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Princípios éticos na pesquisa

No documento Ética na pesquisa em Administração (páginas 65-68)

2.1 Ética

2.2.3 Princípios éticos na pesquisa

No campo da literatura, principalmente internacional, sobre pesquisa e metodologia, alguns autores apontam alguns princípios éticos na pesquisa. Os autores abordam princípios gerais, que podem ser aplicados a pesquisas científicas ou não.

Creswell (2007) apresenta aspectos éticos gerais e coloca que as questões éticas devem ser consideradas e refletidas em todo o processo de pesquisa. O quadro a seguir apresenta as questões éticas a serem observadas em cada etapa do processo de pesquisa, na visão do autor.

Quadro 4 - Questões éticas a serem observadas no processo da pesquisa

Etapa da Pesquisa Princípios éticos

No problema da pesquisa - Beneficiar ou não prejudicar os participantes Nos objetivos e nas indagações da

pesquisa

- Comunicar os objetivos do estudo aos participantes;

- Comunicar quem é o patrocinador ou órgão que apóia a pesquisa. Na coleta de dados - Respeitar os participantes e o local da pesquisa (deixar intacto);

- Não expor participantes e equipe da pesquisa ao risco; - Não coagir o participante a participar da pesquisa;

- Obter, por escrito, o livre consentimento do participante, bem como o consentimento do acesso ao local da pesquisa;

- Deixar claro a natureza da pesquisa e o possível impacto da pesquisa sobre os participantes (gerar entendimento dos riscos resultantes da pesquisa);

- Respeitar a privacidade do participante;

Prever as repercussões da condução da pesquisa junto à determinados públicos.

Na interpretação dos dados - Manter o anonimato das pessoas e/ou empresas pesquisadas;

- Armazenar os dados da pesquisa durante tempo determinado e depois destruir os dados, de forma a evitar a utilização dos mesmos por terceiros;

- Gerar informações precisas e exatas (exatidão). Na divulgação e redação da pesquisa - Não usar linguagem ou palavras preconceituosas;

- Evitar supressão, falsificação ou invenção de resultados, para atender necessidades do pesquisador ou de um público interessado (evitar práticas fraudulentas na pesquisa);

- Não realizar análises equivocadas por despreparo técnico profissional (como na utilização de softwares);

- Disponibilizar o resultado final da pesquisa (cópia dos resultados) ao pesquisado e órgão de apoio da pesquisa.

A partir da abordagem teórica de Creswell (2007), resumida no quadro apresentado anteriormente, podem-se agrupar alguns princípios éticos discutidos pelo autor: beneficência; transparência na comunicação dos objetivos e dos órgãos apoiadores da pesquisa; não exposição dos participantes da pesquisa ao risco; autonomia e livre consentimento dos participantes; respeito à privacidade e ao anonimato; disponibilização do resultado final da pesquisa; honestidade nas práticas em processo e qualidade na análise dos dados. Princípios esses que podem ser observados em todo tipo de pesquisa e em cada fase da atividade de pesquisa, que o autor divide em: problema de pesquisa; objetivos e indagações da pesquisa; coleta de dados; interpretação dos dados; divulgação e redação da pesquisa.

Tacsan (2003) destaca também, alguns princípios gerais da ética na pesquisa:

• O princípio de beneficência - tange a obrigação de reunir os esforços de modo a garantir o bem-estar ao sujeito da investigação, além do dever de maximização dos benefícios prováveis, e minimização no caso de possíveis danos;

• O princípio de justiça - evoca o amparo a grupos culturais e sociais, raciais e étnicos;

• O princípio de segurança - visa à garantia de que o trabalho não causará qualquer dano aos envolvidos; e

• O princípio do consentimento informado - visa a garantir que o sujeito da pesquisa esteja consciente de cada uma das etapas do trabalho investigativo e que poderá ser interrompido sob controle e, se isso ocorrer, estará o sujeito da pesquisa devidamente apto a desvincular-se livremente do processo investigativo.

Tanto Creswell (2007) quanto Tacsan (2003) destacam o princípio da beneficência, que envolve o bem-estar e os benefícios prováveis aos sujeitos da investigação. Outro aspecto destacado pelos dois autores, em comum, relaciona-se ao princípio do consentimento informado, em que deve ser obtido o livre consentimento do participante (de preferência por escrito), como também informado o objetivo do estudo e que o sujeito investigado pode desistir de participar da pesquisa a qualquer momento.

Churchill e Peter (2005) definem algumas áreas de preocupação ética em pesquisa, que estão resumidas no quadro a seguir, e que indicam, mesmo indiretamente, alguns princípios éticos na pesquisa.

Quadro 5 - Áreas de preocupação ética em pesquisas

Orientações e princípios da ética em pesquisas

Preservar o anonimato do participante Não expor os participantes a tensão mental

Não fazer aos participantes perguntas contra o seu próprio interesse. Não envolver os participantes em pesquisas sem o seu consentimento –

Ou observar secretamente os participantes, a observação disfarçada. Não trapacear - Adulteração dos dados

Não usar coerção.

Evitar privar os participantes de seu direito à autodeterminação.

Evitar despreparo técnico profissional na utilização de relatórios informatizados – Não utilização adequada das técnicas, refletindo em análises equivocadas. Não explorar os sentimentos nobres do ser humano - apoiando-se na solidariedade

e piedade dos indivíduos para obter o que deseja. Fazer treinamento e supervisão dos entrevistadores.

Evitar utilização de subornos diretos ou indiretos - Para alcançar vantagens pessoais.

Garantir a segurança dos entrevistadores examinadores e outros – Não colocando suas vidas em risco na aplicação de instrumentos de pesquisa em

áreas não seguras.

Entrevistas não devem ocorrer em horários impróprios ou inconvenientes. Entrevistas não devem ser longas.

Entrevistas não devem conter perguntas censuráveis ou constrangedoras. Os pesquisados não devem sofrer nenhum dano físico, desconforto ou dor.

Evitar ser tendencioso na interpretação. Não gerar perda de privacidade ao pesquisado.

Prestar esclarecimento aos respondentes sobre os objetivos de pesquisa. Informar consequências adversas por causa das atividades de investigação. Evitar mentir estatisticamente ou na análise dos dados - Apresentando conclusões

falsas ou forçando resultados que agradam ao pesquisador ou ao patrocinador. Fonte: Elaborado a partir de Churchill e Peter (2005, p. 138).

Os autores Churchill e Peter (2005), assim como Tacsan (2003) e Creswell (2007), também abordam orientações éticas voltadas às questões do anonimato, da preservação do sujeito da pesquisa, sem causar nenhum tipo de dano, do anonimato, do consentimento livre.

Outro aspecto abordado pelos autores Creswell (2007) como também por Churchill e Peter (2005), que merece destaque, se refere ao preparo na análise dos resultados. Os autores enfatizam que o pesquisador deve evitar supressão, falsificação ou invenção de resultados, ou seja, que deve evitar mentir estatisticamente ou na análise dos dados - apresentando conclusões falsas. Deve evitar também realizar análises equivocadas por despreparo técnico profissional ou pela não utilização adequada das técnicas. Essas questões abordadas pelos autores refletem preocupações éticas com a questão das práticas fraudulentas na pesquisa.

No tópico seguinte será apresentado um marco regulatório, abordando o surgimento e a evolução das normas institucionais da ética na pesquisa no âmbito internacional e no Brasil. Serão também apresentadas as atuais diretrizes que norteiam a conduta ética na pesquisa, em vigência no Brasil.

No documento Ética na pesquisa em Administração (páginas 65-68)