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Rev. Bras. Ciênc. Esporte vol.39 número1

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www.rbceonline.org.br

Revista

Brasileira

de

CIÊNCIAS

DO

ESPORTE

ARTIGO

ORIGINAL

Trabalho

voluntário

em

políticas

públicas

sociais

de

esporte

e

lazer:

uma

análise

a

partir

de

casos

do

Programa

Escola

Aberta

Leandro

Forell

a,∗

e

Marco

Paulo

Stigger

b

aUniversidadeEstadualdoRioGrandedoSul(UERGS),Osório,RS,Brasil

bUniversidadeFederaldoRioGrandedoSul(UFRGS),EscoladeEducac¸ãoFísica,DepartamentodeEducac¸ãoFísica,PortoAlegre,

RS,Brasil

Recebidoem5deagostode2013;aceitoem10dejunhode2014 DisponívelnaInternetem14denovembrode2015

PALAVRAS-CHAVE Políticaspúblicas; Trabalhovoluntário; Programaescola aberta;

Lazer

Resumo Nopresenteartigoapresentamosorelatodeumapesquisaquetevecomoobjetivo compreenderossignificadosdotrabalhovoluntárioesuasimplicac¸õesparaaspolíticaspúblicas deesporteelazer.Decunhoqualitativo,asinformac¸õesobtidasforamproduzidasapartirde diáriosdecampoeentrevistassemiestruturadas.Analisamosduascategorias:asidentidadesdo trabalhovoluntário;easrepercussõesdotrabalhovoluntárioparaaspolíticaspúblicas. Cons-tatamosqueeleérepresentadocomodádivae/ourelac¸ãoeconômica,umanoc¸ão/condic¸ão. Mesmoqueparamuitaspessoaselerepresenteapossibilidadedoacessoaoesporteeaolazer, identificamos queisso trazimplicac¸ões: aprecarizac¸ão doatendimento; a precarizac¸ãodo controlesocial;eoalargamentohorizontaldoEstado.

©2015Col´egioBrasileirodeCiˆenciasdoEsporte.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Este ´e umartigoOpenAccesssobumalicenc¸aCCBY-NC-ND(http://creativecommons.org/licenses/ by-nc-nd/4.0/).

KEYWORDS Publicpolicy; Volunteer; Openschool programme; Leisure

Voluntary work insport and leisurepolicies: ananalysis fromcases ofopen school program

Abstract Thepresentessay reportstheresultsofasurveythataimsatunderstandingthe meaningofvoluntaryworkanditsimplicationsinthedevelopmentofSportsandLeisurePublic Policies.Beingaqualitativeresearch,ithasbeenbasedonfieldjournalinformationand semi-structuredinterviews.Twobasiccategorieshavebeenanalyzed:voluntaryworkidentities,and itsconsequencesinthedevelopmentofpublicpolicies.WehaveWefoundthatvolunteerwork isrepresentedasagiftand/oreconomic relationship,anotion/condition.Eventhough,for

Autorparacorrespondência.

E-mail:lforell@hotmail.com(L.Forell).

http://dx.doi.org/10.1016/j.rbce.2015.10.018

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manypeople,thisworkrepresentsthepossibilityofaccesstosportandleisure,weidentified thathasimplications:theprecariousnessofcare;precarioussocialcontrol,andthehorizontal extensionofthestate.

©2015Col´egioBrasileirodeCiˆenciasdoEsporte.PublishedbyElsevierEditoraLtda.Thisisan openaccessarticleundertheCCBY-NC-NDlicense (http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).

PALABRASCLAVE Políticaspúblicas; Trabajovoluntario; ProgramaEscuela Abierta;

Ocio

Trabajovoluntarioenpolíticaspúblicasdeldeporteydelocio:unanálisisdeloscasos delProgramaEscuelaAbierta

Resumen Enelpresenteartículose presentaunestudiocuyoobjetivo eracomprender el significadodeltrabajovoluntarioysusimplicacionesparalapolíticapúblicadeldeporteydel ocio.Comoinvestigacióncualitativa,lainformaciónseobtuvoapartirdediariosdecampoy entrevistassemiestructuradas.Seanalizandoscategorías:lasidentidadesdeltrabajovoluntario ylasrepercusionesdeltrabajovoluntarioenlapolíticapública.Seconstataqueésteaparece representado comodádiva y/orelacióneconómica,unanoción/condición.Al igualquepara muchaspersonas, este trabajorepresentala posibilidaddeacceder al deportey alocio, y seidentificaqueellotieneimplicaciones:la precarizacióndelcuidado;la precarizacióndel controlsocial,ylaextensiónhorizontaldelEstado.

©2015Col´egioBrasileirodeCiˆenciasdoEsporte.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Estees unart´ıculoOpenAccessbajolalicenciaCCBY-NC-ND(http://creativecommons.org/licenses/ by-nc-nd/4.0/).

Introduc

¸ão

Vivemosemtemposdemovimentac¸ãocrescentedas políti-caspúblicasdeesportee lazer.Emumprimeiromomento a criac¸ão do Ministério do Esporte e posteriormente os compromissoscomosmegaeventostêmproporcionandoum aumento de investimentos associados ao que Zahariadis (2007)chamariadeoportunitywindon.1Muitosdesses

inves-timentos veem sendo sustentados politicamente por um discursosobreanaturezapositivaacercadoesporte,uma perspectivaqueseconstituiapartirdeumalógicaotimista, naqualoesporteéinvariavelmenteidentificadocomo ele-mentodesencadeadordeefeitosessencialmentebenéficos aosindivíduoseàsociedade.

Desenvolver análises sobre o esporte a partir da presunc¸ão de uma positividade intrínseca passa a ser um problema, na medida em que se trata de um fenômeno culturalpolissêmicoeheterogêneo,carregadoealimentado por emoc¸ões, interesses, disputas e diferentes formas de apropriac¸ão,em contextosculturais diversos,nos quais é atravessadopordinâmicassociaisepolíticas,estataisenão estatais.Se a culturaé uma teiadesignificados à qualo ser humano estápreso (Geertz,1989), osprocessos pelos quais as diferentes populac¸ões se apropriarão do esporte transformamseussignificadosemalgovivoepulsanteenão homogêneo(Stigger,2002).Pensarnaspolíticasdeesporte sob essa perspectiva significa refletir sobre os processos nos quais os agentes promotores e os ‘‘públicos alvos’’2

1Janeladeoportunidades.

2Segundo Ingramet al. (2007), essa noc¸ão de‘‘público alvo’’

surge nas políticas públicas ocidentais a partir de meados da

interagem e, nesse processo, adquirem papel-chave para desenvolvermúltiplaspossibilidadesdeimplantac¸ão.

Desdeadécadade1990,iniciativasgovernamentaisvêm seintensificandoeconsolidandooesporteenquantopolítica social.Oseucaráter‘‘social’’foiabsorvidopela‘‘direita’’ brasileiraenquantopossibilidadedamanutenc¸ãodevalores relacionados à sua natureza, justifica, assim, a possibili-dade de um aumento de ‘‘capital social’’. Na esteirade ummovimento renovadordaeducac¸ãofísica,osseus gru-posde‘‘esquerda’’,queatéentãosepautavamporolhares críticosemrelac¸ãoaoesporte---talvezporteremascendido aespac¸osdepoderemâmbitosgovernamentais---também passaramapensarnoesporteapartirdasuapositividadee averaspolíticaspúblicascomoumespac¸osocialpropícioa fazeradisputas dahegemonianasociedade.Apesardessa aproximac¸ão,é possívelafirmarque,nocampodas políti-caspúblicas,existem diversasposic¸õesem disputaacerca decomo tratar do esporte, asquais talvez pudessem ser identificasapartirdediferentesobjetivos,como‘‘formar cidadãosaptosaserelacionaremumasociabilidade neoli-beral’’e/ou‘‘promoveracidadaniaapartirdacompreensão dessapráticasocial,percebidacomodireitodetodos’’.

Nesse contexto, também aparecem diferenc¸as relati-vasaos investimentose àsformas degestão daspolíticas voltadas parao esporte. É possível considerarque o pro-cessodeexpansãodaspolíticassociaisdoGovernoFernando HenriqueCardososedesenvolveu apartirdeumcontexto socioeconômicoatravessadopela implantac¸ãodepolíticas inspiradas no neoliberalismo, geradoras de recessão, no qual era necessário dar conta das demandas sociais, ao

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mesmo tempo em que se discutia a diminuic¸ão do gasto público(Abrúcio,2005). Contrariamenteaalgumas inicia-tivas de‘‘governos petistas’’ daépoca,que investiam na contratac¸ãodeprofissionaisparaosseusquadros,alei fede-ral9608/98regularizouotrabalhovoluntário,desvinculou-o de encargos trabalhistas e possibilitou o pagamento de ajudadecustosemocomprometimentolegal comos tra-balhadores.Posteriormente,quandochegaàadministrac¸ão do Estado brasileiro, o Partido dos Trabalhadores tam-bémoptoupelousodotrabalhovoluntáriocomoformade ‘‘contratac¸ão’’,fatoessequepretendemosexplorarneste trabalho.

A partir de um olhar cultural para as políticas públi-cas de esporte e lazer, passamos a nos preocupar com os acontecimentos sociais cotidianos por elas desencade-ados.Mesmoquenãosejapossívelpensarnessecotidiano distanciado de estruturas macrossociais, é possível dizer queos trabalhosempíricos feitos nessaperspectiva apon-tamparaumarelativizac¸ãodosentidoutilitárioquemuitas vezes pauta tais políticas (Decerteau, 2009, Netto, 1996,

Carvalho, 1996). Por mais que haja expectativa de que determinadaspolíticas‘‘sirvam’’paradeterminados obje-tivos, nem sempre são estabelecidas conciliac¸ões com a realidadeconcretanaqualelassãoimplantadas.

É nessa ótica que apresentamos o relato de uma pes-quisapornósdesenvolvida.Comelenospropusemosatrazer elementoscapazesdeajudararefletir acercadotrabalho voluntárionoesportenouniversodaspolíticassociais gover-namentais.Paratal, oProgramaEscolaAberta(PEA)foio lócus de investigac¸ão por nós escolhido, umavez que se tratadeumainiciativagovernamentalquepropõeo aten-dimentodapopulac¸ãoapartirdousodetrabalhadorescom essadenominac¸ão.Numesforc¸oparanãotomarumaposic¸ão ‘‘contrária’’ou‘‘afavor’’dessetipodeintervenc¸ão, ten-tamoscompreendercomootrabalhovoluntárioépensadoe vividoequetipoderepercussãoseestabelecequandoelese materializanoâmbitodosprojetossociais.Partimos,então, doseguinteproblemadepesquisa:quaisossignificadosdo trabalhovoluntárioequaissãoosseuspossíveis desdobra-mentosnaspolíticaspúblicasdeacessoaoesporte,dentro doProgramaEscolaAberta?

Pararesponderessaperguntafoidesenvolvidoumestudo de caráter qualitativo, feito numa cidade gaúcha3 onde

o Programa Escola Aberta é desenvolvido, em diversas escolas.4Nessacidade,optamosporestudaremescolasde

bairrosreconhecidoscomomaisviolentospeloPronasci,5o

quesejustificaemfunc¸ãodequeumdosobjetivosdo Pro-gramaéareduc¸ãodaviolêncianasimediac¸õesdasescolas. Estivemosexpostosaocampodeoutubrode2008aabril de2009,quandousamosdiáriosdecampo6(Winkin,1998),

3Optamosporomitironomedomunicípio,porrazõeséticas. 4Nessemunicípioatélistadeesperadeescolasinteressadas

emdesenvolvê-lo.

5Forampesquisadasquatroescolas.OPronasci(Programa

Naci-onal de Seguranc¸a com Cidadania) estabeleceu os bairros mais violentosdascidades,essesquereceberamosprogramasquevisam àreduc¸ãodaviolência.OMinistériodaJustic¸abuscaestabelecer convênioscomoutrosministérios,nosquaistêmdoisprogramas:o PELC/PronascieodasPrac¸asdaJuventude.

6Foramproduzidos12diáriosdecampo(Fonseca,1999).

entrevistassemiestruturadas7(Trivi˜nos,1987)e análisede

documentos8 como formas de produc¸ão de informac¸ões.

Posteriormente, noprocessoanalítico-interpretativo, fize-mosa triangulac¸ãodosmateriais produzidos,na tentativa deconseguircompreenderasrelac¸õesderivadasdenossas inquietac¸õesdepesquisa.Combasenisso,nesseartigo, tra-taremosde duasdentre outrascategorias9 deanálise que

foramencontradasnainvestigac¸ão:asidentidadesdo traba-lhovoluntárioeotrabalhovoluntárionaspolíticaspúblicas deesporteelazer.

As

identidades

do

trabalho

voluntário

Embora a expressão usada na sec¸ão anterior trate do trabalhovoluntáriocomoalgoqueparece‘‘dado’’,10é

fun-damentaloferecerelementosqueajudemacompreendera complexidadeque essa‘‘condic¸ão’’ e/ou‘‘noc¸ão’’ adqui-rem para as pessoas com as quais nos relacionamos no trabalhodecampo,onde,em algunsmomentosotrabalho voluntárioseconstituicomouma‘‘condic¸ãodetrabalho’’e emoutrosseconstituicomouma‘‘noc¸ão’’dosatores soci-ais, sobreoque fazem.Asuaprópriadefinic¸ãonocampo foiproblemáticanamedidaemquevislumbrávamos encon-trarumtrabalhadorvoluntáriopróximodoqueLandin(2001)

denominade‘‘caridoso’’.Porém,aonosdepararmoscomo ProgramaEscolaAberta,acabamospornosrelacionarcom trabalhadoresvoluntáriosquetêmressarcimentoequesão caracterizadoscomoquesedenominade‘‘novo voluntari-ado’’(Landin,2001).

A pesquisadora Leilah Landin aponta para três dimen-sõesdetrabalhovoluntário,oCaridoso,oMilitanteeoNovo Voluntariado.Partindodesseolharteóricoépossívelafirmar queexistemfragmentosdessasperspectivasnaatuac¸õesdos voluntáriosdo ProgramaEscolaAberta nomunicípio estu-dado.

Ouso dotrabalho voluntário dentroda perspectivada caridadeé talvezamaisremotadasrepresentac¸õesdesse tipode ac¸ão.Esse tipodetrabalhovoluntáriose caracte-riza frequentemente por fronteiras pouco nítidas entre o religiosoeosecular,entreopúblicoeoprivado,pautadas por formas de sociabilidade marcadas pela pessoalizac¸ão e por lac¸os de solidariedade e reciprocidade, aos quais correspondem diversasobrigac¸ões. Bastanteevidentesem sociedadescivicamentefrágeis,aconteceviarelac¸ões sim-bólicaseculturais,quemoldamvaloresementalidades,e também estratégias de sobrevivência material de amplas camadasdaspopulac¸ões.Aqui,achaveparase compreen-derasociedadesãoosindivíduoseénotória‘‘umacerta’’ despreocupac¸ãocomotodo,situac¸ãoemqueoEstadonãoé vistocomoresponsávelpeloprovimentodedireitose neces-sidades da populac¸ão (Landin, 2001). Pudemos encontrar

7Foramproduzidas13entrevistascomcoordenadoresescolares,

diretoresdeescolaeoficineiros.

8ForamusadosdocumentosdoProgramaedasescolas ondeas

atividadeseramdesenvolvidas.

9A pesquisa original suscitou mais categorias: 1) o Programa

EscolaAberta;2)asidentidadesdotrabalhovoluntário;3)oesporte peloolhardostrabalhadoresvoluntários;e4)otrabalhovoluntário easpolíticaspúblicasdeesporteelazer.

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fragmentosdesde tipo depensamento em algumas entre-vistas:

Eu acredito que o trabalho voluntário realmente, um ajudando o outro, sinceramente eu acredito nisso. Eu acreditoquecadaumfazendoasuaparteeatéeuvoute dizer,pareceutopia.Masfazendoumpouquinhoparao outro,porquehojeemdiaparecequeagenteestácada vez maisegoísta, euacreditoque eufac¸aumtrabalho voluntário.Semefazbemeeuestouajudandoalguém, então secada umfizesseumpouquinho,se doasseum pouquinhodoseutempo.(Simone).

Porém, essa não é a única perspectiva presente nos olhares acadêmicos que envolve o trabalho voluntário. Diferentemente da perspectiva individual do voluntari-adocaridoso, notrabalhovoluntário militante existeuma relac¸ão coletiva entre os agentes e os beneficiários que fazem parte de ac¸ões nas quais se organizam e buscam melhorias e mudanc¸as em escala coletiva. Essas ac¸ões podemserdiretasouindiretas,como, porexemplo, pres-sionar o poder público para que tenha políticas públicas voltadasparadeterminadasdemandasdeumadeterminada comunidade (Landin, 2001). Mesmoque tenhamos encon-trado posturas que se aproximam disso, não foi possível identificar, nos discursos e nas práticas observados, um tipode voluntariadofocadofortementenessaperspectiva ‘‘militante’’.

Outraperspectivadetrabalhovoluntárioencontradana literatura é o ‘‘novo voluntariado’’ definido por Landin (2001) como aquele relacionado às iniciativas oficiais, aspectoque contribuipara suavisibilidade elegitimac¸ão. Sãoatoresquesurgemnosanos1990naáreadaac¸ãosocial nassociedades latino-americanas, vinculados àfilantropia deorigemempresarial, empenhadaem projetosde incen-tivoàdoac¸ãodetempoedinheiro.

Esquematicamente, essas aparecem quando se asso-cia ‘‘voluntariado’’ a ideias como qualidade da ac¸ão, competência, eficiência, resultados, escolha individual autônoma,talento,assimcomoacivismo.Propõe-seuma ‘‘culturamodernadovoluntariado’’comingredientese compostaporummixumtantodiversosdosanteriores (Landin,2001)

Essaperspectivadevoluntariadopareceseratônicadas ac¸õespraticadasnoProgramaEscolaAbertaquesesustenta poriniciativasnasquaiso Estadoassumepapel preponde-rante,essasarticuladascomofinanciamento deumórgão internacional,aUnesco.

Mesmo de posse dessas classificac¸ões, fomos pautados porumestranhamentoinicial,pois,jánoiníciodotrabalho decampo,percebemosquenãoeranítidaaformade traba-lhoquesustentavaasac¸õesdoProgramaEscolaAbertanas escolasestudadas.Aospoucosfomoscompreendendocomo sedavamessasambiguidades.Comapresenc¸anouniverso empíricoeapartirdoolhardenossoscolaboradores,a pró-priacondic¸ão/noc¸ãodetrabalhovoluntáriocausadúvidase atétrazdesconfortos.Issopodeserevidenciadoapartirdos depoimentosdealgunsinterlocutores:

‘‘Um trabalho voluntário é você realmente não rece-ber, não ser remunerado, não sei se o termo técnico é esse mesmo, mas não ser remunerado’’ (Carolina);

‘‘Ovoluntárioéaquelequevailáefaz,oquegosta,e não exige um retorno principalmente financeiro, eu entendo isso,acreditonisso, maseuvou dizerque não épraqualquerum,tutemquegostarmuito’’(Cezar). No momento a gente não tem nenhum, mas a gente já teve mesmo voluntários até professores da escola. Agentetinhaduasprofessorasqueelasdavamde15em 15 dias umaoficina e doisoficineiros nossos queainda continuamatéhoje.Foiquandodeuproblemanaverba quenãovinha,elestrabalharamachoqueunsdoismeses comovoluntáriosmesmo.’’(Ana)

Mesmo que sempre esteja presente a noc¸ão de ‘‘voluntário’’,essasdeclarac¸õestambémfazemalusão ao trabalho com o recebimento de valores, com diferentes justificativas.Apesardealgumaambiguidade,quando per-guntadossobrea‘‘condic¸ão’’decadaumdostrabalhadores, foipossívelobservarumconsensona compreensãodeque todos os oficineiros são identificados como voluntários: ‘‘Todossãovoluntários.Oqueaconteceéumaverbaqueé umressarcimentodetransporteealimentac¸ão,umadiária’’ (Marcelo);‘‘Eu souvoluntário,nãodependodaquilo queé ganho’’(Caio);‘‘Eupensoquetalveznãoseencaixariano voluntariado.Juridicamente.Mastuaindarecebeajudade custo’’(Jacinta).

Nesseemaranhadoderepresentac¸ões,ficapalpávelque a‘‘condic¸ão’’voluntáriasediferenciada‘‘noc¸ão’’de volun-tariado,namedidaemqueoressarcimentosetornaponto dedúvidasobreserounãoservoluntário.Alguns depoimen-tosapontamparaanãoexistênciadetrabalhovoluntárioem func¸ãodoressarcimento,enquanto outrosredefinem suas noc¸õesapartirdessefato.

Esses movimentosse aproximam doque Geertz (1989)

descreve como a diferenc¸a entre ‘‘visões de mundo’’ e

ethos.Paraoautor,asvisõesdemundoserelacionamcom explicac¸õestácitasquesustentamcertos acontecimentos, asquaistêmumadimensãocognitiva.Enquantoisso,oethos

estariainscritonaculturaeseriareproduzidopelos indiví-duosnavidacotidiana,como‘‘otom,ocarátereaqualidade desua vida,seuestilomoraleestético e suadisposic¸ão’’ (Geertz,1989,p.143).

ÉnaperspectivadoethosqueantropólogaAndréiaSilva (2006) aponta que o trabalho voluntário se inscreve nas relac¸ões sociaisa partir dalógica da dádiva(Malinowski, 1978, Mauss, 2003), na qual o valor das trocas simbóli-cas extrapola os interesses de uma troca específica,pois se espera que na próxima troca as desproporc¸ões sejam compensadas e que a posic¸ão dos atores da troca sejam determinantes para a manutenc¸ão da cultura de troca. Silva (2006) descreve que, nas trocas voluntárias, existeessaexpectativa,umavezqueao‘‘ajudar’’alguém ovoluntário‘‘esperaalgoparatodos’’.Nonossocaso parti-cular,oqueficaclaroéqueasesperanc¸ascomrelac¸ãoaos benefícioshipoteticamentecausadospeloesporteseriama trocapermanentenarelac¸ãode‘‘dádiva’’.Issoseevidencia nasdeclarac¸õesqueapontamparaoretornoqueotrabalho lhesdáeparaaspessoasatingidaspeloprograma:

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mesmotupensandoàsvezes ‘‘hojeeunãovou, masé umcompromisso’’. E é bomtu vir,é compreensível lá naminhavidaparticularoentendimentodeporqueeu venho.Entãoéesseoretornodocarinho,ésaberqueas pessoasqueestãovindoestãogostando’’.(Simone). Àsvezeserasábadodemanhãqueeutavaatrasada,tem unsgurisquemoramalipertodaminhacasaquevãolá chamar,‘‘vamoláabriraescola,aescolanãovaiabrir?’’, ‘‘calmanãotánahora’’.Tutemqueseramigadelespra tuirganhandoaconfianc¸adeles,nãoaprontameainda teajudamacuidaratédatuacasaduranteasemana’’. (Jacinta).

Paraalgunstrabalhadores,arelac¸ãoeconômicadetroca deforc¸a de trabalho por dinheirofaz com que as expec-tativas com relac¸ão a benefícios mais permanentes se esvaziem.Nessaperspectiva,anoc¸ãodedádivadesaparece: ‘‘É um trabalho, venho aqui recebo meu dinheiro, cum-procomminhasobrigac¸õesevouembora’’(Juliano);‘‘Tem simuminteressenessaverbaremuneratóriadetransporte e alimentac¸ão. Virou fonte de renda para muitos, esse ressarcimentoporpouco que sejavirou fonte derenda’’. (Eduarda).

Combasenoquefoiapresentadonaspáginasanteriores, é possível pensarque existe umapolifoniacom relac¸ãoa essasidentidadesrelacionadasaotrabalhovoluntário:entre ‘‘noc¸ão’’e‘‘condic¸ão’’,entre‘‘visãodemundo’’eethos

eentre‘‘dádiva’’e‘‘relac¸ãoeconômica’’.Issofoioqueas nossasescolhas teóricasnosmostraram:umuniverso com-plexoediverso.Outrosestudosarespeitodeprojetossociais esportivos(Thomassim, 2010)tambémapontamparaessas características,fazemcomqueumaanálise‘‘defora’’de umarealidadeespecíficaconduzaaumageneralizac¸ão ina-propriadaacercadessarealidade.

Apesar das ambiguidades por nós identificadas, é por meiodesse trabalhovoluntário --- num sentido genérico ---quemuitasdaspolíticassociaissãoconsolidadasnoBrasil. Quaissãoassuasrepercussões?

As

repercussões

do

trabalho

voluntário

nas

políticas

públicas

de

esporte

e

lazer

A partir do trabalho de campo e das identidades apre-sentadasaté aqui, pensamos ser importante discutir três aspectosdasrelac¸õesentretrabalhovoluntárioePrograma EscolaAberta:aprecarizac¸ãodaspráticasdeintervenc¸ão, a precarizac¸ão enquanto controle social de políticas e o alargamento do Estado. Em que pese as interpretac¸ões apresentadasaseguir,valedestacarqueosresultados obti-dosnesteestudonãosãogeneralizáveis paraoutroscasos. Mesmo assim, acreditamos que eles indicam temas para outraspesquisasqueestudemtrabalhovoluntário,pensado apartirdaLei9.608/98.

Com relac¸ão à precarizac¸ão de intervenc¸ão, embora parec¸aqueousodotrabalhovoluntáriogarantaaautonomia dosoficineiros,oprogramaépermeadoporcaracterísticas deempregoformal,nasquaishápagamentodeforma men-salpor diasehoras trabalhados,assimcomo umarelac¸ão de subordinac¸ão dos oficineiros à direc¸ão daescola. Não dandogarantiasaessestrabalhadores,pode-seinterpretar queesseéumtipodeprecarizac¸ãodasrelac¸õesdetrabalho

(Pinto,2005),análisequeparececonsequente,se observar-mos,ainda,obaixoníveldeescolaridadeedequalificac¸ão dosoficineiros,narelac¸ãocomosvaloresquesãopagospelo trabalhofeito:

O programa até prevê que preferencialmente serão jovensuniversitários,quevirãodarasoficinas,masnão éoquetemacontecido,ouniversitárionãoquervirpara umaescolatodoodiaganhandoessagrana[...]dos

ofici-neiros.Sãopessoasdacomunidademesmobemcarentes, masograndeperfilécompostoporpessoas desemprega-das.(Marcelo)

Oqueesseinterlocutorchamaatenc¸ãoéqueosbaixos valoresoferecidospeloprograma11nãosãocapazesdeatrair

pessoas qualificadas (universitários)para fazer o trabalho que se busca oferecer para a populac¸ão, o que era sen-tidonoslocaisestudadosetambémnasoutrasunidadesdo Programa.Issoserelacionacoma‘‘descontinuidade’’ das atividades, o que ficou evidentenas entrevistas: ‘‘Temos essaentradae saídadeoficineiros,masosqueestãoaqui elesestãohábastantetempo.Oqueébastantetempopra mim?Seismeses?Euachobastante’’(Simone);‘‘Amaioria dasoficinasnãotemumlongoperíododecontinuidade,até porqueooficineiro,eleéumvoluntário,temosquepensar queestamostrabalhandocomumvoluntário’’.(Marcelo)

Outroselementos,na sequênciadotrabalhodecampo, denotaram precariedades e descontinuidades que têm relac¸ãocom o trabalhovoluntário. Umexemplo disso é a trocadotrabalhovoluntárioporumempregomelhor:‘‘Ela durou umanoe pouco. Ela trocou de oficineiro porque a pessoaquefazianoprimeiromomentonãopôdemais conti-nuarporquearranjouumempregomelhor’’(Ana).Alémdo fatodequeessetipodedescontinuidadesignificaa ocor-rência de períodos sem o oferecimento das atividades propostas,sepensarmosqueamudanc¸adooficineiro repre-senta um prejuízo pedagógico, é possível afirmar que a precarizac¸ão da lógica detrabalho prejudica a qualidade deatendimentotambémnessaperspectiva.Essefenômeno tambémfoievidenciadoempesquisa,naqualavolatilidade dosoficineiros(voluntários)doPEA,emumaescoladePorto Alegre,tambémsemostrousignificativa.

Sobreesseaspecto,evidenciou-sequeumaprática pen-sadapedagogicamenteporumapessoaqualificadaera,em muitos momentos,deixada delado.Nessescasos,‘‘largar abola’’12 setransformaemfatocotidiano,comopodeser

percebidonosexcertosabaixo:

Observei quatroadolescentesjogando basqueteemum dos poucos cantos com piso de concreto da escola, quando fui à outra direc¸ão observei uns 15 garotos jogando futebolde‘‘goleirinhos’’ em umcampinho de areiabemmolhado.Vi,também,quatrocasaisde apro-ximadamente 40 anos tomando chimarrão embaixo de umasárvores comseusfilhosbrincandona pracinhada escola e maisum grupo dejovens adultos, entre20 e

11 Naépocadapesquisaosvaloresqueumoficineirorecebiaeram

nomáximodeR$240paratrabalharoitohorasporsemana(nofim desemana).

12 Expressãoqueserefereàomissão‘‘pedagógica’porpartedo

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30anos,jogandofutsalnaquadradaescola.Maisumas crianc¸as jogandoping-pong e fla-flu. Quandoperguntei sobre quem estava dando oficina de esporte, me res-ponderam:‘‘Estáalienchendoabolaparaagurizadinha menor,suafunc¸ãoaquiécuidarparaqueascrianc¸asnão semachuquemecuidardomaterial.’’(Diáriodecampo 20fev./2009).

Com relac¸ãoà precarizac¸ão docontrole social, é inte-ressante descrever os processos de gerenciamento dos recursos, nos quais os pagamentos são repassados a uma entidade da sociedade, as Associac¸ões de Pais e Mestres dasescolas(Apemens).Essasentidadesrecebemodinheiro destinadoao programa, diretamentedo MECpor meiodo Programa de Dinheiro Direto na Escola (PPDE), e a sua prestac¸ãode contas deveser feitaàSecretaria Municipal deEducac¸ão. Esse gerenciamento--- que deveriaser feito porrepresentantesdascomunidade---,namaioriadasvezes acaba sendo feito pelos/as diretores/as das escolas onde oprogramafunciona,13 oqueocorre,também,pelapouca

qualificac¸ãodealgumasdessasdiretorias:

Edouumexemplo,emváriasescolasqueeuchego,evejo como é oprocesso depagamentode umacompra sim-ples,otalãodechequeestáassinadopelopresidenteda Apemem,porqueoPDDE,queéoProgramaDeDinheiro Direto Na Escola,especificamente do Programa Escola Aberta,oProgramaDeDinheiroDiretoNaEscolanosfins desemanaénacontadaApemem.Quemassinaaconta daApemem? PresidentedaApemem ea diretora.Com quemficaotalãodecheque?Comadiretoracomtodos ostalõesassinados.Entãoelacompraoquequisercomo ela bem entender e nofim do mês em uma prestac¸ão de contas... e em muitas vezes o presidente da

Ape-mematésemianalfabetoé,temosmuitoscasosdesses, entãoopoderaindaestánamãodadiretoradaescola.’’ (Marcelo)

A partir dessas análises, é possível dizer que a intervenc¸ãodos/asdiretores/asestabeleceumcontroleda administrac¸ão pública municipal sobre o Programa, esses que recebemAdicional de Dedicac¸ãoPlena (ADP)para se responsabilizar pelaadministrac¸ãodaescola.Porém,esse controle nem sempre é exercido de forma transparente. Durante todo o processo de campo nunca foi observado a Secretaria determinar oficinas nem oficineiros e numa situac¸ãochegamosaidentificarumadiretoraquecontratava seusparentes(filho,filhaemarido)paraatuarcomo oficinei-ros,semqueesses,efetivamente,exercessemaatividade. Emquepesemessasfragilidades,oquepudemos perce-berdesseprocessodescritivoéque,comousodetrabalho voluntário,mesmoprecário,algumaspopulac¸õespassama usufruirdasescolas, queacabam implantando umtipode políticaspúblicas queabrangeo esporte eo lazer.Mesmo comesseslimites,issoéummarcohistóricoimportantepara essaspopulac¸ões,asquais,anteriormentenãotinhamnem essetipodeatendimento.

Percebemos então, que algumascontradic¸ões se mani-festam. Talvez a principal delas seja o fato de um

13 Essefatoéobservadoerelatadoemoutroslocaisondeo

Pro-gramaédesenvolvido.

programa que descrevemos como precarizado seja umespac¸odeampliac¸ãodaofertadepolíticassociais espor-tivas,numcontextosocialnoqualaatenc¸ãogovernamental éaindabastante deficiente. Denominamosessefenômeno de ‘‘alargamento horizontal do Estado’’, pois ele fica alargadosobopontodevistadasuahorizontalidade,porém nãotemprofundidadeequalidadeemseuatendimento.

Sobreisso,aproduc¸ãoacadêmicasobrepolíticaspúblicas deesporteelazervemapontandoumademandarepresada relacionadaaoacessodapopulac¸ãoaoesporte.Sobreisso, érelevantepensarqueanecessidadedealtogastopúblico edasescolhasorc¸amentáriasnosajudaaentenderaopc¸ão governamentalpelotrabalhovoluntário.Emboraasegunda Conferência Nacional de Esporte e Lazer tenha discutido o Sistema Nacional de Esporte e Lazer, a articulac¸ão das políticasenquanto efetiva consolidac¸ãode um‘‘sistema’’ éaindaalgomuitodistante.Issoserelacionacomas múl-tiplasconcepc¸ões sobreoassuntoe comasdesigualdades orc¸amentáriasdo esporte, na relac¸ão comoutras deman-das.Valelembrar queo financiamento públicodoesporte disputarecursosorc¸amentárioscomoutraspastas,essasque têmmaiorreconhecimento.Porcontadisso,aeducac¸ãoea saúde,porexemplo,têmpercentuaisfixosdeinvestimento comfundosespecíficosaosquaissãovinculados.Enquanto isso,oesporte precisadisputarosrecursoslivres emuitas vezesnãoéinteressantepoliticamente,porexemplo,deixar deconstruirumaescolaparafinanciarumprojetoesportivo. Paradarcontadademandadeacessoaoesporte,ogestor públicose vê obrigado a achar soluc¸õesque sejam possí-veisdeserfeitase,aomesmotempo,capazesdeproduzir resultados politicamente significativos. É nesse momento queasteoriasdaterceiraviaearegulamentac¸ãodo traba-lhovoluntárioassumemimportância(Giddens,2001).Essas teorias apontam que a sociedade, por meio do trabalho voluntário, daria conta de ac¸ões sociais, pois o Estado ‘‘inchado’’nãodeveriafazê-lo,jáqueogastopúblicocom ac¸ões sociaisseria umpeso que prejudicaria a liberdade e o mercado (Mead, 2000). Já os críticos daterceira via (Peronietal.,2009)apontamqueessaformulac¸ãogarante àiniciativaprivadaumainserc¸ãoideológicanamanutenc¸ão do status quo. O que podemos perceber é que o Pro-gramaEscolaAbertaéfinanciadopeloEstado,quetransfere dinheiroparaentidadesdasociedade.Porém,égerenciado, ‘‘defato’’,pormembrosdoEstadoqueeventualmenteusam seuscargospúblicosparaaimplantac¸ãodeacordocomos seusinteresses.Nessesentidoaformulac¸ãodeMaxWeber (2001)ganhasentidonamedidaemqueagestãodos proces-sosfeitosemníveishierárquicosmenoresédefinitivapara compreendermososfenômenosemquestão.

Considerac

¸ões

finais

(7)

Nosegundomomentoprocuramosanalisaros desdobra-mentosparaaspolíticaspúblicasnousodesseartifíciode gestão. Para tal, a análise foi desdobrada em três unida-des, nas quais discutimos 1) a precarizac¸ão das práticas, 2) a precarizac¸ão do controle social e 3) o alargamento do Estado. Fatores como a dificuldade de continuidade dosoficineiros, a suafalta dequalificac¸ão e de formac¸ão semostraramentravesbastante significativosparaos nos-soscolaboradores.Essaproblemáticacaracterizaoespac¸o estudadocomo umapolítica precária. Já as apropriac¸ões desenhadasdeformadiversadaformulac¸ãodaspolíticassão sinais de umaconfigurac¸ão bastante própria, que dialoga comuma demandahistórica, masque, ao mesmo tempo, denotaumaprecariedadedecontrolesocialdessaspolíticas. Já a noc¸ão de ‘‘alargamento horizontal do Estado’’ é constituídaapartirdaconstatac¸ãodequeesseprograma, descrito como precário, tem a capacidade de oferecer acesso ao esporte a populac¸ões que nunca tiveram esse tipo de oportunidade. Isso tem relac¸ão com formulac¸ões de garantias de direitos sociais por meio do ‘‘não esta-tal’’,masaomesmotempoécontroladodeformaindireta pelo Estado. Esse debate nos leva ao questionamento sobre a ‘‘quantidade/qualidade do atendimento’’ versus

‘‘qualidadedogastopúblico’’’.

Pensamos,assim,queacomplexidadedocampode pes-quisasematerializanesteestudodeformasempreprecária, pois são também precárias as capacidades desses atores decompreenderatotalidadedoPrograma.Poroutrolado, procuramos,dentro dos casosestudados, compreender as organizac¸õeslocais,quesãoatravessadaspelasformulac¸ões doPrograma,masquenãoseresumemaelas.Esseaspecto colocaem destaque a importância de pesquisas que bus-camanalisar essestemas e processos apartir de âmbitos ‘‘menores’’.

Aconfigurac¸ão socialdesenhada nosmostra queo Pro-gramaEscolaAberta,quenãoéumprogramaesportivo,vem se transformando num importante instrumento de acesso ao esporte e ao lazer. Diferentemente de outros direitos sociaisque foramsucateados, o acesso ao esporte é algo relativamenterecenteeseconstituiumanovidadeparaas populac¸õesestudadas.Poroutrolado,nãopodemosperder devistaqueéuma‘‘novidadeprecarizada’’equeousodo trabalhovoluntárioésignificativaparaessacaracterizac¸ão. Ograndeproblema,anossover,sãooscritériosusadospara seadjetivarumapolítica.Poisseusarmosapenascritérios quantitativosdeatendimentos,chegaremosàconclusãode queo acessoao esporte noprograma é algopositivo;por outrolado,pensamosqueéimportantequeumaavaliac¸ão doProgramasepreocupecomosprocessos,ouseja,como ascoisasacontecemnesseespac¸o.

Conflitos

de

interesse

Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.

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