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2. OS ESPAÇOS VERDES E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

2.2 A CONTRIBUIÇÃO DOS ESPAÇOS VERDES URBANOS PARA O

2.2.1 Benefícios ecológicos

Os espaços verdes urbanos desempenham um papel fundamental na estrutura ecológica da cidade, essencial ao equilíbrio ambiental urbano. “As funções da árvore, mata e sebe viva na paisagem, considerando tanto os espaços rurais e naturais como os espaços urbanos e industriais, ou ocupados por infraestruturas, são as de garantir a presença da vida silvestre, promover a mais conveniente circulação da água e do ar, manter o equilíbrio dos ecossistemas, assegurar a fertilidade dos campos, contrabalançar com a sua presença, o artificialismo do meio urbano que tanto afeta a saúde psicossomática das populações, e ainda a de valorizar a escala e a proporção dos volumes edificados” (Cabral e Telles, 1995).

A vegetação desempenha um papel importante de regulação microclimática da temperatura na cidade, minimizando o efeito de “ilha de calor” (Alcoforado, 2010) 7

. Os pavimentos e os edifícios apresentam condutibilidade e capacidade térmicas mais elevadas do que as superfícies naturais. Por isso, os elementos inertes armazenam maior quantidade de calor durante o dia, o qual é irradiado durante a noite. De acordo com Saraiva (1989), a temperatura nas cidades tende a ser superior à paisagem natural envolvente, entre 6º C e 8º C. A utilização de vegetação poderá contrabalançar este aumento de temperatura. O espaço sombreado pela vegetação pode apresentar uma temperatura inferior a um espaço exposto à incidência direta de sol, variável entre os 5º C e os 10º C (Weinstein, 1999).

Um estudo realizado em 2004 na cidade de Baltimore analisou a importância da vegetação na regulação térmica da cidade, registando uma diferença significativa entre o centro da cidade e as zonas verdes. A diferença de temperatura entre uma zona pavimentada próxima do centro da cidade e uma zona verde chegou aos 10º C (Nowak, 2010). Por outro

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7 O efeito de “ilha de calor” reflete o aumento de temperatura do ar na cidade, superior ao registado em

campo aberto, devido às alterações que os materiais inertes provocam no balanço térmico da atmosfera (Magalhães, 2001).

lado, a transpiração do coberto vegetal conduz ao arrefecimento do ar e das folhas das plantas. Uma superfície vegetal viva e regada pode estar mais fria que o ar até vários graus, por exemplo 5º C, só pelo efeito de arrefecimento pela transpiração das folhas. Se a planta estiver em situação de défice hídrico, a transpiração reduz-se e a temperatura das folhas poderá subir vários graus centígrados, num dia de céu descoberto (Nowak, 2010).

A vegetação desempenha simultaneamente um papel importante na filtragem dos raios solares, retendo os raios ultravioleta, permitindo diminuir a irradiação de calor e reduzindo a intensidade da radiação até 20% (Bowler, 2010).

No que respeita ao vento, a vegetação arbórea e arbustiva pode desempenhar a função de corta-vento, controlando o movimento do ar e diminuindo o impacto do vento, através da obstrução, encaminhamento de direção, desvio e filtragem. Contudo os efeitos finais alcançados estão dependentes do tamanho e forma da planta, da densidade e regime de folhagem, da capacidade de retenção e da sua localização (Soares, 2006).

Simultaneamente, a vegetação pode contribuir para a diminuição do ruído (Fang, 2003) Segundo Dwyer (1992), ensaios de campo têm permitido concluir que árvores e arbustos reduzem significativamente o ruído. A combinação de faixas de vegetação altas e densas, combinadas com vegetação arbustiva e associada a uma modelação de terreno (em talude), podem reduzir a intensidade aparente8 em pelo menos 50%.

Outro benefício ambiental associado aos espaços verdes é a redução da poluição atmosférica, através da regulação do aumento da concentração e/ ou contaminação de alguns gases na atmosfera, prejudiciais para a saúde humana, ou para a atmosfera por provocarem o efeito estufa (Nowak, 2006). A vegetação possibilita a absorção de poluentes gasosos (O3, NO2 e SO2) através da superfície das folhas, interceção de partículas (pó, cinza, pólen e fumo), libertação de oxigénio e sequestro de dióxido de carbono pela realização da fotossíntese, evapotranspiração da água e sombreamento das superfícies diminuindo a temperatura e, consequentemente, as concentrações de azoto, entre outros (Soares, 2006).

A implantação de espaços verdes com elevado índice de permeabilidade contribui, ainda, para a infiltração das águas pluviais, promovendo a disponibilidade de água no subsolo, a recarga dos aquíferos e a diminuição dos riscos de cheia (Houghton, 1994). Na figura 2.6 é visível a integração do rio em meio urbano, existindo uma zona envolvente ao leito preparada para receber e infiltrar a água que aí se acumule após forte precipitação, contribuindo para atenuar desastres naturais decorrentes de eventos extremos de clima.

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8 A intensidade aparente (loudness) de um som representa a magnitude da sensação auditiva produzida

Ao mesmo tempo, a vegetação permite diminuir a velocidade de escoamento da água da chuva, aumentando o volume de água infiltrada (Campos et al., 2003). Ao reter a precipitação, o coberto vegetal permite retardar a chegada da precipitação ao solo, reduzindo a erosão edáfica e favorecendo a sua infiltração no solo. De acordo com Bolund e Hunhammar (1999), nas áreas verdes, apenas 5 a 15% das águas pluviais não se infiltram no solo, ou não evaporam.

Para além dos benefícios já mencionados, os espaços verdes urbanos podem contribuir para a proteção da qualidade do solo, através do uso adequado de fertilizantes e pesticidas, através de espécies que possam melhorar a qualidade do solo (e.g. espécies fixadoras de azoto) (Forest, 2010). Também através da fixação do solo pelas raízes, a vegetação contribui para a preservação do solo, assim como para a estabilização e consolidação de taludes (Fálcon, 2007).

Simultaneamente os espaços verdes urbanos promovem o aumento da biodiversidade na cidade, permitindo a existência de vida animal e vegetal dentro da cidade, constituindo importantes habitats de refúgio para a fauna e flora (Tzoulas et al., 2007). Apesar do valor ecológico dos espaços verdes urbanos não ser proporcional aos dos habitats naturais, a proximidade com a população urbana (com um contacto reduzido com a natureza) atribui-lhe um estatuto e um valor especial (RAMOS, et al., 2007: 105-134).

A consciencialização da importância dos espaços verdes na promoção da biodiversidade motivou, em 2002, um compromisso assumido por diversos países, no sentido de reduzir significativamente a taxa de perda da biodiversidade, até 2010, sendo aquele ano definido pelas Nações Unidas como o Ano Internacional da Biodiversidade. No entanto, os objetivos não foram alcançados pelo que vivemos hoje a Década das Nações Unidas para a Biodiversidade (2011-2020). A Convenção da Diversidade Biológica (CBD) estabelece diretrizes para a gestão da biodiversidade, comprometendo-se a um conjunto de 20 novos objetivos para o ano de 2020, cuja intenção é reduzir a perda de biodiversidade (CBD – Decisão X/2, 2010). A promoção da biodiversidade é aplicada às áreas denominadas para conservação da natureza constituindo os espaços verdes urbanos um espaço de oportunidade nas cidades.

Neste contexto, no nosso país, a Câmara Municipal de Lisboa propôs-se aumentar em vinte por cento a biodiversidade da cidade, estabelecendo um protocolo de Cooperação com a Lisboa E-Nova e o então Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, definindo um conjunto de estratégias a implementar, tendo por base uma caraterização inicial da biodiversidade de Lisboa (Santos, 2015).