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Rev. Bras. Ciênc. Esporte vol.39 número1

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www.rbceonline.org.br

Revista

Brasileira

de

CIÊNCIAS

DO

ESPORTE

ARTIGO

ORIGINAL

Representac

¸ões

do

corpo

masculino

na

revista

Men’s

Health

José

Jefferson

Gomes

Eufrásio

a,b,∗

e

Terezinha

Petrucia

da

Nóbrega

c

aUniversidadeFederaldoRioGrandedoNorte(UFRN),CentrodeCiênciasdaSaúde,DepartamentodeEducac¸ãoFísica,

ProgramadePós-Graduac¸ãoemEducac¸ãoFísica,Natal,RN,Brasil

bPrefeituradeNatal,SecretariaMunicipaldeEducac¸ão,RedeMunicipaldeEnsino,Natal,RN,Brasil

cUniversidadeFederaldoRioGrandedoNorte(UFRN),CentrodeCiênciasdaSaúde,DepartamentodeEducac¸ãoFísica,Natal,

RN,Brasil

Recebidoem6deagostode2013;aceitoem12deabrilde2014 DisponívelnaInternetem28defevereirode2016

PALAVRASCHAVE

Corpomasculino; Estética;

Mídia; Narcisismo

Resumo Estapesquisaabordaarelac¸ãoentreocorpoeaestética,compreendidacomopadrão corporal. Oobjetivofoi analisar ocorpo masculinonarevistaMen’sHealth. A metodologia usada foi àanálisede conteúdo como propostapor Bardin (1979). Ocorpus de análisefoi compostopor12edic¸õesdarevista,veiculadas dejaneiroadezembrode2011. Apartir da análisefeita,pode-seafirmarquenarevistaMen’sHealthaaparênciaencontra-seligadaaum corpomagroemusculoso.Paraaobtenc¸ãodomodelopropagadopelarevista,sãonecessários investimentosepráticasdeconsumo.Nota-seaindaqueodiscursodobem-estaredafelicidade usaapublicidadeparaincentivarosleitoresacomprarasnovidadeslanc¸adaspelasociedade deconsumo.

©2016Col´egioBrasileirodeCiˆenciasdoEsporte.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Este ´e umartigoOpenAccesssobumalicenc¸aCCBY-NC-ND(http://creativecommons.org/licenses/ by-nc-nd/4.0/).

KEYWORDS

Malebody; Aesthetic; Media; Narcissism

RepresentationsofthemalebodyinMen’sHealthmagazine

Abstract Thisresearchpresentstherelationshipbetweenthebodyandaesthetics, unders-toodasstandardcorporal.TheaimofthisstudywastoanalyzethemalebodyinMen’sHealth magazine.ThemethodologywascontentanalysisasproposedbyBardin(1979)andthecorpus analysis was composed by 12 editions ofthemagazine, publishedfromJanuary to Decem-ber2011.Fromtheanalysis,itcanbeaffirmedthatinMen’sHealthmagazineappearanceis linkedtoaleanandmuscularbody.Toobtainthemodelpropagatedbythemagazine,several

Autorparacorrespondência.

E-mail:jgeufrasio@gmail.com(J.J.G.Eufrásio).

http://dx.doi.org/10.1016/j.rbce.2016.02.002

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investmentsandconsumptionpracticesarenecessary.Itisalsoobservedthatthediscourseof well-beingandhappinessusesadvertisingtoencouragereaderstobuythenews releasedby theconsumersociety.

©2016Col´egioBrasileirodeCiˆenciasdoEsporte.PublishedbyElsevierEditoraLtda.Thisisan openaccessarticleundertheCCBY-NC-NDlicense( http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).

PALABRASCLAVE

Cuerpomasculino; Estética;

Mediosde comunicación; Narcisismo

RepresentacionesdelcuerpomasculinoenlarevistaMen’sHealth

Resumen Estainvestigaciónabordalarelaciónentreelcuerpoylaestética,entendidacomo patrón corporal. Elobjetivo deeste estudiofueanalizar elcuerpo masculinoenla revista Men’sHealth.LametodologíautilizadafueelanálisisdecontenidodeBardin(1979).Elcorpus delanálisisestabaformadopor12edicionesdelarevista,publicadasentreeneroydiciembre de2011.Apartir delanálisis,sepuedeafirmarqueenla revistaMen’sHealthla apariencia estárelacionadaconuncuerpodelgadoymusculoso.Paraobtenerelmodelopropagadopor larevista,sonnecesariasvariasinversionesyprácticasdeconsumo.Debetenerseencuenta tambiénqueeldiscursodelbienestarydelafelicidadutilizalapublicidadparaanimaralos lectoresacomprarlasnovedadesdivulgadasporlasociedaddeconsumo.

©2016Col´egioBrasileirodeCiˆenciasdoEsporte.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Estees unart´ıculoOpenAccessbajolalicenciaCCBY-NC-ND(http://creativecommons.org/licenses/ by-nc-nd/4.0/).

Introduc

¸ão

Aexposic¸ãodocorpodito‘‘ideal’’nointeriordas diferen-tes mídias é recorrente. Algumas revistas apresentam-se comoinstâncias produtorasdediscursos sobreaatividade física,asaúde,ocorpoeabeleza,namedidaemque apre-sentamconselhoserecomendac¸õesqueapontamcaminhos e atitudes a serem seguidos e aplicados ao corpo e bus-camconduzirosleitoresaummodelohegemônicodecorpo ebeleza.Nesse cenário,háumaprofusão deinformac¸ões queinterpelamosindivíduos dediferentesformas, provo-cam o surgimento de várias questões relacionadas a seus corpos,suasaparênciaseseuscomportamentos.Nesse sen-tido, observa-se o crescente número de homes que se submetemaexercícios físicosintensos, regimes alimenta-resrígidoseintervenc¸õescirúrgicas,encontram-seprontos paramodificarseuscorposnaesperanc¸adeconquistaruma aparênciavencedora, amor,sucesso,felicidade (Courtine, 1995; Ferreira et al., 2005; Freitas et al., 2011; Vilhena etal.,2012).

Estapesquisatratadarelac¸ãoentreocorpomasculinoea estética,compreendidacomopadrãocorporal.Como obje-tivo,destacamosaanálisedocorpomasculinonouniverso darevistaMen’sHealth,umamídiadirigidaaopúblico mas-culinoqueinvestenadivulgac¸ãodeummodelohegemônico decorpo,saúdeebeleza.

Paraapresentaressatemática,recorremosàsnarrativas dosdeusesgregosApolo,NarcisoeDionísio.Porque recor-reraessasnarrativasmíticasdaantiguidadegreco-romana como recurso interpretativo? As narrativas mitológicas, segundoCampbell(1990),relacionam-se atemas quedão sustentac¸ãoàvidahumana,aosprofundosproblemas inte-riores,aosprofundosmistériosparatentarentraremacordo

como mundoe paraharmonizarnossasvidascoma reali-dade.

DeacordocomKeleman(2001),omitotambémse rela-ciona com o corpo e sua história íntima e social. Mitos são histórias de nossa busca da verdade, de sentido, de significac¸ãoatravésdostempos.Elesajudamanoscolocar em contatocomaexperiênciadeestar vivose deatribuir sentidos àexperiênciaexistencial.Nessesentido,osseres humanossempreestiveramligadosaomíticoparaorganizar umamaneiradeagir,desecomportar.Essarealidademítica ésempreumaorganizac¸ãomóvel,umamaneiradeperceber omundointerioreexterior.

A partir desse solo, constitui-se o que Jung (2000) denomina de arquétipos do inconsciente, que são ideias elementares em comum dos mitos, uma espécie de ima-gemarraigadanoimagináriosocialcoletivodahumanidade. Essesarquétipos,adependerdaépoca,aparecemem dife-rentesroupagens,contêmcaracterísticascomunsessenciais que formam o rascunho de uma determinada personali-dade.

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Encontramos,nessasdescric¸ões,pistasreflexivasquenos levamapensarasquestõesrelacionadasaesteestudo,pois osmitosfalamdocorpo,descrevemsuasexperiências.Eles sãometáforas paraalargar o campode pensamento, aju-darocorpoaorganizareincorporaraexperiência.Segundo Keleman (2001), por meio do mito, o indivíduo busca o corpo, assuas formas, expressões e atitudes emocionais. A metáfora, portanto, baseia-se no corpo, ela é experi-encial.Compreender omitoe seusarquétiposétornar-se íntimodamaneiracomovivemosanossaexistência.Avida humana, portanto, é, de acordo com os autores citados, marcada pelas históriase pelos personagens damitologia grega, queservem como modelos paraa compreensãodo humano.

Ainterpretac¸ãodosdadosdapesquisa tevecomo prin-cipais referênciasLe Breton(2003; 2006; 2011),Maffesoli (1996),Lasch(1983),Lipovetsky(2007),entreoutros,haja vistaadiscussãodocorpocontemporâneoedos investimen-tosnaaparênciacorporal.

A

revista

Men’s

Health

e

o

corpus

de

análise

Aideiadeumhomempreocupadocadavez maiscomsua aparênciacorporaldespontanocotidiano.Cientesdeuma possíveltransformac¸ãodoperfildohomemna atualidade, oseditoresdasrevistasparaopúblicomasculinopassama inseriremsuaspautasassuntosque,classicamente,faziam partedouniversodasrevistasfemininas,taiscomocuidados comocorpo,vaidade,moda,entreoutros(Mira,2001).

Deacordocomessapossívelmudanc¸a,chegaao Brasil, em maio de 2006, a versão de uma revista internacio-nal publicadaem maisde43países:a Men’sHealth.Uma publicac¸ãomensaldaEditoraAbrilqueconquistouumafatia consideráveldomercadoconsumidorbrasileiro.Emsua pri-meira edic¸ão trouxe como título: ‘‘Lanc¸amento! A nova revistaparaohomembrasileiro’’eoseueditorjánosdava esclarecimentosdequalseriaanovaproposta:

. . .Men’s Health é uma revista masculinadiferente das outras. É jornalismo de servic¸o da primeira à última página. Sãodicas eestratégias absolutamente relevan-tesefáceisdeusar,quevãoleva-loaterumcorpomais forteebonito,atransarmelhor,asealimentarmelhor,a termaiscontrolesobresuacabec¸aeacarreira,asevestir commaispropriedade,enfimacurtiravidanaplenitude (MEN’SHEALTH,ed.1,p.8).

Nesse editorial de lanc¸amento, já se podeperceber o escopodarevistaearelac¸ãocomatemáticadapesquisa, namedidaemqueenfocaoidealdeumcorpoforte, saudá-velebelo,associado àplenitudedaexistência,àcarreira profissionaleàvidasexual.Ocorpoaparececomoosuporte deumaestéticaassociadaavaloresquecomportamas práti-casdeconsumoquepretendemosdiscutiraolongodenossa análise.

Para a investigac¸ão, foiusado o método daanálise de conteúdo (Bardin, 1979). O nosso universo de estudo foi compostopor 12 edic¸ões darevista veiculadasde janeiro adezembrode2011,anoanterioràproduc¸ãodapesquisa. Apartirdaleituraflutuante,verificamosquearevistasegue amesmaestruturadecapa,sessõesetc.,aténosanos ante-riores.Paraestabelecercontatocomomaterialdeanálise,

delimitamosocorpusdanossainvestigac¸ãoauma reporta-gemdecadaedic¸ãoretiradadasec¸ãoFitness.

Aescolha das reportagensdasec¸ão Fitnesssedeu por observarmosqueasmanchetesdegrandedestaquedacapa são,emgeral,elementosprincipaisdaspublicac¸õesefazem partedasquestõesrelacionadasàáreadofitness,alémde observarmosqueosdiscursossobreocorpo,emsuamaioria, destacamosbenefíciosestéticosdapráticaregularda ati-vidadefísica,noqualessesparecemterumpesomaiorem comparac¸ão como argumentodasaúde,porém queremos destacara importância da revistano contexto geral para o entendimento das compreensões que ela gera, o que a constituicomoumaricafontedepesquisa.

Elaboramosfichasdeidentificac¸ão detodasas reporta-gensparainvestigaro perfildas mesmasecom issofazer aselec¸ãodas12escolhidas.Feitooperfildasreportagens, construímosascategoriastemáticasbaseadasnapré-análise eescolhemoscincovertentes: aparênciacorporal, investi-mentosnocorpo,individualismo,consumoebem-estar.Em seguida,selecionamos e registramosos discursossobre os temaspertinentesànossainvestigac¸ãoeretiramos posteri-ormenteasunidadesderegistros.

Analisarosconhecimentosquearevistaproduzsobreo corpomasculinoleva-nosaentenderque,comoumproduto damídia, ela exerceumdirecionamento,temumsentido instrutivo.Issoporque, aoproduzir ereproduzirmúltiplos discursossobreatividadefísica,saúde,corpoebeleza, con-tribui, também, para orientar o homem a ser saudável, ativo,belo,atraenteemoderno,normalizaseujeitodeser, deseexercitar,de secomportar,vestir,andar, aparentar, particularmentequandoinveste nadivulgac¸ão depráticas deatividadesfísicasepromoc¸ãodesaúdeeasassociacom ogerenciamentodocorpo.

Apolo

e

o

ideal

de

corpo

perfeito

na

revista

Men’s

Health

SegundoLeBreton (2006),aaparênciacorporal relaciona--secomumamaneiracotidianadeoindivíduoapresentar-se erepresentar-sesocialmente,pormeiodevariadas manei-ras de colocar-se no mundo. Ostrac¸os da aparência que podemfacilmente se metamorfosear tanto se constituem em relac¸ão ao pertencimento social e cultural do indiví-duo,têmcertadependênciados efeitos damoda,quanto em relac¸ão aoselementos que dizem respeito ao aspecto físicodosujeito,como,porexemplo,altura,peso, qualida-desestéticas,entreoutros.

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Ao mesmo tempo em que veicula umpadrão estético, estampa fotos de homens musculosos ao longo de suas reportagensperpassadas pelos ideais da práticadiária do exercício físico para tornar o shape definido, conjugadas com dietas, consumo de suplementos alimentares, entre outrosrecursos. Assim,propaga umaconcepc¸ão deque o homemdesucessoebemaceito socialmentedeveterum corpodefinidoeasaúdeemdia.Asubmissãoaumpadrãode belezaéexaltadonosdiscursosdarevista,comoobservamos nofragmentoaseguir:

Paraser umcara legal (leia-se,ter maissexo, autoes-tima,empregomelhor,maisamigosemenosúlcera)[. . .] bonitão,seguro,commaischancesdeaproveitaroacaso aotoparcomumadeusanafrente,[. . .]nãoprecisamos fecharos olhos paraum padrãode belezaabenc¸oado, nembuscá-locomovítimadessesnovostemposde dita-duraestética,[. . .]bastaminformac¸ões dequalidadee cabec¸aaberta’’(MEN’SHEALTH,ed.60,p.10).

DeacordocomMaffesoli(1996),ocorpotorna-seum ter-ritórioaexplorar,umobjetodetratamentoemanipulac¸ão, deencenac¸ão,umcartãodevisita.Lugarconcretode inves-timentos, é em torno dele que se articula uma série de discursose práticas,ac¸õesesignificados,alémde interes-seseconômicosesociais.Ocorpo,nessesentido,engendra comunicac¸ão,ocupaespac¸o,éohorizontequeservedepano defundoparaorealcedaaparência.

Asnormas culturaisseinscrevemnocorpocomesforc¸o dos critérios estéticos e éticos de controle, não ape-nas de características físicas, mas também de desejos, das sensac¸ões e das relac¸ões emocionais, modelam-no, socializam-no,fabricam seu destino e decidem a formae osentidoquepodemtornar asociedadeem quevivemde acordocomseusdirecionamentos(Marzano-Parisoli,2004). Aimagemdabelezaidealmasculinaveiculadanarevista Men’s Health nos apresenta o modelo atlético dos body-builders,umidealnocombateàobesidade,à moleza,ao relaxamento, noqual o homem deve construir seu corpo peloexercíciofísico,afimdetorná-lomusculoso.Segundo Courtine (1995), o corpo do bodybuilder é ostentado de forma hiperbólica, como uma demonstrac¸ão de masculi-nidade. A identidade é modelada nos músculoscomo um artefatopessoaledominável.Ébuscadaaforc¸amusculare pormeiodosexercíciosediantedosespelhossãoconstruídas significac¸õesacercadesuaimagem.

AequivalênciaencontradanaMen’sHealthentrea apa-rênciadeumcorpomusculosoeosucessotendeaconstituir um fator importante de identificac¸ão de um comporta-mento correto com o corpo e da capacidade que setem dedominaraprópriavida.Umcorpogordoesemmúsculo étidocomdesdém,umacaracterísticaquenãorepresenta adeumhomemvencedor,comumaaparênciavencedora. Ocorpomusculosomasculino,portanto,‘‘representapara umhomemosímbolodabelezae,aomesmotempo,osinal desuaretidãomoral’’(Marzano-Parisoli,2004,p.43),como podemosobservarnofragmentoabaixo:

Vocêjásabequeperderpesoeganharmúsculosfazsentir bem.Agora, oscientistasestão descobrindoque aboa aparênciavai deixá-lomaisrico. Caraantenado éisso: 93%dosleitoresdaMEN’SHEALTHsepreocupamcoma aparêncianoambientedetrabalho[. . .]Schopenhauerjá

dizia‘‘Abelezaéumacartaabertaderecomendac¸ão’’. Ocarasabiadascoisas.Achainjusto? Talvez,mascada vezmaisestudosconcluemquepessoasemforma,quese vestembemedemelhoraparênciasãomaisbempagas, promovidase recompensadas com avaliac¸ões positivas. Asoluc¸ão?É simples,estádiante devocêe semprefoi acessível:cuide-se’’(MEN’SHEALTH,ed.58,p.102).

A parte superior do tronco e o abdômen constituem--secomoelementos depreocupac¸ãoindispensáveisparaa obtenc¸ãodeumaaparênciavencedora.Osmodelosde indi-víduosapresentados nasreportagensdaMen’sHealth,em geral, representam‘‘heróis’’ perfeitos einvencíveis, cujo corpo musculoso é o símbolo da virilidade, do vigor, da saúde,ligadoaosucesso.DeacordocomMaffesoli(1996),a beleza,nocaso,nãotemhorizontee,segundoosgostos,o contextoeoscaracteres,poderátomarestranhoscaminhos. SegundoNovais(2006),opadrãoestéticoépolíticoede distinc¸ão,umapolíticadodetalhe,umadistinc¸ão discrimi-natória,emquebelezaefeiura,quandoatribuídosaocorpo doindivíduo,podemservividascomosentenc¸asque deci-demodireitodepertencer,serreconhecidoeaceitoporum gruposocialououtro.

Os problemas provocados pelo preconceito e pela discriminac¸ãodos outrosoudesimesmo podemfazer,de acordocomPopeetal.(2000),comqueoindivíduoseafaste dosoutrossujeitosemantenha-selongedassituac¸õessociais quelhedariamprazer,alémdefazercomquemuitos colo-quemsuasesperanc¸asemsuasmalhac¸õesdavidadiária,a fimdetentarsentir-semelhoremenos‘‘culpados’’pelasua aparênciaforadospadrõesestabelecidossocialmente.

OsdiscursosdaMen’sHealth,portanto,fazem-nos acre-ditarque,sendoobedienteseintervindosobrenossocorpo deformaimpetuosa,poderemosobterumreconhecimento socialsólido,umpoderabsoluto,sucesso,umgrandeamor, autoestimaeumafelicidadeplena,porém,‘‘infelizmente, nocasodahistóriadocorpoperfeito,opresente-felicidade não chega nunca, porque o corpo perfeito não existe’’ (Marzano-Parisoli,2004,p.53).

Observamos, contudo, que se ampliam cada vez mais as formas de investimentos sobre o corpo, os servic¸os à disposic¸ãodosindivíduos.‘‘Aanatomianãoémaisum des-tino,masumacessóriodapresenc¸a,umareportagem-prima amodelar,aredefinir,asubmeteraodesigndomomento’’ (LeBreton,2003,p.28).Deacordocomoautor,os inves-timentos feitos no corpo são práticas e discursos que se fazemsobainfluênciadeumagamadevaloressociais liga-dosà condic¸ãofísica,taiscomojuventude,saúde,forma, seduc¸ão,resistência,flexibilidade.Ocorpotorna-seo ele-mentoprincipaldaafirmac¸ãopessoal,umasomadepartes eventualmente destacáveis à disposic¸ão de um indivíduo apreendidodamanipulac¸ãodesi.

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Outra forma de investimento no corpo observada na Men’sHealthéacirurgiaestética,quepassaporum desen-volvimentoconsiderávelentreoshomens.Opercentualde crescimento nos últimos 16 anos é de 25%. O dado é da SociedadeBrasileiradeCirurgiaPlástica,dizaedic¸ão66da revista,quetrazumareportagemcom otítulo:‘Decouro novo---sócresceaquantidadedehomensquefazcirurgias plásticas.Essessãoosprocedimentosmaisprocuradoseos cuidadosatomarpertodoverão’’(MEN’SHEALTH,ed.66, p.34).Segundoareportagem,osprocedimentosmais procu-radossãorinoplastia,lipoaspirac¸ãoecirurgianaspálpebras. Vigarello (2006) nosdiz que, coma ideiasempre mais aguc¸adadequeabelezaconstroi-sepelatécnica,o indiví-duoescolhe parasi umaformafísica,declinao corpoem componentes aseremmodificados oureorganizadose faz comquerecortemseucorposobmedida,segundocritérios estéticosem vigor. Trata-se,muitasvezes, davontade do indivíduodemudarocorpoparamudarasuavida, emba-sadoemumimperativodetransformar-se,demodelar-se, decolocar-seno mundo, degerir ocorpo como segerem outrospatrimônios,deacordocomoseuinteressee oseu sentimentodeestética,tornar-seumarranjadordesua apa-rênciaedeseusafetos.

Adietética constituioutra facetadaintervenc¸ão emsi encontradanaMen’sHealth,queconhecehojeumsucesso crescente por meio da multiplicac¸ão de informac¸ões que difundemsuas orientac¸õesalimentaresna buscadaforma ideal,modificam osdadossimbólicos ligados à refeic¸ão e trazemsemprenovosvalorespormeiodesuasinovac¸ões.De acordocomSant’anna(2003),desdeasduasúltimas déca-das,umagama devariedade profissionalsededica aesse assunto:deesteticistasaesportistas,passandopormédicos, nutricionistas,psicólogoseterapeutas,acomidasetornou umimportantefocodeperturbac¸õeseestudos.

Para o editor darevista Men’sHealth,‘‘estamos longe deserumpaísdefeios’’enessesentidoacrescenta:‘‘Aqui nãotemessepapodepublicar umprato saboroso sópelo prazersensorial.Esse prazerdevetrazernacaronaoutros benefícios: o menu podeajudar você a ganhar músculos, perder gordura, turbinar a alegria oumelhorar osfios de cabelo’’(MEN’SHEALTH,ed.67,p.6).Aalimentac¸ão alia--seaoutrasformasdeintervenc¸ãoparaaobtenc¸ãodeuma ‘‘melhoraparência’’.

Narciso,

as

práticas

de

consumo

e

o

bem-estar

na

revista

Men’s

Health

A noc¸ão de individualismo, segundo Le Breton (2011), é regida por uma visão que coloca em seu centro o indi-víduo, em que o corpo é pensado como um elemento isolado, desagregado do sujeito. Esse, por sua vez, está separado domundo, dos outros e de si mesmo, relativa-mente‘‘autônomo’’emsuasiniciativaseseusvalores.Nesse sentido,ocorposecolocacomoumafronteiraparadelimitar ohomemperanteseussemelhantes.

Como resultante de um processo global que rege o funcionamento social em sociedades em que o homem é mergulhado em seus próprios ideais, instala-se um novo estágio de individualismo, um novo perfil do imaginário socialdocorpo:onarcisismo.Onarcisismo,pordefinic¸ão, ‘‘éumasituac¸ãopessoalqueeliminaooutro,caracterizada

peloinvestimentoafetivo em si mesmo.Todavia, isso não exclui que os outros existam e nem que se estabelec¸am relac¸ões’’(Semi,2011,p.79).

Por outro lado, pode-se observar uma espécie de narcisismo coletivo, grupos seletivos de indivíduos que passama confraternizar, têm porbase características em comum;sujeitos que sãosensibilizadosdiretamente pelos mesmosobjetivos existenciais,sejapor meiodaspráticas deexercíciosfísicos,dosinvestimentosquesefaznocorpo, doconsumo,dasaúdeedobem-estar,entreoutros.

Para Lasch (1983), a sociedade narcisista nãose preo-cupacom o futuro e, em consequência, nãodedica seus pensamentosaqualquer outracoisa alémsesuas necessi-dadesimediatas.Umavezqueasociedadenarcísicaviveo presente,faz sentidoqueelafixeseusolhosem seus pró-prios‘‘desempenhosparticulares’’,cultiveumaespéciede ‘‘autoatenc¸ão’’.

Nos discursos da Men’s Health, ‘‘Imagem é tudo!’’ A revistapropagaumidealemdefesadeumvisualvencedor, traz em todas asedic¸ões dicas e soluc¸ões para os cuida-dospessoaiseestimulaseusleitoresainvestirnabuscade umavaidadenarcísica do corpo.A ideiade que o mundo pode ser generoso com as pessoas bonitas e bem cuida-daséconstante,elucidaaseusleitoresque,bemcuidados, eles serão mais bem aceitos socialmente. Segundo seu editor,‘‘Nossaimagemvemfalandotantopelonosso poten-cialquantopelo nossocurrículo’’ (MEN’SHEALTH,ed.59, p.10).

Nessesentido,aatenc¸ãoaoscuidadoscomorosto torna--seimprescindível, pois‘‘Suacara,seusucesso.Aslinhas, asformaseascoresdocabelo,dorostoedasfeic¸õescriam impressõesimediatas.Oimpactoqueelascausamnamulher desejadaéumprocessoemocional,quenãoenvolveo raci-ocíniológico’’(MEN’SHEALTH,ed.60,p.108).

Osdiscursossobresexo sãotratadosna revistasempre deformatransparenteeasreportagens,demaneirageral, trazemconstantemente‘‘receitas’’decomoohomempode setornarum‘‘garanhão’’,comodeveprocedernas prelimi-nares,oquefazerparaconquistareseduzirmulheres,para transarmais,entreoutrosassuntos.

Assim,oindivíduonarcísicoseguecomsuasansiedadese frustrac¸õesnabuscapelavaidade,estetizac¸ãoepelo embe-lezamentodoprópriocorpo,esforc¸a-separaseenquadrar notimedos ‘‘vencedores’’.Recorre à indústriadamoda, dovestuário,doscosméticos,daalimentac¸ão,entreoutras, segueospassosdeumasociedademovidapelalógica con-sumista.

A sociedade de consumo, segundo Baudrillard (2010), caracteriza-sepelo consumo exacerbado de bens, produ-toseservic¸os.Elaimpõeregras,costumesenecessidades, envolveosindivíduoscomcampanhasqueosconduzemao consumodeprodutos,criaumaespéciedecírculooucadeia interdependente,naqualoproduto,bemouservic¸oé cri-ado,usadopor um períodoe excluído rapidamente,para queoutroaparec¸aemseulugar.

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trataapenasdeproduzirmercadorias;énecessáriocriara necessidadedepossuí-las,condicionaroconsumidor.

O ideal de consumo que perpassa pelas coisas faz com que os consumidores vivam experiências afetivas, imagináriasesensoriais.Lacroix(2006)nosdizquevivemos em umaépocaque traz consigo aideiade um‘‘consumo emocional’’,centradoemumanovarelac¸ãoemocionaldos indivíduoscomasmercadoriasnabuscadassensac¸õesede ummaiorbem-estarsubjetivo.Nessesentido,ascoisas car-regamconsigoumaideiadefelicidade,emqueasescolhas easdecisões doquecomprar ficammaisdependentes da dimensãoimagináriadasmarcas.

Segundo Bauman (2008), elas estão associadas a um padrãoestéticodebelezaeusamocorpocomoumaforma depropaganda. Podemosobservaruma enormevariedade delascontidasnaMen’sHealth.Oatletadebasquete asso-ciadoaprodutosnutricionais,atoresfamososquedivulgam carros poderosos e os mais variados tipos de produtos, incluindoatécremedental,mulheresparachamaratenc¸ão paraasrevistasfemininas,ocaramusculosoquedivulgao perfumeouodesodorante, entreoutrasfac¸anhasdo mar-ketingparaatrairoleitordarevista.

A importância dada pela revista ao uso de uma roupa adequadaemodernaparaapráticadaatividadefísicapode serobservadanasec¸ãoestilo:‘‘Vestidosparamalhar---não importaoesporte,invistaempec¸astecnológicasque melho-ramseudesempenho,semperderoestilo.Corra,elassão novidades’’(MEN’S HEALTH, ed. 60, p. 136). Na reporta-gempodem-seencontrarvariadostiposderoupas,óculos, relógios,calc¸ados,todosde marcasconhecidas,com suas descric¸ões e seus prec¸os, que, em geral, são alto. Esse mundoseletivoeracistadapublicidadepodeserobservado aolongodaMen’sHealth.Seprocurarmosfigurasdehomens pobres,gordos,desempregadosoudoentes,certamentenão iremosencontrá-las,estãotodassubstituídasporfigurasque encarnamaperfeic¸ãodabeleza.

Ocorpo,nessecontexto,torna-seumelemento impres-cindível do marketing, manifesta-se como um veículo da aparência,comolugardaseduc¸ãoe dofascínio. Épreciso cuidardocorpo,teremvistaamelhorformaaserprojetada. Paraissooconsumosecolocacom‘‘amizade’’e‘‘amor’’, investe,cadavezmais,emumaideiaassociadaaoprazere aobem-estar.

Anoc¸ãodesaúdeebem-estarcomoideiasassociadasao consumo,aoprazereàfelicidadeplenageranovasformas defragilidade,perigo,medosereceiosnosindivíduos.Esses discursosparecemcontercertaperversidadenaveiculac¸ão dessas ideologias, levam a uma vigilância constante dos sujeitos.

Conquistar esse bem-estar pleno implica apoiar-se em recursosindividuaiseíntimos,emdarextensãosemlimites àssensac¸õeseaosestadosdocorpoexatamentecomo ensi-navamasrevistasdesaúdeecomoproclamagrandeparte daspolíticasvoltadasparaoesporteeolazer.Trata-sede mostrarem detalhe o perigo que se aloja no cigarro, na bebida,nas comidas, na falta de sono e de criar a ansi-edade necessária ante o perigo iminente que acometerá o seu corpose você nãoseguir asprescric¸ões dadaspelo Estadopedagogoamparadonoparadigmamédico-esportivo (Soares,2009,p.78-79)

A preocupac¸ão com a forma corporal e a temática do bem-estar e da saúde tornou-se argumento de venda da

revista Men’s Health. Em todas as edic¸ões, ela investe em discursos que tratam da busca por uma saúde per-feitae porumbem-estar pleno. Amodulac¸ãodos corpos, a exaltac¸ão à estética enquanto padrão corporal, o ren-dimento, a performance encontram-se, em sua maioria, associadosàmedicalizac¸ãodavidaedoconsumo.Arevista, assim,constitui-se,paramuitosdeseusleitores,comoum guiadeconsultasparaajudá-losavivermaisemelhor:

A MEN’SHEALTH ajudaa gente a daro primeiro passo rumoà saúdee aobem-estar! (MEN’SHEALTH, ed.62, p.18)

Acompanhoarevistadesde2006eemcadapágina encon-tro um empurrão para ter mais qualidade de vida. Estou sempreseguindoasdicas sobretreinoesaúdedos consul-toresepercebiumagrandediferenc¸anaminhadisposic¸ão, físicaemental(MEN’SHEALTH,ed.68,p.20)

Sobre o corpo exercem-se medidas a respeito de seu desempenho, seuvolume,sua formaesuperfície, na ten-tativa de discipliná-lo, enquadrá-lo em um estereótipo. SegundoSoares(2009),asmensurac¸õesdasqualidades físi-casnãoparamdesofisticar-seeoindivíduo,diantedessas classificac¸ões, quer sempre ir além, conseguir melhores resultados,seguiromesmoprincípiodoesportedealto ren-dimento.

Aexpressãobem-estarencontra-se,cadavezmais, asso-ciada a formas de ‘‘lazer’’ e à saúde perfeita, torna-se

slogan decampanhaspublicitárias,vendas deimóveis, de cruzeiros,de alimentac¸ão, declínicas.É possível afirmar, portanto, quehá umacrescenteescaladedifusão de dis-cursos e práticas pelo mercado do consumo, que propõe cuidados e vende saúde e bem-estar plenos (Lipovetsky, 2007).

Índicesbaixos degordura são constantemente associa-dospelarevistaMen’sHealthàsaúdeeaobem-estar.Nesse sentido,segundoSant’anna(2003),agestão dobem-estar edasaúdedá-sepormeiodaalianc¸adeumaalimentac¸ão cientificamentebalanceada,exercíciosfísicoscontrolados, ocontroledoestresseeoestímulodafelicidade.Pormeio da comida pode-se mudar a forma corporal, transformar oestadoemocionalereinventarcotidianamenteaprópria subjetividade.

A ‘‘boa forma’’, portanto, tem um sentido duplo que perpassaorapelodiscursodasaúde,orapelodaestética. Anoc¸ãodesaúdeconfunde-secomanoc¸ãodebelezaideal. Ocorpoésubmetidoaumdesignmoderno,evidenciauma estéticadapresenc¸a.

Oleitorsegue com seriedadeumarotinade exercícios paramanteramassaeaumentaradefinic¸ãodela.‘‘Sófalto àacademiapordoenc¸a’’.Juntoaos18kgdemúsculo, Mar-celconquistoumaissaúde,maisdisposic¸ão.‘‘Mesintobem assim’’(MEN’SHEALTH,ed.57,p.18).

Comaemergênciadenovoshábitosalimentares,o mer-cado doconsumo amplia-see fazsurgiracada novodia a esperanc¸adaobtenc¸ãodeumcorpoideal,ummelhor bem--estar,longevidadeesaúde.Adinâmicadanutric¸ãorequer atenc¸ãoeumaprogramac¸ãoemtermosdequantidadesedo equilíbriodasqualidades.Acadadiasurgemnovosprodutos eossuplementosalimentarestêmdestacadopapel.

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ideaisdaMen’sHealth,amparadospeloparadigma médico--esportivo.Trata-sedemostraremdetalheosperigosque sealojam em tudo aquilo que promove ovício e de criar ansiedadesdiantedosperigosiminentesqueacometerãoo corposeo indivíduo nãoseguirasprescric¸õespropagadas pelarevista.

Parece queestamosdefinitivamentecondenados,daqui a diante, a estar em plenitude e em forma, porque se não estivermos, corremos o perigo de cair no abismo e na desgrac¸a, no inferno da doenc¸a e da disfunc¸ão. Ao exigir a plenitude do próprio ser e estimulados para ser eficazessexual,físicaeesportivamente,estamos condena-dos,precisamente, ao extremodenovosíndices,como se estivéssemosemumamaratonadavida(Soares,2009,p.79) Há,nesse mundodediscursos,práticas eimagens pro-pagados pela Men’s Health, uma contribuic¸ão para uma atenc¸ão ao corpo, porém associada a várias formas de interesses atrelados a um padrão que leva o indivíduo a insatisfac¸ões e frustrac¸ões constantes, ouseja aum mal--estar.Namaratonaparaseincluirnessatribo,osleitores seguemembuscadavaidadenarcísicadocorpo.

Considerac

¸ões

finais

---

Na

presenc

¸a

de

Dionísio

QualéocorpodarevistaMen’sHealth?Arevistaapresenta um modelo de corpo masculino que traduz, por meio de seusdiscursos,oidealdebelezapropagadopelasociedade deconsumo. Desde a capa, ocorpo magro e com múscu-lostorna-se objetode comunicac¸ão, deintencionalidade, interagecomoindivíduoeoconvidaaaderiraummodelo hegemônico de corpo perfeito. Por meio de frases impe-rativas, induz o leitora prestar atenc¸ãoa umainfinidade dedadosfísicos,decomportamentosqueocondicionama trabalhar ininterruptamente seu corpo, a fim de aderir a umprotótipoefêmero,namedidaemqueocorpoperfeito existeapenascomosimulacro.

Portratar-sedeumamídiaquedivulgamodelosde trei-namentosfísicos,éconsultadapeloprofissionaldeeducac¸ão física.Oprofessorinterage,portanto,diretamentecomesse modelo de corpo apresentado na revista, contribui, mui-tasvezes,paraadivulgac¸ãodessepadrão,compactua,por vezes,deformaacríticacomessareferência. Independen-tementedesuaáreadeatuac¸ão,interagediretamentecom o corposocial, contribui para inscreversentidos e signifi-cadosnoprocessodeconstruc¸ãohistóricadocorpo.Nesse contexto, há quese refletir sobreavisão reducionista de corpopropagadapormuitosprofessoresdeeducac¸ãofísica. Acríticaestánosprofissionaisque limitamohorizonte de seus trabalhos, quando se satisfazem em fundamentar e desenvolverseusobjetivos apenasnaperspectivada esté-ticaenquantopadrãoidealizadodecorpo.

Ao longoda pesquisa nos inspiramosnos mitos gregos, associamosApoloàaparência,àbuscadasformasperfeitas, àordemeàmedida,comoumidealouprojetoquehabita ahumanidade aolongodotempoe quetambémse trans-formaeusanovosinstrumentos,comoaprópriamídia.Nesse mesmo trajeto encontramosNarciso, encantado,seduzido pelaspráticasdeconsumoeassociadoaoindividualismo.

NessepercursodeanálisedeconteúdodarevistaMen’s Health, interrogamos sobrea presenc¸a deDionísio e suas metamorfoses,chegamosàcompreensãodequeessedeus

foi a referência que nos acompanhou em toda a análise, problematizamosostatusquo,oidealapolíneodabelezae aspráticasnarcisistasdeconsumo.

Na presenc¸a constante de Dionísio, analisamos essas questões relacionadas à busca por um modelo padrãode corpo. A figura desse deus esteve presente, problemati-zoucadacategoriatemáticaestudada,questionouosideais estabelecidos.Dionísio é aqueleque pergunta,que busca rompercominterditosdetodasasordens,nãosegue mode-losapoiadosnosdeusestradicionais,procuraestabelecero equilíbriodascoisas,poiséumdeussonhador,transgressor demodelosqueaprisionamacondic¸ãohumanaecessama liberdade.Essedeusrepresentatambémabuscapornovos caminhosparaampliaravisãodemundoeasreflexõessobre modeloscategóricosimpostos socialmente.Essa formade ultrapassarconceitosestabelecidosleva-nosapensarsobre outraspossibilidadesdesercorponomundo.

Conflitos

de

interesse

Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.

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