SUBSÍDIO BÍBLICO E TEOLÓGICO – Revista de Adultos da EBD
Pesquisa e produção: Pr. Isaque C. Soeiro 1 Revisão orto-gramatical: Pr. Mário Saraiva 2
RESUMO
O presente texto serve de apoio aos Educadores da Escola Bíblica Dominical, especialmente aos que ministram a Revista de Adultos do 2º Trimestre de 2021 (CPAD), intitulado: “Dons Espirituais e Ministeriais: servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário”, cujo conteúdo foi desenvolvido pelo pastor-teólogo Elinaldo Renovato.
Este breve subsídio de apoio à Lição 09, “O Ministério de Pastor”, faz uma abordagem bíblica e teológica sobre o dom de pastor, citado em Efésios 4.11. Por meio desse conteúdo, busca-se: explicar a relação entre o Supremo Pastor Jesus Cristo e os pastores; descrever o significado específico do dom de pastor no Novo Testamento; e, ressaltar reflexões práticas acerca do dom de pastor na comunhão da Igreja.
INTRODUÇÃO.
O trabalho do pastor de ovelhas com seu rebanho foi usado na Bíblia como uma metáfora para descrever Deus e seu povo, bem como os líderes levantados por Deus, para servir o povo de Deus. É nesse contexto bíblico e histórico-cultural que o dom de pastor, de Efésios 4.11, deve ser compreendido.
O presente texto elenca verdades bíblicas acerca da origem, caráter e atitudes que caracterizam o ministério pastoral, ressaltando implicações práticas tanto para os pastores como para os membros. Parte-se da verdade de que os pastores refletem não somente a escolha de Jesus para a sua Igreja como também o cuidado de Jesus para com a sua Igreja.
Bom estudo e boa aula!
1. DESCRIÇÃO BÍBLICA DO DOM DE PASTOR.
O dom de pastor é o quarto da lista dos dons ministeriais dados à Igreja para o preparo contínuo de todos os membros do corpo de Cristo (Ef 4.11).
1 Pr. Isaque C. Soeiro, pastor auxiliar na Igreja Evangélica Assembleia de Deus na cidade de Satubinha (MA). Graduações em: Bacharel em Administração (UNITINS-TO), Bacharel em Teologia (FATEH-MA). Pós-graduações em: Especialização em Gestão Educacional (UNISEB-COC), Especialização em Ciência das Religiões (ILUSES/FATEH-MA), Mestrando em Ciência das Religiões (ILUSES/LUSÓFONA) e Mestrando em Teologia (FAETAD). Diretor do Instituto Pentecostal de Educação Cristã – IPEC. Membro do conselho de educação e cultura da CEADEMA. E-mail: ic.soeiro.ic@gmail.com.
2 Pr. Mário Saraiva, pastor auxiliar na Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Buriticupu (MA). Graduações em: Licenciatura em Letras, com habilitação em Português, Inglês e suas respectivas literaturas (Universidade Estadual do Maranhão – UEMA). Pós- graduações em: Especialista em Teologia (Universidade Estácio de Sá – UNESA), Pós-Graduando em Exegese Bíblica (Centro de Estudos Bet-Hakam) e Mestrando em Ciências Teológicas (Universidade de Desenvolvimento Sustentável – UDS, Assunção, Paraguai). E-mail: pr.mariosaraiva@gmail.com.
2 O ministério de pastor remete à uma das metáforas mais importantes nas Escrituras. Nos tempos bíblicos, a atividade pastoril era comum e, se exercida com responsabilidade, o pastor cuidava do seu rebanho: guardando dos perigos, providenciando alimentação e água; em tudo, o pastor buscava o bem-estar de todo o rebanho. Deste modo, a relação “pastor-ovelhas” foi tomada para retratar o povo de Deus como “rebanho” e Deus como o supremo e bom pastor (Gn 48.15; Sl 80.1; 100.3; Is 40.11; Jr 13.17; Ez 34; Lc 12.32; 15.3-7; 19.10; Jo 10.1-30; 1 Co 9.7).
Diante disso, a palavra “pastor”, do grego poimēn, é usada no Novo Testamento para descrever o serviço de guia e líder que exerce o cuidado na alimentação, disciplina e proteção de pessoas3. É o membro que serve aos demais membros como alimentador, protetor e líder nas questões espirituais.
A Bíblia e a História mostram que o ministério de pastor é imprescindível para a Igreja. A natureza do ministério pastoral é singular e produz benefícios duradouros. Se for corrompido e desvirtuado, o ministério pastoral causará prejuízos incalculáveis à Igreja; mas, se for exercido conforme as Escrituras, o ministério pastoral produzirá benefícios incalculáveis à Igreja.
Na sequência, são apresentadas verdades bíblicas que norteiam a compreensão e exercício do ministério pastoral.
1.1 - A Origem do Dom de Pastor no Novo Testamento: Jesus, o Supremo Pastor.
Os dons ministeriais são presentes do Senhor Jesus Cristo, visando os interesses da Igreja. “O Salvador, ao subir, deu o que recebera: homens que haveriam de prestar serviço à igreja de uma forma especial”4. Todos esses dons têm Jesus Cristo com fonte e modelo. Os membros agraciados com um dos dons ministeriais devem exercer seus ministérios, sabendo que receberam de Jesus e devem servir tendo Jesus como modelo.
O Senhor Jesus Cristo chamou a si mesmo de “o bom pastor” (Jo 10.11), o apóstolo Pedro denominou Jesus como “Pastor e Bispo da alma de vocês” (1 Pe 2.25; cf. 5.4) e o autor aos Hebreus descreveu Jesus como o “grande Pastor das ovelhas” (Hb 13.20). Em todos esses textos, são descritos aspectos do trabalho pastoral do Senhor Jesus.
João 10.11 1 Pedro 2.25 Hebreus 13.20
Jesus é descrito como o “bom pastor”
Jesus é descrito como o “Pastor e Bispo da alma”
Jesus é descrito como “grande Pastor das ovelhas” Em João 10.11, Jesus descreve a
essência do seu trabalho pastoral: dá a própria vida pelas
ovelhas (Jo 10.11-18). Ele deu a vida em lugar e em favor das
ovelhas.
O apóstolo Pedro descreve a função pastoral no sacrifício de
Jesus para resgatar as ovelhas desgarradas (1 Pe 2.21-25)
O autor aos Hebreus menciona o trabalho pastoral de Jesus como o aperfeiçoador do seu
rebanho em todo o bem e obediência” (Hb 13.21).
O Senhor Jesus Cristo é o modelo por excelência do ministério pastoral. O caráter e a forma do ofício pastoral de Jesus Cristo são perfeitos e infinitos. Ele possui distinções únicas. “Vemos em Jesus, o Pastor, um modelo que jamais será atingido por qualquer pastor, mesmo da mais alta dignidade, pois Ele é o Bom
3 ARAÚJO, Carlos Alberto Ribeiro de. A Igreja dos apóstolos: conceito e forma das lideranças na Igreja primitiva. Rio de Janeiro, RJ: CPAD, 2012, p.101.
4 HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento: exposição de Efésios e Filipenses. 2ª ed. São Paulo, SP: Cultura Cristã, 2005, p.231.
3 Pastor, o Pastor e Bispo de nossas almas, o Grande Pastor e o Supremo Pastor”5. Porém, o pastor é chamado a ter relação distinta com o Senhor Jesus que reflita no caráter e atitudes ministeriais.
O teólogo pentecostal J. Rodman Williams classifica a relação entre Jesus e os pastores como um compartilhamento do ministério pastoral. Jesus “concede a alguns para compartilhar seu ministério de pastor”6. O dom de pastor é de Jesus Cristo; mas, ele concede a alguns dos membros do seu corpo. Existe aqui uma relação intrínseca tanto de caráter espiritual como com implicações práticas no desenvolvimento do ministério pastoral.
Espera-se que o verdadeiro pastor seja regenerado e tenha viva comunhão com o Senhor Jesus Cristo; que, nessa comunhão, ele experimente o pastoreio de Jesus Cristo; e, desenvolva o caráter e as atitudes esperadas no ministério pastoral fiel.
O caráter e a forma do ministerial pastoral de Jesus Cristo devem ser considerados solenemente por todo membro que recebeu o dom de pastor.
1.2 - O Significado Estrito e Específico de Pastor no Novo Testamento. 1.2.1 - O dom de pastor.
No Novo Testamento, a palavra “pastor” designa um dom e não um título eclesiástico. Mais especificamente: “‘pastores’ denota aqueles indivíduos escolhidos por Deus cujos dons espirituais levaram-nos a dedicarem-se ao pastoreio e ao cuidado do rebanho de Deus”7. A ênfase está no dom, na capacitação espiritual recebida. Deste modo, os apóstolos e os presbíteros são descritos como exercendo o dom pastoral no cuidado da Igreja (cf. At 20.17,28-32; 1 Pe 5.1-4).
1.2.2 - O reconhecimento oficial do dom de pastor.
Com a Reforma Protestante, houve a evidência do dom de pastor, que passou a ser reconhecido oficialmente como um título eclesiástico na estrutura ministerial das igrejas/denominações. Contudo, a implantação do reconhecimento oficial não anulou o princípio bíblico: é o Senhor Jesus Cristo quem escolhe e capacita, cabendo às Igrejas reconhecerem essa dotação entre os membros e proporcionarem as condições para que exerçam o ministério pastoral.
As Convenções de ministros e as Igrejas locais devem cuidar do dom pastoral na sua estrutura ministerial, para que nunca o título eclesiástico seja valorizado em detrimento do dom de pastor. Nesse sentido, o pastor-teólogo pentecostal Estevam Ângelo de Souza (in memorian) ensinou que o dom recebido é que determina o reconhecimento oficial, dando o ambiente necessário para o exercício do dom pastoral, em seu caráter eficiente e qualidades virtuosas. Deste modo, “não é o título que atrai o dom ministerial, pelo contrário, o título deve corresponder ao dom ministerial em evidência”8.
Os títulos eclesiásticos são necessários, em virtude da ordem na estrutura ministerial, do reconhecimento dos dons e do ambiente propício ao exercício do dom na igreja/congregação local. Entretanto, o reconhecimento do dom de pastor deve preceder e qualificar o título de pastor. Logo, os membros do corpo de Cristo não devem ser reconhecidos como pastores simplesmente por
5 SOUZA, Estevam Ângelo. Os dons ministeriais na igreja: padrões bíblicos para o serviço cristão. 1ª ed 4ª reimp. Rio de Janeiro, RJ: CPAD, 2013, p.51.
6 WILLIAMS, J. Rodman. Teologia sistemática: uma perspectiva pentecostal. São Paulo, SP: Editora Vida, 2011, p.896.
7 ARRINGTON, French L.; STRONSTAD, Roger. Comentário bíblico pentecostal: Novo Testamento: vol. 2: Romanos – Apocalipse. 1ª ed. 4ª reimp. Rio de Janeiro, RJ: CPAD, 2019, p.437.
4 serem filhos de pastores, por força de amizades, por força de acordos políticos ou qualquer outra razão que não seja o reconhecimento do dom ministerial de pastor.
2. O MINISTÉRIO DE PASTOR E A IGREJA ATUAL.
Jesus Cristo escolheu e dotou algumas das ovelhas do seu rebanho para compartilhar o pastoreio de todo o seu rebanho. Que grande privilégio e responsabilidade!
Os pastores são dádivas à Igreja e as igrejas/congregações locais necessitam dos benefícios que esse dom ministerial produz. Existe uma relação intrínseca entre o pastor e as ovelhas, sendo que ambos têm deveres.
Quanto aos pastores Quanto às ovelhas/membros
O pastor deve exercer seu ministério segundo o modelo de Jesus Cristo. Todo pastor, em cada Igreja, deve refletir os cuidados do Senhor Jesus para com seu rebanho. Onde existe um membro capacitado com o dom de pastor (ou com um dos outros dons), aí deve manifestar-se o cuidado de Jesus Cristo para com sua Igreja. O Supremo Pastor, Jesus Cristo, atua em favor da Igreja, através do ministério de pastor. Que grande privilégio é servir a Igreja como meio dos cuidados de Jesus.
Nenhum pastor deve trocar o modelo cristocêntrico do ministério pastoral. O pastor está constantemente sob o peso da atração dos modelos de gestão, relações interpessoais e alta performance, além das inovações e modismos eclesiásticos. Contudo, é preciso manter o foco em Jesus Cristo, como o Supremo Pastor: seu caráter, suas obras, seu poder e sua direção.
O supremo pastor Jesus Cristo julgará o serviço ministerial dos pastores (1 Pe 5.4), de modo que: “a supremacia de Cristo como pastor está relacionada com o seu aparecimento, quando será julgado o mérito do trabalho de todos os pastores subalternos. Aqueles que forem encontrados fiéis no cumprimento dos seus deveres, receberão do
Supremo Pastor, a ‘incorruptível coroa de glória’”9.
Os membros devem aceitar com respeito e estima o ministério daqueles que Jesus deu como dom ministerial. Os verdadeiros pastores vocacionados são, de fato, a escolha e designação feita por Jesus Cristo em favor da sua Igreja. Logo, os membros devem acolher com mansidão os que possuem o dom de pastor e contribuam para que exerçam o ministério pastoral de forma saudável (1 Ts 5.12-13; Hb 13.17). “São designados como dons de Cristo para a igreja, eles devem ser objetos do amor de toda a igreja. Se, ao serem verdadeiramente representantes de Cristo, são
rejeitados, é Cristo que é rejeitado”10.
Os membros devem deixar-se pastorear. Espera-se que as ovelhas Espera-se submetam ao pastoreio do pastor designado. Porém, muitos membros não se submetem ao pastoreio. Tentam “racionalizar” a razão da insubordinação: meu pastor não tem a formação necessária, meu pastor é muito retrógrado, quando chegar outro pastor irei contribuir, entre outras “justificativas”. A humildade e obediência devem caracterizar a relação mútua entre pastor e ovelhas.
Os membros devem apoiar o verdadeiro ministério pastoral, rejeitando os falsos obreiros. Muitos cristãos, por falta de conhecimento bíblico e discernimento, acabam por apoiar os falsos obreiros com seus modismos e inovações; quantos crentes estão promovendo os falsos obreiros?! Porém, as verdadeiras ovelhas devem reconhecer
9 SOUZA, Estevam Ângelo. Os dons ministeriais na igreja: padrões bíblicos para o serviço cristão. 1ª ed 4ª reimp. Rio de Janeiro, RJ: CPAD, 2013, p.51.
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os verdadeiros obreiros. Pastores vocacionados devem encontrar na Igreja o apoio necessário para que seu ministério seja frutífero em favor da Igreja.
CONCLUSÃO.
O ministério pastoral não é invenção humana, mas uma dádiva divina à Igreja.
Toda a Igreja, membros e pastores, devem zelar pelo ministério pastoral. Por um lado, evitando todo elemento corruptor desse dom ministerial; e, por outro lado, orando para buscar direção divina quanto ao reconhecimento daqueles que são verdadeiramente vocacionados pelo Senhor para o ministério pastoral.
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