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Passemos agora à análise da árvore de classificação para o curso de Engenharia Civil, na vertente das ciências duras-aplicadas.

Na Engenharia Civil, os reflexos das políticas de expansão do setor privado, há cerca de cinco anos atrás, foram tão intensos quanto na Biologia – até algo mais pronunciados -, pois, no Enade 2005 as instituições de ensino superior particulares abrangiam praticamente 2/3 do total conforme verificado no primeiro nó da árvore de classificação para este curso (diagrama DEC1).

Não deixa de surpreender essa leve diferença dentro das ciências duras. Como já vimos, a Engenharia Civil está entre as ditas „profissões imperiais‟ no Brasil

(COELHO, 1999) e, embora em seus primórdios seguindo uma lógica de atendimento aos interesses das elites, sua oferta era predominantemente tutelada pelo Estado. Entretanto, parece que a lógica de mercado embutida nos processo de privatização alterou muito tendências passadas.

Essa leve diferença pode decorrer do princípio maior de orientação do setor privado, a lei da oferta e da procura. A tendência seria de o setor privado ofertar cursos em áreas mais demandadas pelos estudantes, em função das possibilidades que venham a encontrar no mercado de trabalho. De acordo com Amadeo e Portela (2005), embora o curso de Engenharia Civil proporcionasse um retorno financeiro (prêmio esperado) mais elevado para os formados nessa área, a taxa de desemprego era mais elevada para Engenharia Civil do que para Biologia. Os autores também ressaltam que, do ponto de vista dos candidatos ao ensino superior, há pouca disparidade de prêmio esperado II (remuneração média x probabilidade aprovação no vestibular x probabilidade de emprego) entre as diferentes áreas. Vale destacar que os pesquisadores tomaram como referência, dados relativos ao ano de 2000, período em que provavelmente os concluintes de 2005 fizeram a escolha pela carreira e entrada no curso superior. Se observamos as variações no mercado de trabalho de 2003 a 2007, constatamos que, em números absolutos, o total de engenheiros civis é bem maior do que as demais ocupações. Entretanto, a taxa de crescimento média anual de pedagogos é de 16,3%, a de biólogos 14,3% e de engenheiros civis 6,0% (BRASIL. Ministério do Trabalho, 2010). As possibilidades no mercado de trabalho após a conclusão do curso, que venham a garantir o retorno dos investimentos é um fator de peso no momento da escolha do curso pelos estudantes. Mas os autores consideraram apenas o prêmio financeiro, deixando de lado o prêmio simbólico dado pelo prestígio social do curso. A carreira de Engenharia Civil, cujo prestígio social era maior no passado, ainda é um é um curso de prestígio mais elevado que outros como Biologia, História e Pedagogia. As instituições de ensino superior, mais especificamente as pertencentes ao segmento privado, orientam a oferta e a estrutura de seus cursos conforme o interesse dos jovens, alunos em potencial.

No que respeita às variáveis explicativas, as IES inicialmente se distinguem quanto à pós-graduação (nós 1 e 2). No grupo das instituições com pelo menos mestrado em Eng. Civil (nó 2), as do setor público têm amplo predomínio, abrangendo quase 90% do total. Esse dado era esperado, diante da trajetória da

pós-graduação brasileira, na qual o Estado investiu mais fortemente em instituições públicas. As públicas concentram os programas de mestrado e doutorado, da mesma forma que no curso de Biologia. Esse resultado, tanto para Engenharia Civil, quanto para Biologia não surpreende, pois são as universidades públicas as instituições que respondem e representam o modelo acadêmico adotado no País, qual seja, o que reúne ensino, pesquisa e extensão. A adoção desse modelo implica um corpo docente com titulação mais elevada.

No grupo de instituições com mestrado, a próxima variável que discrimina públicas de particulares – por sinal uma variável terminal, ou seja, sem posteriores subdivisões – é a qualidade das instalações físicas, laboratórios, equipamentos e biblioteca. A variável „qualidade dos fatores institucionais‟ é, entre as variáveis explicativas, a segunda com maior poder de discriminação quanto à variável resposta, diferentemente do que ocorreu no curso de Biologia. Entre as IES com mestrado, as de menor índice de qualidade dos fatores institucionais são, todas, públicas (nó 5); nenhuma particular faz parte deste segmento. Já entre as de maior índice desses fatores, que constitui uma minoria entre as que têm mestrado, a distribuição entre públicas e privadas é perfeitamente equilibrada (nó 6).

Na outra vertente da árvore de classificação, que se forma a partir do nó 1, envolve as IES sem mestrado; entres estas, as particulares têm ampla dominância, quase 90%. Novamente, tal como ocorreu com as IES que têm mestrado, a próxima variável que melhor discrimina públicas de particulares é a qualidade dos fatores institucionais (nós 3 e 4). Entre as lES mais qualificadas quanto a estes fatores, encontramos apenas estabelecimentos particulares e nenhum público. Esse dado é perfeitamente simétrico ao antes encontrado para as instituições que têm mestrado e são menos qualificadas quanto a tais fatores (nó 5); conforme anteriormente constatamos, entre estas todas são públicas. Para instituições sem mestrado e com alta qualidade de fatores institucionais (nó 4) , a árvore se esgota neste ponto, não havendo mais subdivisões.

Já entre as IES menos qualificadas quanto aos fatores institucionais (nó 3), as particulares têm presença algo mais pronunciada (57,7%). Para todas as instituições com essa menor qualificação (nó 3), a última variável que discrimina entre públicas e particulares são as regiões geoeconômicas. O sudeste é dominado quase que exclusivamente por estabelecimentos privados (90,9%), ao passo que nas demais regiões do país, dois terços das IES são públicas.

A disposição dos dados para a árvore de Engenharia Civil permite ainda que obtenhamos informações adicionais. Obtendo-se proporções a partir dos números absolutos contidos nos nós 3 a 5, e considerando-se os dados do nó 1, constata-se que das 79 instituições particulares 64 têm melhor índice de qualidade de fatores institucionais, isto é, 81% delas. Já entre as públicas, que somam 40 IES, somente quatro têm pontuação elevada no referido índice, isto é, apenas 10% delas. A diferença entre o setor privado e o setor público quanto a este índice é, portanto, muito expressiva; aquela proporção é oito vezes maior que esta. Um melhor nível de qualidade de fatores institucionais está fortemente concentrado nas instituições particulares. Esse dado contrasta com a elevada concentração de mestrados no setor público, correspondendo, como já vimos, a quase 90% das IES com pós- graduação stricto sensu na área (nó 2). Esses dados poderiam sugerir que, se a titulação do corpo docente é mais elevada no setor público e que, se neste setor os equipamentos, laboratórios e bibliotecas para cursos de mestrado e doutorado seriam de melhor qualidade que no setor privado, até porque bastante utilizados em atividades de pesquisa, já no âmbito do ensino de graduação, o menor nível de titulação docente nas IES particulares viria acompanhado de instalações físicas, equipamentos, laboratórios e bibliotecas para o ensino com melhor padrão que os das IES públicas.

Diagrama 3 – DEC1: Árvore de Classificação para o curso Engenharia Civil