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4 ASSENTAMENTOS PRECÁRIOS NA CIDADE DE FORTALEZA

6.2 Aspectos definidores com base na realidade local

6.2.1 Aspectos definidores no plano institucional

Na cidade de Fortaleza, no trato institucional, a origem do termo “área de risco”, relacionado a desastres ambientais, foi identificada na Lei Orgânica do Município de Fortaleza de 1990. No artigo 149, que trata da política de desenvolvimento urbano a ser executada pelo município, a alínea I, que versa sobre a urbanização e regularização fundiária das áreas de favelas e de famílias de baixa renda sem remoção dos moradores, apresenta em seu item A o termo “área de risco”, enfatizando que nestes casos o governo municipal deverá remover os ocupantes, mas, com a obrigação de assentar no próprio bairro ou nas adjacências, em condições de moradia digna, sem ônus para os removidos e em acordo de prazos com a população alvo.

A letra da lei, contudo, não traz a definição desse tipo de área:

“Art. 149 - A política de desenvolvimento urbano, a ser executada pelo Município, assegurará: I - a urbanização e a regularização fundiária das áreas, onde esteja situada a população favelada e de baixa renda, sem remoção dos moradores salvo: a) em área de risco, tende neste casos o Governo Municipal a obrigação de assentar a respectiva população no próprio bairro ou nas adjacências, em condições de moradia digna, sem ônus para os removidos e com prazos acordados entre a população e a administração municipal;[...]”. (Lei Orgânica do Município

de Fortaleza, de 27 de dezembro de 1990: FORTALEZA, 1990).

Em 1992, o artigo 75 do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU-For), não faz menção ao termo “área de risco”, mas apresenta uma definição alusiva ao tema:

“Art. 75 – Consideram-se inadequados à urbanização e à regularização fundiária os assentamentos espontâneos localizados em áreas: I – que apresentam alto risco à

segurança de seus ocupantes; II – com declividade maior ou igual a 30%; III – de preservação e proteção dos recursos naturais; IV – onde as condições físicas e ambientais não aconselham a edificação; V – que tenham sido aterradas com material nocivo à saúde pública, sem que sejam previamente saneadas; VI – sob viadutos ou pontes; VII – onde os assentamentos ocasionem transtornos à rede de infra-estrutura implantada e/ou projetada; VIII – destinadas à realização de obras ou à implantação de planos urbanísticos de interesse coletivo, nelas se incluindo as áreas institucionais e aquelas destinadas a praças e vias públicas; IX – com assentamentos existentes há menos de doze meses da data da publicação desta lei”.

(Lei Municipal no. 7061 de 16 de janeiro de 1992: FORTALEZA, 1992).

Nesse artigo são expressas as características dos assentamentos espontâneos, considerados inadequados à urbanização e à regularização fundiária, em função de sua localização em áreas que apresentam alto risco à segurança de seus ocupantes, com declividade maior que 30%, áreas de preservação e proteção dos recursos hídricos, áreas com condições físicas e ambientais desaconselháveis à edificação, áreas aterradas com material nocivo à saúde pública, sem saneamento, áreas sob viadutos e pontes, áreas onde assentamentos ocasionem transtorno à rede de infraestrutura implantada ou projetada, áreas destinadas à realização de obras ou à implantação de planos turísticos de interesse coletivo (áreas institucionais, áreas verdes e vias públicas).

A Comissão de Implantação de Projetos Habitacionais de Interesse Social e Infraestrutura Urbana (COMHAB) da Prefeitura Municipal de Fortaleza elaborou um conceito de “área de risco” em 1997, tomando como referência a classificação de aglomerados subnormais pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a menção contida nas leis Orgânica e de Uso e Ocupação do Solo do Município de Fortaleza (FORTALEZA, 1990; Lei Municipal no. 7.987, de 23 de dezembro de 1996: FORTALEZA, 1996), e nas leis de proteção dos recursos hídricos do Estado do Ceará (Lei Estadual no 10.147/77: CEARÁ, 1977) e do Município de Fortaleza (Decreto Municipal no 15.274/82: FORTALEZA, 1982).

No conceito da COMHAB, se considera “área de risco” as áreas insalubres, onde proliferam doenças, áreas sujeitas a deslizamentos, alagamentos e inundações, proibidas de ocupação pela legislação municipal vigente, áreas localizadas nas faixas de 1ª categoria de proteção dos recursos hídricos, consideradas non aedificandi, definidas pela legislação estadual vigente, áreas impossibilitadas de receberem saneamento básico, áreas sujeitas a agentes poluidores, áreas com construções improvisadas, temporárias e improprias, inaptas a receberem instalações hidráulico-sanitárias (FORTALEZA, 1997).

O Programa Habitar Brasil-BID (PHBB) em 1999 apontou definição em que “áreas de risco” são consideradas terrenos alagadiços ou sujeitos a inundações, aterrados com

material nocivo à saúde pública, insalubres, com declividades acentuadas, que exijam obras especiais para implantação segura das edificações (FORTALEZA, 2000).

Enquadram-se também terrenos sob influência de linhas de alta tensão, rodovias, ferrovias e dutos, sujeitos a deslizamentos ou a índices de poluição que impeçam a habitabilidade e terrenos que apresentam configuração geológica e risco natural que desaconselhe a ocupação urbana.

A Coordenadoria Estadual de Defesa Civil do Ceará (CEDEC), também em 1999, definiu que as “áreas de risco” são manchas de ocupações indevidas com casebres e barracos, que, por suas características específicas, estão sujeitas a perigo de inundação, deslizamento, soterramento e alagamento, por ocasião da quadra chuvosa, cujo período se registra anualmente de janeiro a junho, com risco de desabamento de casas, alagamentos de ruas, desmoronamento de barreiras, dunas e encostas e outros fatos que exigem a imediata assistência governamental (CEDEC, 1999).

A Arquidiocese de Fortaleza traz definições de “área de risco” desde 1997 em seus documentos, considerando-as como aquelas que se caracterizam por comunidades localizadas em terrenos impróprios e para habitação cujo qualquer tipo de edificação é proibido, principalmente em margens de rios, lagoas e dunas, assim como prédios abandonados em razão de construções condenadas pelo poder público e áreas de segurança, referentes a linhas férreas, linhas de alta tensão elétrica, terminais petrolíferos (CDPDH, 1999).

Essas áreas estão distribuídas por todo o território municipal e os principais tipos de riscos identificados se referem às ameaças de alagamentos, inundações, deslizamentos e desmoronamentos, sobretudo no período chuvoso.

Segundo o Plano Estratégico Municipal para Assentamentos Subnormais (PEMAS) de 2001, “áreas de risco” são agrupamentos habitacionais que se encontram em áreas alagáveis, inundáveis ou em risco de desabamento. Muitas dessas se localizam em áreas de proteção de mananciais e/ou áreas de preservação permanente (FORTALEZA, 2001).

A Comissão da Assembleia Legislativa do Ceará para acompanhamento das Áreas de Risco da Região Metropolitana de Fortaleza definiu, em 2001, que “áreas de risco” são áreas de moradia de pessoas de baixíssimo nível econômico em Fortaleza, geralmente localizadas às margens de lagoas, rios e riachos, expostas, pois, a qualquer variação pluviométrica, estando extremamente vulneráveis em caso de aumento das precipitações (ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO CEARÁ, 2001).

Em 2002 a Comissão da Câmara Municipal para Acompanhamento das Áreas de Risco de Fortaleza definiu que “áreas de risco” são aquelas onde as pessoas ocupam espaços inabitáveis, em margens de rios ou lagoas, dunas, prédios abandonados, debaixo de pontes ou viadutos, sob vias de alta tensão, dentro da área de segurança das vias férreas ou próximas de locais com risco de explosões (CÂMARA MUNICIPAL DE FORTALEZA, 2002).

De uma forma geral, as definições elaboradas e apresentadas pelos órgãos e entidades envolvidos com a temática enfatizavam os tipos de sistema ambientais e tecnológicos ocupados por comunidades de baixa renda, assim como destacavam as possíveis consequências no caso de materialização das ameaças e riscos, não somente de origem natural, mas também pelo funcionamento de sistemas técnicos.

As vulnerabilidades inerentes aos grupos sociais ameaçados e seus territórios eram pouco explorados no entendimento sobre as áreas de risco, embora ficassem evidentes os efeitos da pobreza nas precárias condições de moradia.

O sistema socioeconômico vigente, provável responsável pelas desigualdades sociais regionais e locais, que motivaram o crescente panorama de segregação sócioespacial na cidade de Fortaleza, também não era questionado, induzindo a elaboração de propostas de políticas públicas voltadas a atender as consequências dos problemas, com planos emergenciais e de remoção de famílias (quadro 21).

Quadro 21 - Cidade de Fortaleza: conceitos de áreas de risco elaborados por instituições.

Ano/autoria Conceitos

1990: Lei Orgânica do Município de

Fortaleza:

Artigo 149, a alínea I, item A: o termo “área de risco” - enfatizando que nestes casos o Governo Municipal deverá remover os ocupantes, mas, com a obrigação de assentar no próprio bairro ou nas adjacências, em condições de moradia digna, sem ônus para os removidos e em acordo de prazos com a população alvo.

1992: PDDU-FOR. Artigo 75: não faz menção ao termo “área de risco”, mas apresenta uma definição alusiva ao tema: assentamentos espontâneos, considerados inadequados à urbanização e à regularização fundiária, em função de sua localização em áreas que apresentam alto risco à segurança de seus ocupantes, com declividade maior que 30%, áreas de preservação e proteção dos recursos hídricos, áreas com condições físicas e ambientais desaconselháveis à edificação, áreas aterradas com material nocivo à saúde pública, sem saneamento, áreas sob viadutos e pontes, áreas onde assentamentos ocasionem transtorno à rede de infraestrutura implantada ou projetada, áreas destinadas à realização de obras ou à implantação de planos turísticos de interesse coletivo (áreas institucionais, áreas verdes e vias públicas).

1997: COMHAB Conceito de “área de risco”: as áreas insalubres, onde proliferam doenças, áreas sujeitas a deslizamentos, alagamentos e inundações, proibidas de ocupação pela legislação municipal vigente, áreas localizadas nas faixas de 1ª categoria de proteção dos recursos hídricos, consideradas non

aedificandi, definidas pela legislação estadual vigente, áreas impossibilitadas de receberem saneamento básico, áreas sujeitas a agentes poluidores, áreas com construções improvisadas, temporárias e improprias, inaptas a receberem instalações hidráulico-sanitárias. 1999: Programa

Habitar Brasil-BID (PHBB).

“Áreas de risco” são consideradas terrenos alagadiços ou sujeitos a inundações, aterrados com material nocivo à saúde pública, insalubres, com declividades acentuadas, que exijam obras especiais para implantação segura das edificações. Enquadram-se também terrenos sob influência de linhas de alta tensão, rodovias, ferrovias e dutos, sujeitos a deslizamentos ou a índices de poluição que impeçam a habitabilidade e terrenos que apresentam configuração geológica e risco natural que desaconselhe a ocupação urbana.

1999: Coordenadoria de Defesa Civil do

Estado do Ceará.

“Áreas de risco” são manchas de ocupações indevidas com casebres e barracos, que, por suas características específicas, estão sujeitas a perigo de inundação, deslizamento, soterramento e alagamento, por ocasião da quadra chuvosa, cujo período se registra anualmente de janeiro a junho, com risco de desabamento de casas, alagamentos de ruas, desmoronamento de barreiras, dunas e encostas e outros fatos que exigem a imediata assistência governamental.

1999: Centro de Defesa e Promoção

dos Direitos Humanos.

“Área de risco” são aquelas que se caracterizam por comunidades localizadas em terrenos impróprios e para habitação cujo qualquer tipo de edificação é proibido, principalmente em margens de rios, lagoas e dunas, assim como prédios abandonados em razão de construções condenadas pelo poder público e áreas de segurança, referentes a linhas férreas, linhas de alta tensão elétrica, terminais petrolíferos. Essas áreas estão distribuídas por todo o território municipal e os principais tipos de riscos identificados se referem às ameaças de alagamentos, inundações, deslizamentos e desmoronamentos, sobretudo no período chuvoso.

2001: PEMAS “Áreas de risco” são agrupamentos habitacionais que se encontram em áreas alagáveis, inundáveis ou em risco de desabamento. Muitas dessas se localizam em áreas de proteção de mananciais e/ou áreas de preservação permanente.

2001: Assembleia

Legislativa do Ceará. A Comissão da Assembleia Legislativa do Ceará para acompanhamento das Áreas de Risco da Região Metropolitana de Fortaleza definiu que “Áreas de risco” são áreas de moradia de pessoas de baixíssimo nível econômico em Fortaleza, geralmente localizadas às margens de lagoas, rios e riachos, expostas, pois, a qualquer variação pluviométrica, estando extremamente vulneráveis em caso de aumento das precipitações. 2002: Câmara

Municipal de Fortaleza.

A Comissão da Câmara Municipal para Acompanhamento das Áreas de Risco de Fortaleza definiu que “Áreas de risco” são aquelas onde as pessoas ocupam espaços inabitáveis, em margens de rios ou lagoas, dunas, prédios abandonados, debaixo de pontes ou viadutos, sob vias de alta tensão, dentro da área de segurança das vias férreas ou próximas de locais com risco de explosões.