• Nenhum resultado encontrado

DÍa de los muertos para meus finados: hibridismo cultural a partir da ressignificação de elementos

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "DÍa de los muertos para meus finados: hibridismo cultural a partir da ressignificação de elementos"

Copied!
153
0
0

Texto

(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE ARTES E LETRAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARTES VISUAIS. Aracy Maura Vieira Colvero. DÍA DE LOS MUERTOS PARA MEUS FINADOS: HIBRIDISMO CULTURAL A PARTIR DA RESSIGNIFICAÇÃO DE ELEMENTOS. Santa Maria, RS 2019.

(2) Aracy Maura Vieira Colvero. DÍA DE LOS MUERTOS PARA MEUS FINADOS: HIBRIDISMO CULTURAL A PARTIR DA RESSIGNIFICAÇÃO DE ELEMENTOS. Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Pós-Graduação em Artes Visuais, Área de concentração Arte e Visualidade, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Artes Visuais.. Orientadora: Helga Corrêa. Santa Maria, RS 2019.

(3)

(4) Aracy Maura Vieira Colvero. DÍA DE LOS MUERTOS PARA MEUS FINADOS: HIBRIDISMO CULTURAL A PARTIR DA RESSIGNIFICAÇÃO DE ELEMENTOS. Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Pós-Graduação em Artes Visuais, Área de concentração Arte e Visualidade, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Artes Visuais.. Aprovado em 28 de março de 2019:. ____________________________________________ Helga Correa, Dra. (UFSM) (Presidente/ Orientador). ____________________________________________ Altamir Moreira, Dr. (UFSM). ____________________________________________ Vanessa Freitag, Dra. (Universidad de Guanajuato). Santa Maria, RS 2019.

(5) Para meu amado pai, José Garibaldi..

(6) AGRADECIMENTOS. A realização deste trabalho só foi possível devido ao suporte e compreensão de várias pessoas. Agradeço, de coração, a todos, que de alguma maneira contribuíram para a conclusão esse curso de Mestrado, em especial: - A CAPES que financiou essa pesquisa por dois anos; - A minha orientadora, Helga Corrêa, que me acompanha desde a graduação e acredita em mim como pessoa e como artista. Obrigada pelo incentivo, amizade e por me levar à evolução como gravadora e pesquisadora; - Aos membros da banca Altamir Moreira e Vanessa Freitag, pelas contribuições dadas para a construção deste trabalho; - Ao meu marido Rodrigo Cassuli, que fez esse Mestrado junto comigo, que jamais me deixou desistir, que acredita em meu potencial e me incentivou a fazer este curso e me deu suporte emocional e financeiro por todo esse tempo. Obrigada por que aguentar todos os períodos e variações de humor e que por estar sempre ao meu lado; - Aos meus pais, por fazerem de mim, a pessoa que sou, por me ensinarem a valorizar e respeitar o outro que está ao meu lado; - A minha família, onde cada um a sua maneira contribuiu para meu percurso e formação: meu irmão José, minhas sobrinhas Natália e Antônia, minha tia e madrinha Maria Elena, minha cunhada Perla; - A Maria Cristina Maldonado Torres, querida amiga que muito contribuiu a essa pesquisa; - Ao Marcos Souto, meu amigo de todas as horas e momentos, pela força e auxílio durante todo o curso, na elaboração desse trabalho e na vida, que embarcava nas minhas loucuras e me acompanhava onde quer que eu fosse; - A Vanessa Obem, minha amiga e parceira nessa jornada de dois anos, que como o Marcos me acompanhou e auxiliou nesse trabalho; - A UFSM, ao Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais, a todos os professores e funcionários do PPGART, que de alguma maneira contribuíram para a realização dessa pesquisa; - A todos os Outros que conheci no transcorrer deste trabalho, e que contribuíram com sua construção e enriquecimento..

(7) Say that I'm crazy or call me a fool But last night it seemed that I dreamed about you When I opened my mouth what came out was a song And you knew every word and we all sang along To a melody played on the strings of our souls And a rhythm that rattled us down to the bone Our love for each other will live on forever In every beat of my proud corazón Anthony Gonzalez - Proud Corazón Coco (A Vida é uma Festa) - 2017.

(8) RESUMO. DÍA DE LOS MUERTOS PARA MEUS FINADOS: HIBRIDISMO CULTURAL A PARTIR DA RESSIGNIFICAÇÃO DE ELEMENTOS. AUTORA: Aracy Maura Vieira Colvero ORIENTADORA: Profª Drª Helga Corrêa. A presente dissertação aborda uma reflexão acerca da ressignificação e reinterpretação de elementos, geradas pelo hibridismo entre as celebrações de Día de los Muertos, aspecto da cultura mexicana e o Dia de Finados, aspecto da cultura na qual estou inserida. Trata-se de uma pesquisa baseada na autoetnografia reflexiva que implicou em pesquisa biográfica, de memórias e da convivência com os membros culturais, onde foram documentadas as ações e trabalho de campo, assim como as mudanças ocorridas na pesquisa através dos resultados desse trabalho de campo possibilitando a elaboração dos elementos reinterpretados e ressignificados, inseridos na construção poética desenvolvida a partir de instalação, fotografia e gravura em metal. O texto apresenta uma discussão teórica sobre a história da Morte nas culturas e as celebrações na atualidade, assim como a justificativa pela eleição do termo hibridismo para uso nessa pesquisa. Apresento o processo criativo e o pensamento visual expresso nas imagens que foram realizadas. Os trabalhos desenvolvidos são compostos de duas partes, uma fotografia e uma gravura, que representam visualmente a mudança de perspectiva, não apenas da elaboração da Morte, mas da própria reelaboração que fazemos sobre a cultura do outro.. Palavras-chave: Arte contemporânea. Arte e Visualidade. Día de Los Muertos. Cultura Mexicana. Gravura em Metal..

(9) ABSTRACT. DAY OF THE DEAD FOR MY DEADS: CULTURAL HIBRIDISM FROM THE SIGNIFICANCE OF ELEMENTS. AUTHOR: Aracy Maura Vieira Colvero ADVISOR: Profª Drª Helga Corrêa. The present dissertation approaches a reflection about the re - signification and reinterpretation of elements, generated by the hybridism between the celebrations of Dia de los Muertos, aspect of the Mexican culture and the Day of the Dead, aspect of the culture in which I am inserted. It is a research based on reflexive autoethnography that implied biographical research, memories and coexistence with cultural members, where the actions and field work were documented, as well as the changes that occurred in the research through the results of this field work enabling the elaboration of reinterpreted and re-signified elements, inserted in the poetic construction developed from installation, photography and engraving. The text presents a theoretical discussion about the history of Death in cultures and celebrations today, as well as the justification by the election of the term hybridism for use in this research. I present the creative process and the visual thought expressed in the images that were made. The works developed are composed of two parts, a photograph and a metal engraving, which represent visually the change of perspective, not only of the elaboration of Death, but of the very reworking that we do about the culture of the other.. Keywords: Contemporary art. Art and Visuality. Day of the Dead. Mexican Culture. Metal engraving..

(10) LISTA DE IMAGENS Figura 1 – Aracy Colvero – De la Muerte y Otras Catrinas - Memento Mori Nº 08 (2016), gravura em metal ........................................................... 17 Figura 2 – Aracy Colvero – De la Muerte y Otras Catrinas - Memento Mori Nº 11 (2016), gravura em metal ............................................................ 18 Figura 3 – José Guadalupe Posada - Calavera Catrina (La Calavera Garbancera) (1913), Zincografia ......................................................... 19 Figura 4 – Francisco José de Goya y Lucientes – O sono da razão produz monstros (nº 43) (1799), gravura em metal ......................................... 21 Figura 5 – Graciela Iturbide - Procession Chalma, Mexico (1984), fotografia ......... 22 Figura 6 – Aracy Colvero – Vivir para contarla (2017), Cemitério Ecumênico Municipal, Santa Maria / RS .................................................................. 23 Figura 7 – Aracy Colvero – Senhorinha - Vivir para contarla (2017), Cemitério Ecumênico Municipal, Santa Maria / RS ........................... 24 Figura 8 – Aracy Colvero - De La Muerte Y Otras Catrinas- Memento Mori Nº 07 .................................................................................................... 25 Figura 9 – Aracy Colvero - Projeto 1 - Combinação das Figuras 7 e 8 ............... 26 Figura 10 – Aracy Colvero - Colvero - S/ Título Nº 01 (2018), gravura em metal .... 27 Figura 11 – A caveira original (Homem de Jericó ou Crânio de Jericó) (Período Neolítico) , crânio remodelado coberto por gesso e conchas ............... 30 Figura 12 – Diego Rivera - Detalhe do mural sonho de um domingo à tarde da alameda (1947) ...................................................................................... 30 Figura 13 – Memento mori – Mosaico de Pompéia do século I d.C., Museu Arqueológico Nacional de Nápoles ...................................................... 31 Figura 14 – Hans Holbein - A Dança Macabra-Dama Recém-casada (1523-1526), Xilogravura ..................................................................... 32 Figura 15 – Pieter Claesz - Vanitas (1625) , pintura a óleo, Frans Hals Museum ... 33 Figura 16 – Hans Sebald Beham - A morte e seu par indecente (1529), gravura ... 33 Figura 17 – Edward Munch - A morte e a donzela (entre 1894-1902), gravura em metal, Familia Epstein, Munch Museum ........................... 34 Figura 18 – Otto Dix - Tote in der Nähe der Verteidigungsposition Tahure (1924), da série A Guerra (Krieg), gravura em metal ........................... 35 Figura 19 – Alfred Kubin – Das Ende des Krieges (1920), nanquim e aquarela ..... 35 Figura 20 – Oswaldo Goeldi - Grã-Finos,s/d, nanquim sobre papel ....................... 36 Figura 21 – Andy Warhol - Skulls (1976) ............................................................... 37 Figura 22 – Damien Hirst - Diamond Skull (For the love of God) (2007) ................. 38 Figura 23 – Subodh Gupta - C.B.1 (2009) .............................................................. 38 Figura 24 – Representações de Mictecacíhuatl e Mictlantecuhtli ........................... 40 Figura 25 – Calavera Votiva Mexica – Museo Nacional de Antropología ............... 40 Figura 26 – Culto à Santa Muerte (s/d) .................................................................. 42 Figura 27 – Culto à Santa Muerte (2014) ............................................................... 42 Figura 28 – Quetzalcóatl, a Serpente Emplumada (2018) ........................................ 43 Figura 29 – Quetzalcóatl, a Serpente Emplumada (2015) ........................................ 43 Figura 30 – Calaveras de Açúcar (2016) ................................................................ 46 Figura 31 – Calavera Literaria (s/d) ......................................................................... 47 Figura 32 – Campesino no campo de Cempasúchil (2018) ................................ 48 Figura 33 – Flor de Cempasúchil (2017) .................................................................. 48.

(11) Figura 34 – Tino Soriano - Día de los Muertos em Oaxaca, México (2015) ......... 49 Figura 35 – Organização dos Altares de Muertos (2015) ........................................ 50 Figura 36 – José Guadalupe Posada - Calavera del Catrín (Calavera de un lagartijo) (s/d), Amon Carter Museum of American Art, Fort Worth, Texas ……..................................................................... 52 Figura 37 – José Guadalupe Posada. Placa 7: Suicídio de um plutocrata injusto (entre 1890–1910), The Metropolitan Museum of Art .............. 53 Figura 38 – Graciela Iturbide - Na’ Lupe Pan (Juchitán, México) (1986) ............. 54 Figura 39 – Celia Calderón - La familia (1948), Coléccion Blaisten ....................... 55 Figura 40 – Aracy Colvero - Vivir para contarla (2017), Cemitério Ecumênico Municipal, Santa Maria / RS .............................................. 58 Figura 41 – Aracy Colvero - Vivir para contarla (2017), Cemitério Ecumênico Municipal, Santa Maria / RS ................................................................... 59 Figura 42 – Aracy Colvero - Vivir para contarla (2017), Cemitério Ecumênico Municipal, Santa Maria / RS ............................................................... 60 Figura 43 – Aracy Colvero - Vivir para contarla (2017), Cemitério Ecumênico Municipal,Santa Maria / RS ................................................................... 61 Figura 44 – Aracy Colvero - Vivir para contarla (2017), Cemitério Ecumênico Municipal, Santa Maria / RS ................................................................. 61 Figura 45 – Aracy Colvero - Vivir para contarla (2017), Cemitério Ecumênico Municipal, Santa Maria / RS ................................................................ 62 Figura 46 – Aracy Colvero - Vivir para contarla (2017), Cemitério Ecumênico Municipal, Santa Maria / RS ................................................................ 62 Figura 47 – Aracy Colvero - Vivir para contarla (2017), Cemitério Ecumênico Municipal, Santa Maria / RS ................................................................ 63 Figura 48 – Aracy Colvero - Vivir para contarla (2017), Cemitério Ecumênico Municipal, Santa Maria / RS ................................................................ 64 Figura 49 – Aracy Colvero - Vivir para contarla (2017), Cemitério Ecumênico Municipal, Santa Maria / RS ................................................................ 64 Figura 50 – Aracy Colvero - Vivir para contarla (2017), Cemitério Ecumênico Municipal, Santa Maria / RS ................................................................ 65 Figura 51 – Aracy Colvero - Vivir para contarla (2017), Cemitério Ecumênico Municipal, Santa Maria / RS ................................................................ 66 Figura 52 – Aracy Colvero - Vivir para contarla (2017), Cemitério Ecumênico Municipal, Santa Maria / RS ................................................................ 66 Figura 53 – Aracy Colvero - Vivir para contarla (2017), Cemitério Ecumênico Municipal, Santa Maria / RS ................................................................ 66 Figura 54 – Aracy Colvero - Vivir para contarla (2017), Cemitério Ecumênico Municipal, Santa Maria / RS ................................................................ 66 Figura 55 – Aracy Colvero - Dona Neuza - Vivir para contarla (2017), Cemitério Ecumênico Municipal, Santa Maria / RS ............................. 67 Figura 56 – Aracy Colvero - De la Muerte y Otras Catrinas -Memento Mori Nº 12 (2016), gravura em metal ........................................................... 68 Figura 57 – Aracy Colvero - Projeto 2 - Combinação das Figuras 55 e 56 .............. 69 Figura 58 – Aracy Colvero- S/ Título Nº 02 (2018), gravura em metal ..... 69 Figura 59 – Shirlei Colvero - Fotografia daTia Eni e do Mano (1980) ...................... 80 Figura 60 – Aracy Colvero - Projeto 3 - Combinação da Figura 59 e fotografia da instalação Vivir para contarla (2017), Cemitério Ecumênico Municipal, Santa Maria / RS .......................................... 81.

(12) Figura 61 – Aracy Colvero - S/ Título Nº 03 (2018), gravura em metal .... 82 Figura 62 – S/a - Vó Aracy Borin Colvero (1979) .................................................. 83 Figura 63 – S/a - Bisa Barbara Achutti Borin (1978) ............................................... 83 Figura 64 – S/a -Vó Ceci Brito Vieira ( s/d) ............................................................... 83 Figura 65 – Aracy Colvero - Projeto 4 - Combinação das Figuras 62, 63 e 64 com fotografia de Vanessa Obem da instalação Vivir para contarla (2017), Cemitério Ecumênico de Santa Maria / RS ................. 84 Figura 66 – Aracy Colvero - S/ Título Nº 04 (2019), gravura em metal .... 84 Figura 67 – S/a - Tia Bisa América Reschden Achutti (1947) .................................. 85 Figura 68 – Shirlei Colvero - Prima Elusa Helena Chaves e sobrinha Natália Rodrigues Colvero (s/d) ...................................................................... 85 Figura 69 – Aracy Colvero - Projeto 5 - Combinação das Figuras 67, 68 e fotografia da continuidade da instalação Vivir para contarla (2017), Cemitério Ecumênico de Santa Maria / RS ........................................... 86 Figura 70 – Aracy Colvero - S/ Título Nº 05 (2019), gravura em metal ........ 88 Figura 71 – Aracy Colvero - Graziela Paz (2018) ................................................... 88 Figura 72 – Aracy Colvero - De La Muerte Y Otras Catrinas – Memento Mori Nº 01 (2016), gravura em metal .................................................... 89 Figura 73 – Aracy Colvero - De La Muerte Y Otras Catrinas – Memento Mori Nº 01 (2016), gravura em metal .......................................................... 89 Figura 74 – Aracy Colvero - Projeto 6 - Combinação das Figuras 71, 72 e 73 (2019) .............................................................................................. 90 Figura 75 – Aracy Colvero - S/ Título Nº 06 (2019), gravura em metal ......... 90 Figura 76 – Vanessa Obem - Aracy Colvero em conversa com Seu Gelson Altemir da Silva (2018) ......................................................................... 91 Figura 77 – Aracy Colvero - Jurema (2018) ............................................................ 92 Figura 78 – Aracy Colvero - Al Diablo La Muerte Mientras La Vida Nos Dure - Escena 09 (2015), gravura em metal ....................................... 92 Figura 79 – Aracy Colvero - Projeto 7 - Combinação das Figuras 77 e 78 ............... 93 Figura 80 – Aracy Colvero - S/ Título Nº 07 (2019), gravura em metal ..... 94 Figura 81 – Aracy Colvero - Dona Sandra (2018) ..................................................... 95 Figura 82 – Aracy Colvero -De La Muerte Y Otras Catrinas – Memento Mori Nº 04 (2016), gravura em metal ........................................................... 96 Figura 83 – Aracy Colvero - Projeto 8 - Combinação das Figuras 81 e 82 ............. 96 Figura 84 – Aracy Colvero - S/ Título Nº 08 (2019), gravura em metal ..................... 97 Figura 85 – Vanessa Obem - Aracy Colvero interagindo com Dona Ione, Daiane e Isaura (2018) ....................................................................... 98 Figura 86 – Vanessa Obem - Detalhe das oferendas (2018) .................................. 99 Figura 87 – Aracy Colvero - Marcos, Rodrigo e Vanessa (2018) ............................. 100 Figura 88 – Aracy Colvero - Projeto 9 - Combinação das Figuras 87, 90, 91 e 92 .. 101 Figura 89 – Aracy Colvero - S/ Título Nº 09 (2019), gravura em metal ................. 101 Figura 90 – Fernando Koehn - Biso Antonio Borin (1908) .................................... 102 Figura 91 – S/a - Vô Garibalde Colvero (1930) ..................................................... 102 Figura 92 – S/a - Vô Saldanha da Gama Vieira (1959) ........................................ 102 Figura 93 – Shirlei Colvero - Pai José Garibaldi Borin Colvero (s/d) .................... 103 Figura 94 – Aracy Colvero - Projeto 10 - Combinação da Figura 93 com fotografia de Vanessa Obem da instalação Vivir para contarla (2017), Cemitério Ecumênico de Santa Maria / RS ............................. 104 Figura 95 – Aracy Colvero - S/ Título Nº 09 (2018), gravura em metal ................... 105.

(13) LISTA DE ANEXOS Anexo A – Anexo B – Anexo C – Anexo D – Anexo E – Anexo F – Anexo G – Anexo H – Anexo I – Anexo J – Anexo K – Anexo L – Anexo M – Anexo N – Anexo O – Anexo P – Anexo Q – Anexo R –. Depoimento de Shirlei Meri Vieira Colvero [...] .................................... 123 Depoimento de José Garibaldi Borin Colvero Filho [...] ....................... 125 Depoimento de Perla Cordeiro de Paula Colvero [...] ........................... 127 Depoimento de Maria Elena Colvero Silveira [...] ................................. 128 Depoimento de Rodrigo Cassuli [...] ..................................................... 129 Depoimento de Vanessa Obem dos Santos [...] ................................... 130 Depoimento de Marcos Paulo Pinheiro Souto [...] .............................. 131 Depoimento de Maria Cristina Maldonado Tôrres [...] ........................... 133 Projeto 1 - Imagens Utilizadas ............................................................ 135 Projeto 2 - Imagens Utilizadas ............................................................. 136 Projeto 3 - Imagens Utilizadas .............................................................. 137 Projeto 4 - Imagens Utilizadas .............................................................. 138 Projeto 5 - Imagens Utilizadas .............................................................. 140 Projeto 6 - Imagens Utilizadas ............................................................. 142 Projeto 7 - Imagens Utilizadas ..............................................................144 Projeto 8 - Imagens Utilizadas ........................................................... 146 Projeto 9 - Imagens Utilizadas ............................................................. 148 Projeto 10 - Imagens Utilizadas ........................................................... 150.

(14) SUMÁRIO. 1. INTRODUÇÃO .............................................................................................. 13. 2. CONSIDERAÇÕES ESSENCIAIS.................................................................. 17. 2.1. REMINISCÊNCIAS DA GRADUAÇÃO EM ARTES VISUAIS ................... 17. 2.2. MORTE – VIDA: INCÔMODA COEXISTENCIA ............................................ 27. 2.2.1 A morte na cultura ocidental .................................................................... 28 2.2.2 A morte nas culturas pré-hispânicas – o prolongamento da vida ...... 38 3. O DÍA DE LOS MUERTOS E O DIA DE FINADOS ..................................... 45. 3.1. O DÍA DE LOS MUERTOS NO MÉXICO ........................................................ 45. 3.2. O DIA DE FINADOS NO BRASIL ................................................................. 55. 4. CONSTRUÇÃO DA POÉTICA, PROCESSO CRIADOR E POIÉTICA ........ 71. 4.1. RELAÇÃO COM A MORTE ........................................................................... 71. 4.2. HIBRIDISMO: COEXISTENCIA ENTRE O DÍA DE LOS MUERTOS E O DIA DE FINADOS NO BRASIL ............................................................... 72. 4.3. REINTERPRETAÇÃO E RESSIGNIFICAÇÃO DE ELEMENTOS .................. 78. 4.4. O GRAVAR DOS NOVOS SIGNIFICADOS ............................................. 106. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................... 109. REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 113 ANEXOS ................................................................................................................ 121.

(15)

(16) 13 1 INTRODUÇÃO. Quem é o outro? Posso tratar de maneira mais geral o mexicano, o brasileiro e, dessa maneira, vou apresentar o outro, a partir das características gerais de suas culturas correspondentes. Porém, devo ter o cuidado de não cair no estereótipo, que generaliza, e acaba por caricaturar aquele outro. A partir da instalação/intervenção que realizei no Cemitério Municipal, tive outra percepção do que pode ser o outro. O outro, além de se referir, de maneira ampla, a um povo, pode se referir a um indivíduo. Minha mãe, Shirlei, meu irmão, José Garibaldi, meu marido, Rodrigo, minha cunhada, Perla, meus amigos, Marcos e Vanessa, as pessoas que estavam passando, as pessoas que fotografei, as pessoas que reclamaram para o “guardinha”, as pessoas que caçoaram, os mortos. Todos são o outro. Eu sou o outro. E do que eu, como outro, sou feita? O que me tornou o que sou? Meu pai, minha mãe, meus avós, meus antepassados. Meu irmão, minhas sobrinhas, meu marido, meus amigos. Todas as pessoas que, de alguma maneira conheci, tive contato e que influenciaram minha vida, para o bem ou para o mal. Meus livros, meus filmes, minhas músicas, tudo que me cerca tudo o que gosto e odeio, tudo o que faço, meu trabalho. E o meu trabalho? Ele é parte do que sou? Ele é o outro? Ou as duas coisas? O outro não existe: essa é a fé racional, a crença incurável da razão humana. Identidade = realidade, como se, afinal de contas, tudo tivesse de ser, absoluta e necessariamente, um e o mesmo. Mas o outro não se deixa eliminar; subsiste, persiste; é o osso duro de roer onde no qual a razão perde os dentes. Abel Martín, com fé poética, não menos humana que a fé racional, acreditava no outro, na essencial heterogeneidade do ser, como se disséssemos na incurável outridade de que o um padece.. Essa frase de Antonio Machado, usada por Octavio Paz como epigrafe, de O Labirinto da Solidão (2014, p. 9), fala do outro. Ele tem sua individualidade, mas faz parte de um todo que o compõe, e para ser quem é, pertence a um conjunto, um grupo. Ele não existe sozinho. Esta asserção é ratificada por Marc Augé, em O sentido dos outros (1999, p. 10), pois ele afirma que “os outros também definem o outro.” Para esse autor, podemos entender o sentido do outro de duas maneiras: o inato, de acordo com família, grupo a que pertence, época, e o sentido que os outros elaboram, então, antropologicamente, o homem pode ser conhecido sob duas modalidades: a do si mesmo e a do outro. Augé (1999, p. 27) fala que a individualidade de cada um deve ser levada em conta, pois cada ser possui sua pluralidade, porém, não deve ser esquecido que, “os seres individuais não têm uma existência a não ser pela relação.

(17) 14 que os une. O indivíduo não é assim, senão o entrecruzamento necessário, mas variável de um conjunto de relações”. Augé (1999, p. 17) cita que cada pessoa, pertencente a uma determinada cultura, leva, de alguma maneira, a marca desta cultura, mas que a alteridade não é definida somente por ela e sim conjuntamente com as sociedades. Acredita que a alteridade atravessa cada ser, entrecruzando com sua individualidade. Logo, “onde quer que se situem como as duas etnologias, são somente uma, assim o outro cultural e o outro individual são somente um” (AUGÉ, 1999, p. 42). Tanto Marc Augé, quanto Antonio Machado vem ao encontro de meus questionamentos e percepções levando a complementações significativas desse trabalho, que teve como objeto de estudo, o hibridismo entre a celebração do Día de Los Muertos, um aspecto da cultura mexicana e o contexto cultural em que estou inserida. Busquei descobrir como ressignificar elementos materiais, como flores, calaveras de açúcar, velas, pan de muertos e imateriais como lembranças, memória, ancestralidade, e propiciar um diálogo entre uma mesma temática, a Morte, discutida através dessas culturas. Apresento, através de um trabalho teórico e poético, uma visão particular do hibridismo entre elas. Para desenvolver uma pesquisa poética, que se iniciou na graduação em Artes Visuais, abordei como tema, a Morte, através de representações do Día de los Muertos, celebração mexicana de origem pré-hispânica, que a partir da colonização europeia passou a coincidir com o Dia de Finados, devido a inserção da religião católica no continente americano. Tal tema estava relacionado ao momento pelo qual estava passando pois, devido a perda de um familiar muito próximo, senti a necessidade de entender melhor o processo do luto e também a própria Morte. Ao conhecer as gravuras de José Guadalupe Posada, abordando a celebração mexicana, surgiu a curiosidade de melhor conhecer as práticas sociais e culturais deste povo, e também de compreender como estes encaram o luto. Aponto três fatores importantes como justificativa desse trabalho de Mestrado. O primeiro, de caráter pessoal, diz respeito ao contato que tive, durante o período da pesquisa, com pessoas que vivenciaram diretamente a cultura mexicana. Essa experiência foi vital para que eu percebesse uma mudança de perspectiva não apenas na elaboração de minha ideia do que é a Morte, mas da própria reelaboração que fazemos sobre a cultura do outro e compreendi que ainda tenho possibilidades de.

(18) 15 abordagem da temática, da qual me sinto parte, assim como de vários desdobramentos que ela pode ter. O segundo fator, de caráter social, refere-se às reações diante da celebração do Día de los Muertos, pois constatei que, geralmente, chama a atenção das pessoas pelo seu caráter festivo e colorido. Calaveras viram tatuagens, estampas em roupas e utensílios, maquiagens em festas a fantasia, somente porque as pessoas, que não são mexicanas, acham bonito. Não buscam entender o real significado dessas calaveras, como parte das raízes culturais e religiosas do povo da qual fazem parte, e que estão inseridas numa celebração que consiste em muito mais do que festejar e fantasiar-se, mas sim homenagear os entes que partiram. Por compreender, através da minha pesquisa, esse caráter de celebração além da maneira como os mexicanos percebem a Morte (e, embora a minha visão seja de um estrangeiro, e gere um hibridismo entre meu contexto cultural e cultura mexicana), acredito que através de meu trabalho, posso fazer as pessoas repensarem a maneira como olham para a cultura dos outros que, não raro, é de maneira depreciativa, desrespeitosa, e também refletir sobre o modo como percebem a Morte, geralmente oposta a vida e não como parte dela. O terceiro fator, de caráter acadêmico, justifica o fato de ser comum encontrar estudos sobre a Morte, de uma maneira geral, mas através de buscas por bases teóricas e práticas, percebi uma escassez de estudos na área das artes visuais abordando o sincretismo cultural da Morte na cultura mexicana e brasileira, o que dificultou o andamento do trabalho. Não obstante, autores como Octavio Paz, Nestor Canclini, Peter Burke, Maria Elisa Cevasco, Sergio Ferretti, Stuart Hall, Rafael Villasenor foram imprescindíveis para uma melhor elucidação e entrelaçamento do tema. Deste modo apresento no capítulo 2, no primeiro momento, o modo como a pesquisa iniciou-se e teve andamento, minha incursão na gravura e, como meu percurso como gravadora me permitiu contato com artistas que influenciaram meu trabalho e meu fazer artístico. Explano sobre a importância de José Guadalupe Posada, Goya e Graciela Iturbide, como peças fundamentais na construção do trabalho, seja na linguagem ou no tema, assim como na evolução do eu artista e do eu pessoa. No segundo momento, abordo as questões relativas à Morte na cultura Ocidental, suas representações ao longo História da Arte, especificamente nas.

(19) 16 culturas pré-hispânicas e as influencias com as celebrações do Día de los Muertos no México contemporâneo. Logo, discuto, no capítulo 3, os aspectos do Día de los Muertos no México, baseando-me nos textos de Octavio Paz, Rafael Villasenor e relatos de Maria Cristina Maldonado, mexicana residente em Santa Maria, e do Dia de Finados no Brasil, baseando-me nos textos de Luis da Camara Cascudo e pagina oficial do Vaticano na internet abordando origem, os costumes e tradições, incluindo os aspectos ancestrais, familiares e experiências vividas. Na sequência, apresento, no capítulo 4, a construção da poética, o processo criador e a poiética. Abordo minha relação com a Morte, das experiências da perda ao trabalho com o luto e como a cultura mexicana teve influência crucial, na mudança da minha percepção frente ao tema e no trato da Morte, à medida que me aprofundava na pesquisa. A seguir, apresento os significados dos termos sincretismo e hibridismo, segundo alguns autores, como Nestor Canclini e Sergio Ferretti, e justifico a preferência pelo termo hibridismo e uma de suas variações, o termo tradução cultural baseando-me no autor Peter Burke, ao referir-me ao meu trabalho, surgido a partir do estreitamento com a cultura mexicana. Explico a reinterpretação e ressignificação de elementos, surgidos desse hibridismo e como foi realizada a elaboração das imagens e o gravar desses novos significados. Para as considerações finais, retomo alguns pontos para apresentar conclusões e abordar aspectos que eram esperados ou surgiram durante a elaboração do trabalho e que contribuíram para o resultado..

(20) 17 2 CONSIDERAÇÕES ESSENCIAIS. 2.1 REMINISCÊNCIAS DA GRADUAÇÃO EM ARTES VISUAIS. Esta pesquisa teve início no Curso de Graduação em Artes Visuais, finalizado com trabalho intitulado De la Muerte Y otras Catrinas (Figuras 1 e 2), tendo a parte poética, a gravura em metal e o livro de artista como meios expressivos – a linguagem é visual. Durante o curso, antes de escolher a gravura como ateliê principal, trabalhei nos ateliês de desenho e escultura, sempre explorando a temática da Morte. Porém, a gravura me proporcionou maior liberdade criativa, pois o domínio das técnicas e da linguagem, permitiu direcionar a atenção no desenvolvimento do trabalho, para o conteúdo que a gravura iria apresentar, levando a uma mudança da perspectiva do trabalho durante o ato criativo. Outro fator muito importante, em meu percurso como gravadora, foram os artistas com os quais tive contato, através do trabalho, ou mesmo pessoalmente, e que influenciaram de maneira determinante o andamento da pesquisa. Figura 1 – Aracy Colvero – De la Muerte y Otras Catrinas-Memento Mori Nº 08 (2016), gravura em metal. Fonte: (CAMARGO. 2016).

(21) 18 Figura 2 – Aracy Colvero – De la Muerte y Otras Catrinas-Memento Mori Nº 11 (2016), gravura em metal. Fonte: (CAMARGO. 2016). O trabalho, sob a temática da Morte, direcionado ao Día de los Muertos, data festiva no México, é decorrente de inúmeras leituras que fiz no período em que estava iniciando os estudos nos ateliês componentes do currículo do curso de Artes Visuais. Ao pesquisar sobre gravura, me deparei com as representações muito bem humoradas e com alto teor social e político, de José Guadalupe Posada, gravador mexicano, criador das caveiras dançantes e da icônica Catrina (Figura 3), a dama da alta sociedade, variante do dândi, que tem a função de memento mori, destinada a lembrar que as diferenças sociais não significam nada diante da Morte. Apesar de não desenvolver minha pesquisa por esse viés, pois entendo que minhas questões são, muito mais sócio-filosóficas, fiquei fascinada por seu trabalho, e Posada se tornou minha principal referência no que diz respeito à temática. Pelo aprofundamento teórico em relação a seu trabalho, e sobre a cultura mexicana, minhas reflexões me levaram a uma mudança de pensamento sobre a Morte, passando a vê-la de forma mais natural pois, apesar de ser um processo de difícil compreensão, temos o conforto do ente que morre permanecer vivo em nós, em nossas lembranças. A partir desse entendimento, meu trabalho transformou-se de.

(22) 19 uma questão estritamente pessoal, à uma questão cultural, relativa a um povo com a qual passei a identificar-me, e as representações presentes em minhas gravuras passaram a incluir elementos do meu cotidiano em meio aos elementos presentes na celebração mexicana. Figura 3 – José Guadalupe Posada - Calavera Catrina (La Calavera Garbancera) (1913), Zincografia. Fonte: (The University of North Carolina. 2015). Sobre Posada, ainda podem ser referidos alguns fatores, primordiais no desenvolvimento de meu trabalho. A sua temática, seus desenhos e gravuras, assim como a técnica, estão sempre em meu foco principal de interesse. Ele se tornou marco na arte e na iconografia mexicanas, pois criava desenhos, gravuras e caricaturas sobre a morte, que acabaram por consagrá-lo. Considerado por Diego Rivera (2013, p. 4), tão grande quanto Goya e, declarado postumamente, por Rivera e Orozco, como o pai da arte moderna mexicana (RIVERA, 2013, p. 5) , Posada consolidou a festa do Día de los Muertos, por suas interpretações da vida cotidiana, social e política, assim como as atitudes do mexicano, por meio de caveiras atuando como gente comum. A maneira como desenvolveu seus trabalhos, os tornou, assim como a temática da Morte, atemporais e é por isso que ele foi tão influente sobre a arte mexicana, os muralistas e muitos outros artistas, em especial na América Latina. Apesar de simples, pois nunca se subjugou à realidade da fotografia, observa-se, nas suas imagens, um domínio técnico, variações de cinzas, pretos e brancos, que dão ritmo e vivacidade, simulando movimentos e cores, apesar da monocromia. Embora consciente do caráter.

(23) 20 fúnebre da Morte e seus rituais, Posada apresenta uma reflexão apaixonada pela vida. A abordagem à temática da Morte e maneira como fazia o tratamento de suas gravuras foram os principais focos de meu interesse em seu trabalho. Na ocasião, a pesquisa me proporcionou o contato com outros artistas, além de Posada. Francisco de Goya, que conheci através da série Tauromaquia mostroume o apuro técnico, a riqueza de detalhes, acentuada pela grande quantidade de tons de cinza, assim como os brancos e pretos bem marcados, que chegaram à excelência com a série Os Caprichos, e foram determinantes para que eu tivesse Goya como minha principal referência artística, desde a minha inserção no mundo da gravura, em especial, da gravura em metal. Posso referir ter apreendido da arte de Goya, em meu fazer artístico, especialmente no que se refere a aplicação da técnica. Assim como o artista espanhol, desenho o tema em papel antes de transferir para as placas de metal, em meu caso, por não dominar o desenho o suficiente para uma aplicação direta à matriz. Utilizo as mesmas técnicas de água-forte, água tinta, ponta seca e brunimento. As técnicas, em especial a água-tinta, com seus recursos como o açúcar, me permitem tratar a gravura como pintura, chegando a efeitos de pictoriedade, que não conseguiria somente com a água-forte, buril ou ponta seca. Esse recurso me permite obter os mais variados tons e texturas para efeitos de dramaticidade e um transladar das cores a partir dos cinzas, preto e branco. Emprego efeitos de luz para ressaltar as áreas de maior expressividade, e a forma de iluminação que utilizo é arbitrária, de maneira fictícia a artificiosa, como e onde julgo que obterei o efeito que desejo. Minhas gravuras caracterizam-se por ter contrastes fortes, com brancos e principalmente pretos bem acentuados, que destacam as luzes. Embora, sobre meu trabalho, a influência de Goya seja predominante no que diz respeito a técnica, não posso ignorar a temática de cunho crítico, social e existencial de seu trabalho. Suas gravuras sombrias questionam, com sutileza, a natureza racional do homem. Goya percorria aquilo que via em seu redor e magistralmente usava a criatividade em conjunto com o bom senso e a razão (S/A, 2011, p. 10). Se preocupou com questões que ainda hoje inquietam o mundo, em especial a desigualdade de gênero, a pobreza e a discriminação no acesso à cultura, e isso faz de Goya um artista sempre atual, a frente de seu tempo (S/A 2011, p 12). Posso, ainda, citar que uma gravura em especial, traduz o que sinto em meu fazer artístico: O sono da razão produz monstros (Figura 4), a gravura número 43 da série.

(24) 21 Os Caprichos, onde o artista dorme debruçado sobre seus estudos, atormentado por suas obsessões, angustias, buscando coragem para fazer uso da própria razão. Figura 4 – Francisco José de Goya y Lucientes O sono da razão produz monstros (nº 43) (1799), gravura em metal. Fonte: (The Nelson-Atkins Museum of Art. 2017). Outra artista de grande importância neste período foi Graciela Iturbide, que se tornou minha referência por três motivos, que citarei não necessariamente por ordem de importância. O primeiro é pela temática, o segundo pela proximidade de um acontecimento na vida pessoal e o terceiro pelo uso de imagens monocromáticas. Ela é fotógrafa e produz imagens essencialmente em preto e branco, repletas de uma delicadeza macabra, suaves e intensas em um só tempo e, o México, seu país natal, é fonte primordial de inspiração (Figura 5). Sua documentação artística e antropológica de vilarejos mexicanos explora a força da cultura pré-colombiana e a figura da Morte, materializada na popular festa dos mortos (HARAZIM, 2016, p.8 e 9). Harazim (2016, p. 2) cita, que o mestre de Graciela foi Manuel Álvarez Bravo, mais renomado fotógrafo mexicano do século XX, do qual a artista herdou a “poética da paciência”, trouxe para seu fazer artístico a frase “há tempo, há tempo”. Para ela, para que as coisas dessem certo, era preciso fazê-las com calma, que é um dos requisitos fundamentais no fazer artístico, inclusive quando se trata das técnicas da gravura..

(25) 22 Figura 5 – Graciela Iturbide – Procession Chalma, Mexico (1984), fotografia. Fonte: (DE MEULEEMESTER. 2013). Assim como qualquer mexicano, Graciela conhece desde criança o culto à morte, característico do país. “Acho que temos tanto medo dela que nos tornamos um povo dedicado a festejá-la”, diz a artista HARAZIM, 2016, p 9). Dorrit Harazim (2016, p. 9) relata que: “por ter perdido uma filha, a morte ficou verdadeira demais para Iturbide: ela admite ter dificuldade em falar sobre o tema até hoje, passado um quarto de século” e, aqui posso dizer que tenho o ponto principal de identificação com a artista. Todo meu trabalho artístico surgiu a partir da morte do meu pai, e mesmo passados 7 anos, tendo pesquisado e refletido muito a respeito da morte, posso dizer que passo por dias bons e ruins, mas meu trabalho artístico me permite expressar meus pensamentos de maneira que a dor da perda seja amenizada, convertida em saudade. Assim, como quando Iturbide empunha a câmera, “a Morte encontra abrigo generoso e expressão plena ao longo de toda a sua obra” (HARAZIM, 2016, p. 9), ao desenhar e gravar uma placa, acolho a Morte como parceira de trabalho e companhia da Vida inteira. Não é incomum, numa família brasileira, os membros frequentarem igrejas católicas, centros espíritas e terreiros de umbanda e, todas elas, celebram o Dia de Finados. Minha família é uma dessas famílias e, em nossa tradição, vamos ao cemitério não só no dia 02 de novembro, como nas datas de nascimento e falecimento.

(26) 23 de nossos parentes, tradição essa que preferi ignorar por muito tempo. A abordagem do Dia de Finados, nesta pesquisa, passa não somente por textos históricos sobre a origem da data, mas também pela minha vivência. Em 31 de outubro de 2017, realizei uma imersão intitulada Vivir para contarla (Figura 6) no Cemitério Ecumênico Municipal de Santa Maria, RS. Essa experiência foi a grande desencadeadora das reflexões e processo criativo que apresento como resultado final. Na instalação montada no túmulo de meus avós paternos, tendo como conceito principal a celebração hibrida entre Día de los Muertos e Dia de Finados, agregada dos conceitos de celebração, morte, memória, gravura, família, ancestrais, busquei a fusão de elementos de ambas as celebrações e elementos advindos das memórias. Figura 6 –. Aracy Colvero -Vivir para contarla (2017), Cemitério Ecumênico Municipal, Santa Maria,RS. Fonte: (COLVERO. 2017). Nesse trabalho, a perspectiva de quem é o outro ganhou outras proporções e significados, assim como a relação com esse outro, que atuou como participante e/ou observador, através da interação, ou não, com o trabalho no local onde foi realizado,.

(27) 24 gerando os registros. Esses foram parte importante durante todo o processo, pois foi registrado o efêmero, a interação, o acontecimento em transformação e o final. Essa imersão gerou reações inesperadas, tanto dos participantes, quanto dos transeuntes e que acresceram muito a ele. Na oportunidade, depois de desmontada a instalação, circulei pelo cemitério, sempre me identificando e pedindo permissão, fiz registros e conversei com as pessoas que foram acessíveis, fazendo o mesmo no dia 02 de novembro. Nesse ano de 2017, apenas fiz os registros, mas não anotei dados, pois ainda não sabia como conduziria meu trabalho. Foi a partir da ida ao Cemitério Ecumênico em 2018, que comecei a pensar a composição das gravuras, a partir dos registros onde apareciam pessoas que, de alguma maneira, marcaram minha memória, como a senhorinha da Figura 7. Figura 7 – Aracy Colvero -Senhorinha - Vivir para contarla (2017), Cemitério Ecumênico Municipal, Santa Maria, RS. Fonte: (COLVERO. 2017). Não lembro o nome dessa senhora, mas com certeza é uma pessoa que eu reconheceria, caso tivesse encontrado no Dia de Finados de 2018. Lembro apenas que ela pediu que fizesse bom uso de sua fotografia e desejou que tivesse sucesso.

(28) 25 em meu trabalho. Comunicativa, sorridente, carismática, ela poderia muito bem estar em companhia da cativante menina da gravura Memento Mori Nº 7, da série, De La Muerte Y Otras Catrinas (Figura 8), que encanta pelo olhar sonhador e sorriso enigmático, é a companhia ideal para ela. Luciano Mota, o artista que a fotografou, disse que ela era muito carismática e que sua fotografia era a favorita das pessoas. Na minha série de gravuras, ela é a favorita da maioria das pessoas também. Quando fiz esse trabalho, tive a impressão de já conhecer essa menina, e já conhecia. Fiz uma gravura com ela, de uma foto da internet, tirada por uma pessoa que não conheço e no mesmo dia, pois as fotos são do mesmo ano e a roupa, cabelo e maquiagem são exatamente iguais. Estabeleci uma ligação, como se ela fosse uma velha conhecida. Figura 8 – Aracy Colvero – De la Muerte y Otras Catrinas-Memento Mori Nº 07 (2016), Gravura em metal. Fonte: (CAMARGO. 2016). O fato é que ambas são pessoas marcantes, e, quando as coloquei sentadas lado a lado, a menina mexicana ficou à vontade ao lado da senhora no Cemitério Municipal, da mesma maneira que esta ficaria ao lado da menina no panteão no México (Figuras 9 e 10)..

(29) 26 Imaginei, então, que independente do ambiente, estariam em perfeita harmonia, indo honrar seus entes. Por um momento, pensei que não seria possível, pelo fato da menina estar caracterizada tipicamente como uma Catrina, no Brasil. Seria alvo de olhares e preconceitos, mas o fato é que, depois das reações frente à minha instalação no dia 31 de outubro, percebi que qualquer outro, que seja diferente daquele que o vê, pode sofrer distinção, preconceito e exclusão. Então, não hesitei em aproximá-las e o olhar de cumplicidade entre elas revelou velhas conhecidas. Figura 9 – Aracy Colvero - Projeto 1 - Combinação das Figuras 7 e 8. Fonte: (COLVERO. 2018).

(30) 27 Figura 10 – Aracy Colvero - S/ Título Nº 01 (2018), gravura em metal.. Fonte: (COLVERO. 2018). Essa imagem, levou a reflexões que desencadearam a realização de toda a poética deste trabalho, pois retrata o primeiro, de muitos encontros que vieram a ocorrer. Indivíduos separados por tempo e espaço, reunidos em imagens que materializaram, visualmente meu universo. Imagens do eu outro e dos outros que me compõem como ser individual, social e cultural. 2.2 MORTE – VIDA: INCÔMODA COEXISTENCIA. Vida e Morte são processos concomitantes que ocorrem no curso de vida dos seres. Cada dia que vivemos, morremos um pouco, biologicamente, células morrem e nascem, se renovam. Mas o homem não se conforma com essa realidade. Ele busca, incessantemente, a imortalidade, por meio da evolução da medicina. Persegue a tão almejada “Fonte da Juventude” e, a seu ver, fracassa a cada dia, pois não vence a velhice e a Morte, que considera como fracassos da ciência, e não como partes do processo biológico. O homem não gosta nem de falar a respeito da Morte, para os seres humanos, ela é um tema tabu, é o desconhecido, pois não há quem possa.

(31) 28 afirmar, com certeza, o que acontece após a falência de nosso corpo físico e, o homem que se julgava imortal, sempre teve dificuldades de lidar com esse acontecimento inevitável. Do mesmo modo, se preocupou em buscar resposta para todas suas dúvidas, sobre sua existência e tudo que o cerca e, nas mais diversas culturas, temas como fenômenos naturais, os astros, a agricultura, a Vida e a Morte, são temas comuns, presentes nas religiões e mitos. O desejo do homem em ser eterno, o levou a buscar maneiras de imortalizarse e, já que não consegue vencer a Morte fisicamente, passou a deixar seus rastros através de desenhos, jazigos, esculturas, objetos, qualquer coisa que demarcasse sua passagem pela Terra. Desde a Pré-História até a Arte Contemporânea, encontramos representações da Morte, suas simbologias e celebrações que, juntamente com as demais referências utilizadas na pesquisa, foram base para estabelecer semelhanças e diferenças com a minha abordagem.. 2.2.1 A morte na cultura ocidental. O homem sempre lutou contra a morte por considerar-se imortal e segundo Philipe Ariès (2017, p. 96) a partir da Idade Média, o Ocidente passou a considerar a morte um acontecimento fora do comum e por isso foge dela. O filósofo Michel Serres (2003, p. 213) explica a origem do paganismo e sua forma de agir, pensar e sentir. Segundo ele, na Antiguidade Greco-Romana costumava-se enterrar o ancestral ou ente querido que morria no pagus (campo de lavoura), nas terras da família, assegurando que fosse um local dos ritos realizados por essa família. Enterrar seus entes queridos tornava a terra sagrada e ao devolver à terra, os corpos dos ancestrais tornavam-se sagrados também, já que acreditavam que o homem nascia da terra. Por esse motivo tinham os túmulos ao lado das casas, pois entendiam morte e vida como intimamente ligadas. Com o Cristianismo, um novo conceito foi introduzido: a vida como algo sagrado, um dom concedido por Deus e que deveria ser preservado. Com a celebração da Ressurreição de Cristo, muda-se a maneira de perceber a morte, pregando-se que essa seja esquecida e que se viva já que a morte seria apenas uma passagem para a vida verdadeira (vida eterna). Porém, é na modernidade que se apresenta vida e morte como opostos, reforça-se dualismos já existentes, como bem e mal e cria-se novos como homem e mundo, alma e corpo (SERRES,2003, p. 214)..

(32) 29 Juan Luis de León Azcárate, diz, na introdução de La Muerte y su imaginário em la Historia de las religiones (2000, p. 13) que desde que o homem alcançou a capacidade de refletir sobre si mesmo, não existe uma cultura ou período histórico em que a morte não tenha sido uma fonte de reflexão e até de inspiração. A Morte irremediável e um destino obscuro por trás dela, povoou o imaginário e suscitou questionamentos que levaram o homem, através das várias religiões, a buscar, descobrir ou criar em torno de uma rica imaginação que serviu para esclarecer, ou pelo menos tentar esclarecer, o significado da Vida e da Morte. Como modo de expressar sua interpretação, o homem elaborou inúmeras alegorias, representando seus pensamentos e ideias sob forma figurada, sendo, a caveira, o elemento mais recorrente. Porém, independente, da alegoria onde está presente, a caveira é o símbolo da morte, que representa uma forma de o homem pensar a sua existência, e as ideias e os conceitos a respeito dela foram se alterando com o passar dos séculos (WITECK, 2012, p. 20). Seus significados variam de cultura para cultura, banal para umas e aterradora para outras, mas, à medida que o homem percebeu que a morte é inevitável, se tornou mais sensível e começou a buscar meios de burlá-la, passando a deixar vestígios da sua existência, como monumentos, sepulcros, esculturas, ritos. Esse é o modo que encontrou de manter sua Imortalidade (MARTON, 2015, p.4). Deve-se lembrar, porém, que a figura da caveira como representação da finitude humana e fugacidade da vida, não surgiu na Idade Média. Desde a pré-história até os dias atuais, a caveira serve como dispositivo de memória, primeiro como forma de recordação dos que morreram e, posteriormente, como representação da finitude humana e fugacidade da vida (WITECK, 2012, p. 20). Nessa busca pela Imortalidade, a morte foi representada em inúmeras fases da existência humana. O homem fez uso da figura do esqueleto e da caveira como representação da finitude humana e fugacidade da vida, desde que se reconheceu como indivíduo. O fascínio que a caveira exerce sobre o homem produziu uma iconografia muito rica, não só na Europa, como no Oriente e Mesoamérica, com inúmeras perspectivas culturais (LEITE, 2012, p. 19), onde podemos citar os crânios modelados encontrados em Jericó (Figura 11), e a obra do pintor mexicano Diego Rivera (Figura 12)..

(33) 30 Figura 11 – A caveira original (Homem de Jericó ou Crânio de Jericó) (Período Neolítico), crânio remodelado coberto por gesso e conchas. Fonte: (Brisith Museum, 2017). Figura 12 – Diego Rivera - Detalhe do mural Sonho de um domingo à tarde da alameda (1947). Fonte: (GUZMÁN. 1947-1949). Começando na pré-história, com os crânios remodelados, passando pelos povos antigos, como Gregos e Romanos, foi na Idade Média, a partir do Atlas de Anatomia de Vesalius, que o simbolismo da caveira ganhou força, principalmente com as Vanitas, voltando a tomar fôlego a partir do Romantismo e movimentos de vanguarda, e chegando à arte contemporânea (WITECK, 2012, p. 20). Uma das peças mais conhecidas das grandes civilizações europeias da Antiguidade é um mosaico de Pompéia do século I d.C. (Figura 13), que foi apresentado na exposição C’est La Vie!.

(34) 31 Vanités de Caravage à Damien Hirst, em 2010, no Museu Maillol, em Paris (CULTURA IPSILON, 2010, 2-3). O mosaico policromado, com a representação de uma caveira ladeada por roupas de pobres e ricos, a roda da fortuna e um esquadro que representa a justa medida, é uma alegoria que traz o lema estoico, Memento mori, do latim, traduzido por lembra-te que vais morrer. Figura 13 – Memento mori – Mosaico de Pompéia Museu Arqueológico Nacional de Nápoles. do. século. I. d.C.,. Fonte: (MUSSET. 2014). A partir da expansão do Cristianismo no Ocidente, a iconografia macabra tomou força, e nela os ossos, em especial a caveira, é um lembrete da inevitabilidade da morte, assim como da finitude e transitoriedade humana, sendo o tema tornado ainda mais popular pelas guerras e a peste negra. A Morte, é então, abordada pelas representações e alegorias da Gisants e Transis, Dança Macabra, Triunfo da Morte, Ars Moriendi, e Vanitas. Com exceção das Ars Moriendi, o crânio, a caveira, é o elemento recorrente, como personificação da Morte, com os inúmeros significados que carrega, sendo que, de certa maneira, todas têm significado de Memento Mori ou Carpe Diem (aproveita o momento) (LEITE, 2012, p. 19). Ainda podem ser citados, outros temas e gêneros análogos onde a Morte está presente, como O Juízo Final e Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse (LEITE, 2012, p. 22). A Dança Macabra é citada por Umberto Eco (2014, p 67), como uma forma popular de celebração da morte, que surgiu como uma forma de amenizar o terror da espera difundido nas pregações, uma maneira de exorcizar o medo e ficar mais próximo do momento final. Frequentemente reproduzida em gravuras, em especial.

(35) 32 nas xilogravuras de Hans Holbein (1523-1526) (Figura 14), a Dança Macabra apresenta pessoas de todas as classes sociais, juntas, guiadas por esqueletos celebrando a decadência da vida e o nivelamento de qualquer tipo de diferenças, numa espécie de memento mori. As Vanitas, interpretadas como Vaidades, são baseadas no versículo Eclesiastes 12:8, do Antigo Testamento da Bíblia, “Vaidade de vaidades, diz o pregador, tudo é vaidade” (BIBLIA, 1993, p. 825). São representações da Morte, presentes em um gênero de pintura associada à natureza morta, e foram tema recorrente na arte, durante o período Barroco em especial, tendo provável início como gênero independente no norte da Europa e dos Países Baixos, nos séculos XVI e XVII. Aqui, a caveira é o elemento mais frequente, representando a efemeridade da vida e a inevitabilidade da finitude. Nas Vanitas (Figura 15), em especial, as caveiras eram representadas com outros elementos simbólicos, que também referiam a passagem do tempo e a fugacidade da vida, como velas, ampulhetas, relógios, flores, frutas. Outros objetos, que podemos citar, são os elementos de representação da vida terrena espiritual, como livros, escrituras, e da vida terrena materialista como armas, joias e espelhos (WITECK, 2012, p. 27). Figura 14 – Hans Holbein - A Dança Macabra-Dama Recém-casada (1523-1526), Xilogravura. Fonte: (WEETWO. 2017).

(36) 33 Figura 15 – Pieter Claesz - Vanitas (1625), pintura a óleo, Frans Hals Museum. Fonte: (LEITE. 2015). A caveira também foi associada ao profano, como na gravura de Hans Sebald Beham (Figura 16), como alegoria dos prazeres mundanos, dando ênfase aos gozos humanos. Algumas representações do tema “A Morte e a Donzela” atravessou séculos, passando por diversas leituras, como por exemplo na gravura de Edward Munch (Figura 17) (LEITE, 2012, p. 33). Figura 16 – Hans Sebald Beham – A morte e seu par indecente (1529), gravura, Museu Britânico. Fonte: (BEHAM. 2017).

(37) 34 Figura 17 – Edward Munch - A morte e a donzela (entre 1894-1902), gravura em metal, Familia Epstein, Munch Museum. Fonte: (FINE ARTS PRINT ON DEMAND. 2017). Pode-se considerar o Barroco como o auge das Vanitas e do uso da caveira nas representações da morte e da efemeridade humana. Após esse período, perdeu parte de seu brilho assim como o sentido, acompanhando o processo de secularização da arte (processo através do qual a religião perde a sua influência sobre as variadas esferas da vida social). Caveiras e esqueletos voltam a ganhar força a partir do Romantismo, e posteriormente com movimentos artísticos de vanguarda como o Expressionismo (CULTURA IPSILON, 2010, 3-5). O Expressionismo Alemão surgiu após a I Guerra Mundial, e os artistas pertencentes a esse movimento buscavam a representação interior humana, suas angústias, sonhos e fantasias. Considerado sombrio e pessimista, tornou-se a estética perfeita para a realidade do entre guerras, onde a morte despertou sentimentos de horror, derrota e desespero, remontando, nas devidas proporções, ao assolamento sofrido na Europa durante a Peste Negra e as guerras, durante a Idade Média. Alguns artistas desse movimento foram voluntários de guerra, entre eles Otto Dix, que representou em gravuras, através da figura do esqueleto, os horrores dos campos de batalha. Através da caveira, com seu sorriso permanente, sintetizou a fragilidade e.

(38) 35 finitude humanas. Produziu uma série intitulada A Guerra, composta de dez gravuras em metal (Figura 18) (LEITE, 2012, p. 55). Figura 18 – Otto Dix - Tote in der Nähe der Verteidigungsposition Tahure (1924), da série A Guerra (Krieg), gravura em metal. Fonte: (DEMING. 2017). Neste movimento podemos citar Alfred Kubin, sendo, a caveira, em seu trabalho, uma presença constante em suas fantasias obscuras, espectrais e simbólicas e na temática frequente da Guerra, muitas vezes tendo a morte representada com ironia, como em O Final das Guerras (Figura 19), onde a morte, vencedora, descansa tranquilamente com seu eterno sorriso (LEITE, 2012, p. 56). Figura 19 – Alfred Kubin – Das Ende des Krieges (1920), nanquim e aquarela. Fonte: (CUMBO. 2016).

(39) 36 O brasileiro Oswaldo Goeldi também fazia uso da caveira em suas obras. Goeldi serviu na Suíça durante a Primeira Guerra, podendo presenciar o desprezo pela vida das pessoas, um dos aspectos mais melancólicos da Guerra, e esse contato foi determinante na produção do artista, onde a violência e o horror apareceram posteriormente (LEITE, 2012, p. 55). O contato com Kubin, também foi determinante na maneira como Goeldi representava suas angustias e seus esqueletos e caveiras, frequentemente inseridos nas cidades, nas ruas. Sua morte é mais humanizada e atemporal, inserida no contexto no qual o artista vive. Ele retrata a solidão de indivíduos que vagam um tanto sem destino, perseguidos pelo destino de todos: vida e morte e, independentemente de como são apresentadas, a Morte é inerente a ambas, tem elementos que não podem ser ignorados e o principal deles é a sua inevitabilidade (ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL, 2017, s/p) (Figura 20). Figura 20 – Oswaldo Goeldi – Grã-Finos, s/d, nanquim sobre papel.. Fonte: (FONSECA. 2012). Andy Warhol quando produziu sua série, Skulls (Figura 21), em 1976, declarou que “A morte pode realmente fazer de si uma estrela” e, das representações tradicionais, passamos a ver o tema original apresentado de maneira pouco ou nada ortodoxa (CULTURA IPSILON 2010, p.5)..

(40) 37 Figura 21 – Andy Warhol - Skulls (1976), Tate, serigrafia.. Fonte: (TATE. 2017). Em 2010, no Museu Maillol, em Paris, aconteceu a exposição C’est La Vie! Vanités de Caravage à Damien Hirst, que reuniu 160 obras entre fotografias, pinturas, esculturas, vídeos e ourivesarias. Sua expografia foi concebida de maneira nãocronológica, com um evidente enfoque na atualidade, nas chamadas Vanitas Contemporâneas, e depois fazia o percurso pela história da arte, no sentido inverso (CULTURA ÍPSILON, 2010, 5-6). Os visitantes eram recepcionados pela frase Memento Mori (Lembre-se de que vai morrer), e entravam em contato com uma nova perspectiva da morte, o que passou foi um processo de dessacralização e virou espetáculo, sensação. Nessa exposição podemos ver, entre outras, as obras Diamond Skull (For the love of God) (Figura 22) de Damien Hirst e C.B.1 (Figura 23), de Subodh Gupta, que embora muito diferentes, fazem uso da mesma estratégia de causar furor, provocar as mais variadas reações (CULTURA ÍPSILON, 2010,p. 6-7)..

(41) 38 Figuras 22 e 23 –. Damien Hirst - Diamond Skull (For the love of God) (2007) e Subodh Gupta - C.B.1 (2009). Fontes: (HIRST. 2007) / (CYCLUS. 2017). 2.2.2 A morte nas culturas pré-hispânicas – o prolongamento da vida. Para compreender a religiosidade e a visão do mexicano atual a respeito da Morte, é necessário conhecer os elementos provenientes de sua ancestralidade préhispânica, ou pré-Cortez. Octávio Paz (2014, p. 91) e Rafael Villassenor e Maria Helena Villas boas Concone (2012, p. 39), explicam que vários povos compuseram a população da Mesoamérica, Maias, Nahuas, Purepechas, Totonacas, Toltecas, Nāhuatl ou Mexicas ou Astecas, como os conhecemos atualmente, e tantos outros, todos eles impregnados de religião e com elementos em comum como agricultura, sacrifícios humanos, e mitos solares, que teriam origem ao sul, sendo assimiladas pelas imigrações vindas do norte. Paz (2014, p. 91) cita que, dentre esses imigrantes, destacaram-se como conquistadores, os Astecas, últimos a se estabelecer no Vale do México e que, pela similaridade das cerimonias e ritos de sua religião com a dos povos dominados, promovia uma unificação, não somente religiosa, mas também política, já que se tratava de uma sociedade teocrática. Eram politeístas e tinham, nos deuses, a base do ciclo da natureza. A religião e o destino regiam suas vidas, por isso tinham práticas adivinhatórias para tentar entender as vontades dos deuses e não acreditavam ser “sua vida, no sentido cristão da palavra” (PAZ, 2014, p. 56), assim como sua morte também não.

(42) 39 lhes pertencia, por isso, os sacrifícios tinham sentido impessoal. Também acreditavam que não eram responsáveis por seus atos. Ao contrário dos cristãos, os mesoamericanos não viam morte e vida como opostos mas como a morte sendo um prolongamento da vida e vice versa, sendo elas “as duas faces da mesma realidade”(PAZ, 2014, p. 57). Segundo Paz (2014, p. 55 e 260), através dos sacrifícios, chegavam ao ato criador, pagando a dívida com os deuses e alimentavam a vida cósmica e social, mantendo o Sol em movimento através do alimento sagrado, com o sangue oferecido, por isso esses sacrifícios eram renovados de tempos em tempos, fazendo parte do calendário ritual. Vida e Morte faziam parte de um ciclo infinito, onde a Vida se alimenta constantemente da Morte, sem jamais ficar saciada e, esse ciclo permitia que a morte fosse vista como uma maneira de participar da regeneração constante das forças criadoras, servindo o sangue de alimento sagrado, impedindo que essas forças desaparecessem. Paz (2014, p. 95), explica que isso se deve ao fato de que, para os Astecas, o tempo não era abstrato. Era algo concreto, que se desgasta, gasta e consome, e os ritos e sacrifícios, eram necessários para renovar as forças do tempo, pois um tempo acabava e reiniciava outro. Assim, foi vista a chegada dos espanhóis como o fim do tempo cósmico, de uns deuses, e início de outro tempo, de outros deuses. O entendimento da dualidade Vida-Morte por esses povos foi fundamental, pois regia, a partir dos ciclos fundamentais para a agricultura, todo o ciclo vital Asteca, já que a partir do calendário dos ciclos das chuvas e secas, plantios e colheitas, foi determinado o calendário religioso, ritual, que é basicamente um calendário solar. Neste calendário, pelo menos dois meses eram dedicados aos mortos, além de todos os ritos sacrificais dedicados aos deuses (ALVES, 2015, p. 85-88). Então, a celebração dos mortos era totalmente ligada ao calendário agrícola, realizada na época da colheita (VILLASENOR e CONCONE, 2012, p. 39), e ocorria no nono mês desse calendário, por volta do mês de agosto. Esses rituais, realizados para celebrar os ancestrais, ocorreram por pelo menos 3000 anos na forma de um festival. Os rituais eram presididos por Mictecacíhuatl (Figura 24), a deusa conhecida como a Dama da Morte, que atualmente corresponde à Catrina, na concepção de José Guadalupe Posada, e ocorria o sacrifício de um grande número de homens em homenagem a deusa e seu esposo (RUÍZ et al, 1995, p. 17)..

(43) 40 Figura 24 – Representações de Mictecacíhuatl e Mictlantecuhtli. Fonte: (OLVERA. s/d). Dedicado a celebrar as crianças, os parentes falecidos, montavam altares com oferendas e era prática comum preservar os crânios, muitas vezes decorados com joias e pinturas, como troféus e mostra-los nos rituais, simbolizando a morte e o renascimento, como maneira de preservar a memória não só dos entes queridos, como dos inimigos que respeitavam, dos indivíduos de valor (Figura 25).. Figura 25 – Calavera Votiva Mexica – Museo Nacional de Antropología. Fotos: (LEY. 2019).

Referências

Documentos relacionados