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2 OBJETO DE ESTUDO E ASPECTOS TEÓRICOS-CONCEITUAIS

2.3 A abordagem institucional sobre os riscos de desastres ambientais no

2.3.1 Classificação oficial dos desastres no Brasil

O Sistema de Codificação Brasileira de Desastres (COBRADE) foi instituído, atualizando a Sistema brasileiro de classificação, tipificação e codificação de desastres, ameaças e riscos (CODAR), adotando a classificação utilizada pelo Banco de Dados Internacional de Desastres (EM-DAT) do Centro para Pesquisa sobre Epidemiologia de Desastres (CRED) e da Organização Mundial de Saúde (OMS/ONU), incluindo desastres específicos ocorridos no Brasil (BRASIL, 2014).

A atualização foi fundamental para a simplificação e uniformização das definições, adequação da classificação brasileira aos padrões da ONU e contribuição efetiva para o banco de dados internacional. Possibilita também registros históricos da ocorrência de

desastres no país, em banco de dados contextualizado temporalmente e espacialmente, subsidiando o planejamento.

A COBRADE distingue duas categorias principais de desastres em função das ameaças: natural e tecnológico. A atualização em relação ao CODAR alterou os 158 tipos de desastres sintetizando-os em apenas 82.

A categoria “Desastres Naturais” divide-se em cinco Grupos, treze Subgrupos, vinte e quatro Tipos e vinte e três Subtipos. Os grupos são: geológicos, hidrológicos, meteorológicos, climatológicos e biológicos. A categoria “Desastres Tecnológicos” divide-se em cinco Grupos, quinze Subgrupos e quinze Tipos. Além da origem os desastres são tipificados também pela periodicidade, evolução e intensidade (quadro 5).

A classificação quanto à intensidade segue critérios baseados na relação entre recursos necessários para o restabelecimento da situação de normalidade e a disponibilidade desses recursos na área afetada e nos níveis superiores: estadual e federal. Dessa forma, podem ser de média (nível I) ou de grande intensidade (nível II) (quadro 6).

Para caracterização dos desastres é também fundamental a estimativa de danos humanos, materiais, ambientais, prejuízos econômicos e serviços essenciais prejudicados (quadro 7).

Quadro 5 - Classificação dos desastres no Brasil: COBRADE.

Classificação Descrição D E SA ST R E S

Origem Naturais Causados por processos ou fenômenos naturais.

Tecnológicos Originados de condições tecnológicas ou industriais, incluindo acidentes, procedimentos perigosos, falhas na infraestrutura ou atividades humanas

específicas.

Periodicidade Esporádicos Ocorrem raramente, com possibilidade limitada de previsão.

Cíclicos ou sazonais Ocorrem periodicamente, relacionando-se a determinados períodos do ano.

Evolução Súbitos Evolução aguda: evolução rápida e forte intensidade dos eventos causadores,

podendo ser surpreendentes ou previsíveis.

Graduais Evolução crônica: evoluem em agravamento progressivo.

Intensidade Média intensidade Produzem um cenário em que os danos e prejuízos são suportáveis e superáveis pelos governos locais, garantindo esses o restabelecimento da situação de normalidade, complementados por recursos estaduais e federais. Enseja a

decretação de Situação de Emergência.

Grande intensidade Produzem danos e os prejuízos não superáveis e suportáveis pelos governos locais, mesmo que preparados. A volta à situação de normalidade depende da ação coordenada dos três níveis de governo, municipal, estadual e federal, e, em

alguns casos, de apoio internacional. Ensejam a decretação de Estado de Calamidade Pública.

Quadro 6 - Caracterização dos desastres quanto à intensidade: nível I e II. Características Nível I - média intensidade Nível II - grande intensidade

Danos e prejuízos Suportáveis e superáveis localmente Insuportáveis e insuperáveis localmente

Situação de

normalidade Restabelecida com recursos locais Depende de recursos externos

Decretação

ensejada Situação de emergência (SE) Estado de calamidade pública (ECP)

Nível de danos Pelo menos dois tipos Pelo menos dois tipos

Danos humanos 1 a 9 mortos; até 99 afetados; Acima de 10 mortos; acima de 100 afetados;

Danos materiais 1 a 9: danos ou destruição Acima de 10: danos ou destruição

Instalações públicas; Instalações públicas;

Unidades habitacionais de baixa renda; Unidades habitacionais de baixa renda;

Obras de infraestrutura. Obras de infraestrutura.

Danos ambientais Contaminação recuperável em curto prazo; Contaminação recuperável em médio ou longo

prazo;

10 a 20% da pop. Afetada (até 10 mil hab.); Mais de 20% da pop. Afetada (até 10 mil hab.); 5 a 10% da pop. Afetada (mais de 10 mil hab.); Mais de 10% da pop. Afetada (mais de 10 mil hab.); Até 40% das unidades de conservação afetadas; Mais de 40% das unidades de conservação afetadas; Prejuízos Acima de 2,77% da receita corrente líquida anual; Acima de 8,33% da receita corrente líquida anual;

Relacionado com o colapso de serviços essenciais; Relacionado com o colapso de serviços essenciais;

Fonte: Instrução Normativa nº 01, de 24 de agosto de 2012 (BRASIL, 2012c).

Quadro 7 - Definição dos tipos de danos e prejuízos causados por desastres.

Danos Descrição

Humanos2 Mortos; feridos; enfermos; desabrigados; desalojados; desaparecidos; e, em longo prazo, pessoas

incapacitadas temporariamente e definitivamente.

Materiais Bens imóveis e instalações danificadas ou destruídas: unidades habitacionais, imóveis e equipamentos públicos e particulares relativos aos serviços essenciais, veículos, meios de produção, mercadorias. Ambientais Contaminação e/ou poluição das águas, dos solos, da atmosfera local, a degradação da fauna e da

flora, com a redução da biodiversidade. Prejuízo

econômico Medida quantitativa relativa ao valor econômico, social, histórico e cultural relacionado a um bem material ou imaterial. É geralmente difícil de ser avaliado. Podem ser públicos ou privados. Prejuízos

públicos3 Os mais importantes coletivamente. Envolvem danos materiais relacionados aos bens ou instalações públicas de prestação de serviços essenciais.

Fonte: Instrução Normativa nº 01, de 24 de agosto de 2012 (BRASIL, 2012c).

A classificação de desastres tem importância de ordem legal à medida que a decretação de Situação de Emergência ou de Estado de Calamidade Pública somente é realizada em função de desastres definidos no COBRADE.

Para tanto, se utiliza o Formulário de Identificação de Desastres (FIDE), ferramenta da análise de danos e prejuízos provocados por desastres baseado em critérios oficiais, decorrente da avaliação do cenário e elaboração do parecer sobre os danos, realizado pelas equipes de Defesa Civil do Município, do Estado ou do Distrito Federal, a ser encaminhado para o órgão federal responsável. As alterações realizadas na elaboração da

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Desabrigados: são as pessoas cujas habitações foram destruídas ou danificadas por desastres, ou estão localizadas em áreas com risco iminente de destruição, e que necessitam de abrigos temporários para serem alojadas. Desalojados: são as pessoas cujas habitações foram danificadas ou destruídas, mas que não, necessariamente, precisam de abrigos temporários. Muitas famílias buscam hospedar-se na casa de amigos ou parentes, reduzindo a demanda por abrigos em situação de desastre. Desaparecidos: até provar o contrário, são considerados vivos, porém podem ser considerados desparecidos quando estão em situação de risco de morte iminente e em locais inseguros e perigosos, demandando esforço de busca e salvamento para serem encontrados e resgatados com o máximo de urgência.

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Assistência médica, saúde pública e atendimento de emergências Médico-cirúrgicas; Abastecimento de água potável; Esgoto de águas pluviais e sistema de esgotos sanitários; Sistema de limpeza urbana e de recolhimento e destinação do lixo; Sistema de desinfestação e desinfecção do habitat e de controle de pragas e vetores; Geração e distribuição de energia elétrica; Telecomunicações; Transportes locais, regionais e de longas distâncias; Distribuição de combustíveis, especialmente os de uso doméstico; Segurança pública; e ensino.

COBRADE permitiram uma padronização dos registros oficiais das ocorrências usando os códigos preenchidos no FIDE nos episódios catalogados.