ÉTICA

Outra marca de uma igreja reformada é o seu compromisso com uma "praxis" que revele de maneira contundente a sua fé cristã. Sendo a Igreja uma comunidade de crentes no Senhor Jesus, remidos e transformados por sua graça e misericórdia, ela deve ser como um farol que reflita a glória de seu senhor. Sendo assim, a comunidade cristã não vive uma fé puramente intelectual ou cognitiva, senão, experimental e prática em detalhes dos mais corriqueiros da vida. Neste sentido, Matos comenta:

A doutrina reformada resulta inevitavelmente em uma ética individual e social de contornos bem definidos. Porque Jesus Cristo é o Senhor, todas as áreas da vida devem refletir o seu senhorio e a sua vontade. Em conexão com a sua ética, os reformados também tem uma visão missionária própria, que visa não somente anunciar as boas novas, mas fazer discípulos e reformar a sociedade, como aconteceu em Genebra e entre os puritanos.136

Uma vida ética é o reflexo de uma vida transformada. Os presbiterianos creem que a obra de regeneração não se dá somente no âmbito espiritual, mas, também, em todas as áreas da vida como consequência de uma nova e regenerada “cosmovisão”.

Por isso, a Igreja Presbiteriana do Brasil acredita e proclama que as marcas da verdadeira Igreja são: 1. A fiel e genuína pregação da Palavra; 2. A correta administração dos sacramentos; 3. A zelosa prática do exercício da disciplina na igreja.

135 _{MATOS, Alderi Souza De, op. cit., p.6.} 136 _{MATOS, Alderi Souza De, op. cit., p. 7.}

Quanto à observância e prática da disciplina na igreja, o objetivo sempre será o de preservar a pureza da Igreja e o bem do faltoso fazendo-o reconhecer o seu pecado, confessá-lo e restaurá-lo para que volte a viver de maneira condizente com o evangelho da graça. Segundo o Código de Disciplina da IPB, em seu Art. 2, Parágrafo Único:

Art.2º- Disciplina eclesiástica é o exercício da jurisdição espiritual da Igreja sobre seus membros, aplicada de acordo com a Palavra de Deus. Parágrafo Único - Toda disciplina visa edificar o povo de Deus, corrigir escândalos, erros ou faltas, promover a honra de Deus, a glória de Nosso Senhor Jesus Cristo e o próprio bem dos culpados137_.

A Reforma Protestante trouxe imensas contribuições para um entendimento e vivências éticas e a Igreja Presbiteriana do Brasil, sendo herdeira deste movimento, adota os seus princípios éticos. Isto porque, a Reforma extrai e fundamenta toda ética às Escrituras Sagradas. A ética protestante é bíblica e não cultural ou antropológica, sendo assim, todo padrão de conduta é regulado pelos princípios exarados das Escrituras.

Isto posto, a IPB entende que todo seguimento da vida é orientado e dirigido pela Bíblia sendo tudo, portanto, de alguma maneira, sagrado, quer seja a arte, a política, a ciência, o trabalho, a educação ou a família. Todas estas coisas devem ser crivadas pelo padrão da revelação da vontade de Deus, o criador e sustentador de tudo quanto há no céu e na terra.

Calvino dedica parte de sua obra prima a este tema, quando no capítulo 8 do livro II das Institutas ele faz uma primorosa exposição sobre a Lei Moral. Ele trabalha a ideia de que a lei expressa através das proibições e exigências devem ser percebidas além das palavras. Para Calvino, todo mandamento tem um princípio amplo, que se estende e extrapola a mera expressão da letra e se aplica de maneira perfeita e construtiva à toda vida humana.

137 _{IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL. Código De Disciplina. Online. Disponível em:} <://www.executivaipb.com.br/site/constituicao/codigo_de_disciplina.pdf28 Catecismo Maior de Westminster. Pergunta 99> Acesso em: 20, Nov. 2016. p. 2

Justamente, fundamentados nestas ideias de Calvino, que os teólogos de Westminster formularam as perguntas e respostas de número 91 –

151 do Catecismo Maior de Westminster138_{. Por exemplo, vejamos o que a}

pergunta e a resposta de número 99 revela:

Que regras devem ser observadas para a boa compreensão dos dez mandamentos? Para a boa compreensão dos dez mandamentos as seguintes regras devem ser observadas: 1ª. Que a lei é perfeita e obriga a todos à plena conformidade do homem inteiro à retidão dela e à inteira obediência para sempre; de modo que requer a sua perfeição em todos os deveres e proíbe o mínimo grau de todo o pecado.139* _{2ª. Que a lei é espiritual, e assim se} estende tanto ao entendimento, à vontade, aos afetos e a todas as outras potências da alma - como às palavras, às obras

e ao procedimento.140* _{3ª. Que uma e a mesma coisa, em respeitos} diversos, é exigida ou proibida em diversos mandamentos.141 _4ª. Que onde um dever é prescrito, o pecado contrário é proibido; e onde um pecado é proibido, o dever contrário é prescrito; assim como onde uma promessa está anexa, a ameaça contrária está inclusa; e onde uma ameaça está anexa, a promessa contrária está inclusa.142 _{5ª. Que o que Deus proíbe não se há de fazer em} tempo algum, e o que Ele manda é sempre um dever; mas nem todo o dever especial é para se cumprir em todos os tempos.143 _6ª. Que, sob um pecado ou um dever, todos os da mesma classe são proibidos ou mandados, juntamente com todas as coisas, meios, ocasiões e aparências deles e provocações a eles. 7ª. Que aquilo que nos é proibido ou mandado temos a obrigação, segundo o lugar que ocupamos, de procurar que seja evitado ou cumprido por outros segundo o dever das suas posições.144 _{8ª. Que, quanto ao} que é mandado a outros, somos obrigados, segundo a nossa posição e vocação, a ajudá-los, e a cuidar em não participar com outros do que lhe é proibido.145

Sendo assim, a IPB acredita que uma conduta ética, nesta perspectiva, revela um caráter cristão verdadeiro e, por isso, tem como uma de suas marcas distintivas o apelo à uma conduta ética por parte dos seus membros.

138 _{Confissão De Fé De Westminster, op. cit., p. 24, 25.} 139 _{Ref. bíblicas: Sl 19.7; Tg 2.10; Mt 5.21-22.} 140 _{Ref. bíblicas: Rm 7.14; Dt 6.5; Mt 22.37-39 e 12.36-37.} 141 _{Ref. bíblicas: Cl 3:5; 1Tm 6.10; Pv 1.19; Am 8.5.} 142 _{Ref. bíblicas: Is 58.13; Mt 15.4-6; Ef 4.28; Êx 20.12, Pv 30.17; Jr 18.7-8; Êx 20.7.} 143 _{Ref. bíblicas: Rm 3.8; Dt 4.9; Mt 12.7; Mc 14.7.} 144 _{Ref. bíblicas: Êx 20; Lv 19.17; Gn 18.19; Dt 6.6, 7; Js 24.15.} 145 _{Ref. bíblicas: 2Co 1.24; 1Tm 5.22; Ef 5.7.}