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Diagrama 5 – DP1: Árvore de Classificação para o curso Pedagogia

5.2 CIÊNCIAS DURAS: CARACTERÍSTICAS INSTITUCIONAIS E DESEMPENHO

5.2.5 Engenharia Civil – Estaduais

Verificamos que nas estaduais, o conjunto das variáveis explicativas representa 19% da variância na nota bruta dos concluintes do curso de Engenharia Civil.

No grupo das estaduais, não há nenhum concluinte da amostra em outro tipo de organização acadêmica estadual que não numa universidade, conforme a tabela 29.

Tabela 29 – Engenharia Civil:resultados da regressão para as instituições estaduais

ANOVA

Soma dos quadrados Grau de liberdade Média quadrática F Sig.

Regressão 13276 20 664 5,6 0,0 Residual 43429 364 119 Total 56705 384 COEFICIENTES Coeficientes não-padronizados Coeficientes padronizados

B Erro padrão Beta t Sig.

(Constant) 64,19 17,09 3,76 0,00 Nordeste -10,06 2,55 -0,38 -3,94 0,00 Sul -7,38 1,77 -0,30 -4,18 0,00 Centro-Oeste -11,89 2,91 -0,28 -4,08 0,00 até 23 anos 4,02 1,82 0,15 2,21 0,03 24 anos 2,40 2,00 0,08 1,20 0,23 26 a 27 anos -2,29 2,06 -0,07 -1,11 0,27 28 anos e mais -4,83 2,09 -0,16 -2,31 0,02 Sexo -4,39 1,41 -0,15 -3,11 0,00

Pai com nível superior -1,52 1,27 -0,06 -1,20 0,23

Até 3 SM 0,71 2,51 0,01 0,28 0,78 >10 a 20 SM -0,49 1,34 -0,02 -0,36 0,72 >20 a 30 SM 0,13 2,42 0,00 0,06 0,96 > 30 SM -6,19 2,36 -0,14 -2,63 0,01 Inic. cient/tecnol. 2,98 1,82 0,09 1,64 0,10 Monitoria 5,62 2,74 0,10 2,05 0,04 Proj.pesq.profes. 3,86 1,88 0,11 2,05 0,04 Extensão 6,42 1,78 0,19 3,60 0,00

Qual. Fat. Inst./IES -1,01 0,33 -0,20 -3,09 0,00

Estaduais:mestrado/doutorado 1,45 2,13 0,05 0,68 0,50

Nível exigência/IES 4,17 4,39 0,07 0,95 0,34

Fonte: A autora

Com relação à localização geoeconômica das estaduais, observamos as variáveis nordeste, sul e centro-oeste com coeficientes significativos e negativos. As estimativas sugerem que os estudantes de estaduais nessas regiões chegam a ter média de notas nos exames em mais de dez pontos abaixo da média dos estudantes de estaduais do sudeste (termo de referência). Para a variável norte, o coeficiente não é significativo, pois nas estimativas com concluintes em Engenharia Civil no ano de 2005, não havia instituições estaduais nesse perfil. Em outras palavras, os estudantes de estaduais do sudeste têm aproveitamento acadêmico, expresso na média de notas no Enade, superior à média dos estudantes das outras regiões geoeconômicas.

Para as características individuais dos alunos, a idade foi assim categorizada em variáveis dummies: Idade 1º quintil (até 23 anos); Idade 2º quintil (24 anos); Idade 3º quintil (25 anos); Idade 4º quintil (26 a 27 anos), e Idade 5º quintil (28 anos e mais). Observamos nas estaduais de Engenharia Civil concluintes com idade semelhante aos estudantes das federais.

Nas estaduais, a média de rendimento com relação à idade corresponde à expectativa que se tem dos alunos mais jovens alcançarem média de notas mais altas, ao contrário dos mais velhos com rendimento médio inferior. De fato, as estimativas sugerem que alunos na faixa de 23 anos, os mais jovens, têm rendimento médio superior em quatro pontos em relação aos estudantes na faixa de 25 anos, omitida na equação de regressão. E estudantes na faixa de 28 anos e mais, os mais velhos, com rendimento médio inferior em 5 pontos, considerando o termo de referência da regressão. Para os estudantes nas faixas etárias intermediárias a média de rendimento não se diferenciou da média dos estudantes no terceiro quintil.

Novamente o sexo dos estudantes na Engenharia Civil é uma variável significativa para seu rendimento. Assim como nas federais, nas estaduais os homens obtiveram desempenho, em média, superior às mulheres. As hipóteses que levantamos para buscar compreender esse resultado são as mesmas colocadas para as estimativas de Biologia e federais de Engenharia Civil. De toda forma, há de se considerar o porque de diferenças em média de desempenho, observando o aumento da participação do número de mulheres na educação superior. Ainda assim, é baixa a participação de mulheres no mercado de trabalho na área de Engenharia Civil. Amadeo e Portela (2005) apontam que a participação masculina supera em mais do que o dobro a participação feminina na força de trabalho com educação superior na área de Engenharia Civil. Nesse sentido, questionamos se as médias mais baixas das alunas em relação às médias dos alunos não estariam, também, relacionadas a expectativas quanto ao posicionamento futuro no mercado de trabalho.

Na caracterização socioeconômica dos concluintes das estaduais, a primeira variável considerada, a escolaridade do pai não teve coeficiente significativo, sugerindo que a escolaridade do pai em nível superior,ao contrário do que se esperava, não influi no desempenho dos filhos. A literatura internacional sobre fatores que interferem no desempenho estudantil postula justamente o contrário:

quanto mais alta a escolaridade dos pais, mais elevado é rendimento do aluno. Em seu estudo sobre desempenho de estudantes de Engenharia Civil, Administração e Direito no Provão, Diaz (2007) reconhece a escolaridade do pai como importante determinante do padrão socioeconômico da família, mas alerta para a importância de se considerar a diferença entre variável contextual e variável individual. Como variável contextual, o efeito da escolaridade paterna é verificado em função do percentual de pais com nível superior existente na instituição em que o alunos está se formando. Mas o impacto individual pode ser distinto do contextual.

Assim, por exemplo, um determinado pai que tenha cursado o ensino superior pode dedicar-se muito ao trabalho, não tendo tempo para acompanhar o desempenho escolar dos filhos. Nesse caso, individualmente, a variável escolaridade paterna pode, inclusive, apresentar impactos negativos inesperados (DIAZ, 2007, p.125).

O resultado é estranho, pois, como assevera a mesma autora,

O que ocorre, normalmente, é que pais com escolaridade superior tendem a criar um ambiente sociocultural mais dinâmico para o desenvolvimento dos filhos, com acesso a meios que acabam colaborando para maior progresso intelectual. A melhor formação dos pais também resulta em uma preocupação em relação às instituições educacionais que o filho vai freqüentar. Por essa via, espera-se que em instituições educacionais em que uma maior parcela de pais tenha escolaridade superior, os filhos tendam a apresentar um melhor desempenho (DIAZ, 2007, p. 125).

Evidentemente, os resultados encontrados não são conclusivos a respeito dos efeitos da escolaridade paterna no rendimento acadêmico. Mas despertam para o fato de que efeitos da escolaridade paterna sobre o rendimento, em determinadas pesquisas, necessitam de informações complementares para serem devidamente entendidos.

A respeito da variável renda familiar, somente os estudantes na faixa de renda familiar mais de 30 SM mínimos tiveram desempenho médio significativo, porém negativo em seis pontos, em relação à média de notas obtida pelos estudantes na faixa de mais de 3 a 10 SM, omitida na equação de regressão. As variáveis representativas das demais faixas de renda não tiveram coeficiente significativo, sugerindo que estudantes nessas faixas intermediárias não se destacam daqueles inseridos no termo de referência em desempenho no Enade.

Em sua pesquisa, Diaz (2007, p. 125) verificou que “a contribuição de níveis superiores de renda sobre o desempenho dos alunos possui um limite, a partir do qual, observam-se, inclusive, impactos negativos”. Há ainda de se considerar que o

curso de Engenharia Civil é um curso de elite no Brasil. A maior parte dos estudantes pertence a famílias com capital econômico mais alto. Na ampliação do acesso das classes médias aos cursos superiores, questionam-se quais as expectativas teriam os estudantes da elite com relação aos cursos superiores. Nas palavras de Carrano (2009, p. 181):

Estariam os jovens das elites econômicas menos preocupados com a aquisição de capital cultural e mais atentos às oportunidades de inserção em cada vez mais escassos e competitivos mercados profissionais? O prestígio dos cursos universitários no mercado profissional seria moeda mais valiosa para os estudantes do que a qualidade do ensino oferecido?

As hipóteses que levantamos para buscar compreender as estimativas se cruzam com os questionamentos acima. Não temos as informações necessárias para respondê-los, porém destacamos a importância de novos estudos que além de buscarem compreender de forma mais aprofundada o comportamento e as expectativas dos jovens universitários, conforme já afirmamos nas análises das estimativas de Biologia, necessitam de contextualizar tais perfis em relação à estrutura social e econômica. Outro fator preponderante para análise diz respeito às motivações e escolhas profissionais.

Para os concluintes de Engenharia Civil das estaduais que realizaram o Enade em 2005, a realização de atividades acadêmicas extraclasse foi um fator de importância para seu rendimento médio. A realização de atividades de monitoria, a participação em projetos de pesquisa de professores e a participação em atividades de extensão apresentaram efeitos significativos e positivos sobre o desempenho médio dos alunos, em comparação ao desempenho médio dos estudantes que não realizaram qualquer atividade extraclasse (termo de referência).

Nas variáveis selecionadas para captar possíveis efeitos das características institucionais, verificamos que a qualidade dos fatores institucionais teve coeficiente significativo, entretanto negativo. Em outras palavras, a qualidade dos fatores institucionais contribuiu negativamente para o desempenho dos alunos. Também de forma estranha ao esperado, a titulação docente e o nível de exigência do curso não são significativos para o aproveitamento acadêmico.

De acordo com o Censo da Educação Superior, as instituições estaduais possuem percentual significativo de docentes com titulação de doutorado. Estranho nos parece o resultado encontrado de que essa titulação não é significativa em termos de influência sobre o aproveitamento dos estudantes. Estariam os docentes

das estaduais mais preocupados com atividades de pesquisa, do que com atividades de ensino? De que maneira, em sua prática pedagógica, os docentes associam o conhecimentos adquiridos ao longo de sua formação (expressa na titulação) ao currículo estabelecido e às necessidades dos estudantes? Por outro lado, os alunos de Engenharia Civil, por pertencerem a famílias de renda mais elevada, desfrutariam de relativa autonomia com relação aos estudos, dependendo menos da orientação docente? São questionamentos que aventamos no sentido de buscar compreender o porquê de estimativas por vezes opostas à nossa expectativa. Nossos dados são limitados para avanços nesse sentido, mas os resultados da regressão sugerem que estudos a respeito da influência de fatores institucionais passam por um conhecimento mais aprofundado das características dos estudantes de graduação.