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2. OS ESPAÇOS VERDES E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

2.1 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

2.1.3 A sustentabilidade urbana

Segundo as Nações Unidas, até 1950 apenas 29% da população mundial vivia em áreas urbanas. Essa proporção foi aumentando para 47% ao longo do século XX, prevendo-se um aumento para 61% até 2030 (United Nations, 2007).

A figura 2.2 apresenta a distribuição da população mundial por continentes, dividida entre a população urbana e a população rural. Analisando as previsões de crescimento da população divulgada pelas Nações Unidas, prevê-se uma disparidade cada vez maior entre a população rural e a população urbana. Em 2050 prevê-se que cerca de 70% dos habitantes vivam em núcleos urbanos.

Analisando os dados referentes aos censos de 2011, a população residente em Portugal era, à data do momento censitário, correspondente a 21 de março de 2011, 10 562 178 pessoas. Citando a mesma fonte, mais de 80% da população residente concentrava-se em 3 regiões do país: Norte (34,9%), Lisboa (26,7%) e Centro (22,0%). A restante população distribui-se pelas regiões do Alentejo (7,2%), Algarve (4,3%), Região Autónoma da Madeira (2,5%) e Região Autónoma dos Açores (2,3%). Registou-se o aumento da população nas regiões de Lisboa, Algarve, Madeira e Açores (INE, 2012). Os dados recolhidos indicam o aumento do despovoamento no interior do país, sendo que 50% da população residente está concentrada em 33 dos 308 municípios de Portugal. Foram 198 os municípios que, entre 2001 e 2011 perderam população, que manteve a tendência de se deslocar para as regiões do litoral em detrimento do interior (INE, 2012). Na última década, apesar de algumas alterações nos municípios mais populosos, as quatro primeiras posições mantêm-se, sendo Lisboa, Sintra, Vila Nova de Gaia e Porto (INE, 2012).

Figura 2.2 - Distribuição da população mundial Fonte: United Nations, 2007

As cidades têm crescido com base num modelo económico assente no consumo desregrado e ineficiente dos recursos naturais (Coimbra, 2010). O avanço tecnológico trouxe, por um lado, vantagens, mas por outro lado, conduziu a uma série de problemas ambientais e sociais (Grimm, et al., 2008). De acordo com os mesmos autores, as cidades são dos principais responsáveis pela crise ambiental que vivemos atualmente, nomeadamente no que diz respeito à gestão dos recursos solo, energia e água, assim como todos os elementos materiais necessários às atividades humanas. De realçar também a responsabilidade da sociedade na emissão de poluentes, assim como a produção diversificada de resíduos e de ruído, com repercussões não só a nível local e regional, mas também a nível global (Matzarakis et al., 2008).

A quantificação dos recursos consumidos por uma cidade pode ser obtida através do conceito de “pegada ecológica”. Este conceito foi desenvolvido em 1996 por William Rees e Mathis Wackernagel (1996), com o objetivo de medir a relação entre a natureza e o consumo humano, sustentado pela premissa de que cada indivíduo necessita de uma determinada área do planeta, que lhe forneça os bens e os serviços de que necessita (Chambers, 2000). O conceito de pegada ecológica pode ser entendido como indicador de sustentabilidade, ou seja, dos impactos causados pela atividade humana nos recursos naturais, quantificando a quantidade de terra e de água necessárias para sustentar as gerações atuais (Ellefson et al.,1992).

A Pegada Ecológica não pretende ser uma medida exata, mas pretende apenas permitir estimar o impacto que o nosso estilo de vida provoca no planeta, analisando a quantidade de recursos associados às nossas atividades do dia-a-dia, nomeadamente a casa onde moramos, a roupa que usamos, o transporte que utilizamos, os produtos que consumimos, a forma como ocupamos os tempos livres, entre outros.

O conceito de pegada ecológica abrange toda a área da qual a cidade depende. Esta área não corresponde aos limites físicos da cidade, mas sim a todo o território físico necessário para a produção dos recursos que consome. Assim, para que a sociedade seja sustentável, a “pegada ecológica” terá de ser inferior à biocapacidade do planeta ou região (Marques, 2009).

Aplicando o conceito de pegada ecológica ao nosso país, cada português necessita de 4,2 hectares de território produtivo de forma a dar resposta às suas necessidades (Garcia, 2008). Tendo em conta a área geográfica de Portugal e o número de habitantes em Portugal, temos apenas disponíveis cerca de 1,6 hectares por habitante, o que significa que, de forma a podermos produzir todos os recursos que consumimos, teríamos de ter disponíveis 2,7 países (Garcia, 2008).

Tendo em conta o impacto ambiental que as cidades produzem e o consumo de recursos que provocam, foram criados documentos internacionais que pretendem regulamentar o desenvolvimento sustentável das cidades, minimizando os prejuízos ambientais causados. Destacam-se o Livro Verde sobre o Ambiente Urbano (CEE, 1990), bem como a Declaração do Rio já referida anteriormente (UNCSD, 1992) complementada com a Agenda 21 e a Carta de Aalborg.

Vários autores procuram definir parâmetros que promovam a sustentabilidade das cidades, considerando que a cidade sustentável é aquela que pretende (Houg, 1998):

- Viver dentro dos seus limites ecológicos, consciente das ligações e impactos que tem noutras áreas do globo;

- Ser desenhada de modo a funcionar equilibrada e semelhante à natureza, integrando os processos naturais;

- Desenvolver uma relação simbiótica positiva com o seu hinterland, isto é, zona de influência;

- Ser auto-suficiente ao nível local e ao nível regional, tirando partido da economia, agricultura, produção de energia local/ regional, assim como de todas as outras atividades que sustentam as populações.

Simultaneamente, Marques (2009) enuncia prioridades que devem ser consideradas tanto à escala global, como a escala local, potenciando a sustentabilidade das cidades:

- Preservação da biodiversidade e dos ecossistemas;

- Diminuição do consumo de energia e o desenvolvimento de tecnologias com recurso a fontes alternativas de energia renovável, como a solar, a eólica e a geotérmica;

- Controlo do crescimento de urbanização desordenada e privilegiar a integração entre o campo e as cidades menores;

- Recurso a novos materiais na construção, cuja extração e/ ou produção provoquem menores impactos ambientais, assim como materiais amigos do ambiente, sem emissão de compostos orgânicos voláteis, por exemplo;

- Reutilização e reciclagem de materiais reaproveitáveis; - Consumo racional de água.

Considera-se que, só através do planeamento sustentável das cidades, promovendo o equilíbrio entre o homem e o ambiente, é possível garantir o futuro das sociedades atuais.

2.2 A CONTRIBUIÇÃO DOS ESPAÇOS VERDES URBANOS PARA