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4. ESTRATÉGIAS DE GESTÃO SUSTENTÁVEL DA ÁGUA EM ESPAÇOS VERDES

4.2 CRITÉRIOS DE PLANEAMENTO – FATORES AMBIENTAIS

4.2.4 Fator água

4.2.4.6 Águas residuais tratadas

De acordo com o Decreto-Lei n.º 236/98, de 1 de Agosto, águas residuais urbanas (ARU) dizem respeito a águas residuais domésticas17 ou a mistura destas com águas residuais industriais18 ou com água pluviais. As ARU são recolhidas e conduzidas para tratamento nas Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) através da rede de drenagem.

O processo de tratamento das ARU ocorre de forma sequencial, podendo distinguir-se cinco níveis: tratamento preliminar, tratamento primário, tratamento secundário19, tratamento terciário e tratamento avançado. Geralmente as ARU são tratadas apenas com os três primeiros, sendo os tratamentos seguintes apenas aplicados se o destino final das águas exigir a remoção de agentes patogénicos que possam prejudicar a saúde pública, ou se o meio recetor das águas residuais for classificado como sensível (Monte e Albuquerque, 2010).

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Águas residuais domésticas são descritas como águas residuais de instalações residenciais e serviços, essencialmente provenientes do metabolismo humano e de atividades doméstica

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Águas residuais industriais são descritas como sendo todas as águas residuais provenientes de qualquer tipo de atividade que não possam ser classificadas como águas residuais domésticas nem sejam águas pluviais

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O tratamento secundário também é denominado por tratamento biológico, o que não se considera um termo correto uma vez que o efluente secundário pode ser obtido quer com recurso a tratamento biológico, quer por tratamento físico-químico (Marecos do Monte, 2012).

A delimitação das zonas sensíveis e menos sensíveis foram objeto de revisão pelo Decreto-Lei 133/2015 de 13 de julho, que constitui a sétima alteração ao Decreto-Lei 152/97, de 19 de junho, que transpões para o direito nacional a Diretiva nº. 91/271/CEE do Conselho, de 21 de maio de 1991, relativamente ao tratamento de águas residuais urbanas.

O tratamento preliminar tem por objetivo a remoção das maiores partículas em suspensão, nomeadamente sólidos grosseiros, areias e gorduras. A sequência de operações unitárias (gradagem, equalização, desarenação e remoção de óleo e gorduras) que constituem o tratamento preliminar podem ser combinadas entre si e visam proteger os órgãos e processos de tratamento seguintes, assim como evitar obstruções do sistema e contaminação das águas e lamas. O tratamento preliminar pode por vezes ser aplicado para equalização de caudais e de carga poluente (Marecos do Monte, 2016).

O tratamento primário é definido no Decreto-Lei nº. 152/97 de 19 de junho como sendo o conjunto de operações e processos de tratamento que asseguram uma redução mínima de 20% da CBO5 e de 50% das partículas sólidas em suspensão (SST, que designa a massa total de partículas sólidas em suspensão de dimensão superior a 0,45 µm, partículas orgânicas voláteis e partículas inorgânicas fixas) nas águas residuais. Em termos práticos, o tratamento primário é realizado através de sedimentação/ decantação ou, em casos mais raros, através de flotação, podendo estas operações ser auxiliadas através de coagulação química (Marecos do Monte, 2016). Após conclusão do tratamento primário, o efluente já se encontra com uma redução de 35% da sua carga poluente original.

Seguidamente ocorre o tratamento secundário, que possibilita a redução da matéria orgânica biodegradável dissolvida ou em suspensão coloidal que não foi removida até este nível de tratamento, garantindo que o efluente respeita os requisitos legais definidos no Decreto-Lei nº. 152/97 de 19 de junho. Este tratamento pode ocorrer quer por processos biológicos, quer por processos físico-químicos (por exemplo e coagulação). De acordo com Marecos do Monte (2016), os processos de tratamento biológico são mais vantajosos do que os processos químicos, por oferecerem menor custo de operação e menor formação de produtos residuais (lamas).

O tratamento terciário, conforme anteriormente referido, é aplicado quando tal é exigido pela qualidade do meio recetor, ou pela necessidade de remover microrganismos patogénicos que podem por em causa a saúde pública (no caso de águas destinadas à reutilização, por exemplo) ou de remover nutrientes (cuja deposição possa provocar eutrofização no local de

descarga, por exemplo). Este nível de tratamento recorre à aplicação de químicos, filtros de carbono ou outros filtros de areia, assim como de outro tipo de filtros bastante desenvolvidos e sofisticados, como sendo os filtros mecânicos, filtros de carvão ativado ou filtros de osmose. O efluente tratado apresenta, nesta fase final, uma redução de substâncias poluentes de mais de 95%, podendo ser reutilizado para diversos fins dos quais se destacam: a lavagem de pavimentos, o combate a incêndios, a rega de espaços verdes, a rega agrícola, entre outros (Monte e Albuquerque, 2010).

De acordo com Marecos do Monte (2016), o tratamento avançado tem como objetivo a remoção de poluentes dissolvidos presentes em concentrações residuais, como certas substâncias refratárias aos níveis de tratamento precedentes.

Desde a antiguidade que a reutilização de águas residuais é utilizada para a rega agrícola (Angelakis et al., 1999, in Monte e Albuquerque, 2010), ainda que sem tratamento, tendo-se posteriormente desenvolvido a partir do século XIX, em vários países que implementaram sistemas de regas com águas residuais. Atualmente, a reutilização de águas residuais para rega agrícola é amplamente praticada nos Estados Unidos (sobretudo Flórida e Califórnia), nos países da orla mediterrânica (Espanha, França, Itália, Grécia e Chipre), assim como a Tunísia e Israel, países árabes do Médio Oriente ou ainda a China e a Austrália.

A reutilização da água faz-se sentir em maior escala, sobretudo em locais de menor disponibilidade hídrica (Monte e Albuquerque, 2010). Apresenta benefícios ambientais indiscutíveis permitindo reduzir o consumo de águas de qualidade superior, contribuindo para a preservação dos recursos hídricos. Ao mesmo tempo, reduz a descarga de efluentes com consequente redução da poluição das águas subterrâneas e superficiais.

De acordo com um estudo conduzido pela Global Water Intelligence (GWI), a reutilização de água residual tratada, a nível mundial, corresponde a cerca de 5% do volume total de água tratada em mais de 2000 ETARs (figura 4.12). Nos Estados Unidos da América, o volume de água reciclada tratada corresponde a cerca de 7,5 Mm3/ dia, sendo que o volume de água reutilizada é aumentada 15% a cada ano. Na América do Sul estão já implementados diversos projetos de reutilização de águas residuais, por exemplo em São Paulo, no Brasil, no Aeroporto Internacional de Guarulho para os sistemas de refrigeração e sanitário, lavagem de aviões, limpeza de pavimentos e rega de espaços verdes, com um caudal de utilização diário de 2710 m3 (Marecos do Monte, 2013).

Espanha representa o país europeu com maior taxa de reutilização de águas residuais, correspondente a 13% do volume total de águas residuais tratadas, distribuído de forma heterogénea uma vez que existem ainda algumas regiões hidrográficas que não praticam a reutilização (100% na região hidrográfica do rio Segura, 48,3% nas ilhas Canárias, 17,6% na Andaluzia, por exemplo) (Marecos do Monte, 2012). No âmbito da conferência, Cañada (2012), apresentou o caso de sucesso da região de Múrcia que, através da elaboração de um Plano Estratégico para o Tratamento de ARU para Reutilização, a desenvolver entre 2001 e 2010, permitiu aumentar o volume de água tratada, garantindo o cumprimento de um nível de tratamento bastante exigente e permitindo despoluir o rio Segura, com benefícios económicos. Simultaneamente, destacam-se os benefícios ambientais e sociais desta iniciativa, uma vez que permitiu o uso do rio para práticas desportivas e de recreio. As águas residuais tratadas são reutilizadas quase na totalidade, sobretudo na agricultura, sem comprometer a saúde pública.

Na Europa, destacam-se ainda a existência de projetos de reutilização noutros países da orla mediterrânica, nomeadamente França, Itália, Chipre e Grécia, que dispõe de normas que regulamentam a reutilização de água, de acordo com o quadro 4.8 (Sanz, 2014):

País Norma de referência Portugal NP4434: 2005

Espanha RD 1620/2007

França JORF num. 0153, 4 julho 2014

Itália DM 185/2003

Chipre Lei 106 (I) 2002; KDP 772/2003; KDP 269/2005

Grécia CMD nº 145116

No contexto Europeu, verificamos que Portugal apresenta alguns projetos de reutilização de água reciclada, com dimensão considerável, superior a 5 Mm3/ ano, sobretudo na área da agricultura e na área urbana/ residencial, nas regiões da grande Lisboa e no Algarve (figura 4.13). Ainda assim, a percentagem de volume de águas residuais utilizadas na agricultura é bastante baixa quando comparada com outros países como Espanha ou Israel, possivelmente motivada pelos custos económicos de transporte das águas residuais desde os centros urbanos do litoral onde são tratadas até às explorações agrícolas (Marecos do Monte, 2012).

No Programa Nacional para o Uso Eficiente da Água (PNUEA), publicado em 2012 20, a utilização de águas residuais urbanas tratadas, a par com a utilização de águas pluviais, é identificada como uma medida a implementar (medida nº 04) com vista à redução no consumo

de água, em setor urbano: “Reduzir ao mínimo o uso da água potável em atividades que possam ter o mesmo desempenho com águas de qualidade alternativa e de outras origens que não a rede pública de água potável, promovendo a utilização de água da chuva e a eventual reutilização de águas residuais tratadas” (PNUEA, 2012).

Assim, de acordo com o PNUEA, dos usos possíveis a dar à água residual tratada, destacam-se:

- A lavagem de pavimentos em sistemas públicos urbanos (medida 28); - A utilização de água residual tratada em jardins e similares (medida 39);

- A utilização de água residual tratada em campos desportivos, campos de golfe e outros espaços verdes de recreio para suprir as necessidades de rega (medida 49).

O Plano Estratégico de Abastecimento de Água e de Saneamento de Águas Residuais 2007-2013 (PEAASAR II) previa que, até ao final de 2013, o tratamento de águas residuais urbanas (ARU) abranjesse uma cobertura de 89% da população nacional. De acordo com o mesmo plano, pretendia-se que o volume de águas residuais tratadas (ART), utilizadas na reutilização chegasse aos 10%, correspondendo a 50 Mm3/ ano. No entanto, estas metas não foram atingidas uma vez que, em 2012, apenas 75% da população era servida com tratamento de ARU e o volume de ART foi de cerca de 1%, valor muito inferior aos 10% pretendidos.

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20 O primeiro Programa Nacional para o Uso Eficiente da Água foi publicado em 2001 pelo Ministério do

Figura 4.12 – Reutilização de água no Mundo. Fonte: Global Water Intellingence in Marecos do Monte, 2013

Figura 4.13 – Identificação dos projetos de reutilização na Europa, incluindo a sua dimensão e tipologia de uso. Fonte: AQUAREC, 2006

Figura 4.14 – Lavagem de viaturas com água reciclada nas instalações ca Câmara Municipal de Lisboa, Olivais. Fonte: Prof. Helena Marecos

do Monte, 2014

Atualmente regista-se maior disponibilidade de água residual tratada, com qualidade que possibilite a reutilização, cumprindo os requisitos legais em vigor no

de Lisboa e Vale do Tejo (AdLVT)

460 000 m3/ dia de água residual tratada, correspondendo a um volume anual de 167 milhões de metros cúbicos de água que pode ser utilizada para reut

empresas integradas na AdLVT utilizam cerca de 3 milhões de metros cúbicos por ano de água residual tratada, sobretudo para lavagens

das áreas verdes, correspondendo a menos de

Chelas e a ETAR de Alcântara são, do grupo, os maiores utilizadores de água reciclada, correspondendo a cerca de 800

(Frazão, 2016). Estima-se que a redução de custos anual decorrente da utilização interna da água reciclada em alternativa à água potável, considerando todas as taxas e tarifas inerentes (incluindo a tarifa de saneamento), é de aproximadamente nove milhões de euros. Um ou exemplo, a SIMARSUL, poupou 270 mil euros pela reutilização de cerca de 90% de água residual tratada nas suas ETARs

económico a considerar (Marecos

No entanto, de acordo com a Entidade Reguladora (ERSAR), apenas 5% das entidades

à reutilização da água tratada

Em Portugal, a água residual tratada

de golfe, sobretudo no Algarve, na península de Setúbal e na ilha de Porto Santo obrigatoriedade de rega de campos de golfe com águas residua

entanto acabou por não ser incluída nas medidas prioritárias do Programa Nacional do Uso Eficiente da Água, apesar de

Lavagem de viaturas com água reciclada nas instalações ca Câmara Municipal de Lisboa, Olivais. Fonte: Prof. Helena Marecos

do Monte, 2014

Figura 4.15 Tratamento de água de Frielas. Fonte: Frazão, 2016

se maior disponibilidade de água residual tratada, com qualidade que possibilite a reutilização, cumprindo os requisitos legais em vigor no nosso país. A Águas de Lisboa e Vale do Tejo (AdLVT) – Grupo Águas de Portugal, dispõe em média de cerca de / dia de água residual tratada, correspondendo a um volume anual de 167 milhões de metros cúbicos de água que pode ser utilizada para reutilização (Frazão, 2016). empresas integradas na AdLVT utilizam cerca de 3 milhões de metros cúbicos por ano de água residual tratada, sobretudo para lavagens dos pavimentos e equipamentos (figura 4.1

das áreas verdes, correspondendo a menos de 2% do caudal tratado nas ETARs. A ETAR de Chelas e a ETAR de Alcântara são, do grupo, os maiores utilizadores de água reciclada, correspondendo a cerca de 800 000 m3/ dia e 450 000 m3/ dia, respetivamente

se que a redução de custos anual decorrente da utilização interna da água reciclada em alternativa à água potável, considerando todas as taxas e tarifas inerentes (incluindo a tarifa de saneamento), é de aproximadamente nove milhões de euros. Um ou

poupou 270 mil euros pela reutilização de cerca de 90% de água residual tratada nas suas ETARs em 2011, traduzindo-se a reutilização num benefício

(Marecos do Monte, 2012).

e acordo com a Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos entidades gestoras de sistemas de águas residuais urbanas procede à reutilização da água tratada.

Em Portugal, a água residual tratada é utilizada com alguma expressão na rega dos campos sobretudo no Algarve, na península de Setúbal e na ilha de Porto Santo obrigatoriedade de rega de campos de golfe com águas residuais tratadas foi equacionada, no entanto acabou por não ser incluída nas medidas prioritárias do Programa Nacional do Uso ficiente da Água, apesar de a “limitação ou proibição total de rega de campos desportivos,

Figura 4.15 Tratamento de água residual na ETAR de Frielas. Fonte: Frazão, 2016

se maior disponibilidade de água residual tratada, com qualidade nosso país. A Águas Grupo Águas de Portugal, dispõe em média de cerca de / dia de água residual tratada, correspondendo a um volume anual de 167 milhões ilização (Frazão, 2016). As empresas integradas na AdLVT utilizam cerca de 3 milhões de metros cúbicos por ano de água dos pavimentos e equipamentos (figura 4.14) e rega 2% do caudal tratado nas ETARs. A ETAR de Chelas e a ETAR de Alcântara são, do grupo, os maiores utilizadores de água reciclada, / dia, respetivamente, em 2014 se que a redução de custos anual decorrente da utilização interna da água reciclada em alternativa à água potável, considerando todas as taxas e tarifas inerentes (incluindo a tarifa de saneamento), é de aproximadamente nove milhões de euros. Um outro poupou 270 mil euros pela reutilização de cerca de 90% de água se a reutilização num benefício

dos Serviços de Águas e Resíduos gestoras de sistemas de águas residuais urbanas procede

na rega dos campos sobretudo no Algarve, na península de Setúbal e na ilha de Porto Santo. A is tratadas foi equacionada, no entanto acabou por não ser incluída nas medidas prioritárias do Programa Nacional do Uso rega de campos desportivos,

campos de golfe e outros espaços verdes com água potável” constituir a medida 50, aplicável em situações de escassez hídrica (seca) (PNUEA, 2012).

A escassez hídrica que carateriza a região do Algarve, onde se localiza o maior número de campos de golfe no nosso país, motivou a adoção de medidas de uso eficiente da água, nomeadamente através da reutilização de águas residuais para rega dos relvados e da programação monitorizada da rega, com recurso a dados recolhidos em estações meteorológicas (Marecos do Monte, 2012). Ainda assim, Freire (2015) identifica que, em 2013, os campos de golfe do Algarve eram regados sobretudo com água subterrânea (69%), seguida de água com origem superficial (29%), sendo a água residual tratada pouco utilizada (2%), apesar de ter sido uma medida fortemente recomendada. A empresa Águas do Algarve tratou, em 2013, 16,5 hm3 de água residual sem intrusão salina nas redes de drenagem, que poderia ser utilizada para a rega dos relvados dos campos de golfe.

Também o campo de Golfe de Porto Santo, localizado na região Autónoma da Madeira, recorre à reutilização de cerca de 41% do efluente tratado para a rega dos seus relvados, permitindo satisfazer 84% das suas necessidades de água para rega, com um custo estimado de 0,37 €/m3, inferior ao custo de dessalinização da água do mar utilizada para suprir os restantes 16% (o custo de dessalinização foi avaliado em 1,08 €/m3) (Marecos do Monte, 2012). Destacam-se ainda outros projetos em Portugal, nomeadamente a reutilização de águas residuais tratadas no sistema de refrigeração, águas sanitárias e na rega dos espaços verdes do IKEA de Loures 21, resultante de uma parceria entre o grupo IKEA e a ETAR de Frielas (Figura 4.15); ou a rega dos espaços verdes e descargas de autoclismo do Hospital Privado de Mirandela, por exemplo.

O Parque Desportivo de Mafra, tutelado pela Câmara Municipal de Mafra utilizou inicialmente água residual tratada para a rega dos espaços verdes, chegando a ser fornecidos cerca de 300 m3/ dia de efluente tratado, valor que tem sido reduzido ao longo dos últimos anos. A Simtejo (atualmente designada AdLVT) comprometeu-se a garantir a consistência do tratamento biológico e do processo de desinfeção com raios ultravioleta e instalou um novo equipamento de tratamento, com adição complementar de hipoclorito de sódio – medidas necessárias para cumprir a licença de descarga na linha de água (Frazão, 2016).

A Câmara Municipal de Lisboa recorre, desde 2008, à utilização de água reciclada para a lavagem de ruas e de contentores através da utilização de camiões cisterna, tendo recolhido,

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O IKEA utiliza 462 130 m3/ ano de água, estando contratualizado o pagamento anual de 18 000 €/ ano acrescido de 0,04€/ m3 de água consumida (Frazão, 2016).

em 2014, cerca de 23 409 m3. A junta de freguesia de Alcântara utiliza já água reciclada para a rega de espaços verdes e canteiros e as Câmaras Municipais de Loures e de Cascais também utilizam efluente tratado para operações de lavagem de ruas e equipamentos (Frazão, 2016).

A publicação do III Seminário Luso-Espanhol – “A Água e a Agricultura Mediterrânica”, enuncia alguns resultados de estudos práticos de avaliação da água residual para rega, em Portugal. Um dos estudos apresentados refere-se a um ensaio realizado em Vale de Lobo, Loulé, em que o efluente tratado foi utilizado para regar diariamente, por aspersão, o relvado de um campo de golfe. As análises microbiológicas realizadas ao solo e à relva recolhidas, permitem concluir que os valores de contaminação patogénica são muito reduzidos, e podem ser desprezados, exceto quando recolhidos imediatamente após a rega. Assim, concluiu-se que a utilização de águas residuais é possível na agricultura mediterrânica, conduzindo mesmo a alguns benefícios, por conter matéria orgânica e nutrientes que atuam como fertilizantes, constituindo uma forma de fertirrigação (Carvalho, 1996). Conforme abordado anteriormente no subcapítulo referente à vegetação, esta qualidade de água de rega permite a redução da utilização de fertilizantes químicos, muitas vezes nocivos para o ambiente.

No entanto, é importante salientar que a utilização desta água pode ter limitações em determinadas culturas, solos ou sistemas de rega, de acordo com a qualidade daquela. Pode ocorrer, por exemplo, a acumulação de sais no solo, ou verificar-se risco de toxicidade para as plantas, para além de eventuais impactos na hidrologia das águas superficiais e subterrâneas do perímetro de rega. É assim aconselhável manter a possibilidade de ligação à rede de abastecimento da rede pública caso a sua qualidade seja momentaneamente inadequada, assim como no sentido de evitar danos na vegetação caso a água reciclada se esgote.

Conhecem-se casos de utilização indireta de água residual tratada para rega agrícola, por exemplo na várzea de Loures, onde o efluente tratado pela ETAR de Frielas, depois de descarregado no meio recetor, é captado para utilização na agricultura, na rega de tomate. O Grupo Águas de Portugal também detetou outros casos semelhantes de efluente tratado captado a partir da linha de água onde é descarregado, por exemplo em Mafra e em Elvas (Frazão, 2016).

O quadro 4.9 identifica as características das águas residuais que podem condicionar o desenvolvimento das plantas ou afetar o solo ou os equipamentos de rega.

Quadro 4.9 - Características das águas residuais que podem condicionar o desenvolvimento das plantas ou afetar o solo ou os equipamentos de rega. Fonte: Monte e Albuquerque, 2010

Características Parâmetro de avaliação Efeito Salinidade/ Sais inorgânicos dissolvidos SDT. Condutividade elétrica, Iões específicos (Na, Ca, Mg, Cl, B)

A elevada salinidade prejudica o bom desenvolvimento de muitas plantas; alguns iões podem ser tóxicos para as plantas (Na, B, Cl); o Na pode induzir problemas de permeabilidade no solo.

Sólidos em suspensão

SST Concentrações elevadas de SST podem provocar entupimentos nos equipamentos de rega.

Matéria orgânica biodegradável

CBO, CQO Em efluentes tratados, o teor de matéria orgânica,