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3. NECESSIDADES HÍDRICAS DAS PLANTAS REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.14 DETERMINAÇÃO DAS NECESSIDADES DE REGA

Para determinar a quantidade de água a aplicar para a rega de um espaço verde, é necessário ter em conta:

- A capacidade de extração de água pelas plantas; - A evapotranspiração e a precipitação efetiva; - O teor de água armazenado no solo;

- Eventuais contribuições de água provenientes de camadas mais profundas do solo, ou a partir da toalha freática, por ascensão capilar;

- O método de rega implementado, sendo que no subcapítulo 4.3 serão abordados em detalhe os métodos de rega vulgarmente utilizados na rega dos espaços verdes urbanos;

- O intervalo entre regas (Pereira, 2004).

3.14.1 DETERMINAÇÃO DAS NECESSIDADES DE REGA ATRAVÉS DA

UTILIZAÇÃO DOS DADOS DISPONÍVEIS DE EVAPOTRANSPIRAÇÃO

DE REFERÊNCIA

A utilização dos dados mensais históricos de evapotranspiração de referência (ET0) permitem estimar os consumos diários de água pelas plantas. Este método baseia-se na recolha de informação disponível referente aos registos mensais de ET0 disponíveis, baseando- se assim numa forma indireta de quantificar o teor de humidade do solo (McCabe, 2005).

Uma vantagem deste método é o facto de permitir adaptações mensais à dotação de rega. No entanto, as condições meteorológicas alteram com frequência para o mesmo mês, de um ano para o outro, não sendo muito fiáveis e podendo provocar a determinação de dotações de rega por defeito ou por excesso (McCabe, 2005).

3.14.2 DETERMINAÇÃO DAS NECESSIDADES DE REGA ATRAVÉS DA

UTILIZAÇÃO DE SENSORES QUE MEDEM O TEOR DE HUMIDADE

DO SOLO

A principal vantagem deste método é a monitorização do teor de humidade do solo, na zona explorada pelas raízes das plantas, em tempo real. As medições fornecidas pelos sensores refletem a água transpirada pelas plantas e evaporada pelo solo, a precipitação efetiva e a dotação de rega aplicada, dispensando a utilização de dados meteorológicos. A principal desvantagem deste método é a necessidade de instalação de vários sensores de forma a representarem de forma fidedigna o teor de humidade do solo (McCabe, 2005).

3.14.3 DETERMINAÇÃO DAS NECESSIDADES DE REGA ATRAVÉS DA

APLICAÇÃO DO MÉTODO DO BALANÇO HÍDRICO DO SOLO

O cálculo do balanço hídrico do solo no sentido de simular o teor de humidade, para espaços verdes urbanos, pode ser obtido pela aplicação da equação 3.20:

θ i = θ i-1 + (Ri – Qri) + IWRNET i – ETLi – DPi + GWi [3.20] 1000 z r i

Em que:

θ i : teor de água do solo na zona radicular no dia i [mm mm-1] θ i-1:teor de água do solo na zona radicular no dia i-1 [mm mm-1] Ri: precipitação no dia i [mm]

Qri: escoamento superficial no dia i [mm]

IWRNET i – necessidades líquidas de água para rega no dia i [mm] ETLi: evapotranspiração no dia i [mm]

GW i : contribuição da água subterrânea [mm]

Z ri : profundidade estimada da zona radicular no dia i [mm]

O cálculo do balanço hídrico para calcular as necessidades de água para rega é feito através da simplificação da equação anterior [3.20], uma vez que, se acordo com Pereira (2004) se pode assumir Q=0 e DP=0:

θ i = θ i-1 + Rei + IWRNET i – ETL i + GW i [3.21] 1000 Z r i

Em que:

θ i : teor de água do solo na zona radicular no dia i [mm mm-1] θ i-1:teor de água do solo na zona radicular no dia i-1 [mm mm-1]

Rei - precipitação efetiva, ou seja, aquela está efetivamente disponível para as plantas, no dia i [mm]

IWRNET i – necessidades líquidas de água para rega no dia i [mm] ETLi - evapotranspiração no dia i [mm]

Z r i – profundidade estimada da zona radicular no dia i [mm] GW i – contribuição da água subterrânea [mm]

A equação 3.22 permite determinar as necessidades de água para rega, para o dia em que teor de água do solo na zona radicular (θ i) atinge o limiar:

θ t = (1 – p) (θFC – θWP) + θWP [3.22]

em que p representa a fração de água do solo extraível da zona radicular sem que as plantas atinjam o stress hídrico.

Contudo a rega pode ser conduzida para um limiar diferente que traduz a extração de água desejada em termos de gestão de rega, apresentada anteriormente e designada por MAD. Assim, os valores de MAD e de p podem não ser coincidentes, assumindo, de acordo com Pereira (2004):

- MAD <p: quando se pretende diminuir o risco de stress hídrico, assim como as incertezas relacionadas com a gestão de rega;

- MAD> p: quando se assume a gestão de rega provocando stress hídrico, por decisão do gestor de rega ou por condicionantes ambientais em que não existem suficientes recursos hídricos disponíveis.

Para determinar a data de aplicação de rega, de acordo com os objetivos de gestão de rega, recorre-se à equação 3.23:

θi = θMAD = (1 – MAD) (θFC – θWP) + θWP [3.23]

A dotação de água de rega a aplicar para restabelecer a água do solo até ao teor de humidade correspondente à capacidade de campo, é calculada através da equação:

IWRNET i = 1000 zri (θFC – θi) [3.24]

Existem vários modelos de simulação do balanço hídrico, que permitem determinar, de forma precisa as necessidades de rega das culturas. Dos modelos existentes, destaca-se o ISAREG (Teixeira, 1992) desenvolvido no Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa, no departamento de Engenharia Rural. O modelo, apresentado de forma esquemática na figura 3.3 (Pereira, 2004) é composto por três módulos que desempenham respetivamente as seguintes funções:

- Cálculo da evapotranspiração de referência evapotranspiração de acordo com o método FAO-PM;

- Parametrização da cultura;

- Simulação do balanço hídrico de um solo regado, calculando a necessidade hídrica para a cultura em análise, a necessidade de rega com diferentes compassos de tempo.

Em 2007 foi criado, na mesma instituição, o modelo GardenISA (Ferreira, 2007) uma ferramenta de apoio à gestão de rega de espaços verdes, que utiliza os conceitos

Figura 3.3 – Esquema do modelo ISAREG com indicação dos programas associados, dos dados utilizados, dos procedimentos de cálculo e do tipo de resultados. Fonte: Pereira, 2004

anteriormente referidos para o cálculo das necessidades hídricas das várias hidrozonas que constituem um espaço verde.