• Nenhum resultado encontrado

Volume IV – Programas nacionais e metas

4.8 Metodologia para tratamento de informações

Optou-se em utilizar o método Delphi de Políticas pela sua característica de estudo prospectivo que, além da compreensão histórica do processo, possibilita uma avaliação, por meio de sondagem junto a especialistas da área de recursos hídricos, relativa aos desafios da implementação do PNRH. A prospecção valoriza o processo de investigação incluindo atributos de interatividade e de revisão das opiniões. Os estudos prospectivos têm sido muito utilizados para auxiliar a formulação e planejamento de políticas públicas por contribuir no direcionamento de ações (ONO e WEDEMEYER, 1994).

Desde meados do séc. XX os estudos prospectivos têm se prestado a múltiplas finalidades, e as suas metodologias têm se sofisticado, ao mesmo tempo em que ganham mais operacionalidade. Neles, uso e estudo de cenários têm se destacado... e suas aplicações têm conhecido campos novos, além do das empresas e governos

(NASCIMENTO et al., 2010).

Mitroff e Turoff (1973) estudaram os fundamentos teóricos e filosóficos dos estudos prospectivos, a partir de diferentes sistemas ou modelos de investigação, com vistas a apontar a influência ou não de cada filosofia de investigação na técnica Delphi, e apresentar como valor desta: possibilitar encontrar a justificativa do que podemos conhecer e daquilo que achamos que podemos saber. Destacam, ainda, que Delphi é um procedimento que estrutura um processo de comunicação entre um vasto grupo de indivíduos para avaliar o potencial de desenvolvimento de uma pesquisa sobre uma área técnica e para tal um grupo é convidado a “votar”. Um dos principais locais subjacentes à abordagem é a suposição da necessidade de um grande número de julgamentos de "especialistas" a fim de "tratar adequadamente”

qualquer problema, reduzindo custo e tempo de reunir juntas todas as partes envolvidas, em um mesmo local.

O método trabalha inicialmente com os “inputs de dados brutos”, que são as opiniões ou julgamentos dos especialistas. Na sequência, trata da validação do julgamento, resultante da votação da totalidade do grupo, medida em termos do "grau de consenso" encontrado entre os especialistas tendo como característica o anonimato imposto sobre as respostas, o que assegura a expressão de opiniões pessoais sem constrangimento e exposição da identidade, e o feedback das informações obtidas a partir do grupo com oportunidade de modificação ou aperfeiçoamento pelos indivíduos de seus julgamentos em função de sua reação às visões coletivas do grupo.

O consenso é obtido pela convergência de opiniões encontradas após sucessivas etapas de consulta, por meio da aplicação de questionários e de retorno das respostas aos especialistas para reavaliação das questões, à luz dos resultados da rodada anterior, considerando as justificativas dos demais especialistas. A escolha da metodologia Delphi, comparada a outras técnicas de previsão, deve-se dar em função das características do estudo que inclui a inexistência de dados históricos, a abordagem interdisciplinar e as perspectivas de mudanças estruturais (WRIGHT e GIOVINAZZO, 2000).

Nascimento et al. (2010) destacam duas, das inúmeras, vantagens da adoção da metodologia prospectiva, os cenários permitem antecipar potencialidades, gargalos e conflitos que uma política pública responsável pode evitar ou pelo menos reduzir parte de seus efeitos nefastos, além de permitir que os atores se organizem para enfrentar, ou aproveitar, essas possíveis situações futuras e os cenários constituem um espaço favorável ao monitoramento da evolução dos conflitos e gargalos presentes no sistema de recursos hídricos, possibilitando uma gestão mais consistente e, sobretudo, previdente. A elaboração do PNRH em 2006 foi a primeira experiência de elaboração de um plano de recursos hídricos para o Brasil, constituindo-se em fato recente. Portanto, atendendo à característica de inexistência de dados, a gestão de recursos hídricos pressupõe abordagem interdisciplinar e a política de recursos hídricos, estabelecida em leis, representou reforma profunda no papel do Estado, com o seu caráter participativo e descentralizado, com a criação da figura de CBH, agências de águas e

da própria ANA, além do estabelecimento da bacia hidrográfica como unidade de planejamento e gestão, o que requer mudanças estruturais. Outra razão fundamental para se adotar esta metodologia foi o fato da adoção do método Delphi ser reconhecida e ter tido testada sua aplicabilidade na gestão pública (LIBÂNIO, 2006).

O Delphi de políticas é um método que possibilita correlacionar visões e informações relativas a uma área específica da política, verdadeiro “fórum de ideias”, e serve a três propósitos, conjuntamente ou não, assegurar que todas as alternativas políticas foram consideradas, estimar as implicações de qualquer uma dessas alternativas e examinar e estimar a aceitação dessas opções (TUROFF, 1975). Essa abordagem da técnica Delphi permite a identificação de ideias e estratégias para a proposição de políticas organizacionais mais gerais (WRIGHT e GIOVINAZZO, 2000).

O Delphi de políticas tem em comum com o Delphi de previsões a iteratividade, interatividade e anonimato, apesar de sua grande diferenciação, pois não é uma ferramenta para tomada de decisão, mas sim uma ferramenta de auxílio ao processo decisório (DE LOË, 1995). Uma premissa fundamental para a aplicação do Delphi de políticas é o conhecimento, por parte dos gestores, que os especialistas não o substitua na tarefa de decisão, apenas apresentam alternativas viáveis e evidências de suporte à decisão (TUROFF, 1975).

A decisão por adotar o método Delphi de políticas se justificou, ainda, pelas incertezas críticas que configuram o tema água e o seu planejamento futuro, muito bem explicitadas no Volume 2 do PNRH “Águas para o futuro: cenários para 2020”, que a partir de uma metodologia prospectiva, opta por apresentar três cenários possíveis: Água para Todos; Água para Alguns; e Água para Poucos. Destacam-se, ainda, os atributos dos cenários que partem de uma visão sistêmica da realidade, com ênfase em aspectos descritos em termos qualitativos, explicitação das relações entre variáveis e atores como estruturas dinâmicas e visão de futuro como construção social e não como fatalidade (BRASIL, 2006b).