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Pesquisa em Administração

No documento Ética na pesquisa em Administração (páginas 86-101)

2.3 Ética na pesquisa em Administração

2.3.1 Pesquisa em Administração

Antes de serem abordados aspectos específicos da pesquisa em Administração, é importante discutir a pesquisa social, em que se insere a pesquisa em Administração. A expressão “ciências sociais” costuma ser usada para indicar as diferentes áreas do conhecimento que se preocupam com os fenômenos sociais, econômicos, políticos, culturais,

educacionais, ou seja, aqueles que englobam relações de caráter humano e social. (GODOY, 1995).

A ciência social surgiu há duzentos anos, mas a ciência social moderna é um fenômeno do século XX, com menos de cem anos de experiência. As pesquisas em gestão e negócios são ainda mais recentes, e foram os estudos de Hawthorne em 1920 e 1930 que, provavelmente, deram início aos estudos estruturados nas pesquisas de gestão e negócios. (REMENYI et al.,1998).

“Com o crescimento do domínio das ciências sociais, a predição de fatos cede espaço para a interpretação de sentidos, e os critérios e formas de validação sofrem alteração”. (OLIVEIRA; PICCININI, 2009, p.90).

Kababadse et al. (2002) destacam que a maioria das conclusões da pesquisa social continua a ser provisória, assim como, os pesquisadores raramente alcançam resultados definitivos, devido ao fato de abordarem valores humanos, normas e instituições, trabalho e as tradições, linguagem, pensamento e comunicação - todos contextuais.

Já Oliveira e Piccinini (2009) salientam que, em termos de validade, não apenas o que o pesquisador produz se torna importante, mas também suas próprias ações, com destaque para sua integridade ética na coleta, análise e resultados apresentados em seus estudos e as possíveis consequências para os sujeitos envolvidos na pesquisa. O pesquisador se torna crítico do seu modo de interagir com a comunidade e da qualidade do conhecimento científico produzido. Essa afirmação remete para a questão da integridade na pesquisa.

Além da validade, os autores anteriormente citados, também destacam a reflexividade como outro conceito importante e salientam que as pesquisas em ciências sociais são, primeiramente, empreendimentos de construção de conhecimento. Nesse sentido, é fundamental que dentro da própria ciência haja um espaço de reflexão onde se questione e analise os rumos que esta tem tomado, os procedimentos empregados e a forma como os pesquisadores têm se relacionado com os sujeitos da pesquisa.

Tanto o pesquisador quanto os sujeitos estão engajados em produzir conhecimento, constituindo um processo ativo que requer exame minucioso, reflexão e interrogação dos dados do próprio pesquisador, dos participantes e do contexto em que eles habitam. Assim, colocam os autores, um dos conceitos que se torna central no desenvolvimento de estudos em ciências sociais é a reflexividade. (OLIVEIRA; PICCININI, 2009).

Observa-se assim que, Oliveira e Piccini (2009) salientam a importância da reflexividade na pesquisa social, ou seja, a capacidade de refletir e pensar criticamente sobre os fenômenos sociais estudados na construção do conhecimento, sem esquecer a questão da ética na pesquisa.

Diniz e Guerriero (2008) discorrem sobre alguns aspectos relacionados ao campo da ética na pesquisa social, e colocam que poucos estudos sociais apresentaram controvérsias éticas durante a fase de coleta de dados, pois a maioria dos casos, o dilema ético surgiu após a divulgação dos resultados, o que vem a indicar uma das particularidades éticas da pesquisa social, pois diferentemente da pesquisa biomédica, grande parcela das pesquisas sociais envolvem risco mínimo aos participantes na coleta dos dados.

As autoras supracitadas apontam que é na fase da divulgação dos resultados que estão os maiores desafios éticos, tais como garantia de anonimato e sigilo, ideias sobre representação justa, compartilhamento dos benefícios, devolução dos resultados, entre outros.

As autoras afirmam ainda que, a pesquisa social tem risco mínimo, mas o risco existe, o que deve ser considerado pelos pesquisadores e avaliadores, só que em proporções distintas da pesquisa biomédica.

A partir da pesquisa social, cabe então apresentar alguns conceitos e características da pesquisa em Administração. Cooper e Schindler (2003) colocam que, cada vez mais se faz necessário estudar pesquisa em administração, em uma abordagem científica, face à necessidade de mais e melhores informações para tomada de decisões gerenciais, como também pela disponibilidade de técnicas e ferramentas mais avançadas para atender a essa necessidade, e também pela sobrecarga de informações resultantes, caso não se empregue disciplina no processo.

A elaboração de pesquisas científicas em organizações deve ser algo que adicione valor ao corpo do conhecimento. Uma pesquisa acadêmica em Administração é um assunto filosófico, que inclui a questão de “como pesquisar”, requerendo dos pesquisadores, um entendimento da natureza dos processos necessários para a criação do conhecimento, com a utilização de uma abordagem de pesquisa que seja sólida. O problema é que o processo de condução de uma pesquisa é altamente subjetivo. (REMENYI et al., 1998).

Cooper e Schindler (2003) afirmam que, pesquisa é qualquer investigação organizada executada para fornecer informações para solução de problemas. Em Administração, pesquisa consiste em investigação sistemática que fornece informações para orientar a tomada de

decisões na área de gestão, o que inclui estudos informativos, que exigem conhecimento e habilidade com as fontes de informação e com os controladores de tais fontes; descritivos, em que o pesquisador tenta descrever ou definir um fato, sem explicar por que este ocorreu ou por que as variáveis interagem de uma determinada maneira; explanatórios, baseados em teoria, que é criada para responder às perguntas – “por que” e “como”, indo além da descrição, tentando explicar as razões para o fenômeno estudado; ou preditivos, que busca prever um fenômeno.

Os referidos autores reforçam que, a pesquisa em Administração não é normalmente conduzida sob condições controladas em laboratório, como as pesquisas de outras áreas, como medicina entre outras, e que lida com atitudes humanas, comportamento e desempenho.

Os autores destacam ainda que, a boa pesquisa científica no campo da Administração deve ser derivada de práticas conduzidas de forma confiável, para ser usada com segurança na decisão gerencial, e ressaltam nove características: propósito claramente definido, processo de pesquisa detalhado, planejamento de pesquisa completo, altos padrões éticos aplicados, limitações reveladas francamente, análise adequada, resultados apresentados de forma não- ambígua, conclusões justificadas, e experiência refletida do pesquisador.

O campo da pesquisa em Administração é muito abrangente, envolve: pesquisas na área de gestão social, gestão pública, gestão organizacional, com subáreas definidas como, por exemplo: gestão da produção, gestão financeira, gestão de marketing, gestão da informação, gestão de pessoas, logística, entre outras. Independentemente da área que o pesquisador atue, observa-se que as questões éticas devem ser abordadas em cada etapa da pesquisa, e enfocando as nove características apresentadas pelos autores anteriormente citados.

A partir da discussão sobre a pesquisa social e pesquisa em Administração, procurar- se-á apresentar conceitos e abordagens sobre a ética na pesquisa em Administração, campo conceitual pouco explorado pela literatura nacional, mas já trabalhado internacionalmente.

2.3.2 Ética na pesquisa em Administração

Cooper e Schindler (2003) discorrem sobre a importância da ética na pesquisa em Administração, que tem por objetivo assegurar que ninguém seja prejudicado ou sofra

consequências adversas das atividades de pesquisa, ressaltando que ética é diferente das restrições legais, em que padrões geralmente aceitos têm penalidades definidas, usadas universalmente.

E reforçam que,

Cada vez mais se faz necessário estudar pesquisa em administração, em uma abordagem científica, face à necessidade de mais e melhores informações para tomada de decisões gerenciais; à disponibilidade de técnicas e ferramentas mais avançadas para atender a essa necessidade; e à sobrecarga de informações resultante, caso não se empregue disciplina no processo. (COOPER; SCHINDLER, 2003, p. 26).

Os referidos autores salientam que a pesquisa demanda um comportamento ético de seus participantes, e que a pesquisa ética exige integridade pessoal do pesquisador. Como também, colocam que muitos problemas éticos do projeto podem ser eliminados com planejamento cuidadoso e vigilância constante.

Churchill e Peter (2005) também apresentam visão similar quanto a relação entre a ética na pesquisa e o planejamento de pesquisa bem elaborado. Os autores afirmam que, o ato de planejar uma atividade de pesquisa é imprescindível para a manutenção da integridade moral. Uma pesquisa responsável é a que se antecipa aos possíveis problemas éticos e não aquela que se justifica posteriormente a realização da investigação.

Para Bell e Bryman (2007), a preocupação com a ética também pode ser estimulada por pressões junto aos pesquisadores acadêmicos, que são levados pela necessidade de maiores contribuições e produtividade e isso pode incentivar práticas antiéticas de pesquisa, como a publicação de vários artigos praticamente idênticos em periódicos diferentes. E colocam que a ética deve ser parte integrante de todos os aspectos da pesquisa em Administração.

Conforme Remenyi et al. (1998), como a pesquisa em gestão e negócios se desenvolveu recentemente, muita atenção tem sido dada aos métodos empregados para justificar as reivindicações de que alguns materiais e artigos de valor tenham sido acrescentados ao corpo de conhecimento acumulado. Com o resultado, a metodologia de pesquisa é ensinada explicitamente para aqueles que desejam estudar a administração e os negócios.

Segundo Kakabadse et al. (2002), a pesquisa em gestão é inevitavelmente influenciada pelo posicionamento ontológico do pesquisador ou suas visões da realidade social. O pesquisador precisa se precaver contra o próprio preconceito, muitas vezes, em benefício da investigação. A pesquisa exige explicitamente que os pesquisadores compreendam os seus próprios valores e atitudes, de forma a atentarem para a conduta ética na investigação. Assim a ética, teoria dos valores, representa um dos pilares da filosofia de pesquisa, que guia a conduta do pesquisador durante o processo de investigação.

Easterby-Smith et al. (1999) também corroboram com a visão de Kakabadse et al. (2002), de que o pesquisador deve estar preparado para as questões éticas na pesquisa, e também compreender seus próprios valores.

[...] a pesquisa pode ser vista como uma forma para acelerar o processo de compreensão; portanto, ela deve conduzir não só a uma compreensão melhor da gerência, mas também a uma compreensão melhor, para os gerentes, a respeito de como realizar melhor o seu trabalho. [...] Embora as questões filosóficas possam parecer ocultas nos métodos de pesquisa, é difícil escapar aos fatores políticos e éticos na pesquisa gerencial [...] Portanto, nesse processo, o pesquisador deve estar preparado para confrontar questões de ordem ética e estar conscientes dos seus próprios valores. (EASTERBY-SMITH et al., 1999, p.1-2).

Remenyi et al. (1998) destacam que os pesquisadores da área de gestão trabalham extensivamente no campo em vez de trabalharem em laboratórios, e estarem em campo significa terem uma ampla gama de contato com pessoas de todas as esferas, classes, raças, sexos, entre outras fronteiras. E isto exige confiança, alto grau de maturidade e integridade por parte do pesquisador acadêmico nesta área, de forma a não gerar impactos negativos junto às pessoas e entorno.

As preocupações éticas permeiam todos os aspectos do processo de pesquisa em gestão, e de alguma maneira, eles permeiam também todas as ações humanas e suas interações. (KAKABADSE et al., 2002).

Os referidos autores colocam ainda que, sempre que há uma escolha a ser feita, quando existem várias formas de fazer alguma coisa, ou quando um problema é considerado, há um julgamento ético envolvido. Na pesquisa em gestão, em um sentido amplo, são questões éticas: as decisões e as escolhas sobre os objetivos do estudo.

Bell e Bryman (2007) questionam se os pesquisadores em Administração podem continuar a adotarem as técnicas e as práticas estabelecidas em outras ciências sociais, em um contexto onde há uma maior regulamentação na pesquisa social. Os autores também colocam

que existem algumas questões éticas a serem afetadas pelo contexto específico da pesquisa em Administração.

[...] a pesquisa demanda um comportamento ético de seus participantes. Ética são normas ou padrões de comportamento que guiam as escolhas morais referentes a nosso comportamento e nossa relação com as outras pessoas. [...] atividades antiéticas existem e incluem violação de acordos de não-revelação, quebra de confidencialidade, má interpretação dos resultados, logro de pessoas, irregularidades de orçamento, fuga de responsabilidade jurídica e mais. (COOPER; SCHINDLER, 2003, p. 110).

Na visão de Hair Jr. et al. (2005), os pesquisadores em Administração são confrontados por considerações éticas e possíveis dilemas no decorrer de todo o projeto de pesquisa, que podem estar relacionados aos participantes estudados e com a própria integridade profissional.

Os autores supracitados colocam que, antes do projeto da pesquisa é talvez a parte mais crítica em todo o processo de pesquisa, onde o pesquisador deve traduzir uma situação para uma proposição de pesquisa viável, o que envolve avaliar honestamente a capacidade e habilidades próprias, como também os recursos necessários. Durante a pesquisa, o pesquisador tem a obrigação moral de ter completo conhecimento dos instrumentos analíticos e estatísticos necessários para a execução da pesquisa.

Os referidos autores também destacam que, na pesquisa em Administração os sujeitos pesquisados podem ser expostos a prejuízo potencial, onde há a possibilidade deste prejuízo ocorrer, caso um pesquisador coloque o sujeito estudado em condições indevidas de estresse, ao estudar o efeito do estresse sobre o desempenho no trabalho, provavelmente através de experimentos, onde pode manipular o tempo necessário de uma tarefa e observar os resultados no desempenho, gerando assim, danos psicológicos. Muitas vezes, na pesquisa em Administração, o dano não é físico.

Churchill e Peter (2005) salientam que, se faz imprescindível o esclarecimento aos respondentes sobre os objetivos de pesquisa, dando lhes o direito a privacidade e garantia de que essa confiabilidade não será burlada. Cabe ao pesquisador restringir o acesso de informações como nome, telefone, endereço ou outras formas de identificação, inclusive para pequenos grupos onde a identificação pode ser facilitada por respostas específicas. As pesquisas em Administração possuem diversas áreas que podem sofrer oportunismos eliminando a questão ética de suas investigações e que devem ser estudadas.

Na visão de Bell e Bryman (2007), a pesquisa deve ser projetada de forma que o respondente não sofra dano físico, desconforto, dor, embaraço ou perda de privacidade.

Para se proteger disso, o pesquisador deve seguir três diretrizes: (1) Explicar os benefícios do estudo;

(2) Explicar os direitos e as defesas do respondente; e

(3) Obter consentimento expresso. (COOPER; SCHINDLER, 2003).

Churchill e Peter (2005) também acreditam que a relação entre pesquisador em Administração e participantes deve ser mantido dentro de limites éticos e que para desenvolver, de forma ética, uma investigação é necessário que o respondente não possa sofrer nenhum dano.

Os referidos autores apontam alguns princípios éticos que devem ser observados em toda pesquisa, incluindo a pesquisa em Administração: preservação da privacidade dos participantes, não utilização de questionamentos que sejam contrários aos interesses dos participantes, não expô-los a tensão mental, não colocar sua segurança ou privacidade em risco, não coagi-los, ou enganá-los. (CHURCHILL; PETER, 2005).

Na visão de Cooper e Schindler (2003), é importante ressaltar a necessidade de planejamento adequado da pesquisa, observando-se a relação ética entre pesquisador, equipe de pesquisa, patrocinador e respondentes, sendo questionável o uso de estratagemas que, quando usados, deve-se esclarecer aos respondentes assim que possível.

Os autores Cooper e Schindler (2003) abordam algumas questões e princípios éticos a serem considerados no processo de pesquisa, da seguinte forma:

• Na definição do problema (preservar o anonimato do patrocinador da pesquisa); • Na proposta da pesquisa (enfatizam a necessidade da qualidade da pesquisa; a não

revelação dos objetivos do patrocinador e a necessidade de ausência de coerção por parte do patrocinador);

• No planejamento da pesquisa (qualidade da pesquisa; consentimento informado pelo sujeito da pesquisa; privacidade; ausência de coerção);

• Na coleta de dados e preparação (privacidade do pesquisado e do patrocinador da pesquisa, segurança do pesquisado e pesquisador);

• Na análise, interpretação dos dados e relatório da pesquisa (confidencialidade; qualidade da pesquisa e ausência de coerção do patrocinador).

Porém, observa-se que os referidos autores não enfocam, particularmente, a pesquisa científica, mas a pesquisa comercial, ao enfatizarem que o anonimato do patrocinador deve ser preservado, quando na pesquisa científica a identificação dos patrocinadores da pesquisa é questão fundamental, de forma a evitar conflito de interesses. E outro aspecto conflitante com a pesquisa científica, é a recomendação dos autores com a não revelação dos objetivos do patrocinador, o que não é recomendado nas pesquisas científicas.

Cooper e Schindler (2003) salientam também, que o pesquisador ético sempre segue regras e condições analíticas para que os resultados sejam válidos. Ocasionalmente, os patrocinadores podem solicitar aos especialistas em pesquisa a prática de um comportamento antiético. Se o pesquisador concordar, estará quebrando os padrões éticos. Outra responsabilidade ética dos pesquisadores é a segurança – sua própria e de sua equipe.

A figura a seguir ilustra os pontos abordados por Cooper e Schindler (2003), apresentando as questões éticas a serem abordadas em cada etapa do processo de pesquisa comercial. Destaca-se a figura como forma de apresentar as etapas do processo de pesquisa, e algumas questões éticas em comum com a pesquisa científica.

Fonte: Cooper e Schindler (2003, p. 111). • Uso de estratagema; • Direito do patrocinador à qualidade da pesquisa. Proposta de pesquisa

• Direito do patrocinador à qualidade da pesquisa;

• Direito do patrocinador à não-revelação de objetivo;

• Direito do pesquisador à ausência de coerção do patrocinador.

Planejamento de pesquisa Estratégia do planejamento

Exploração Exploração

Descobrir o problema de administração Definir o problema de administração Definir a(s) questão(ões) de pesquisa Refinar a(s) questão (ões) de pesquisa

Não revelação do patrocinador

Coleta de dados Amostragem

Questões e instrumento de teste-piloto

• Direito da pessoa ao consentimento informado; • Direito da pessoa à privacidade (recusa); • Direito do patrocinador à qualidade da pesquisa; • Direito do pesquisador à ausência de coerção do patrocinador. Revisão do instrumento

Coleta de dados e preparação

Análise e interpretação de dados

Relatório de pesquisa Decisão de administração • Direito da pessoa à privacidade; • Uso de estratagema; • Direito do patrocinador à não-revelação do patrocinador; • Direito do pesquisador à segurança. • Direito do patrocinador à não-revelação dos resultados; • Direito da pessoa à confidencialidade; • Direito do patrocinador à qualidade da pesquisa; • Direito do pesquisador à ausência de coerção do patrocinador.

Bell e Bryman (2007) realizaram um estudo que analisou o conteúdo de nove códigos de ética adotados por associações acadêmicas de pesquisa social, no Reino Unido e nos Estados Unidos. A partir dessa análise do tom ético geral dos códigos, os autores identificaram onze categorias de princípios éticos: dano aos participantes, consentimento informado, anonimato, dignidade, privacidade, confidência, afiliação, honestidade e transparência, decepção, má representação e reciprocidade. As onze categorias são detalhadas a seguir, com breve descrição de cada uma:

• Dano aos participantes – trata-se do potencial de causar dano através do processo de pesquisa e a necessidade de assegurar o bem-estar físico e psicológico tanto dos participantes da pesquisa quanto dos pesquisadores;

• Dignidade – a necessidade de se respeitar a dignidade dos participantes da pesquisa, dos pesquisadores ou outros, evitando-se desconforto ou ansiedade;

• Consentimento informado – a necessidade de assegurar o consentimento informado completo dos participantes da pesquisa;

• Privacidade – a necessidade de proteger a privacidade dos sujeitos da pesquisa ou de evitar invasões de privacidade;

• Confidência – a exigência para assegurar confidência aos dados da pesquisa, seja em relação a indivíduos, grupos ou organizações;

• Anonimato – proteção do anonimato de indivíduos ou organizações;

• Decepção – o potencial para decepção através do processo da pesquisa, seja através de mentiras ou comportamento duvidoso;

• Afiliação – a necessidade de declarar qualquer afiliação profissional ou pessoal que possa ter influenciado a pesquisa, incluindo conflitos de interesse e patrocínio ou informação sobre a origem do financiamento da pesquisa;

• Honestidade e transparência – a necessidade de abertura e honestidade ao transmitir informação sobre a pesquisa a todas as partes interessadas, incluindo a necessidade de confiança;

• Reciprocidade – a ideia de que a pesquisa deve ser um benefício mútuo para o pesquisador e participantes ou que alguma forma de colaboração ou participação ativa deva ser envolvida;

• Má representação – a necessidade de se evitar enganos, maus entendimentos, má representação ou falso relatório das descobertas da pesquisa.

A figura a seguir ilustra as categorias dos princípios éticos, abordadas por Bell e Bryman (2007).

Figura 8 – Categorias de princípios éticos identificados em códigos de ética na pesquisa social

Fonte: Elaboração própria, com base na análise de Bell e Bryman (2007).

A abordagem dos autores apresentada anteriormente é a que mais se aproxima dos aspectos peculiares da ética na pesquisa em Administração, pois os autores chegaram as onze categorias a partir de análises de códigos de ética na pesquisa social, em que a pesquisa em Administração está inserida.

Bell e Bryman (2007) observam, também, que a posição atual da comunidade de

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