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Diagrama 5 – DP1: Árvore de Classificação para o curso Pedagogia

2.4 PÚBLICO E PRIVADO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR BRASILEIRA

Como tópico fundamental para análises que serão desenvolvidas nesta pesquisa e por guardarem forte vinculação com a evolução histórica do sistema de ensino superior brasileiro, as questões relacionados ao público e privado iniciam as discussões do quadro conceitual.

As universidades, criadas inicialmente como corporações autônomas, passaram em seu processo de institucionalização, ao longo dos séculos, à posição de vinculadas ao Estado, em razão da sua importância na produção e disseminação do conhecimento. No caso brasileiro, as primeiras universidades foram criadas nesse quadro institucional de vinculação ao Estado, marcado preponderantemente pelas relações de manutenção, normatização, regulação e controle. O papel do Estado e a participação do setor privado originaram fortes tensões e disputas entre o público e o privado na educação superior, que possuem raízes históricas, na constituição do sistema de ensino brasileiro.

A literatura sobre a constituição dos cursos superiores no Brasil e a polarização entre público e privado que marca a educação superior é vasta e aborda os temas sob diferentes primas. Porém, neste projeto de pesquisa, foi utilizado o corte histórico e temporal do período pós 1964, no qual surgiu, nos termos de Martins (1989), um novo ensino superior privado no Brasil, com gradual ênfase num corte mercantil. A partir desse período, o projeto de consolidação e expansão do setor privado ganha forte impulso no País, vindo a alterar substancialmente o desenho do sistema de educação superior brasileiro (SAMPAIO, 2000). As mudanças ocorridas implicaram, ainda, em modificações nos sistemas de avaliação dos cursos superior adotados pelo Estado.

Com os contornos definidos nas primeiras décadas do século XX, as modificações mais significativas no sistema de ensino superior vieram a acontecer primeiramente na década de 50 com a federalização das faculdades estaduais e privadas, formando as universidades mantidas e controladas pelo Estado. Na década de 60, o regime militar instalado após 64 expandiu as universidades públicas e empreendeu a Reforma de 68. A reforma consolidou: a estrutura departamental, a extinção das cátedras, o sistema de créditos por disciplina, a periodicidade semestral, a divisão do curso da graduação em ciclo básico e profissional, a dedicação exclusiva dos professores, a indissociabilidade entre ensino e pesquisa, bem como a criação de centros de pesquisa. As conseqüências positivas da Reforma de 68 foram os avanços da pós-graduação e o desenvolvimento da pesquisa universitária. Como conseqüências negativas têm-se: a desproporcionalidade entre ensino público e privado, o aumento das desigualdades sociais, a expansão da rede privada de ensino, a não integração na prática entre ensino e pesquisa e a não implementação dos princípios mais avançados de educação.

A Reforma de 68, seguindo o modelo de administração racional, organizado e sistêmico que imperava num momento de redefinição dos processos de trabalho em função das necessidades impostas pelo sistema produtivo (KUENZER; MACHADO, 1982), futuramente facilitou a implantação, na organização e gestão das universidades, de procedimentos de avaliação da produtividade do trabalho docente que perduraram nas décadas seguintes.

No período de 1985 a 1990 foram significativos nas universidades públicas: a passagem dos docentes para o Regime Jurídico Único dos Servidores Públicos (Constituição de 88), o controle central sobre o pagamento dos docentes e funcionários e a maior rigidez orçamentária, além dos mecanismos de avaliação dos docentes.

Na redemocratização do país, a Constituição de 88 também garantiu a gratuidade na educação pública e assegurou o ensino livre à iniciativa privada. Definiu, ainda, entre as regras de financiamento do ensino superior, a destinação dos recursos públicos unicamente para as instituições públicas e as privadas comunitárias, confessionais e filantrópicas.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº. 9.394/96 estabeleceu critérios mais precisos para a categorização das instituições de ensino

superior, colocando as distinções entre públicas e privadas e estas últimas separadas por sua finalidade, entre lucrativas e não-lucrativas. A legislação educacional subseqüente à publicação da LDB ratificou as distinções entre instituições públicas e instituições privadas (BRASIL, 1996).

Na década de 1990 a demanda por formação superior cresceu substancialmente em função de necessidades do mercado de trabalho e como conseqüência da expansão do atendimento da educação básica. Nesse período, foi expressivo o crescimento do setor privado, que já majoritário no país, expandiu suas matrículas em mais de 70% do total no país. Essa tendência de ampliação do setor privado mantem-se nesta primeira década do século XXI. Com relação à gestão desse setor, algumas práticas mercadológicas ganham destaque, como a fusão de instituições, a compra de instituições menores e com déficit por instituições de maior porte e a entrada de instituições de ensino no mercado de ações. Também em discussão está a internacionalização da educação superior, que estimularia a competição em nível internacional. Nesse sentido, observamos o que assevera Durham (2005, p. 197):

Trata-se de um outro sistema que subverte a concepção dominante de ensino superior centrada na associação entre ensino e pesquisa, na liberdade acadêmica e no interesse público, o qual é constituído por empresas de ensino voltadas para o mercado e o lucro.

Em análise do ensino superior privado no Distrito Federal, Sousa (2003) destaca a heterogeneidade dos modelos institucionais. De fato, a expansão do setor privado nas últimas décadas é marcada por essa diversificação de tipos de instituição e pela fragmentação, buscando atender mais rapidamente ás mudanças no mercado de trabalho. (SAMPAIO, 2000).

No setor público, o crescimento na década de 1990 e o atendimento à forte demanda (que é mais significativa nas instituições públicas) ocorreu por meio das instituições estaduais, em função de um período de fortes restrições orçamentárias vivido pelas universidades federais. Nesta primeira década do século XXI, o Ministério da Educação vem implementando políticas de expansão de vagas nas instituições públicas, incluindo a abertura de novos campi e a criação de novas universidades. Nas ações atuais do governo incluem-se s políticas de inclusão para atendimento de segmentos populacionais excluídos do sistema público de ensino superior.

Tendo em vista os objetivos deste projeto de pesquisa, a análise dos sistemas público e privado do ensino superior importa no sentido de buscar entendimentos concernentes à diversificação dos modelos institucionais e seus possíveis efeitos sobre o rendimento dos estudantes. Na análise comparativa de características institucionais de cada um desses segmentos, buscamos entender como esses modelos institucionais vêm se configurando e quais os possíveis resultados que podem imprimir para o desempenho dos estudantes.

3 ENCAMINHAMENTOS METODOLÓGICOS

Neste capítulo, são apresentadas e justificadas as opções metodológicas definidas para o desenvolvimento da pesquisa. Entendemos que as questões propostas para o desenvolvimento do estudo implicaram a definição de dois modelos de análise distintos. Portanto, em seguida aos esclarecimentos a respeito dos objetivo de pesquisa e das opções metodológicas, são explicitadas a população estudada, os cursos investigados, as fontes de dados, os modelos de análise e as variáveis que os integram.

A referência para a escolha das opções metodológicas reside primeiramente no caráter do estudo – de natureza quantitativa e sustentado em dados secundários – e na especificidade do tema central colocado em discussão – fatores institucionais associados ao desempenho de estudantes de graduação no Enade.

A definição dos modelos de análise foi realizada em duas grandes etapas. Na primeira delas, selecionamos as variáveis explicativas do estudo e, na segunda, após a aplicação do primeiro modelo de análise, refinamos o modelo com os ajustes necessários que permitissem a verificação dos objetivos de estudo, bem assim a comprovação da tese.

Nos tópicos seguintes, apresentamos o trabalho metodológico realizado.