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7 ÁREAS DE RISCO DE DESASTRES AMBIENTAIS NA CIDADE DE

7.2 Áreas de risco ameaçadas por movimentos de massa

As dunas costeiras arenosas, independentemente da fitoestabilização, são ambientes naturais que requerem atenção especial quanto ao uso e ocupação. As dunas móveis são os ambientes de maior instabilidade morfodinâmica nesse contexto, cujas respostas em termos de adaptação à degradação da morfologia potencializam danos materiais e humanos à sociedade.

A ocupação urbana desordenada sobre o campo de dunas, conforme se verifica em Fortaleza, representa um fator agravante para a suscetibilidade de ocorrência desses movimentos de massa, sobretudo pelo desmatamento generalizado e interrupção do fluxo das águas pluviais, gerando a concentração da umidade em setores específicos, produzindo a saturação dos sedimentos.

No sítio urbano fortalezense as dunas estão dispostas paralelamente à linha da costa, em uma faixa que vai de dezenas de metros até 3 km em alguns trechos, com maior expressão espacial no litoral leste. Apresentam perfil dissimétrico, com declive suave a barlavento e abrupto a sotavento. Os dois mais representativos campos localizam-se na porção

oeste, nos bairros Barra do Ceará e Pirambu; e, na porção leste, a retaguarda do Porto do Mucuripe e Praia do Futuro (LIMA e FRANÇA, 1976, p.21; MORAIS, 1980; p.52).

As corridas de detritos geralmente ocorrem nas encostas mais abruptas das dunas do Morro Santiago e Santa Terezinha, durante episódios de chuvas intensas ou extremas. O primeiro localiza-se no litoral extremo oeste da cidade, próximo à margem direita da foz do Rio Ceará (montante-jusante). O segundo localiza-se na porção nordeste do sítio urbano, no litoral leste, próximo ao Porto do Mucuripe. Ambos apresentam grande concentração de moradias precárias instaladas de forma inadequada, com riscos de desmoronamento e soterramento devido aos movimentos de massa.

Na encosta norte da paleoduna onde se localiza a Santa Casa de Misericórdia, no bairro Centro, ocorreu um evento de corrida de detritos no dia 31 de março de 2014, que ocasionou a interrupção temporária do trânsito de veículos na Avenida Leste-Oeste, no sopé. No dia da ocorrência foi registrado um total pluviométrico de 116,6 mm na cidade, sob a vigência da ZCIT.

Na maior parte dos campos de dunas da cidade de Fortaleza, além da declividade das vertentes, o principal fator desencadeador das corridas de detritos é a saturação do material arenoso com umidade proveniente das águas das chuvas concentradas. Esse tipo de ação natural potencializa a destruição de imóveis e infraestruturas.

Nas dunas frontais do litoral oeste, região do Grande Pirambu, movimentos de massa são desencadeados devido ao solapamento basal provocado pela abrasão das ondas em períodos de maré alta ou ressacas do mar.

As dunas no litoral oeste de Fortaleza estão dispostas de forma contínua, no sentido O e SE, na mesma linha de direção dos ventos. Apresentam 2.577m de faixa de extensão, 755m de largura e perfil com declividade suave a barlavento (leste) e abrupto a sotavento (oeste). As altitudes variam entre 25 metros nas dunas fixas e 30 metros nas dunas semifixas (LIMA e FRANÇA, 1976, p.23).

A ocupação das dunas nesse setor do litoral foi intensificada a partir da década 1980, processo foi motivado pela crescente demanda dos grupos sociais de baixa renda por moradia. A construção de conjuntos habitacionais pelo governo do estado do Ceará, como o Planalto das Goiabeiras, através da Fundação PROAFA, e o Polo de Lazer da Barra do Ceará, em 1982, contribuiu para a consolidação da ocupação nessa região da cidade.

Nesse contexto, os campos de dunas apresentam predomínio de comunidades carentes, com assentamentos bastante heterogêneos, em termos construtivos dos imóveis e qualidade das infraestruturas. São comuns os avanços de sedimentos sobre imóveis

residenciais, provocando o soterramento progressivo. Menos frequentes, os movimentos de massa provocam impactos mais severos, causando avarias ou destruição total das habitações.

Localizado na Comunidade das Goiabeiras, o Morro Santiago constitui-se das dunas com as encostas mais íngremes nessa parte do litoral (figura 34). Apresenta histórico de corridas de detritos nas vertentes a oeste, norte e sul. A instalação progressiva de moradias extremamente precárias suscitou a elevada predisposição aos acidentes, por conta de eventos naturais, como o ocorrido na madrugada do dia 09 de dezembro de 2008. Nessa data o Jornal Tribuna do Ceará noticiou um “deslizamento” destruindo e danificando várias residências, deixando outras em risco de desabamento (MAGALHÃES E SILVA, 2009).

Figura 34 - Morro Santiago: extremo noroeste da cidade de Fortaleza, bairro Barra do Ceará.

Fonte: acima: imagem de satélite datada de 19 de dezembro de 2016 - Google Earth, 2017; abaixo: <https://www.norteandovoce.com.br/regioes/ceara/conheca-a-barra-do-ceara-vista-de-cima/>.

No litoral leste, entre a foz do rio Cocó e a ponta do Mucuripe, as dunas estão dispostas de forma retilínea em relação à linha de costa e orientadas no sentido NW-SE. Apresentam 6.186m de faixa de extensão, 1.660m de largura. As cotas altimétricas variam de 5 a 70 metros (LIMA e FRANÇA, 1976, p.23).

Nesse setor do litoral, o campo de dunas encontra-se densamente ocupado pelos bairros Mucuripe, Vicente Pinzon, Cais do Porto, Papicu, Lourdes e Praia do Futuro. Destacam-se, nesse contexto, as comunidades que formam o Morro Santa Terezinha, localizado na porção nordeste do sítio urbano, à retaguarda do Porto do Mucuripe (figura 35).

Entre 1980 e 1983 foi construído o conjunto Santa Terezinha pelo governo do estado do Ceará, através da Fundação PROAFA, como parte do programa de erradicação de favelas. Nele foram edificadas 1.022 casas, em quatro etapas. Nas adjacências do conjunto, em áreas consideradas impróprias à urbanização, foram instaladas progressivamente favelas nas encostas mais íngremes.

Segundo estudo realizado por Carneiro et al. (2013), as vertentes situadas entre os topos dos morros e os taludes mais íngremes, com declividade que variável entre 14 e 41%, apresentam a maior suscetibilidade aos processos erosivos de maior magnitude.

Figura 35 - Morro Santa Terezinha: nordeste da cidade de Fortaleza. exemplos de comunidades em encostas íngremes.

A ocupação inadequada das encostas no Morro Santa Terezinha foi uma alternativa utilizada pela população de baixa renda para ter acesso à moradia. Contudo, a inadequação ambiental contribuiu historicamente para eventos de movimentos de massa, com riscos de soterramento dos imóveis. Duas comunidades se destacam quanto a esse tipo de problema, a encosta do Mirante, em destaque nas fotografias da figura 36, e o Morro do Teixeira, representado na figura 37.

Figura 36 – Encosta do Mirante, bairro Vicente Pinzon.

Fonte: fotos a e b: Diêgo Paula de Araújo (2010); fotos c e d: autor (2012). Figura 37 – Morro do Teixeira, bairro Cais do Porto. Fevereiro de 2017.

Na mesma encosta onde se localiza o Morro do Teixeira, no setor mais a oeste, ocorreu um evento de corrida de detritos que exemplifica essa ameaça natural. No dia 03 de janeiro de 2015, chuvas com totais médios registrados de 28,3 mm provocaram um movimento de massa muito rápido, com deslocamento de grande quantidade de material arenoso, interrompendo parcialmente o trânsito de veículos na Avenida Abolição, em frente ao Iate Clube de Fortaleza (figura 38).

Figura 38 - Morro Santa Terezinha, Bairro Vicente Pinzon: corrida de detritos na encosta da duna.

Fonte: O Povo (2017); Diário do Nordeste (2016); Tribuna do Ceará (2015); O Estado (2015).

As 22 áreas de risco ameaçadas por movimentos de massa em Fortaleza são formadas, na maioria, por favelas (19), mas, também, por assentamento do tipo mutirão (03) (figura 39). Ocupam área de 1,9 km², com 13.266 imóveis expostos às corridas de detritos, com 19.236 famílias ameaçadas (quadro 36). Concentram-se principalmente no litoral leste, em bairros como Vicente Pinzon, Praia do Futuro II, Cais do Porto, Praia do Futuro I, Mucuripe e Manoel Dias Branco. No litoral oeste, duas comunidades, Morro Santiago e Goiabeiras, localizam-se no bairro Barra do Ceará (figura 40).

Quadro 36 – Cidade de Fortaleza: áreas de risco por movimentos de massa.

Área de risco Bairro Tipo do assentamento Área (m2) Imóveis Habitantes Famílias

Dunas II/Goiabeiras Barra do Ceará Favela 93.781 642 2568 930,9 Morro Santiago Barra do Ceará Favela 55.252 349 1396 506,05 Castelo Encantado Cais do Porto Mutirão 468.416 1.585 6340 2298,25 Morro do Mirante Cais do Porto Favela 31.816 257 1028 372,65 Morro do Teixeira Cais do Porto Favela 3.642 93 372 134,85 Lagoa/Morro do Gengibre Manuel Dias Branco Favela 21.297 280 1120 406

Terramar Mucuripe Favela 97.868 618 2472 896,1 Luxou Praia do Furuto I Favela 72.140 700 2800 1015 Caça e Pesca/Barra do Cocó Praia do Furuto II Favela 219.205 1.390 5560 2015,5

31 de Março Praia do Furuto II Favela 47.052 549 2196 796,05 Favela dos Cocos Praia do Furuto II Favela 67.851 810 3240 1174,5 Colônia/Embratel Praia do Furuto II Favela 59.927 375 1500 543,75 São Pedro/Farol Novo Vicente Pinzón Mutirão 143.996 947 3788 1373,15 Conjunto Trajano de Medeiros Vicente Pinzón Mutirão 10.173 75 300 108,75

Lagoa do Coração Vicente Pinzón Favela 112.108 1.120 4480 1624 Rua Trajano de Medeiros Vicente Pinzón Favela 26.213 298 1192 432,1 Comunidade do Buraco/Morro Santa Terezinha Vicente Pinzón Favela 98.863 696 2784 1009,2 Morro da Vitória/Farol Novo 2 Vicente Pinzón Favela 167.990 826 3304 1197,7 Joana D'arc Vicente Pinzón Favela 28.626 195 780 282,75 Morro das Placas Vicente Pinzón Favela 31.487 234 936 339,3 Comunidade Aristides Barcelos Vicente Pinzón Favela 3.457 400 1600 580

Morro do Sandra Vicente Pinzón Favela 76.324 827 3308 1199,15

Totais 1.937.484 13.266 53.064 19.236

Fonte: autor.

Figura 39 – Cidade de Fortaleza: áreas de risco por movimentos de massa.

Figura 40 - Cidade de Fortaleza: exemplos de comunidades ameaçadas por movimentos de massa.

Fonte: autor, utilizando fotos aéreas de 2010, disponibilizadas pela SEFIN/PMF.

Nota: (1) Comunidades Morro Santiago e Goiabeiras, localizadas nos bairro Barra do Ceará, próximas à margem direita do rio Ceará; (2) Comunidade Encosta do Mirante, localizada no bairro Vicente Pinzon; (3) Comunidade

do Gengibre, localizada no bairro Manuel Dias Branco, na margem norte da lagoa do Gengibre.