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Concorda-se com Turato (2003) sobre a inadequação em restringir o uso do termo amostragem a pesquisas quantitativas, uma vez que “o mesmo é fartamente usado pelos pesquisadores e pela literatura qualitativistas sem decorrentes problemas conceituais” (p. 325). Ainda assim, Minayo (2004) complementa que a questão da amostragem em pesquisa qualitativa merece comentários de esclarecimento:

Numa busca qualitativa, preocupamo-nos menos com a generalização e mais com o aprofundamento e abrangência da compreensão seja de um grupo social, de uma organização, de uma instituição, de uma política ou de uma representação. Seu critério portanto não é numérico. Podemos considerar que uma amostra ideal é aquela capaz de refletir a totalidade nas suas múltiplas dimensões.(p. 102).

A pesquisa qualitativa aqui desenvolvida assumidamente não intenciona generalizar resultados, mas dar possibilidade de surgimento de novos conceitos e pressupostos a partir da conclusão do estudo. Considerando que este estudo teve como objetivos a descrição e o entendimento em profundidade de um processo — em especial a compreensão e análise de uma singular configuração organizacional a partir de um específico referencial teórico —, tem-se que a amostra probabilística não era aqui justificável (MERRIAM, 1998).

O campo empírico do estudo — o HUPAA — foi selecionado de forma intencional, não probabilística e típica. Para tal, seguindo a perspectiva da pesquisa qualitativa, consideraram-se os seguintes aspectos:

 o pioneirismo em utilizar o modelo de Alves (2003) para análise de um hospital universitário público;

 o interesse intrínseco da pesquisadora em estudar as organizações hospitalares, reconhecidas por sua singular complexidade e também o fato da pesquisadora desenvolver suas atividades laborais no HUPAA;

 o fato de o HUPAA ser o único hospital universitário federal no Estado de Alagoas e desempenhar papel de relevante importância no segmento da saúde pública daquele Estado.

No contexto desta pesquisa existiram ainda numerosos aspectos, eventos, atividades a serem observadas, pessoas a serem entrevistadas, documentos a serem lidos. Dessa forma, houve necessidade de um segundo nível de amostragem (MERRIAM, 1998) que efetivamente ajudasse a captar as informações mais relevantes para compreensão do fenômeno em estudo.

No que se refere à escolha dos documentos para análise, esta não se deu aleatoriamente; a partir dos indicadores de análise escolhidos para a pesquisa, foram selecionados aqueles documentos com dados que contribuíssem para a construção do retrato mais ampliado da configuração organizacional administrativa do HUPAA. Mais adiante serão relacionados tais documentos.

Sendo o nível de análise desta pesquisa considerado organizacional, foram selecionados dentro do HUPAA os respondentes que pudessem efetivamente ajudar a compreender o fenômeno em estudo (MERRIAM, 1998). Portanto, a amostragem proposital, intencional ou deliberada foi adotada quando da seleção dos sujeitos a serem entrevistados. Segundo Patton (2002), a lógica e o poder da amostragem intencional e não probabilística baseia-se em selecionar casos ricos de informação para o estudo.

Segundo Turato (2003), de certa forma a amostragem intencional pode ser definida como aquela de escolha deliberada de respondentes, sujeitos ou ambientes, em oposição à amostragem estatística, preocupada com a representatividade de uma amostra em relação à população total (TURATO, 2003).

A definição dos indivíduos a serem entrevistados não se deu aprioristicamente. A partir da contemplação dos dados colhidos na análise documental, foi possível definir quais sujeitos viriam a fornecer os dados ainda necessários à pesquisa.

Para esse fim, inicialmente foram identificadas as duas áreas preponderantes nos hospitais em geral: área-fim e área-meio. A primeira é aquela na qual se funda a identidade da organização; a segunda ocupa-se dos grupos de apoio que dão suporte e viabilizam as atividades da área-fim (FARIAS e VAITSMAN, 2002).

Dentre os setores e serviços que compõem essas duas áreas, selecionaram-se alguns: os da área-fim foram escolhidos aleatoriamente; os da área-meio foram aqueles mais citados nas entrevistas realizadas com agentes da área-fim. De forma geral, tentou-se contemplar as esferas do ensino, assistência e pesquisa, e a área de apoio, conforme mostra o quadro 9(3) abaixo:

ÁREA-MEIO ÁREA-FIM

Serviço de Radiologia Unidade de Internação da Clínica Médica

Laboratório Unidade de Internação da Clínica

Cirúrgica

Serviço de Nutrição e Dietética (SND) Unidade de Internação Pediátrica

Serviço Social UTI-Neonatal

Setor de Recursos Humanos (SRH) Ambulatório Geral

Farmácia UTI-Geral

Setor de Compras Direção de Ensino

Setor de Arquivo Médico e Estatística (SAME) Direção Geral

Núcleo de Processamento de Dados (NPD) Direção de Enfermagem

Coordenação de Desenvolvimento Institucional (CDI)

Direção Administrativa Direção Técnica

Direção Técnica

Total: 12 Total: 10

Quadro 9(3): Setores do HUPAA escolhidos para coleta de dados primários (Fonte: Elaborado pela

Esclarece-se que serviço e setor são aqui entendidos como unidades funcionais que congregam diversos profissionais, tecnologias, saberes e infra-estrutura material.

Ademais, em sendo uma amostra não probabilística, os aspectos subjetivos considerados para escolha das pessoas a serem entrevistadas foram os seguintes:

• procuraram-se agentes nas posições Estratégica, Intermediária e Operacional, conforme prevê o modelo multidimensional-reflexivo de Alves (2003). Assim sendo, cada setor teve pelo menos um representante de cada tipo de agente;

• foram escolhidos indivíduos com pelo menos cinco anos de trabalho no HUPAA, tempo suficiente para acompanhar alguns momentos importantes na história do hospital captados na análise documental;

• procurou-se também incluir pessoas com diferentes tipos de vínculo empregatício com a organização.

Com efeito, os indivíduos entrevistados constituem um grupo considerado representativo dos critérios acima descritos, logo seria possível afirmar que eles foram escolhidos por critério de tipicidade. Uma amostra típica é aquela que é selecionada porque reflete uma situação ou por ser exemplo do fenômeno de interesse do pesquisador (MERRIAM, 1998).

Fez-se a opção de não entrevistar pacientes e estudantes ou residentes, uma vez que a percepção desses sobre o HUPAA está diretamente voltada ao desempenho da organização; os primeiros são os principais interessados na assistência prestada, enquanto o ensino e a pesquisa estão eminentemente voltados aos estudantes e aos residentes. Nesse sentido, é útil relembrar que esta pesquisa não acolheu o indicador sistema operacional (ALVES, 2003), uma vez que ele é justamente voltado à análise do desempenho organizacional.

A amostra escolhida tentou seguir a advertência de Minayo (2004), ou seja, o número de pessoas foi menos importante do que a teimosia de enxergar a questão sob várias

perspectivas, pontos de vista e de observação. A partir das entrevistas realizadas tentou-se construir uma amostra significativa não em termos de um segmento estatisticamente expressivo de uma população, mas com representatividade frente ao fenômeno estudado.

Ainda sobre esse tópico, as considerações gerais que guiam a decisão sobre o número de entrevistas necessárias recomendam que as entrevistas devam cessar à medida que não melhorem necessariamente a qualidade ou a compreensão mais detalhada sobre o tema (BAUER e GASKELL, 2003). Neste caso, a certo ponto as respostas sobre os aspectos abordados começaram a se repetir, tendo sido esse o sinalizador para se optar pela conclusão da coleta.

Não obstante, evidenciou-se a necessidade de observar no cotidiano da organização o comportamento de alguns aspectos explicitados nas entrevistas. Para tal fim, adotou-se a observação participante como método de coleta de tais dados, procurando-se pesquisar um pouco mais sobre alguns aspectos da configuração organizacional-administrativa (tais como processo decisório, comunicação) e sobre o agente (interação, relacionamento no ambiente de trabalho).

Por fim, a amostra qualitativa escolhida para este trabalho procurou o alinhamento com as seguintes orientações de Minayo (2004):

(a) privilegia os sujeitos sociais que detêm os atributos que o investigador pretende conhecer; (b) considera-os em número suficiente para permitir uma certa reincidência das informações, porém não despreza informações ímpares cujo potencial explicativo tem que ser levado em conta; (c) entende que na sua homogeneidade fundamental relativa aos atributos, o conjunto dos informantes possa ser diversificado para possibilitar a apreensão de semelhanças e diferenças; (d) esforça-se para que a escolha do locus e do grupo de observação e informação contenham o conjunto das experiências e expressões que se pretende objetivar com a pesquisa (p. 102).