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4 REVISÃO DA LITERATURA

4.1 Água na legislação brasileira

A legislação brasileira referente a recursos hídricos, em nível federal, tem como base o Código de Águas de 1934, a CF de 1988, a Lei nº 9.433, de 1997, e as resoluções e portarias do CNRH e do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), além de tratados e acordos internacionais. Atualmente, o Distrito Federal (DF) e todos os Estados da Federação possuem legislação específica de Recursos Hídricos.

4.1.1 Breve histórico

Em 1907, inicia-se no país um processo de construção de uma política para as águas brasileiras com o envio, à Câmara dos Deputados, do projeto do Código de Águas. Apenas vinte e sete anos depois é que ele passa a ser o primeiro instrumento legal sobre o tema instituído por meio do Decreto nº 24.643, de 10 de julho de 1934 (BRASIL, 1934).

Em 1934, o país estava com um governo centralizado, que estabeleceu programas para o desenvolvimento nacional que requeriam a geração de energia para o crescimento do país e, neste sentido, o Código de Águas, cujo texto apresentava em torno de 30% de seus artigos relacionados ao aproveitamento hidráulico, teve sua regulamentação focada nos interesses do setor energético sem maiores avanços nas demais áreas. Em 29 de março de 1978, por meio da Portaria Interministerial nº 90, por iniciativa do Ministério do Interior são criados os Comitês Executivos de Estudos Integrados, com papel consultivo, em bacias hidrográficas de rios de domínio da União.

Em 1988, com a elaboração da CF, a sociedade se organiza e reivindica avanços em vários temas, dentre os quais se conseguiu estabelecer a obrigação de instituição de uma política e de um sistema de gerenciamento de recursos hídricos para o Brasil. Em 1991, o Estado de São Paulo aprova sua lei estadual de recursos hídricos, dando início a processos semelhantes em outras unidades da Federação, tais como: Ceará, em 1992; DF, em 1993; Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, em 1994; Sergipe e Bahia, em 1995; e Rio Grande do Norte e

Paraíba, em 1996, impulsionando que o estabelecido na CF viesse a ocorrer em âmbito nacional.

Em 1997 é aprovada a Lei 9.433/97, que estabelece a PONAREH e cria o SINGREH (BRASIL, 1997). Já em 2000 é aprovada a Lei 9.984/2000, que cria a ANA (BRASIL, 2000) e em 2004 é aprovada a Lei 10.881/2004, que dispõe sobre os contratos de gestão entre a ANA e entidades delegatárias das funções de Agências de Águas relativas à gestão de recursos hídricos de domínio da União e dá outras providências (BRASIL, 2004).

4.1.2 Aspectos legais e institucionais da gestão de recursos hídricos

A CF Brasileira vigente, de 1988, aboliu a propriedade privada das águas, prevista no Código de Águas de 1934, e definiu em alguns artigos competências relativas às águas, explicitadas na Tabela 4.1.

Tabela 4.1 – Referências aos recursos hídricos na Constituição Federal

Artigo Inciso Conteúdo

21 XIX Compete à União: instituir o sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso. 22 IV Compete privativamente à União legislar sobre: águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão. 23 VI XI e

Competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios para: proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas; e registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios.

24 VI VII e

Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição; e responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.

26 I

Incluem-se entre os bens dos Estados: as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União.

49 XVI Competência exclusiva do Congresso Nacional para: autorizar, em terras indígenas, a exploração e o aproveitamento de recursos hídricos e a pesquisa e lavra de riquezas minerais.

Fonte: BRASIL, 1988.

Atendendo ao mandamento constitucional, em especial ao previsto nos artigos 21 e 22, em 8 de janeiro de 1997 foi sancionada a Lei nº 9.433, que instituiu a PONAREH e criou o SINGREH. A Lei de Águas brasileira reflete os princípios da Conferência de Dublin,

participativa, incorporando novos princípios e instrumentos de gestão técnicos, legais e financeiros. Adota o planejamento por bacia hidrográfica, a tomada de decisão por intermédio de deliberações descentralizadas e participativas. Determina a criação de uma estrutura institucional com matriz de gestão integrada, definindo responsáveis pela execução de funções específicas.

A política de recursos hídricos estabelecida na Lei 9433/97 destaca a importância da água como elemento indispensável à manutenção dos ecossistemas, como um bem dotado de valor econômico e estabelece que sua gestão deva ser estruturada de forma integrada com efetiva participação social e dos setores usuários.

Como anteriormente referido em 1991, o Estado de São Paulo aprovou sua lei de recursos hídricos sendo seguido por outros Estados, e, após a edição da Lei nº 9433/97, os demais Estados passaram a trabalhar na instituição de suas respectivas políticas de recursos hídricos, ou revisaram as sancionadas anteriormente, tendo como referência a lei federal. Em 2000, a ANA é criada com a finalidade de implementar, em sua esfera de atribuições, a PONAREH, e foi integrada ao SINGREH.

Em 2004 é regulamentado o contrato de gestão, por meio da aprovação da Lei 10.881/2004, que autoriza a ANA a firmar contratos de gestão, por prazo determinado, com entidades sem fins lucrativos que receberem delegação do CNRH para exercer a competência das Agências de Água estabelecidas na Lei 9433/97, na medida em que estas ainda não foram instituídas no Brasil, apesar do Projeto de Lei 1616/99, que trata do tema, dentre outros, já estar tramitando no Congresso Nacional há mais de 14 anos. Ele aguarda criação de comissão temporária na seção de registro de comissões, conforme informação contida no sítio eletrônico da Câmara dos Deputados (BRASIL, 2004 e CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2013).

Registre-se que a Lei n.10.881/04 resolveu de forma satisfatória e com grande flexibilidade as questões normativas referentes à constituição de agências de Água, garantindo às entidades delegatárias das funções de agência de Água os recursos oriundos da cobrança pelo uso dos recursos hídricos, eliminando a possibilidade de seu contingenciamento (BRAGA et al., 2008).

4.2 A política e o sistema nacional de gerenciamento de recursos