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Ética na pesquisa à luz dos grupos focais

No documento Ética na pesquisa em Administração (páginas 137-200)

A unidade de análise da segunda etapa da pesquisa foram os quatro grupos focais formados por pesquisadores de quatro programas de pós-graduação em Administração, em universidades distintas. Os relatos e depoimentos ocorridos durante o desenvolvimento dos grupos focais foram gravados com a concordância de todos os componentes dos grupos.

Os participantes dos grupos assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido, e cada participante ficou com uma via do referido termo. Os grupos foram formados entre os meses de março e maio de 2012, nos programas de pós-graduação em Administração das seguintes universidades: UFRN, UNP, UFPE e UFPB.

Não foram levantados dados pessoais e profissionais de cada participante, pois a unidade de análise foram os grupos focais e não os indivíduos. Mas, pode-se afirmar que os quatro grupos focais formados foram compostos por pesquisadores que atuam na área de Administração, sendo três grupos formados por pesquisadores mais experientes, com doutorado e muitos com pós-doutorado, e um grupo foi formado por pesquisadores menos experientes, composto por alunos de um Doutorado em Administração. Dos quatro grupos,

três estavam ligados a programas de pós-graduação em universidades públicas e um a pós- graduação de universidade particular.

Porém, em uma análise geral, não foram observadas diferenças significativas de posicionamento em função do perfil dos participantes, como também não se observaram distintos graus de preocupações éticas entre os quatro grupos estudados. Todos os pesquisadores se revelaram envolvidos com a temática, alguns se aprofundando mais em aspectos filosóficos, outros com enfoque em aspectos metodológicos. Constatou-se também, que os grupos focais refletiram sobre a ética na pesquisa científica em Administração com igual interesse durante as discussões ocorridas.

Assim sendo, optou-se por não identificar os grupos focais e não houve necessidade de comparar os grupos a partir da formação dos participantes ou por tipo da pós-graduação. Para preservar o anonimato dos grupos focais, foram definidos aleatoriamente letras identificadoras para cada grupo focal formado (A, B, C e D) e a abreviação “GF” para grupo focal, ficando definidos os seguintes grupos: GF/A; GF/B; GF/C e GF/D.

Os participantes dos grupos focais formados foram convidados por correio eletrônico, primeiramente pelos Coordenadores dos programas de pós-graduação e posteriormente foram enviadas mensagens pela pesquisadora de forma a reforçar os convites. No texto das mensagens foi explicitado o objetivo do presente estudo.

No início de cada grupo focal foi feita uma abertura, novamente explicando o objetivo do estudo e como seriam abordadas as questões orientadoras das discussões e então solicitada autorização para gravação dos debates e depoimentos de cada grupo. Após abertura, era repassado a cada pessoa o termo de consentimento livre e esclarecido. Os registros das discussões em cada grupo foram feitos a partir das transcrições das gravações, bem como a partir das anotações efetuadas pela pesquisadora/moderadora.

A discussão dos resultados dos grupos focais foi dividida, assim como na análise das entrevistas, em cinco partes de forma a atender aos objetivos propostos. A primeira parte foi dividida em dois tópicos, em que primeiramente foram abordadas as percepções dos grupos focais sobre a conduta ética e responsável na pesquisa científica e, no segundo tópico, apresenta-se a visão dos grupos quanto a questão da má conduta na pesquisa e o produtivismo. O tema produtivismo foi inserido, a partir dos resultados das entrevistas, levando à necessidade de conhecer a visão dos grupos quanto a relação da má conduta com o produtivismo.

A segunda parte buscou levantar os dilemas éticos que acometem ou acometeram os grupos durante as atividades de pesquisa. A terceira parte busca levantar se os grupos conhecem e refletem sobre as orientações e as normas éticas já existentes no país, assim como qual o conhecimento e opinião no tocante a atuação dos Comitês de Ética em Pesquisa (CEP).

A quarta parte busca apresentar como os grupos tomam decisões relacionadas às questões e dilemas éticos nas atividades de pesquisa - se baseados em valores e senso comum e/ou princípios éticos da pesquisa. Na quinta, e última parte, discute-se a visão dos pesquisadores quanto à necessidade de princípios éticos específicos para a pesquisa em Administração.

4.3.1 Percepção dos grupos focais quanto a conduta ética e responsável do pesquisador e quanto a má conduta na pesquisa científica

Esta seção está dividida em dois tópicos, que serão discutidas as percepções dos grupos focais com relação ao que consideram ser conduta ética e responsável por parte dos pesquisadores, e no segundo momento, analisar-se-á a percepção dos grupos quanto à má conduta na pesquisa científica e quanto a influência do produtivismo nos desvios de conduta.

• Conduta ética e responsável na pesquisa científica

O tema da conduta ética e responsável na pesquisa científica foi o primeiro assunto discutido e debatido em cada grupo focal. A questão foi lançada e aguardou-se que os pesquisadores participantes de cada grupo focal se manifestassem.

Observou-se que os participantes de cada grupo focal direcionaram as discussões para a questão que a conduta do pesquisador é uma vertente da conduta humana. Os grupos salientaram que o pesquisador é antes de tudo uma pessoa com valores e crenças, e que esses valores somados à formação, ao preparo profissional e a postura profissional do pesquisador, refletirão na sua conduta como pesquisador. Destacam-se alguns relatos, feitos nos grupos que afirmam o seguinte:

A percepção da realidade do pesquisador depende de seus valores e crenças. O pesquisador não é isento, e coloca seus valores na análise ética da pesquisa. (GF/A).

O que você é como pessoa interfere na conduta do seu papel como pesquisador. (GF/B). A pessoa tem uma formação profissional que leva a uma postura de respeitar sempre os princípios, provavelmente isso vai para a atividade de pesquisa. (GF/A).

Se o pesquisador busca ter uma conduta ética na pesquisa, vai firmar seu compromisso com a verdade, objetivando trazer à tona os fenômenos sociais e contradições, gerando resultados relevantes para a sociedade. (GF/B).

Eu acho que o comportamento ético é muito associado também às suas experiências sociais, de vida, acho que meu comportamento ético reflete muito o que eu sou também como pessoa, não só como pesquisador, não posso separar, o comportamento ético está presente, não só nessa dimensão profissional, eu acho que ele está presente na minha essência enquanto ser humano. (GF/A).

Acho que o compromisso ético da ciência tem que ser acima de todo esse reconstruir de reflexões, trazer a tona a realidade e contradições de uma realidade que negam inclusive esses princípios de valorização de ser humano e esse deve ser sim o compromisso de um pesquisador, que precisa sim de uma certa preparação, mas a própria formação e preparação acontece no processo, acontece na vivência, na experiência, este é um marco da ética que nós não podemos abrir mão absolutamente, nós temos um compromisso, nos deveríamos ter um compromisso de denúncia em certas realidades que vão contra valores éticos e morais estabelecidos na sociedade.(GF/B).

A conduta ética também foi associada à questão do respeito, por todos os grupos estudados. O respeito aos sujeitos da pesquisa, aos alunos e orientandos e aos pesquisadores reflete uma conduta ética na pesquisa, a partir de comportamentos que não afrontem as pessoas envolvidas nas atividades de pesquisa e que tenham compromisso com a verdade.

Além disso, o respeito pelo rigor acadêmico, no qual se espera domínio por parte do pesquisador, no tocante ao aporte teórico e execução metodológica.

Respeito é abordado como princípio ético pelos autores Creswell (2007) e por Bell e Bryman (2007). Os autores colocam que se deve respeitar a privacidade e ao anonimato dos sujeitos da pesquisa, bem como deve-se respeitar a dignidade dos participantes da pesquisa, dos pesquisadores ou outros, evitando-se desconforto ou ansiedade.

Os grupos focais, também, relacionaram a conduta ética à honestidade e transparência nos procedimentos da pesquisa. Verifica-se que honestidade e transparência são princípios éticos da pesquisa, recomendados e abordados por Creswell (2007), como também por Bell e Bryman (2007).

Creswell (2007) se refere aos princípios da honestidade nas práticas da pesquisa e a transparência na comunicação dos objetivos e dos órgãos apoiadores da pesquisa;

Já Bell e Bryman (2007) destacam que, os princípios éticos da honestidade e transparência, tratam da necessidade de abertura e honestidade ao transmitir informação sobre a pesquisa a todas as partes interessadas, incluindo a necessidade de confiança.

Com relação às atividades de pesquisa, verificou-se que os grupos acreditam que uma boa conduta está relacionada a comportamentos éticos na concepção da pesquisa, no planejamento da pesquisa, na coleta dos dados e na divulgação dos resultados finais. Logo, em todas as etapas da pesquisa. Este fato aponta para a necessidade de coerência por parte do pesquisador na condução da pesquisa e remete à ideia de que não se pode ter uma visão fragmentadora da atividade de pesquisa, o que levaria à possibilidade de condutas éticas apenas em partes do processo de pesquisa.

Em outra discussão foi levantada a temática da relação entre a conduta ética e responsável do pesquisador com a reflexão permanente sobre os limites da ciência. Um dos grupos que abordou essa temática, dos limites éticos da ciência, enveredou por exemplos de pesquisas na área de marketing que são feitas com crianças, de forma a venderem mais produtos às mesmas. Como também foram abordados os casos de pesquisa que envolvem a neurociência no estudo do comportamento dos consumidores.

A partir deste ponto, surgiram diversos questionamentos sobre até que ponto é ético pesquisar crianças, consideradas seres vulneráveis, para estimular o consumo infantil. Alguns participantes questionaram que esses casos levam o pesquisador a refletir: “Afinal o que é ética?”, “O que é ético pesquisar?”, “Qual é a ética de um pesquisador?”.

Porém, observou-se, a partir das colocações feitas nos grupos, que essa reflexão sobre os limites éticos da ciência e do pesquisador não é feita corriqueiramente. Os grupos em foco acreditam na importância desta reflexão, porém afirmam que não param para pensar nisso no dia a dia, quer por falta de tempo, quer por que não tinham parado ainda para pensar nisto, pelo menos conscientemente.

Destaca-se assim, que a reflexão sobre a responsabilidade ética do pesquisador e sua consciência profissional ao ser focada no avanço da ciência, deve considerar os possíveis impactos destes avanços sobre a vida social e sobre o ser humano, como também os limites éticos da busca dos objetivos científicos.

Apenas um dos grupos focais abordou a preocupação com o dano e associaram a conduta ética a não causar dano às pessoas envolvidas na atividade da pesquisa, às organizações pesquisadas e ao ambiente. Um dos participantes do GF/C avaliou que: “Há uma miopia, uma cegueira por parte do pesquisador em Administração, que acha que não

pode vir a prejudicar ninguém com sua prática de pesquisa [...] mas há o dano social e o dano psicológico”.

Hair Jr. et al.(2005) compartilham desta visão de que na pesquisa em Administração os sujeitos da pesquisa podem ser expostos a prejuízo potencial, que podem vir a gerar danos psicológicos. Muitas vezes, na pesquisa em Administração, o dano não é físico.

As percepções dos grupos focais no que refere ao ideal de conduta ética e responsável do pesquisador, indicam que os pesquisadores acreditam que a partir dos valores e crenças inerentes à condição humana e da formação do pesquisador será definida a conduta ética do pesquisador, com seus comportamentos éticos nas atividades de pesquisa, e que serão balizadas pelo respeito aos envolvidos nas atividades de pesquisa, honestidade, transparência, compromisso com a verdade, bem como pelas reflexões sobre os limites éticos da ciência.

Esta visão dos grupos focais relaciona a conduta ética do pesquisador com a formação do pesquisador, e esta relação de dependência apontada indica que, se o pesquisador tem boa formação profissional terá uma boa conduta ética na pesquisa, então, o inverso também ocorreria se não tem uma boa formação, o pesquisador tenderá a ser antiético. Prevalece assim, uma lógica de que não se faz necessária nenhuma orientação ou normatização ética.

A figura 13 aponta a percepção dos grupos focais quanto à conduta ética na pesquisa científica.

Figura 13 – Percepção dos grupos focais quanto à conduta ética na pesquisa científica

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

A discussão sobre a percepção dos grupos focais, com relação à conduta ética, remete à discussão sobre a integridade na pesquisa. Para um cientista, a integridade incorpora, acima de tudo, compromisso individual com a honestidade intelectual e responsabilidade pessoal (COMMITTEE ON ASSESSING INTEGRITY IN RESEARCH ENVIRONMENTS, 2002). Porém, a questão da ética na pesquisa científica é bem mais ampla que a questão individual do pesquisador, no que tange a integridade e a responsabilidade do pesquisador.

• Má conduta na pesquisa científica e o produtivismo

Quando lançada a questão que abordava a percepção dos grupos sobre a má conduta na pesquisa, foram apontados vários exemplos de desvio de conduta, sendo os mais citados o

Com sujeitos da pesquisa; Com alunos e orientandos e Com demais pesquisadores; Com o sigilo das informações Com o rigor acadêmico.

Conduta ética na pesquisa Conduta humana Valores e crenças Comportamento ético do pesquisador Respeito Reflexões sobre limites éticos da ciência Formação do pesquisador Compromisso com a verdade Transparência Honestidade

plágio e autoplágio. Outros casos de má conduta na pesquisa, na visão dos grupos focais, são apresentados a seguir:

- Falsificação e manipulação de dados da pesquisa; - Fabricação de dados;

- Alteração de resultados da pesquisa;

- Questões de autoria e co-autoria, indicando como co-autores pessoas que nada contribuíram com a pesquisa, o que chamam de “troca de favores” na autoria; - Criação de hierarquia fictícia na autoria do artigo, colocando o pesquisador

mais conhecido, como primeiro autor, sem ser verdade;

- Aplicação de pesquisas com procedimentos que possam vir a causar dano psicológico às pessoas envolvidas;

- Envio de um mesmo artigo científico para revistas distintas;

- Formação deficiente como pesquisador, que pode gerar má conduta;

- Falta de respeito com alunos e orientandos, no tocante a participação dos mesmos nas atividades de pesquisa desenvolvidas conjuntamente.

Percebe-se que foram apontados alguns desvios de conduta relacionados ao princípio ético da não maleficência - apontado na Resolução n. 196 - que preconiza que os possíveis danos aos sujeitos da pesquisa devem ser previstos e eliminados e na literatura por Bell e Bryman (2007), e ao princípio da transparência e honestidade nas práticas de pesquisa, destacados por Bell e Bryman (2007), Creswell (2007), Churchill e Peter (2005) e Tacsan (2003).

Dentre os aspectos de má conduta apontados, os grupos focais estudados destacam como má conduta na pesquisa científica as questões de adulteração dos dados da pesquisa, através das práticas de falsificação e fabricação, o que é considerado inaceitável nas diretrizes éticas do CNPq (2011).

A questão da autoria e co-autoria, destacadas pelos grupos, também é um ponto abordado nos documentos da FAPESP (2011) e CNPq (2011). Alguns desvios de conduta colocados pelos grupos focais não estão contemplados nos documentos formais analisados, mas são muito relevantes, pois tratam da questão da falta do respeito aos alunos e orientadores, bem como a formação deficiente do pesquisador, como geradora de condutas reprováveis por parte dos pesquisadores.

Foi discutido também que a falta de conhecimento pode gerar o erro por imperícia, mas que em muitos casos os erros são cometidos por negligência, em que o pesquisador sabe que está errado e mesmo assim faz. E ainda afirma “Mas todo mundo faz!”.

Nos debates sobre como ocorrem os casos de má conduta, foram apontados algumas deficiências que podem acarretar em desvios de conduta:

- Formação técnica (falta de rigor acadêmico);

- Inexperiência (nível de experiência com pesquisa, pode levar um pesquisador a erros), e

- Falta de orientações éticas (perspectiva mais ampla).

A partir da discussão sobre o que os grupos consideram ser má conduta na pesquisa, buscou-se saber se os pesquisadores acreditavam que o produtivismo (pressão por produzir muito) afetava a conduta do pesquisador. As discussões ocorridas no âmbito dos grupos focais se direcionaram para a crítica pela atual conjuntura de estímulo à quantidade elevada de produção de artigos, a serem aprovados de qualquer maneira, em detrimento da qualidade e relevância da pesquisa acadêmica. Alguns relatos das discussões apontam este direcionamento.

[...] nós estamos inteirados nessa ótica de competição, de produtivismo e a ciência não se faz por essa ética de buscar o saber que melhore seu número, por produtivismo, por mostrar muito mais no aspecto extremamente positivista dos números, às vezes bastante distante de realidades concretas dos seres humanos, então essa lógica atinge todos nós, por conta de um sistema que a utiliza em produzir o saber, não pelo saber e pelo crescimento humano, mas produzir o saber por que eu preciso ter meu nome lá, porque eu preciso ter mais publicações, então gera um tipo de competição que detona essa problemática da ética. (GF/B).

Acredito que quando o pesquisador não tem um ambiente institucional favorável, isso pode afetar e gerar uma conduta não ética. (GF/B).

O produtivismo gera a competição por números, pontos [...] Mas onde fica a relevância social da pesquisa? (GF/A).

Fico em conflito [...] pesquiso o que quero? O que gosto de pesquisar? Ou pesquiso o que é mais publicável? (GF/C).

As percepções dos grupos voltadas para a visão que o produtivismo, afetam a conduta do pesquisador, são corroboradas pelas visões de Bell e Bryman (2007), Mattos (2008) e Sguissardi (2010).

Mattos (2008) destaca que a pressão por publicação, tal como vem atuando sobre os professores e, em especial, professores dos programas de pós-graduação, com o tempo, gera hábitos de trabalho, institucionaliza práticas de pesquisa peculiares, talvez discutíveis.

Sguissardi (2010) também acredita que o produtivismo acadêmico está na raiz da intensificação e precarização do trabalho dos docentes/pesquisadores, constituindo um dos grandes desafios que envolvem a universidade como instituição e a produção do conhecimento necessário ao desenvolvimento e soberania do país.

Bell e Bryman (2007) destacam que, as pressões junto aos pesquisadores acadêmicos podem levá-los à necessidade de maior produtividade e isso pode incentivar práticas antiéticas de pesquisa, como a publicação de vários artigos praticamente idênticos em periódicos diferentes.

Constatou-se que, entre os grupos focais realizados, não houve consenso em relação ao tema do produtivismo, pois alguns participantes dos grupos focais acreditam que o produtivismo não afeta a conduta ética dos pesquisadores.

Eu acho o produtivismo um sistema perverso, mas particularmente meu comportamento ético não será abalado pelo produtivismo. (GF/D).

Eu não vou deixar de ser ético porque eu vou ter que produzir mais ou produzir menos. (GF/D).

A partir desses posicionamentos, emergem duas questões: a primeira, refere-se à discussão de que a má conduta do pesquisador é causada, em grande parte, pelo produtivismo, o que leva alguns pesquisadores a tentarem justificar suas práticas discutíveis, alegando a cobrança excessiva por publicações; a segunda questão, direciona-se à postura do pesquisador, que mesmo com o produtivismo deve pautar seu comportamento nas práticas éticas e aceitáveis nas atividades de pesquisa. Algumas falas de participantes dos grupos são destacadas a seguir, de forma a ilustrar esta discussão por outro ângulo.

A partir do momento que você tem consciência de seus valores e seus atos são balizados por eles, independentemente do meio, você acaba agindo de forma muito mais consciente (GF/A).

Eu não concordo com a negação do sistema, se eu ingressei numa profissão ou qualquer atividade, eu conheço as regras, não sou obrigado, especialmente na pós-

graduação [...] os professores mais capacitados talvez se encontrem numa situação de obrigação para produzir [...] nas universidades federais ninguém é obrigado a entrar na pós-graduação, está na pós quem conhece as regras. (GF/B).

Porém, acredita-se que, apesar de não se poder justificar que o produtivismo é o causador dos casos de má conduta, há um ambiente competitivo, com grandes pressões e com valorização da quantidade, ao invés da qualidade do conhecimento produzido, que indiretamente pode influenciar e ocasionar algumas práticas antiéticas por parte dos pesquisadores. Considera-se, para fins da presente pesquisa, que cabe ao pesquisador, consciente dos seus valores e dos limites éticos, decidir a sua conduta com base na sua responsabilidade e na sua integridade, sem permitir desvios de conduta devido às pressões externas.

4.3.2 Dilemas éticos enfrentados pelos grupos focais no desenvolvimento das atividades de pesquisa em Administração

Os dilemas éticos estão presentes em qualquer tipo de pesquisa e podem estar relacionados com todo o processo de desenvolvimento da pesquisa. Nas discussões junto aos grupos focais percebeu-se que o dilema ético que mais suscitou o debate inicial foi quanto à divulgação dos resultados da pesquisa. Os grupos explanaram suas preocupações no tocante

No documento Ética na pesquisa em Administração (páginas 137-200)