiência, de maneira que o primeiro possa servir de guia para a segunda, bem como esta possa propiciar aperfeiçoamentos conceituais” (p.16). Não se deixa de considerar que o referido Modelo foi proposto originalmente para analisar organizações empresariais. No entanto, sua base epistemológica estimula a testá-lo em um campo empírico peculiar e complexo: um hospital. Segundo Alves (2003, p. 248), “[...] muito embora o modelo proposto esteja voltado para organizações empresariais privadas, ele deve também ter a sua aplicabilidade testada para a análise de organizações estatais e não-governamentais”. Disso tem-se que este trabalho espera contribuir para aperfeiçoar o OMR, posto que ele ainda carece de pesquisas de campo e verificação na prática de sua utilidade analítica. Com as conclusões deste estudo espera-se também oferecer aos gestores do HUPAA subsídios que possibilitem uma melhor compreensão sobre sua organização, auxiliando-os no aperfeiçoamento de sua administração e na melhoria do atendimento de saúde à comunidade. Consideramos oportuno, desde já, apresentar as razões que nortearam a escolha dessa organização, isto é, o HUPAA, como o campo empírico da pesquisa. A complexidade e a singularidade das organizações hospitalares, bem como o perfil diferenciado dos HU´s, funcionaram como estímulo à pesquisadora no sentido de proporcionar o encontro entre um modelo analítico de organizações e o pragmatismo da realidade de um hospital público. Ainda no tocante aos hospitais universitários e em especial ao HUPAA, apesar de seu relevante papel no sistema de saúde de nosso país, esses hospitais têm vivido, ao longo dos.

(27) 24. últimos anos, uma profunda crise caracterizada por limitação orçamentária, carência de financiamento, desorganização administrativa, sucateamento de suas instalações, dificuldades diversas de gerenciamento, entre outros (CHIORO, 2004; ABRAHUE, 2006). Nesse contexto, o HUPAA é um exemplo típico desse conjunto de HU´s brasileiros, e este trabalho justifica-se como um esforço de ampliar o entendimento sobre hospitais públicos universitários. Ademais, o motivo predominante na escolha do HUPAA como campo empírico para a realização do estudo reside no fato de esta pesquisadora fazer parte do quadro de pessoal dessa organização. Isso posto, a condição de participar do ambiente organizacional do HUPAA há aproximadamente dez anos suscitou algumas reflexões por parte desta pesquisadora quanto à realização desta investigação. O fato de ser membro da organização em estudo não foi tomado como algo que minimizasse as chances de propor questões significativas e ainda não estudadas acerca do HUPAA. Pelo contrário, os anos de trabalho despertaram a inquietação frente a alguns aspectos da configuração administrativa do HUPAA e a percepção de que realizar a análise organizacional desse hospital seria um trabalho pioneiro e de grande contribuição para ajudá-lo a evoluir em alguns de seus processos cotidianos. Com efeito, em pertencendo ao quadro de funcionários do HUPAA havia a possibilidade de tornar a pesquisa mais exeqüível, principalmente quanto às condições de acesso a informações, sujeitos e cenários indispensáveis ao desenvolvimento da pesquisa; posição que dificilmente seria atingida por algum pesquisador externo. Em contrapartida, reconhece-se que a visão de um pesquisador que trabalha na organização investigada traz em si aspectos resultantes da experiência vivida no ambiente; assim sendo, desde logo a pesquisadora não deixa de reconhecer que lhe foram exigidos permanente questionamento da realidade estudada e um esforço extra no sentido de manter um estranhamento frente ao familiar..

(28) 25. Entendemos que uma condição indispensável para a consecução dos objetivos desta pesquisa é o cuidado em tentar lidar com percepções e opiniões já formadas, reconstruindo-as em novas bases, levando em conta as experiências pessoais, mas filtrando-as com a ajuda do referencial teórico e de procedimentos metodológicos específicos. Ainda nessa perspectiva, não nos furtamos de assumir que, ao deixar de escolher um outro hospital para estudo, privamo-nos de conhecer uma realidade nova e diferente daquela que nos é familiar, e que talvez fosse uma maior oportunidade de aprendizado. Contudo, neste momento, por todas as razões aqui expostas, escolheu-se o HUPAA como campo de aplicação do modelo multidimensional-reflexivo de Alves (2003). Esclarecidos os motivos vivenciais e teóricos que impulsionam a realização deste estudo, na próxima seção apresentar-se-á a estrutura do mesmo.. 1.3 Estruturação do estudo Com intuito de ordenar a presente pesquisa, estruturamos este trabalho em cinco capítulos. O capítulo 1 introduz o tema e apresenta o problema a ser estudado, o objetivo geral e os específicos a serem atingidos, as contribuições do estudo, bem como o campo empírico da pesquisa e a estrutura do trabalho. No capítulo subseqüente, apresenta-se o referencial teórico que fundamenta o trabalho. Os conceitos sobre tipologias organizacionais, com ênfase no OMR, as descrições sobre a organização hospitalar e, em particular, sobre os hospitais universitários são abordados. Na seqüência, o terceiro capítulo trata do delineamento da pesquisa, dos procedimentos metodológicos utilizados, das questões norteadoras de pesquisa, das definições.

(29) 26. constitutivas e operacionais das categorias de análise, da amostragem e das técnicas adotadas na coleta e análise de dados. O quarto capítulo ocupa-se de trazer um breve histórico do HUPAA; além disso, descreve sua configuração-administrativa atual a partir dos dados coletados conforme a metodologia descrita no capitulo anterior. A análise do HUPAA a partir do modelo de Alves (2003) é efetivada no capítulo cinco. No último capítulo, são apresentadas as considerações finais do trabalho, incluindo suas limitações. Também nele são propostas sugestões para pesquisas futuras..

(30) 27. 2 Fundamentação Teórica Para fundamentar o presente estudo, neste capítulo apresenta-se uma síntese da literatura pertinente aos seguintes temas: as tipologias organizacionais, a organização hospitalar e os hospitais universitários. Primeiramente, apresentam-se algumas tipologias organizacionais, com ênfase no modelo de organização multidimensional-reflexivo (OMR) de Alves (2003). Em seguida, discorre-se sobre as organizações hospitalares, com foco em sua evolução histórica, propriedades e características, e finalmente abordam-se os hospitais de ensino, pontuando suas principais especificidades.. 2.1 Tipologias organizacionais Construir uma tipologia é: 1) estabelecer uma lista de variáveis consideradas pertinentes; 2) mostrar que essas variáveis são caracterizadas por intercorrelações mais ou menos fortes e “estruturadas”, isto é repartidas de maneira não-aleatória; 3) utilizar essas intercorrelações para repartir os objetos observados em tipos ou classes (BOUDON e BOURRICAUD, 1993, p.221).. O perigo dos esquemas classificatórios é a simplificação excessiva, ou seja, embora algumas tipologias possam ser utilizadas em análises limitadas, como comparar organizações em termos de seus índices de rotatividade ou taxas de crescimento, tais classificações, em geral, escolhem somente um parâmetro a ser analisado; por isso, acaba-se conhecendo somente um aspecto da organização e não a sua complexidade (HALL, 2004). Dessa forma, embora uma tipologia organizacional tenha suas propriedades, ela não deve ser tomada como algo definitivo, visto que uma organização pode possuir características.

(31) 28. de mais de um tipo definido. Na realidade, as tipologias têm importante papel quando auxiliam os pesquisadores na análise das organizações, uma vez que permitem uma melhor aproximação com o objeto em estudo. As tipologias são também indícios de que se tem caminhado em direção a um relativismo. E mesmo adotando diferentes critérios para agrupar as estruturas e organizações, apresentamos aqui algumas das tipologias mais citadas na literatura. As formas mais comuns são as chamadas tipologias tradicionais ou baseadas no “bomsenso”. Assim, pode-se classificar uma organização a partir da sua orientação econômica, ou seja, ela pode ser classificada como com fins lucrativos ou sem fins lucrativos. Essa é, claramente, uma distinção importante em alguns casos, porém não em outros. É possível ainda classificar uma organização de acordo com o setor em que atua; por exemplo: educacional, agrícola, de saúde e de medicina (HALL, 2004). Segundo Clegg (1998), no âmbito das configurações organizacionais não se pode deixar de ressaltar a influência pioneira de Max Weber na medida em que colocou a racionalidade como principal aspecto norteador na construção das estruturas sociais. Weber mostra que a burocracia, enquanto tipo-ideal, procura exprimir, de forma estável e duradoura, a cooperação de um grande número de pessoas, cada qual detendo uma função especializada. Para tanto, separa-se a esfera privada e familiar da esfera pública do indivíduo (MOTTA e VASCONCELOS, 2002). A organização burocrática caracteriza-se por possuir hierarquia de autoridade, divisão do trabalho, participantes tecnicamente competentes, métodos de trabalho, comunicação regulamentada, padronização de processos e das habilidades de trabalho (WEBER, 1999). Apesar de o modelo burocrático se constituir em parâmetro para o estudo das organizações, ele também sofreu várias críticas. Quando alguns pesquisadores começaram a realizar estudos empíricos das organizações, perceberam que, no mundo real, alguns componentes.

(32) 29. burocráticos nem sempre apareciam como na teorização de Weber (CLEGG, 1998). De fato, conforme Weber (1999) previa, nenhum sistema conceitual pode reproduzir integralmente o real e a diversidade de um fenômeno particular, visto que os atores sociais, ao interagir, constroem em conjunto os significados compartilhados que constituem uma dada realidade. O trabalho de Burns e Stalker desenvolveu um modelo organizacional, identificando a forma mecânica, que se aproxima do tipo ideal de burocracia de Weber, e a forma orgânica, com uma estrutura de controle em rede, um ajuste contínuo e redefinição de tarefas, em meio a um contexto de comunicação envolvendo informações e opiniões (HALL, 2004). Na análise funcionalista de Parsons (1960), uma organização pode ser tipificada quanto à sua função ou meta estabelecida. Esse autor distingue quatro tipos de organização, de acordo com sua contribuição para a sociedade. São estes os tipos: (1) a organização de produção, que fabrica os bens consumidos pela sociedade; (2) a organização orientada para fins políticos, que busca assegurar que a sociedade atinja metas a que atribui valor, gerando e distribuindo poder no âmbito social; (3) a organização integradora, cujos propósitos são os de resolver conflitos, direcionar as motivações para a concretização de expectativas institucionalizadas e assegurar que as partes da sociedade operem juntas; (4) a organização de manutenção de padrões, a qual tenta proporcionar a continuidade da sociedade por meio de atividades educacionais, culturais e expressivas. Com uma classificação bem similar, Katz e Kahn (1974) enquadram as organizações em quatro classes, conforme a atividade em que se acham empenhadas: (1) organizações produtivas — aquelas que objetivam a criação de riqueza, a manufatura de bens e a prestação de serviços para o público em geral; (2) organizações de manutenção — dedicadas à socialização e à capacitação das pessoas para seus papéis em outras organizações; (3) organizações adaptativas — voltadas à criação, ao desenvolvimento e transmissão de conhecimentos e à geração de informações que respondam às necessidades existentes no.

(33) 30. âmbito da sociedade; (4) organizações políticas-administrativas — dedicadas à coordenação e controle de recursos, pessoas e subsistemas. Embora cada uma desses conjuntos de atividades seja claramente importante para a sociedade, informa pouco sobre as organizações, não diferencia entre as características das próprias organizações, deixa de contemplar as organizações de serviços orientados aos seres humanos e, além disso, podem enquadrar as organizações em mais de uma categoria (HALL, 2004). Etzioni (1974), por sua vez, usou a obediência como princípio para estabelecer a sua tipologia. Obediência entendida como o modo pelo qual os participantes do escalão operacional de uma organização respondem a seu sistema de autoridade; obediência expressa por meio da natureza do envolvimento dos participantes de nível mais baixo na organização. De acordo com esse modelo, existem três tipos de autoridade: coercitiva, remunerativa e normativa, bem como existem três tipos de obediência — alienatória, instrumental ou calculista e moral. Como resultado, apresenta-se um esquema classificatório com nove tipos possíveis de organização — quadro 1(2): Tipos de Participação dos Subordinados Tipos de Poder. Alienativa. Calculista. Moral. Coercivo. Coercitivo-Alienante. Coercitivo-Instrumental. Coercitivo-Moral. Calculista. RemunerativoAlienante. RemunerativoInstrumental. Remunerativo-Moral. Normativo. Normativo-Alienante. Normativo-Instrumental. Normativo-Moral. Quadro 1(2): Tipologia organizacional de Etzioni (Fonte: Etzioni, 1974, p.41).. Outra tipologia é a proposta por Blau e Scott (1970), que tomaram o principal beneficiário organizacional como base para classificação das organizações em quatro categorias: organizações de benefícios mútuos (onde os próprios membros são os principais beneficiários), empresas privadas (cujos proprietários são os beneficiários), organizações prestadoras de serviço (os clientes são os beneficiários) e organizações comunitárias (onde o.

(34) 31. público em geral se beneficia). Hall (2004) alerta que esse tipo de classificação torna difícil isolar um único grupo, explícito, estável e coerente entendido por uma organização; bem como existem algumas organizações, como por exemplo, uma escola, que não são viáveis de serem enquadradas em uma única categoria. Mintzberg (2003) ressalta que a análise de determinada configuração organizacional deve considerar critérios como o tamanho, a idade, o tipo de ambiente em que a organização atua, o sistema técnico que utiliza, entre outros. Fatores como controles externos à organização, necessidades pessoais de seus membros e a cultura onde a organização está inserida também interferem no delineamento organizacional. Ainda de acordo com o mesmo autor, tanto os parâmetros do design quanto os fatores situacionais devem ser rigorosamente agrupados para a criação de configurações. Isso posto, Mintzberg (2003) identificou cinco configurações principais, sendo que cada uma delas possui um mecanismo de coordenação diferente dominante: uma parte diferente da organização exerce o papel mais importante e um tipo diferente de descentralização é usado. São estas as configurações: estrutura simples, burocracia mecanizada, burocracia profissional, forma divisionada e adhocracia. Para Silva (2005), a tipologia de Mintzberg diferencia-se das demais devido à abrangência de seus critérios classificatórios, uma vez que busca identificar um conjunto amplo de variáveis interdependentes, que podem influenciar a configuração da organização, muitas delas consideradas isoladamente nas demais tipologias. É relevante apontar que esta mesma tipologia caracteriza-se por sua unidimensionalidade, na medida em que os tipos estruturais que dela derivam são variações burocráticas. A seguir, discorre-se mais detalhadamente sobre o modelo de organização multidimensional-reflexivo (OMR) de Alves (2003), o qual teve sua aplicabilidade testada neste estudo, em que se analisa um hospital universitário..

(35) 32. 2.2 O modelo de organização multidimensional-reflexivo de Alves (2003) Esta seção ocupa-se do modelo de organização multidimensional-reflexivo proposto por Alves (2003). Inicialmente são apresentadas as características gerais do Modelo; em seguida seus principais elementos — o AMR, os tipos e subtipos organizacionais e a dinâmica organizacional — são explicitados.. 2.2.1 Caracterização do Modelo O modelo multidimensional-reflexivo (OMR) tem por fundamento o legado de Max Weber, embora não seja um estudo sobre seu pensamento e sua obra. A tipologia da ação social e os tipos ideais de dominação weberianos foram tomados como referência para gerar novos conceitos e idéias. Os componentes dos tipos puros de dominação são tratados como ‘variáveis’ que são associadas entre si; sendo reelaborados e combinados para construção de um modelo dotado de alguma originalidade e capaz de contribuir para a análise de organizações (ALVES, 2003, p.13).. A construção de um modelo de análise a partir dos tipos ideais weberianos somente foi possível na medida em que se reconhece que esses construtos são impossíveis de serem encontrados empiricamente em sua pureza conceitual (ALVES, 2003). Nesse sentido, esclarece-se que o OMR não é apenas um novo ordenamento de componentes das estruturas de domínio de Weber. O Modelo é representado por uma configuração organizacional-administrativa multifacetada, tríptica e transiente, na qual têm-se elementos caracterizadores dos estilos de gestão patriarcal, da liderança com traços carismáticos e da administração burocrática, dinamicamente relacionados entre si e influenciando-se mutuamente em variadas intensidades. Assim,.

(36) 33. A contínua inter-relação de tais componentes, cada um deles impregnandose com os demais, interpenetrando-se uns com os outros, em múltiplas e covariadas combinações, resulta em um desenho estrutural híbrido, polifórmico e também mutante, posto que gera um equilíbrio dinâmico e também mutante, posto que gera um equilíbrio dinâmico de antagonismos e complementaridades (ALVES, 2004b, p 73).. Desse modo, consideram-se as seguintes situações, em relação às suas dimensões constituintes: • Quanto ao carisma: Alves situa seu modelo em um continuum entre dois pólos extremos — o carisma genuíno e o carisma rotinizado (despersonalizado). O OMR opera com a liderança de traços carismáticos mitigados; conquanto não ressalte o ímpeto revolucionário (característica inseparável do carisma puro), tampouco enfatiza o carisma despersonalizado (corresponde ao carisma objetivado); • Quanto ao patriarcado: o modelo classifica o patriarca em três categorias, tendo como variante a possibilidade de exercer o livre arbítrio: reformador (máxima vontade própria – livre arbítrio), renovador (intermediária), conservador (área mínima de livre arbítrio); • Quanto à burocracia: para fins do modelo, considera-se o burocrata como mais ou menos rígido (ou flexível), conforme sua presença e atuação em uma organização estejam mais ou menos próximas em relação ao tipo ideal de burocracia. Alves (2003) parte do entendimento de que mesmo em organizações fortemente reguladas por princípios racional-instrumentais, onde os membros aproximam-se em função de interesses materiais, não se elimina a necessidade de confiança entre eles. Em outras palavras, ele ressalta que o Modelo parte do pressuposto de que a lógica de mercado não aniquila os laços socioafetivos, nem a devoção a antigos costumes. A abordagem multidimensional-reflexiva considera que essas duas dimensões (racionalidade instrumental e ingredientes afetivos) articulam-se e convivem nas organizações..

(37) 34. Obviamente que, de modo similar a todos os modelos, o OMR é também uma representação parcial e incompleta da realidade, logo não tem a intenção de impor uma estrutura conveniente a todas as organizações; e tampouco considera que existe uma única configuração organizacional-administrativa adequada para todos os setores ou áreas da organização. Sobre esse ponto, Alves (2003) esclarece que “o OMR não corresponde a um todo monolítico, nem a um referencial de excelência, posto que, dependendo de diversos fatores internos e externos, ter-se-á arranjos estruturais específicos à situação concreta” (p.99). O OMR procura superar a dualidade presente nas posições caracterizadas pelo destaque exclusivo à estrutura ou pela relevância excessiva do agente individual. O Modelo prioriza o diálogo entre essas posições polarizadas, tentando não ceder ao determinismo das estruturas sobre indivíduos passivos, nem acatar que os indivíduos com suas habilidade são capazes de realizar sua vontade ou quase tudo dentro de uma organização: Vale dizer, os agentes organizacionais (individual ou coletivamente) têm sua ação condicionada pela estrutura, embora eles também engendrem esta última. Em outras palavras, as propriedades estruturantes (regras e recursos) são dotadas de uma ‘causalidade condicionante’ que não determina a ação dos indivíduos, mas a restringe ou a facilita (ALVES, 2002, p. 2).. Na perspectiva adotada pelo autor, o indivíduo e a organização são considerados como dimensões estreitamente articuladas e em recíproco condicionamento, ainda que em algumas situações uma delas temporariamente se sobressaia, devido à dinâmica a que a organização está sujeita. No que se refere aos mecanismos de coordenação e controle, o OMR assimila simultaneamente um controle utilitário e normativo, no qual se exerce, de um lado, um poder tangível e remunerativo, através de autoridades; e de outro, opera um poder intangível e normativo, por meio de lideranças que alocam recompensas simbólicas e criam referências de comportamento. É possível então que, no primeiro caso, sejam gerados nos membros da.

(38) 35. organização um comportamento de caráter mais calculista e uma participação de natureza utilitária; e no outro, poderão ser produzidos um comportamento em que predomina uma orientação motivacional de natureza moral e um comprometimento de caráter afetivoemocional (ALVES, 2004a). Esse modelo considera que o tempo organizacional possui dimensões interligadas de temporalidade, isto é, ao OMR está associada uma perspectiva que encara os três tempos — passado, presente, futuro — imbricados entre si. Além dessas propriedades, o OMR acolhe o exercício de um diálogo interdisciplinar que procura transpor conceitos correlatos entre disciplinas afins das ciências sociais, principalmente da Sociologia e da Administração, como forma de ampliar sua capacidade analítica. Na próxima subseção será apresentado o agente organizacional multidimensional – reflexivo (AMR), construto fundamental no Modelo de Alves (2003).. 2.2.2 Características do agente O agente organizacional multidimensional-reflexivo (AMR) é uma construção teórica em cuja origem se encontra uma combinação de elementos do patriarca, do líder com traços carismáticos e do burocrata: O agente organizacional multidimensional-reflexivo (AMR) é um construto teórico indissociável do modelo e representa um indivíduo que age racionalmente em relação a fins, mas também orientado pela tradição e movido por sentimentos afetivos (ALVES, 2003, p. 105).. Para o modelo proposto, o agente organizacional pode conceber novos desenhos e configurações administrativas que propiciem a competitividade da organização e uma ambiência sociotécnica mais condizente com as necessidades humanas: uma organização que.

Referências

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