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Ciênc. saúde coletiva vol.3 número1

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Academic year: 2018

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(1)

A Part i ci pação dos Usuári os nos Consel hos

Muni ci pai s de Saúde e seus Det ermi nant es

zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

Mario Roberto Dal Poz1

Roseni Pinheiro2

O texto da Pro fesso ra So raya Co rtes

traz uma imp o rtante co ntribuição ao d ebate

so bre o s d eterminantes da p articip ação em

instâncias d e d ecisão em sistemas d e saúd e

municip ais; assim, o s co mentário s a seguir

visam so bretud o av ançar em algumas das p ro

-p o siçõ es da auto ra.

A primeira questão a ser d estacad a é o

caráter "ino v ad o r" que a criação d o s Co

nse-lho s Municipais d e Saúd e v em trazend o à

po lítica d e saúd e no Brasil, d estacand o -se d o s

d emais esp aço s p úblico s d e co ntro le so cial.

Vale lembrar q ue o seto r saúd e fo i p io neiro

na institucio nalização d e esp aço s c o m o

es-ses. Essa ino v ação é d ad a também p ela sua

co m p o sição , tend o em vista q ue esses co

nse-lho s d ev erão reunir, p aritariamente, rep

resen-tantes d e seg m ento s da so cied ad e civil o

rga-nizada, d e p restad o res d e serv iço s, d e

traba-lhad o res da saúd e e d o g o v erno municip al

para discutir e d ecid ir so bre a po lítica d e

saúd e lo cal (Tav ares, 1995).

A segund a questão diz resp eito à

muni-cip alização q ue co nstitui-se num imp o rtante

c o nd ic io nante p ara o f u nc io nam ento d o s

Co nselho s Municipais d e Saúd e. Q uanto mais

avançad a fo r a co nd ição d e g estão d e saúd e

no municíp io , melho res co nd içõ es o s Co

nse-lho s Municipais d e Saúd e p arecem ter para

d esem p enhar suas ativid ad es, na med id a em

que o grau de autonomia de decisão da

Secretaria Municipal de Saúde sobre os

re-cursos e a política no município cresce, como

ao passar da condição de gestão incipiente

para semiplena, ao requerer maior empenho

das instâncias gestoras municipais. Nesta

pers-pectiva, o Conselho Municipal de Saúde

pas-sa a ser uma importante instância na

condu-ção da política local, a partir da

democrati-zação das informações, contribuindo para a

descentralização das ações de saúde

(Pinhei-ro, 1995; Dal Poz & Pinhei(Pinhei-ro, 1997).

Mas, c o m o abo rd ad o no texto , estas

afir-m aç õ es g anhaafir-m no to ried ad e q uand o co

ns-truídas num co ntexto p o lítico e institucio nal

fav o ráv el. Estas c o nd iç õ es to rnam-se mais

favo ráveis quand o o

zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

estilo de gestão ad o tad o

p elo g o v erno municip al para a saúd e é

par-ticipativo e a cultura política d aquela lo

cali-d acali-d e p o ssui uma histó ria cali-d e m o v im ento s

reiv ind icató rio s atuantes. Um exem p lo da

primeira c o nd iç ão é d ad o p elo s mecanismo s

d e inco rp o ração da p articip ação em d iverso s

níveis d e d ecisão so bre as aç õ es d e saúd e,

atrav és d e c o nselho s d istritais, c o nselho s

g esto res d e unid ad es ho sp italares e d e

uni-d auni-d e básicas. A seg ununi-d a c o nuni-d iç ão é uni-dauni-da

p e l a a ç ã o d as e n t i d a d e s l a b o r a i s ,

asso ciativistas, m o v im ento p o p ular, eco ló g

i-co , d o s sem-terra e o utro s (Pinheiro , op. cit.).

Uma terceira c o nd iç ão favo rável é d ad a

pela ação dos partidos políticos. O bserv o u-se em o utro s estud o s q ue alguns p ro gramas d e

g o v erno p o d em influenciar a d inâmica d e

funcio nam ento d o s Co nselho s Municipais d e ==1 Pro f e s s o r ad ju n to e V i c e - D i re to r d o Institu to d e

M e d i c i n a So c i al d a U ERJ.

==2 Pe s q u i s ad o r a as s o c i ad a e d o u to r a n d a d o Institu to

(2)

saúde em algumas localidades. Isto pode ser

verificado quando um programa de governo

opta pelo estabelecimento de instâncias de

participação como, por exemplo, um

conse-lho de orçamento, conseconse-lho de urbanismo

ou conselho de meio ambiente. Estas

pro-postas de governo - ao privilegiar a

partici-pação nas diversas instâncias - também

favo-recem as possibilidades de participação e

controle social sobre os bens públicos,

atra-vés da realização de ações intersetoriais, tão

imprescindíveis ao campo da saúde

(Pinhei-ro,

zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

op. cit.; Dal Poz, & Pinheiro, op. cit.).

No entanto , não se p o d e d eixar d e

assi-nalar a antítese d essas co nd içõ es, p rev alente

na maio ria d as lo calid ad es brasileiras, esp

e-cialm ente aq u elas rurais. D esp ro v id as d e

maio res inv estimento s e caracterizad as p ela

p o brez a, inclusiv e p o lítica, estas lo calid ad es

o ferecem baixas co nd içõ es d e vida para as

p o p ulaçõ es, numa cultura p red o minantemente

patrimo nialista e c o m red uzid o s d ireito s d e

cid ad ania, c o m o saúd e e ed uc aç ão .

Uma terceira questão relativa a esta

refle-xão so bre o s estud o s da p articip ação ,

refere-se às po ssibilid ad es concretas d e p articip

a-ção d o s usuário s no co ntro le d o s serv iço s d e

saúd e. O av anço , m encio nad o anterio rmente,

diz resp eito às o utras questõ es q ue também

são co nsid erad as, p elo s p ró p rio s usuário s,

c o m o d eterminantes d e sua p articip ação . Em

que p ese o êxito d e d iversas exp eriências no

co njunto d o p aís, há d e se ter claro q ue a

p articip ação d o s usuário s nesses co nselho s

o u em qualquer o utro co nstitui-se numa

ta-refa co m p lexa.

Tal co m p lexid ad e é d ad a, p

rimeiramen-te, p ela d iversid ad e d o s ato res e d e

interes-ses env o lv id o s na c o m p o siç ão d esinteres-ses c o

nse-lho s, numa relação bastante d esigual. So mente

o s seg mento s q ue fazem parte d o seto r

saú-d e (o s p restasaú-d o res saú-d e serv iço s p riv asaú-d o e

p úblico e o s trabalhad o res da saúd e) co m

-partilham d e uma mesma linguagem técnica,

muitas v ezes inco mp reensív el p o r aqueles q ue

utilizam o serv iço .

A p esar da g rand e maio ria d as leis de

criação d o s Co nselho s Municipais d e Saúd e

p rev erem atribuiçõ es legais ligad as ao co

n-tro le e av aliação d a qualid ad e d o s serv iço s

d e saúd e, a g rand e maio ria d o s rep

resentan-tes d o s usuário s se p ergunta c o m o avaliar a

qualid ad e d o s serv iço s d e saúd e (Dal Po z &

Pinheiro , op. cit.).

Tanto na fo rmulação d e um p lano

muni-cipal d e saúd e c o m o na relação méd ico -paciente este co ntro le, assim c o m o a

participa-ção nas d ecisõ es so bre saúd e, está limitado

p ela auto no mia d o s p ro fissio nais d e saúd e,

so b re tu d o o m é d i c o , c o m o p ro d u to r e

d isseminad o r d esta ling uag em.

O m éd ico é co nsid erad o p ela so cied ad e

c o m o legítimo d etento r d o saber e da prática

da cura, to rnand o -se o p rincip al ato r no s

d iv erso s níveis d o p ro c esso d ecisó rio no s

d iverso s âmbito s da saúd e - p o lítico e

insti-tucio nal da o rg aniz ação d o s serv iço s e d o

cuid ad o ind ivid ual. Co m o s co nselho s, isto

g anha visibilid ad e, p o is na grand e maio ria

d o s caso s é o m éd ic o o p resid ente d essas

instâncias, rev eland o a d ecalag em entre poderes e saberes, entre d o uto r e leigo , rep

re-sentad a p ela d ico to mia técnica versus senso

comum. D o m esm o m o d o o bserv a-se que essa d ico to mia rep ete-se na relação da

clien-tela co m o s serviço s, haja vista que são p o uco s

o s serv iço s p úblico s d e saúd e q ue p ermitem

a esco lha d o p ro fissio nal p elo usuário , p o r

q u em d eseja ser atend id o . Muito m eno s

p ermitem vislumbrar a p o ssibilid ad e d e esco

-lha da terap êutica q ue lhe p areça mais ad

equad a à cura d e sua d o enç a. A ssim, o p ro

-fissio nal m éd ico tem imp o rtância d ecisiva no

p ro cesso d e p ro d ução , c o nsu m o e av aliação

d o s serv iço s d e assistência m éd ica, e as

p o ssibilid ad es d e p articip ação d o usuário têm

seus d eterminantes para além d as estruturas

institucio nais o u rearranjo s p o lítico s o

rgani-z acio nais.

As d emand as ap resentad as no s Co

nse-lho s Municipais d e Saúd e têm refo rçad o o

(3)

tec-nologia de alta complexidade, com

concomitante aumento da oferta de

assistên-cia médica. Em que pese a introdução de

novos modelos de reorganização dos

servi-ços de saúde, que aumentam ou "qualificam"

esta oferta, não se modifica a forma como se

estabelecem normas e rotinas, sobretudo no

que diz respeito à disseminação de

informa-ções que possam instrumentalizar os

usuá-rios (ou clientela), ou mesmo sobre o tipo de

serviço que se quer e como se pretende

avaliar.

A lgumas alternativas têm sid o ap o ntad as

para dirimir o u atenuar essas questõ es. Em

recente seminário (Dal Po z & Pinheiro , 1997),

d iscutiu-se as p ro p o stas d e melho ria d o

fun-cio nam ento d o s serv iço s d e saúd e e suas

inter-relaçõ es co m o s esp aço s d e co ntro le

so cial e a q ualid ad e. A p esar d e alg umas

exito sas exp eriências ap resentad as, que mo

s-traram as c o nd iç õ es favo ráveis à existência

d essas inter-relaçõ es, muitas d ificuld ad es e

o bstáculo s fo ram ap o ntad o s.

Das alternativas ap resentad as no citad o

ev ento p o d e-se citar o fo rtalecimento d o s

co nselheiro s d e saúd e através d e p ro gramas

d e cap acitação na ló gica da luta p ela cid ad

a-nia, a auto no mia d o s esp aço s d e co ntro le

so cial, a criação d e m ecanism o s d e fluxo s d e

info rmaçõ es, p ro m o v end o o intercâmbio

en-tre co nselho s, o rg aniz ação d o s mo v imento s

p o p ulares ind ep end entes e fó runs p o p ulares

e ainda a priorização de investimentos em

recursos humanos, tanto na ampliação dos

quadros, como na capacitação e educação

continuada.

N ão há d úv id a d a existênc ia d e

mu-d anç as no re lac io nam e nto entre serv iço s

p ú b lic o s e sua clientela ap ó s a c riaç ão d e

c o nse lho s d e saú d e no s m u nic íp io s. Mas,

além d isso , o s c o nse lho s têm tid o um p ap el

fund am ental nesse p ro c e sso , p o is a d

inâ-m ica d e f u nc io nainâ-m e nto d esses c o nselho s

to rna v isív eis muitas q u estõ es q u e, tratad as

c o m o im p ro v áv eis e im p o ssív eis d e serem

analisad as, p assam a ser d iscutid as, c o m o ,

p o r e x e m p lo , a relaç ão m éd ic o - p ac iente e

a aç ão d o p o d er lo c al. D essa fo rm a to

rna-se p o ssív el p e rc e b e r a nec essid ad e d e

re-to m ar a d isc u ssão so b re o q u e é saúd e, o

q u e é serv iç o d e q u alid ad e e c o m o av aliar

e c o ntro lar o s rec u rso s q u e são d estinad o s

a estes serv iç o s.

Po r fim, p o d e-se tam bém afirmar que na

m e d i d a e m q u e as o b s e r v a ç õ e s s ão

ap ro fund ad as, o grau d e co m p lexid ad e

au-menta. As p o ssibilid ad es d o usuário s

partici-p arem efetiv amente nessas instâncias fazem

parte d e uma co nstrução diária d o co njunto

d e fo rças d o s d iv erso s ato res so ciais q ue

atuam naquele esp aç o p o lítico e so cial. E é

analisand o esse co tid iano d as relaçõ es que

será po ssível co m p reend er seus d eterminantes

e co ntribuir para transfo rmá-lo s.

zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

R e f e rê n ci as b i b l i o g ráf i cas

DAL POZ , M.R. & PINHEIRO, R. ( 1997) - A Q

ua-lid ad e d o s Serv iço s d e Saúd e e o s Esp aço s

d e Co ntro le So cial.

zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

Coleção Saúde e

Movi-mento 3. Rio d e Janeiro : COSEMS/ IMS/ UERJ/

A BRA SCO.

PINHEIRO, R. (1995) - Os Co nselho s Municipais de

Saúde: O Direito e o Avesso. Dissertação de

Mestrado, Instituto de Medicina Social - UERJ,

Rio de Janeiro, mimeo.

TAVARES, M.H. (1995) - O Federalismo e as

Políti-cas Sociais. Revista Brasileira de Ciências

Referências

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