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3.5 Coleta de dados primários e secundários

3.5.1 Entrevistas semi-estruturadas

De forma geral, a entrevista pode ser definida como um encontro interpessoal estabelecido para obtenção de informações verbais ou escritas, sendo instrumento para conhecimento, assistência ou pesquisa (MINAYO, 2004).

A literatura é copiosa em considerar que a entrevista semi-estruturada tem o formato mais apropriado para instrumento auxiliar a ser utilizado nas pesquisas qualitativas (TURATO, 2003; TRIVIÑOS, 1987; MINAYO, 2004). No contexto deste trabalho, a entrevista semi-estruturada foi utilizada como instrumento de coleta de dados qualitativos primários.

Para Triviños (1987), a entrevista semi-estruturada, ao mesmo tempo em que valoriza a presença do pesquisador, também oferece todas as perspectivas possíveis para que o informante alcance a liberdade e a espontaneidade necessárias, enriquecendo a pesquisa.

Nessa técnica, o pesquisador levanta certos questionamentos, apoiados em teorias que interessam à pesquisa, e oferece um amplo campo de interrogativas, fruto de novas possibilidades que vão surgindo à medida que se recebem respostas do informante. “Desta maneira, o informante, seguindo espontaneamente a linha de seu pensamento e de suas experiências dentro do foco principal colocado pelo investigador, começa a participar na elaboração do conteúdo da pesquisa” (TRIVIÑOS, 1987, p. 146).

Morse e Field (1995 apud TURATO 2003) sublinham que a entrevista semi- estruturada é usada quando o pesquisador conhece a maioria das questões a abordar, mas não pode predizer as respostas. Esses mesmos autores pontuam as principais características dessa técnica: ela é interativa, é responsiva à linguagem e aos conceitos usados pelo entrevistado e tem uma agenda flexível.

Sendo assim, a primeira técnica utilizada para a coleta de dados primários foi a entrevista semi-estruturada, orientada por um roteiro de questões relacionadas ao interesse da pesquisa.

O roteiro de entrevista (apêndice “A”) utilizado nesta pesquisa foi baseado na teoria que alimentou a pesquisa — especificamente o modelo multidimensional-reflexivo de Alves (2003) — e das informações coletadas durante análise documental. Desse modo, as questões que constaram no roteiro procuraram particularmente abordar e/ou aprofundar aspectos relevantes para a pesquisa, os quais não tinham sido suficientemente esclarecidos na etapa da análise documental e só poderiam ser conhecidos com a contribuição dos agentes da organização estudada, visto que se referiam diretamente a suas atitudes, valores e opiniões.

É importante esclarecer que o roteiro de entrevista não se constituiu em um instrumento rígido de coleta de dados; ao contrário, em algumas entrevistas a ordem das questões foi diversa daquela prevista pela pesquisadora, tendo em vista, por exemplo, que alguns entrevistados falaram, por sua iniciativa, sobre um tópico do roteiro antes que lhe fosse perguntado, enquanto outros não se sentiram à vontade para responder a algum dos questionamentos. Além disso, alguns aspectos não previstos inicialmente no roteiro foram verbalizados pelos entrevistados e conseqüentemente foram adicionados ao conjunto do estudo.

O horário e o local de todas as entrevistas foram definidos previamente com os entrevistados, conforme a conveniência e disponibilidade pessoal deles. Isso nos permitiu o

planejamento de tempo da pesquisa, significando também um respeito pelas atividades cotidianas dos entrevistados, além de ter sido uma forma de diferenciar a postura de pesquisadora da postura de funcionária frente à familiaridade com a organização estudada e com as pessoas que lá trabalham.

Procurou-se usar recinto reservado, criando assim um setting ideal para manter a privacidade do entrevistado. Apesar disso, algumas entrevistas sofreram interrupção por parte de agentes externos, outras tiveram que ser remarcadas e algumas poucas foram de difícil agendamento.

O início da entrevista sempre se dava com uma explicação da entrevistadora sobre os objetivos da pesquisa — procurando usar uma linguagem acessível, considerando que não havia obrigatoriedade de o entrevistado entender termos científicos — e a justificativa da escolha do entrevistado. Em seguida, era explicada a dinâmica da entrevista, dando-se ênfase aos tópicos que seriam abordados e à garantia de sigilo sobre o autor das respostas.

A permissão para o uso do gravador foi solicitada verbalmente a todos os entrevistados, e reforçou-se o seguinte: a preservação do anonimato (por isso os depoimentos citados na seção seguinte serão identificados por letras); a possibilidade de recusa às perguntas formuladas pelo pesquisador; o respeito à decisão de não gravar a entrevista e de abandono da entrevista por parte do entrevistado sem prejuízos para si; a possibilidade de o entrevistado perguntar ou solicitar esclarecimentos adicionais à pesquisadora.

O registro das entrevistas em fitas cassetes permitiu-nos voltar toda a atenção à pessoa e à fala do entrevistado. Nesta pesquisa, a presença do gravador, considerado por muitos um elemento “estranho”, pareceu não afetar significativamente a naturalidade e espontaneidade da maioria dos entrevistados. Apenas um entrevistado não permitiu a gravação, embora tenha respondido a todas as perguntas. Houve também algumas perguntas que mereceram uma explicação mais clara para facilitar o entendimento por parte dos entrevistados.

Uma vez encerrada a abordagem dos tópicos previstos no roteiro de entrevista, e outros emergentes, abrimos espaço para o entrevistado colocar mais algum aspecto relacionado ao assunto conversado e que não tivesse sido contemplado pelas perguntas. Ao final da entrevista, agradecemos pela participação e cooperação de todos os entrevistados e colocamo-nos à disposição para um outro momento de entrevista caso o entrevistado sentisse necessidade.

As entrevistas foram transcritas e lidas; e delas foram retiradas evidências, dados, percepções que subsidiaram a análise organizacional proposta neste trabalho. De forma geral, não houve dificuldade na condução das entrevistas. No total, foram realizadas 35, conforme mostra o quadro 10(3) abaixo.

SERVIÇO/SETOR POSIÇÃO DO AGENTE NA ESTRUTURA

Direção Geral Nível Estratégico

Direção Administrativa Nível Estratégico

Direção de Enfermagem Nível Estratégico

Nível Estratégico

Direção Técnica Nível Estratégico

Direção de Ensino Nível Estratégico

Serviço Social Nível Intermediário

Nível Operacional

SAME Nível Intermediário

Nível Operacional

Radiologia Nível Intermediário

Nível Operacional

SND Nível Intermediário

Nível Operacional

Laboratório Nível Intermediário

Nível Operacional

Farmácia Nível Intermediário

Nível Operacional

Ambulatório Geral Nível Intermediário

Nível Operacional

Recursos Humanos Nível Intermediário

Nível Operacional

UTI-Geral Nível Intermediário

Nível Operacional

Compras Nível Intermediário

Clínica Médica Nível Intermediário Nível Operacional

Pediatria Nível Intermediário

CDI Nível Intermediário

Nível Operacional

SERVIÇO/SETOR POSIÇÃO DO AGENTE NA ESTRUTURA

NPD Nível Intermediário

Nível Operacional

Clínica Cirúrgica Nível Intermediário

UTI-Neonatal Nível Operacional

TOTAL 35

Quadro 10(3): Perfil dos entrevistados conforme lotação e posição na estrutura hierárquica.

Segundo Minayo (2004), a entrevista e a observação são dois componentes fundamentais do trabalho de campo. Na seção seguinte, discorre-se sobre o uso da técnica da observação participante nesta pesquisa.