Revista RecreArte 11
DIC09
Revista RecreArte 11 > I - Creatividad Básica: Investigación y Fundamentación
Regina Célia Faria Amaro Giora
Docente do programa de pós-graduação em Educação,
Arte e História da Cultura
Por séculos, a criatividade tem sido assunto de interesse para as diversas áreas do conhecimento. Na Grécia antiga, a criatividade só ocorria por inspiração divina. Platão, por exemplo, afirmava que o poeta não poderia se expressar, sem ser inspirado. Já em Aristóteles, observa-se uma mudança: a inspiração ocorre não por interferência divina, mas quando o sujeito consegue fazer certas associações mentais. No Renascimento discute-se a questão da criatividade, em especial nas artes, na literatura e na ciência. No século XVIII surgem os debates sobre a genialidade e sobre o talento. A criatividade seria entendida como uma forma de genialidade determinada geneticamente e influenciada pelo ambiente. Até o início do século XX as reflexões sobre a criatividade tiveram um caráter mais especulativo que científico. A partir de então, importantes contribuições da Psicanálise e da Psicologia Sóciohistórica permitiram jogar luz sobre esse fenômeno, por meio da abordagem científica da consciência.
Neste artigo pretende-se apontar algumas contribuições da Psicologia na compreensão desse fenômeno, dando especial ênfase à teoria sóciohistórica e à psicologia profunda. Criatividade para essas teorias é compreendida como uma função mental superior da consciência, diretamente relacionada às outras funções superiores e internalizada pelo sujeito a partir de suas experiências e contatos com a cultura.
Mas, por que é tão importante estudar a criatividade?
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Pessoas criativas geram poder e riqueza para uma nação; 3- As mudanças provocadas pela globalização, pelo avanço da ciência e da tecnologia, pela nova ordem econômica e política, forjaram um novo homem e consequentemente uma nova sociedade, com exigências muito diferentes das anteriores. Outras necessidades foram criadas, o mundo do trabalho mudou, bem como todas as atividades do nosso cotidiano. Inventar um outro estilo de vida é fundamental para a sobrevivência da humanidade; 4- O conhecimento se expandiu e boa parte do nosso tempo precisamos investir no aprendizado de novas habilidades e competências, até para facilitar e criar novos mecanismos de adaptação nesse mundo novo, descartando conhecimentos que não se prestam a nada.
Mas, afinal o que é a criatividade? Onde está a criatividade: no sujeito ou no produto criado? Que relações existem entre criatividade, emoção e inteligência? Há pessoas mais criativas que outras? Qual a influência da cultura no desenvolvimento da criatividade? Que relações existem entre criatividade e os transtornos mentais? A criatividade pode ser medida? São muitas as perguntas passíveis de serem feitas e estamos ainda buscando respostas para boa parte delas.
Para Csikszentmihlyi (2001), não podemos estudar a criatividade isolando indivíduos e suas obras do contexto social e econômico sociohistórico. Na condição de humanos, somos todos potencialmente criativos. Entretanto, quando nos referimos à criatividade, com “C”, isto é, aquela que muda nossa maneira de ver e compreender o mundo, escreve o autor, observamos que nunca acontece exclusivamente na cabeça de uma pessoa. Trata-se de um fenômeno que só pode ser observado nas inter-relações de um sistema composto de três elementos principais: o domínio, o campo e o sujeito. A cultura seria um conjunto de domínios - saberes e fazeres. O campo compreenderia todos os indivíduos que atuam como “porteiros” do domínio. São esses que decidiriam o que deve ser incluído no domínio, ou seja o que é criativo, o que não é. O sujeito, ao criar, modificaria algo no domínio. Criatividade implica em mudança. Em outras palavras, estão em cena, o grupo das instituições sociais, campo, um aspecto cultural estável, chamado domínio e o sujeito, que promove as mudanças no domínio. Para entender a criatividade, segundo esse pesquisador, é necessário investigar além dos limites do sujeito que cria. A criatividade não acontece no vácuo. A criatividade pode ser uma idéia, uma ação ou um produto que muda um domínio.
Yaroshevskii (1987), também numa perspectiva sóciohistórica, refere-se à criatividade tanto como atividade individual, como ao produto criado, onde os fatores do destino pessoal do sujeito que cria, tornam-se fatores culturais.
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Contemporaneamente, há um consenso sobre o conceito de criatividade, em escolas de diferentes origens, bem como sobre certos pressupostos teóricos que a envolvem. Vejamos: 1-a criatividade, segundo Lubart (2007), é a capacidade de realizar uma produção que seja ao mesmo tempo nova e adaptada ao contexto na qual ela se manifesta. 2-Criar é produzir algo novo com elementos já conhecidos, é uma forma de arranjo original e única, que pode ou não atender a necessidades externas (ambiente) ou internas (sujeito); 3-estudar o processo criativo é uma tarefa difícil, já que o fenômeno é caracterizado pela complexidade, pois está vinculado a todos os aspectos do psiquismo humano e está, também, diretamente relacionado ao campo e ao domínio o que , significa dizer que, só a Psicologia não dá conta da análise do fenômeno. 4-As metodologias aplicadas ao estudo da criatividade ainda estão sendo construídas.
expressões concretas das emoções vividas e experimentadas pelo ser humano.
Ser criativo é característica do homo sapiens. Para a Neuropsicologia, a diferença entre o homem e o animal está na sua capacidade para criar, e se o ser humano é capaz de criar, isso se deve ao fato do seu comportamento sofrer a mediação do córtex cerebral, e não estar determinado exclusivamente por genes, hormônios e receptores sensoriais.O fato de haver uma elasticidade maior no ser humano, por causa do córtex, é que permite que seu comportamento psicológico se modifique, dependendo das condições nas quais se encontra.O controle do córtex, no entanto, se dá através da consciência, e se por um lado, é o córtex que proporciona o funcionamento da consciência, por outro, ele não é a causa do seu aparecimento.O córtex é um órgão biológico, mas a consciência, não.O córtex é visto como o elo entre o social e o biológico. A consciência ao ser internalizada pelo córtex, passa a ter o poder de controlar o biológico. A característica principal da consciência é a intencionalidade, pois é ela que seleciona, interpreta e organiza ativamente as informações recebidas tanto pelo organismo como pelo ambiente. Ao contrário do ser humano, o animal é apenas um produto do determinismo biológico. Ele não cria nada. Apenas repete os mesmos padrões de comportamento, de geração à geração. Esses padrões de comportamento têm como objetivo principal adaptar o organismo ao meio e não podem ser alterados. São os aspectos históricos e culturais que irão determinar os processos de desenvolvimento psíquico do homem, segundo Vygotski(2000). A aprendizagem, elemento externo que representa a cultura, interage de forma independente com a linha do desenvolvimento, potencializando-o ou inviabilizando-o.
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na toca e vislumbrar o país das maravilhas; coragem e determinação, preferindo o risco, porque o sabe calculado, à certeza; intuição, pois lança luz sobre algo que sempre esteve a nossa disposição ou no nosso entorno, já que está pronta para ver e perceber algo que sequer vislumbramos e estabelecer conexões entre coisas diferentes; competência em algum domínio, o conhecimento de um domínio é fundamental; entusiasmo, que a leva a se envolver com seu objeto de interesse.
Nem sempre pessoas consideradas mito inteligentes, são criativas. A criatividade ocorre nas diferentes domínios da atividade humana: na artes, nas ciências, no cotidiano, no universo das tecnologias, no mundo empresarial, entre outros.
As contribuições da Psicanálise e da Psicologia Analítica para a compreensão da criatividade se dão em especial no domínio das artes , mas podem também ser aplicadas a outros domínios. Lubart (2007), observa que sob a ótica psicanalítica, a criatividade resulta de uma tensão entre a realidade consciente e as pulsões inconscientes. Por exemplo, ao criar, o artista expressa seus desejos , por meios culturalmente aceitáveis. É a energia do inconsciente que ativa o processo criador. Afrouxado o consciente, as forças do inconsciente fazem emergir as fantasias, que são as representações concretas das emoções. As fantasias não conhecem as barreiras da razão e, livres, podem encontrar formas inusitadas de serem expressas. Para Jung, um ego fortalecido pelo exercício de todas as funções da consciência, independente do superego, pode expandir a percepção, para que ela tenha condição de se apropriar do conteúdo do inconsciente e direciona-lo para atividades positivas que satisfaçam as necessidades humanas, principalmente no domínio da arte, onde todas as funções da consciência são utilizadas, ou seja: o sentimento, o pensamento, a sensação e a intuição.
no inconsciente, e só quando atingem um certo grau, emergem no consciente. Entretanto, eles só emergem se ativados pela energia do consciente, especialmente no domínio da arte. Portanto há sempre uma intencionalidade no criar, seja em que domínio for.
No caso da criatividade artística,observa Jung, os símbolos que aparecem na arte não servem para explicar o seu criador, mas sim, para expressar as várias etapas pelas quais passou o pensamento e a emoção na história da humanidade. As figuras arquetípicas que se alojam no inconsciente coletivo estão presentes, principalmente nas manifestações artísticas de todas as culturas, desde tempos imemoriais e atravessaram séculos atraindo e seduzindo os homens. È por meio da criação artística que podemos acessar a uma nova dimensão do ser humano, aquela que recupera a memória onde estão alojadas as experiências mais significativas de toda a humanidade .
Foi graças a Freud e Jung que pudemos compreender o caráter criativo do inconsciente.
9 Resumo
Entender a criatividade do ponto de vista científico é fundamental. As perguntas mais freqüentes que a Psicologia tenta responder são: O que se entende por criatividade? Que relações existem entre criatividade, inteligência, e emoção? Que influência tem o meio cultural e social sobre a criatividade? Onde está a criatividade? Como se dá o processo criativo? O que fazer para tornar as pessoas mais criativas ou a criatividade pode ser ensinada? A criatividade pode ser medida? Que relações existem entre criatividade e transtornos mentais? Em que atividades são exigidas ações mais criativas ? Onde a criatividade pode ser mais e melhor observada?
Resumen
Entender la creatividad desde el punto de vista científico es fundamental. Las preguntas más frecuentes que la Psicología intenta responder son: ¿Qué se entiende por creatividad? ¿Qué relaciones existen entre creatividad, inteligencia, y emoción? ¿Qué influencia tiene el medio cultural y social sobre la creatividad? ¿Dónde está la creatividad? ¿Cómo se da el proceso creativo? ¿Qué hacer para que las personas sean más creativas o para que se pueda enseñar la creatividad? ¿Se puede medir la creatividad? ¿Qué relaciones existen entre creatividad y trastornos mentales? ¿En qué actividades son exigidas acciones más creativas? ¿Dónde la creatividad puede ser más y mejor observada?
Este artículo no pretende presentar las respuestas a todas esas cuestiones, pero sí señalar algunas contribuciones para el entendimiento del creatividad, desde el punto de vista de la Psicología Profunda y de la Psicología Socio-histórica.
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