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4. ESTRATÉGIAS DE GESTÃO SUSTENTÁVEL DA ÁGUA EM ESPAÇOS VERDES

4.3 CRITÉRIOS DE PLANEAMENTO ASPETOS TÉCNICOS

4.3.1 Rede de rega

4.3.1.2 Rega por aspersão

Vários autores consideram que os primeiros dispositivos de rega por aspersão surgiram nos lendários “Jardins da Babilónia” (Bonnechere, 1998). Estes jardins foram construídos pela civilização Suméria, presumivelmente entre 604 e 562 a.C., e dele faziam parte sistemas de controlo exímio da água, que permitiam a criação de um complexo sistema de irrigação e drenagem, possibilitando a sobrevivência das plantas num ambiente seco (Castel-Branco, 1996).

O primeiro sistema de rega por aspersão com semelhanças com os que encontramos hoje em dia foi implementado em 1897, perto da cidade alemã de Poznan (Raposo, 1994b).

Os primeiros aspersores rotativos foram criados nos Estados Unidos em 1914 e, na Europa, na Alemanha, só surgem oito anos mais tarde. Posteriormente, na década de 30, surgiram os aspersores de impacto e os tubos em aço leve com ligações rápidas, o que permitiu que a rega por aspersão fosse utilizada em várias culturas (Pereira, 2000).

No entanto, os grandes desenvolvimentos no método de rega por aspersão ocorreram após a 2ª Guerra Mundial, período após o qual a rega por aspersão se começou a difundir pelo mundo, e a ser implementada em maior escala, sobretudo na Alemanha, Itália e Estados Unidos (Raposo, 1996a).

Nos anos 50 são inventados novos aspersores, tubos de alumínio e desenvolvem-se sistemas de bombagem mais eficientes e, na década de 60 surgem as rampas pivotantes que permitem reduzir os custos de implementação deste método de rega, associados a regas de alta frequência, possibilidade de automatização e redução da mão-de-obra (Pereira, 2000).

Em Portugal os aspersores rotativos surgem na Primavera de 1954, mas Raposo (1996a) considera que estes apresentaram uma expansão relativamente lenta até há algumas décadas atrás.

A rega por aspersão regista, até aos nossos dias, constantes aperfeiçoamentos que permitem que esta metodologia de rega se adapte a uma vasta gama de vegetação, solos, topografia e clima. Atualmente cerca de 10% das áreas regadas em todo o Mundo recorrem à rega por aspersão, sendo esta percentagem superior em países desenvolvidos e com custos de energia reduzidos (Pereira, 2000).

A rega por aspersão pode ocorrer através de dois tipos distintos de emissores: os aspersores (são aparelhos que regam geralmente em jato rotativo e possuem um grande

Quadro 4.15 – Classificação da uniformidade de distribuição (DU) para aspersores (McCabe, 2005) alcance) e os pulverizadores (aparelhos que regam em jato fixo e são utilizados quando se pretende menor alcance, frequentemente até aos cinco metros) (Pacheco, 2009).

De forma a garantir a uniformidade da distribuição (DU) de um sistema de rega por aspersão, há que ter em conta a escolha correta dos aparelhos, assim como a sua disposição. Devem ser colocados em intervalos o mais regulares possível, em padrões quadrados, triangulares ou retangulares, conforme as condicionantes do local.

Para além da tipologia de aparelho e do seu espaçamento, a uniformidade de distribuição também pode ser afetada por outros fatores como sendo a pressão da água e a velocidade e direção do vento. Para Pereira (2004), sistemas de rega com baixa uniformidade conduzem a distribuições irregulares de água, conduzindo a situações de excesso e de défice de infiltração em partes da parcela. Consequentemente existe um consumo exagerado de água, assim como perdas de produção e de fertilizantes uma vez que a água infiltrada percola para horizontes mais profundos, para além da zona radicular (Pereira (2004).

O cálculo da uniformidade de distribuição é feito através de testes com pluviómetros, comparando as médias dos volumes dos copos pertencentes ao quartil inferior das amostras, com as médias dos volumes das amostras (McCabe, 2005).

Em rega por aspersão, a uniformidade de distribuição pode ser calculada a partir da equação 4.7, sendo tanto maior quanto mais próxima de 1 for a relação entre ZLQ / Vavg.:

DU= 100 (Zlq / Vavg ) [4.7] em que:

DU - uniformidade de distribuição (em percentagem)

Zlq - médias dos volumes dos coletores pertencentes ao quartil inferior das amostras (em milímetros)

Vavg - médias da altura de água observada nas amostras (em milímetros)

O quadro seguinte (quadro 4.15) classifica a uniformidade de distribuição para aspersores com diferentes características: fixos, rotativos ou de impacto.

Tipo de aspersores Excelente (%) Muito boa (%) Boa (%) Suficiente (%) Má (%) Fixo 75 65 55 50 40 Rotativo 80 70 65 60 50 Impacto 80 70 65 60 50

McCabe (2005) apresenta um fator de ajustamento para situação em que as condições de funcionamento sofrem alteração em termos de uniformidade, designado por multiplicador de tempo de funcionamento (RTM – run time multiplier), já abordado no capítulo 3 - “Necessidades Hídricas das Plantas – Revisão Bibliográfica”.

Um outro conceito importante no sentido de otimizar a gestão da água de rega, também referido no capítulo 3 - “Necessidades Hídricas das Plantas – Revisão Bibliográfica”, é o de eficiência geral do sistema de rega uma vez que, de toda a água que é fornecida às plantas, uma parte pode ser perdida no transporte e distribuição e outra parte pode ser perdida durante a aplicação da rega devido à ineficiência do sistema.

Assim, a análise da eficiência do sistema de rega (ES) permite conhecer, da totalidade de água de rega fornecida ao espaço verde, o volume de água de que as plantas efetivamente beneficiam, contribuindo para satisfazer as suas necessidades hídricas. A eficiência geral do sistema de rega pode ser obtida de três diferentes formas, em função dos dados disponíveis, de acordo com as fórmulas de cálculo apresentadas no capítulo 3 - “Necessidades Hídricas das Plantas – Revisão Bibliográfica” (McCabe, 2005).

A qualidade da água influencia a escolha do sistema de rega. No caso da rega por aspersão, esta não deve ser utilizada para distribuir água com uma salinidade elevada uma vez que a água salina pode provocar queimaduras ao cair sobre as folhas (Sitton, 2000).

Também o tipo de solo influencia o método de rega, não sendo a aspersão indicada para solos argilosos por apresentarem uma taxe de infiltração muito baixa, menor ou igual a três milímetros por hora (Pereira, 2000). Simultaneamente, a taxa de infiltração do solo deve estar em concordância com a dotação dos aspersores ou pulverizadores, de forma a evitar escoamento superficial de água em excesso, que não se infiltra, com consequentes problemas de encharcamento e erosão (Pacheco, 2009).

Os sistemas de rega por aspersão podem não ser eficazes em situações de excesso de vento, umas vez que este afeta os padrões de distribuição da água, causando danos na vegetação, sobretudo naquela que se situa no lado oposto ao vento (Pereira, 2000)