Instrumentos para a gestão das águas

Os instrumentos que compõem a PONAREH são:

Os planos de recursos hídricos

Objetivam fundamentar e orientar a implementação da política de recursos hídricos estabelecendo as diretrizes e prioridades de uso, o plano de intervenções e investimentos e o gerenciamento dos recursos hídricos. São elaborados por bacia hidrográfica - Plano de Bacia Hidrográfica (PBH), por Estado ou DF - Plano Estadual ou Distrital de Recursos Hídricos (PERH) e para o país - PNRH e são aprovados pelos Comitês de Bacia Hidrográfica (CBH), Conselhos Estaduais/Distrital de Recursos Hídricos (CERH) e CNRH respectivamente.

O enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes da água

Objetiva definir as metas de qualidade das águas a serem alcançadas em uma bacia hidrográfica, em determinado período temporal, e as classes em que os corpos de água deverão permanecer para atender às necessidades de uso definidas pela sociedade. Seu processo de elaboração e implantação deve ser essencialmente participativo e sua aprovação se dá no âmbito do CBH e dos CERHs.

A outorga dos direitos de uso de recursos hídricos

Objetiva assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos múltiplos da água e o efetivo exercício dos direitos de acesso aos recursos hídricos observadas as prioridades de uso estabelecidas. Todas as derivações, captações, extrações e lançamentos em corpos hídricos, bem como os aproveitamentos dos potenciais hidrelétricos e quaisquer usos que alterem o regime, a quantidade ou qualidade da água, dependem de outorga a ser concedida, nos rios de domínio da União, pela ANA, e nos rios de domínio dos Estados, por seus órgãos gestores.

Somente não estão sujeitos à outorga os usos de recursos hídricos considerados insignificantes pelos conselhos de recursos hídricos, mediante proposta do comitê da bacia hidrográfica em que estejam localizados.

A cobrança pelo uso de recursos hídricos

Objetiva incentivar a racionalização do uso da água e obter recursos financeiros para o financiamento dos programas e das intervenções contemplados nos planos de recursos hídricos. Os recursos devem ser aplicados, prioritariamente, na bacia hidrográfica em que foram gerados, conforme determina a lei. A cobrança incide sobre as derivações, captações e extrações de água, bem como sobre o lançamento de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos nos recursos hídricos. Seu processo de definição, aprovação e decisão quanto à sua implantação se dá no âmbito do CBH e dos CERHs.

O Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos

Objetiva produzir, sistematizar e disponibilizar dados e informações sobre as condições hídricas, quantidade e qualidade da água para os diversos usos, consolidar o cadastro de usuários e as condições do ecossistema da unidade de planejamento, seja ela o país, Estados/DF, região ou bacia hidrográfica, identificando as pressões antrópicas nela existentes. A implementação destes instrumentos deve ser feita de maneira integrada, complementar e de forma interdependente e tem como objetivo primordial assegurar água em quantidade e qualidade para os múltiplos usos da bacia, a partir do conhecimento técnico e do pacto social, com definição das prioridades. Para elaboração de um plano de recursos hídricos são necessárias, dentre outras, informações como aquelas relativas aos usos existentes na bacia, usuários e os níveis de qualidade e quantidade de água que permitam estimar o balanço hídrico; e se estas informações ainda não estiverem sistematizadas, poderão servir de base para implementação de um sistema de informação que contenha o cadastro de usuários e demais informações que deverão ser constante e automaticamente atualizadas.

o sistema de gestão. Por outro lado, pode se começar pela implementação da outorga, do enquadramento ou do sistema de informação antes mesmo de se ter um plano de recursos hídricos, que quando de sua elaboração deverá avaliar e propor melhorias às práticas e sistemas implantados.

As metas de enquadramento auxiliam na definição das prioridades de outorga e cobrança, em especial no que diz respeito aos lançamentos dos efluentes no corpo hídrico, sendo, portanto, o principal instrumento na integração da gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental, por ter como base fundamental a definição de metas de qualidade de água. A cobrança gera divisas à implementação do Plano, induz a uma adequação ao enquadramento, ao ajuste da outorga e subsidia o sistema de informações. O sistema de informações sobre recursos hídricos subsidia a outorga, a cobrança, o enquadramento e a confecção e/ou elaboração dos planos de recursos hídricos que retroalimentam o sistema de informações.

Essas referências anteriores da interdependência entre os instrumentos da política de recursos hídricos demonstram a importância de cada um deles e o papel fundamental dos planos de recursos hídricos, que devem orientar e harmonizá-los, definindo prioridades de ações que visem à implementação de todos de forma articulada e integrada.

O Brasil possui uma grande extensão territorial, com diversas realidades regionais. Os problemas são muito distintos por região. Alguns estão relacionados à carência de recursos hídricos, que atua como forte inibidor de desenvolvimento. Outros estão relacionados com carência de infra-estrutura para redução da poluição e falta de meios para aplicação da legislação, resultando em deterioração da qualidade das águas. Também a diversidade do clima, relevo e vegetação ao longo do território brasileiro é representada nos diferentes valores das disponibilidades hídricas superficiais. Essa diversidade conduz à necessidade de se estudar a aplicação dos instrumentos de gestão previstos na lei, tendo em vista identificar dificuldades e potencialidades de sua aplicação em contextos diferenciados (SCHVARTZMAN et al., 2002).

A Figura 4.1 apresenta os instrumentos de recursos hídricos previstos na Lei 9433/97 e suas inter-relações.

Figura 4.1 – Interdependência dos instrumentos de gestão de recursos hídricos.