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2 OBJETO DE ESTUDO E ASPECTOS TEÓRICOS-CONCEITUAIS

2.2 A abordagem sobre desastres ambientais

2.2.3 Vulnerabilidade social como fator de riscos de desastres

Os riscos de desastres ambientais existem objetivamente em função da vulnerabilidade dos grupos sociais aos efeitos adversos dos eventos naturais, cujas causas complexas são produzidas pela relação sociedade, natureza e tecnologia.

Dependente das condições socioeconômicas dos grupos sociais, esse tipo de problema envolve aspectos como o avanço da pobreza, precárias condições de moradia, ocupação inadequada do meio físico e degradação ambiental.

A evidência da vulnerabilidade permite definir quais os grupos sociais estão em risco de desastre de acordo com o ambiente que ocupam, atribuindo maior importância ao objeto ameaçado em relação ao evento ameaçador.

As respostas negativas frente ao evento ameaçador caracterizam a situação de vulnerabilidade que conduz aos riscos. Em contrapartida, uma postura positiva é entendida como resiliência, ou seja, suporte adequado frente às consequências possíveis.

Lavell (1999, p.3), no contexto dos riscos aos desastres, enfatiza que na realidade é impossível falar de ameaça sem a presença de vulnerabilidade e vice-versa. Sem a propensão de sofrer danos frente a um evento determinado não há ameaça, mas somente um evento natural sem repercussões na sociedade. Sem a vulnerabilidade e sem ameaças não há risco.

Cardona (2001, p.2) corrobora com essa ideia ao dizer que a vulnerabilidade só existe em função de uma ameaça natural, e reciprocamente, para existir a ameaça é necessário que o sujeito alvo (elementos, indivíduo ou sistema) esteja exposto e vulnerável à ação potencial que representa a ameaça.

Segundo Marchezini (2009, p.52 e 53), a vulnerabilidade é a questão chave para entendimento dos desastres. Se não houver vulnerabilidade, os grupos sociais em interação com os eventos naturais (de diferentes magnitudes e intensidades) não sofrerão os efeitos adversos.

Um evento natural somente provoca um desastre quando atinge uma população com reduzida capacidade de resistência, resiliência e resposta. Essa incapacidade é entendida como a vulnerabilidade, reproduzida na maior ou menor sujeição de determinados grupos sociais e seus territórios de sofrerem danos nos aspectos materiais do território, integridade física e psicológica dos indivíduos e famílias e nas condições socioeconômicas.

No entendimento de Confalonieri (2003, p.200) o grupo social vulnerável não tem capacidade de se antecipar, lidar com, resistir e recuperar-se dos impactos potenciais dos eventos naturais. Trata-se de uma condição que se vincula à dificuldade de acesso aos meios financeiros, materiais e tecnológicos para proteção face às adversidades.

A vulnerabilidade é, dessa forma, uma condição de sujeição aos impactos produzida pela reduzida capacidade de defesa e adaptação frente aos processos com potencial de danos, decorrentes da ocupação inadequada de ambientes suscetíveis às ameaças.

O conceito de vulnerabilidade no âmbito dos desastres tradicionalmente aceito pela defesa civil brasileira a define como uma condição intrínseca ao corpo ou sistema receptor que, em interação com a magnitude do evento ou acidente, define os efeitos adversos,

medidos em termos de intensidade dos danos previstos. São as condições que fragilizam uma dada população, comunidade ou indivíduo. O grau de vulnerabilidade geralmente é medido em função da possibilidade e intensidade dos danos e da magnitude da ameaça (CASTRO, 1999, p. 9).

Valêncio (2009b), Geraldi (2009, p.108, 129), Soriano e Valêncio (2009), Souza e Zanella (2009, p.27), Chaple e Rodriguez (2012) e Carpi Júnior (2012, p.32, 36) consideram a vulnerabilidade como uma predisposição histórica das comunidades que as tornam ameaçadas frente ao evento natural potencialmente danoso, condicionando a existência do risco de desastres a partir do entrelaçamento das dimensões históricas, socioeconômicas, políticas e culturais.

De acordo com Pizarro (2001), em publicação da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), a vulnerabilidade social relacionada aos desastres é uma condição de exposição a riscos, articulada com a impossibilidade de controlar os efeitos da materialização do mesmo, ou seja, é a incapacidade de cada indivíduo, família ou comunidade de enfrentar os riscos, mediante uma resposta interna, exigindo apoio externo. A incapacidade para dar respostas pode ser devido à incapacidade de enfrentamento ou inabilidade de adaptação à situação.

Zamparoni e Nunes (2012, p.379) e Carpi Júnior (2012, p.38) colaboram aos explicar que a vulnerabilidade social influencia no advento de calamidades por incidirem em deficiências na capacidade de resposta e recuperação da sociedade frente aos eventos naturais potencialmente impactantes. Nesse contexto, é o processo inverso à estabilidade, ou seja, é a incapacidade das estruturas sociais de resistir e recuperar-se dos impactos.

De acordo com a UNDRO (1991) e UNISDR (2004; 2009) a vulnerabilidade, no contexto dos riscos, inclui todas as circunstâncias das comunidades que as fazem sujeitas aos efeitos adversos de uma ameaça natural, em que Tominaga (2009c, p.25) e Dagnino et al. (2012) destacam o grau de criticidade das condições de habitabilidade, relacionada à ocupação exposta de residências localizadas de forma irregular em áreas de forte fragilidade ambiental.

Souza e Zanella (2009) e Cerri e Nogueira (2012, p.288) apontam que a vulnerabilidade, nessa perspectiva, está fortemente presente nos assentamentos precários urbanos, em função da localização ambientalmente inadequada, ausência de infraestrutura (drenagem, pavimentação e saneamento) e de serviços básicos (coleta de lixo, redes de energia, redes de abastecimento d’água, etc.) e baixa qualidade dos equipamentos arquitetônicos.

Valêncio (2009b) enfatiza que a pobreza é a variável mais relevante para explicar a vulnerabilidade aos desastres ambientais no contexto das cidades brasileiras, influenciando a ocupação desordenada do sítio urbano, fazendo surgir ameaças naturais. O acesso limitado aos bens básicos necessários à sobrevivência de forma digna fundamenta a vulnerabilidade em todos os aspectos, desde os ligados à alimentação, educação, saúde até os físicos- estruturais, ligados às infraestruturas urbanas, saneamento básico e habitação segura.

A vulnerabilidade como fator de risco de desastres ambientais nas cidades é produto das carências de renda, da dificuldade de acesso à terra urbanizada e à habitação segura, da convivência com a degradação ambiental, do baixo poder político e de organização comunitária e do baixo nível cultural e educacional.

Esses fatores articulam-se ao desrespeito à legislação, à especulação imobiliária, ao inadequado uso do solo, aos impactos ambientais, entre outros. Grupos sociais de baixa renda em assentamentos precários apresentam baixa capacidade de suporte frente as manifestação da natureza e reduzido poder político de reivindicação.

A vulnerabilidade desses grupos aos desastres se manifesta na carência das infraestruturas e baixa qualidade construtivas dos imóveis, conferindo reduzida capacidade de resiliência frente aos impactos dos eventos naturais.

Concorda-se com Souza e Zanella (2009) quando expressam que a compreensão dos desastres ambientais depende da expressão socioespacial da vulnerabilidade, que enfatiza os fatores socioeconômicos reproduzidos na localização e nas formas de uso e ocupação das comunidades no espaço urbano.

A adoção do conceito de vulnerabilidade social como fator dos riscos de desastres secundariza a importância do “agente externo destruidor” como responsável principal dos problemas. As ameaças ou perigos naturais são problemas determinados pelo contexto social, sendo os principais motivadores elaborados no contexto da sociedade.