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2 OBJETO DE ESTUDO E ASPECTOS TEÓRICOS-CONCEITUAIS

2.2 A abordagem sobre desastres ambientais

2.2.4 Ameaças naturais como fator de risco de desastres

2.2.4.1 Distribuição espacial das ameaças naturais no Brasil

Os principais desastres ambientais do mundo entre 1996 a 2015 estiveram relacionados a terremotos, tsunamis (de origem sísmica), tempestades, ondas de calor, inundações e estiagens. As inundações corresponderam ao principal evento natural responsável por desastres nesse período, afetando mais frequentemente o maior número de países do que qualquer outro tipo de desastre. Os terremotos destacam-se entre os desastres geofísicos, apresentando padrão espacial concentrado em zonas sísmicas específicas, excluindo vários países desse tipo de perigo (UNISDR, 2016a).

No Brasil, entre 1991 e 2012, foram registrados aproximadamente 39.000 desastres, deflagrados por estiagens e secas, inundação brusca e alagamento, inundação

gradual, vendaval e/ou ciclone, tornado, granizo, geada, incêndio florestal, movimento de massa, erosão linear, fluvial e marinha (UFSC, 2013a).

No caso brasileiro, os principais eventos relacionados aos desastres são de média magnitude, derivados principalmente de fenômenos climáticos relacionados às precipitações pluviométricas, seja pelo déficit relativo, que causa problemas de abastecimento de água, seja pelo excesso, também relativo, que provoca problemas nos sistemas agrícolas e urbanos.

No país, as estiagens e secas são os principais eventos naturais deflagradores de desastres, responsáveis pela maior afetação à população devido à maior recorrência (51% dos registros). Seguem-se, em segundo lugar, as inundações bruscas ou enxurradas (21%) e, em terceiro, as inundações graduais (12%).

Na Região Nordeste a grande maioria dos registros refere-se a eventos de estiagem e seca, 78,4% do total. Enxurradas e inundações graduais registraram percentuais de 11,6% e 7,9%, respectivamente. Outros eventos menos expressivos também foram registrados (UFSC, 2013a).

Nessa região, assim como em todo o país, os principais eventos naturais deflagradores de desastres dependem dos fenômenos pluviais, necessariamente da variabilidade sazonal e interanual na distribuição das chuvas, tanto pela escassez relativa como pela ocorrência de eventos intensos e extremos (chuvas concentradas no tempo e no espaço).

No Estado do Ceará, entre 1991 e 2012, os principais eventos naturais deflagradores de desastres registrados foram estiagens e secas, inundações, enxurradas, alagamentos, movimentos de massa, erosões, incêndios florestais e vendavais. Esses eventos foram responsáveis por 2.046 desastres (UFSC, 2013b).

As estiagens, com 1.710 registros (84%), as inundações, com 273 ocorrências (13%) e as enxurradas, com 48 eventos (2%) são os principais eventos naturais impactantes no Estado do Ceará. Nesse ínterim se destaca a atuação do fenômeno El Niño na intensificação dos extremos negativos de precipitação e a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), responsável principal pelo período chuvoso.

Entre os eventos que incidem com maior frequência e intensidade nos espaços urbanos cearenses estão as inundações bruscas (enxurradas) ou graduais, que vem causando os principais danos materiais através dos impactos em imóveis residenciais (habitações). Os principais danos humanos decorrem das secas e estiagens, no entanto, a maior parte dos óbitos registrados nas cidades foi causada por enxurradas.

Importa ressaltar que diversos municípios, cidades e comunidades são impactos por eventos que não são registrados formalmente. Esses eventos repercutem em problemas efetivos nas populações com grande frequência, sazonalmente. Dessa forma, devem ser considerados no escopo dos estudos sobre desastres, pois geram cumulativamente grande monta de danos e prejuízos de difícil recuperação e que comprometem o desenvolvimento socioeconômico local.

Considera-se, portanto, que a dimensão local dos desastres ambientais no país é bem mais significativa do que os dados oficiais registram. Nesse sentido, é preciso relativizar a relação entre as ocorrências de fato e as ocorrências registradas e melhorar o monitoramento em nível municipal.

Independentemente da escala, tem-se observado a importância dos eventos de origem climática na produção de desastres. Esses eventos têm provocado, historicamente, impactos socioeconômicos, sobretudo nos países e regiões subdesenvolvidos, mais dependentes economicamente, cujas condições precárias de organização socioespacial tornam grandes contingentes populacionais vulneráveis aos efeitos adversos da dinâmica da natureza. No Brasil, os fenômenos de origem climática ocasionam historicamente fortes impactos nas principais cidades. Chuvas concentradas repercutem principalmente em inundações, alagamentos e movimentos de massa, que afetam de forma significativa os territórios marcados pela inadequação da ocupação humana e com déficits de infraestruturas.

Nesse contexto, situações de desastre são produzidas por eventos considerados extremos, acarretando extensivos problemas nos grupos sociais mais vulneráveis em termos econômicos, infringidos sérios danos humanos e materiais, geralmente irrecuperáveis, dado à baixa resiliência e reduzida capacidade de recuperação, e a desorganização permanente ou temporária dos seus territórios comunitários.

Monteiro e Zanella (2013), com base na realidade da cidade de Fortaleza, expressam que há dificuldade em definir um evento extremo de chuva, por exemplo, devido à dinâmica e estrutura de cada cidade em relação à influência da urbanização na maior ou menor intensidade do impacto ocasionado por um episódio pluviométrico de forte intensidade.

Os eventos climáticos extremos na perspectiva do fenômeno físico são entendidos, por exemplo, quando as precipitações pluviais apresentam disritmias ou desvios dos padrões habituais do ritmo de sucessão dos estados atmosféricos. De acordo com Goodin et al. (2004) são geralmente raros e para reconhecê-los e categorizá-los é necessário a análise de registros abrangentes das séries históricas de dados meteorológicos.

Já na perspectiva socioeconômica, Wisner et al. (2003) apontam que os eventos extremos são compreendidos pelos danos de grande relevância que provocam, como óbitos, desabrigos, prejuízos financeiros, entre outros. Nesse sentido, as vulnerabilidades dos grupos sociais são importantes aspectos a serem considerados.

Conforme entendem Monteiro (1976) e Brandão (2001) eventos naturais extremos estão relacionados à excepcionalidade, independentemente da gênese e do espaço geográfico em que atuam. São rótulos genéricos para definir uma gama de fenômenos que se caracterizam por acarretar sérios prejuízos às economias e às populações afetadas, com os mais frequentes e intensos no Brasil ligados à atmosfera, seja diretamente ou indiretamente.