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4 REVISÃO DA LITERATURA

4.3 Considerações sobre planejamento

Planejar é de uso corriqueiro e constante na vida diária de todos os seres humanos que o fazem, muitas vezes, sem mesmo se dar conta disso. Planeja-se ao definir por onde começar as atividades no dia a dia, uma lista de compras antes de ir ao mercado ou quando são agendados compromissos. Planejamento é um processo que leva ao estabelecimento de um conjunto coordenado de ações (pelo governo, pela direção de uma empresa, etc.) visando à consecução de determinados objetivos (FERREIRA, 2008).

Essa ação requer um diagnóstico considerando que planejar significa antever uma intervenção na realidade visando sua mudança; a possibilidade do planejamento está intrinsecamente ligada à possibilidade desta transformação vir a ocorrer (VASCONCELOS, 1995). Para que seja eficaz é fundamental que o planejamento ocorra em um processo que envolva as partes interessadas e deve ser visto como um contínuo processo de construção de consensos e de explicitação de dissensos e ganha consistência com o envolvimento desses atores sociais, que pelo fato de sentirem-se coautores, se empenharão pelo seu sucesso (CAMPOS et al., 2002). Planejamento, apesar de sua necessária rotina diária, vai além e pressupõe o estabelecimento de um processo de avaliação e cenarização futura que oriente a tomada da decisão com vistas a promover a alteração desejada, em especial quando se trata de planejamento de um bem público e/ou coletivo. “Acreditamos que a capacidade da criação e de improvisação pode ser uma grande aliada no momento de conceber as iniciativas: ao rejeitar modelos consolidados e apostar em formas não convencionais de atuação, o planejamento das intervenções pode abrir caminhos inexplorados para a mudança da realidade social” (AIC, 2012).

Para verificar o alcance ou não dos resultados esperados com o planejamento e até mesmo para readequá-lo têm sido adotadas práticas de monitoramento com o objetivo de monitorar e avaliar, de maneira contínua, a partir de indicadores, o andamento da execução das atividades e projetos para o atingimento das metas estabelecidas. A palavra monitoramento é de origem latina - “monere” - que significa alerta. Na língua inglesa, transformou-se em monitoring, com o mesmo significado. Em português, tem-se traduzido como monitoria ou monitoramento

e tem sido usada como sinônimo de vigilância, acompanhamento, seguimento ou supervisão (BUVINICH, 1999).

Monitoramento e avaliação são estratégias e momentos complementares: para se realizar, a avaliação necessita de boa informação gerada pelo monitoramento. Por outro lado, o monitoramento sem avaliação é algo incompleto, não permite saber muita coisa sobre a relevância ou a pertinência do projeto para o alcance dos objetivos (MOKATE, 2003). A avaliação gera um processo dinâmico de aprendizagem que permite identificar os ajustes necessários a serem feitos a partir da análise da relação causa-efeito produzida, possibilitando redefinir as atividades com vistas a alcançar a efetividade e eficácia almejada no processo de planejamento. Sem um bom monitoramento ou registro das informações sobre recursos, atividades, produtos e ocorrências na implementação, é muito difícil efetuar uma boa avaliação (BUVINICH, 1999).

4.3.1 Planos como instrumentos de políticas públicas

A elaboração de Planos como instrumentos de políticas públicas tem sido utilizada desde os primórdios da organização social, como pode ser observado desde os tempos bíblicos, em que os reis e demais líderes das comunidades planejavam a construção de locais para armazenagem do produto da colheita para assegurar comida para a população em tempos de produção escassa e também para permitir a comercialização do excedente. Como definido no sítio eletrônico do Ministério de Planejamento Orçamento e Gestão (MPOG):

O Planejamento pode ser entendido como o exercício de escolha consciente de ações que aumentem as chances de obter um resultado específico. É uma atividade dinâmica que se opõe ao improviso total, buscando orientar as decisões a partir de informações disponíveis. O planejamento governamental acrescenta ao conceito as características da esfera pública, tornando a atividade ainda mais complexa

(BRASIL, 2013a).

Na última década, o Brasil vem dinamizando o processo de participação na gestão das políticas públicas e, a partir daí, se ampliou a elaboração de planos setoriais como instrumentos de implementação destas políticas a exemplo do Plano Nacional de Mudanças

4.3.2 Exemplos de planos nacionais que se inter-relacionam com a gestão de recursos hídricos

Após a aprovação do PNRH foram promulgadas várias leis que estabelecem políticas públicas que demandam o uso de recursos hídricos, de maneira mais intensa, ou que tem uma relação direta com o tema, como é o caso das Políticas de Mudanças Climáticas e de Resíduos Sólidos. Nessa pesquisa foi feito uma sistematização das referências em cada uma destas políticas sobre recursos hídricos e planos e uma breve abordagem sobre o estado da arte destes planos nacionais setoriais e, quando ocorre, a sua inter-relação com o PNRH. O Apêndice I apresenta, em texto, figura e tabelas, estas referências. A necessidade de integração das diversas políticas e planos setoriais com a PONAREH e o PNRH aparecem nas questões, avaliadas na dissertação, como fundamentais e os novos cenários do PNRH devem ter em conta estas mudanças legais e institucionais que podem contribuir significativamente para uma maior implementação do PNRH.

Patrício et al. (2012) destaca que:

A intersetorialidade, tal como colocada nas especificidades da PONAREH, representa um desafio a ser considerado. Tendo em vista o valor da água para a vida, a presença explícita e dinâmica desse componente poderá tornar efetiva a PONAREH em toda a sociedade. Quando objetivos e diretrizes dessa política estiverem, de fato, integrados com outras políticas públicas, a intersetorialidade irá contribuir diretamente para a saúde ambiental e para a saúde humana, bem como para promover a sustentabilidade em seu sentido pleno”.

Saito (2011) em pesquisa que trata das interfaces entre projetos de educação ambiental e de recursos hídricos conclui: “deve ficar claro que é muito importante que o Estado seja capaz de enxergar as possibilidades de integração entre diversas ações e políticas, como esta entre a rastreabilidade de produtos agrícolas, a educação ambiental e a gestão de recursos hídricos”.

Lanna (2008) em artigo que analisa os cenários prospectivos de recursos hídricos com base nos quais foram estabelecidas as diretrizes, as metas e os programas do PNRH, recomenda dentre outras, que “a demanda de um Observatório das Águas para acompanhar e prospectar

a evolução dos usos de água no Brasil deve ser uma grande prioridade do país, de forma a serem antecipadas as grandes mudanças que são indicadas nos usos de água do país, com significativos impactos no regime hidrológico”.

Essa recomendação é uma das ações prevista no subprograma I.2 do PNRH que prevê a “Definição do desenho institucional e organizacional do observatório das águas” e foi detalhada, em 2010, para a SRHU, pelo autor do artigo citado, cujo desdobramento dela foi o estabelecimento de um Acordo de Cooperação Técnica (ACT) entre a SRHU/MMA, a ANA e a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE/PR). Dentre as atividades do referido ACT, estão o desenvolvimento de cenários prospectivos de longo prazo em Recursos Hídricos e o desenvolvimento de um Núcleo de Pensamento Estratégico.

O Observatório das Águas poderá cumprir um papel importante na prospecção de cenários futuros que levem a uma maior integração das diversas políticas e planos nacionais citados no Apêndice I, dentre outros, devidamente atualizados a cada revisão do PNRH.