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Capítulo 4 – Modelagem Aplicada ao OSC: Polo Ativo e Passivo

4.3. Proposta de índices de avaliação do comportamento dos países em desenvolvimento no OSC

4.3.2. Índice de inibição de efetividade (ET) – Polo passivo

No polo passivo, de forma análoga ao polo ativo, utilizaremos as mesmas notações em nossa discussão por uma questão de simplicidade, sendo m a quantidade total de eventos, k a quantidade de sucessos (no sentido do modelo – acionamentos-padrão recebidos) e r a quantidade de fracassos (acionamentos-padrão não recebidos – zero condicional x diferente do zero estrutural fruto de um não evento), teremos que m = k + r. (a) Similarmente ao polo ativo, a questão que se levanta de uma análise lógica é – por que existiram r fracassos? Por que o grupo deixou de receber r acionamentos-padrão? A resposta a esta pergunta deverá estar igualmente relacionada às nossas variáveis explicativas para este modelo específico;

(b) Partindo das premissas elencadas abaixo, que novamente destacamos são uma simplificação instrumental do processo:

- Quando um grupo é alvo de uma decisão de um outro membro de acioná-lo ou não no OSC é por que o grupo cometeu efetivamente uma violação aos normativos da OMC, esta violação foi detectada por outro membro que dela sofreu danos e já se exauriram as fases prévias e possibilidades de negociação bilateral, sendo a concretização do acionamento (sucesso) ou não concretização (fracasso) o ato final de levar ou não adiante uma determinada contestação contra este país.

- Para qualquer grupo, em um contexto ideal, não deveria haver diferença entre o número de violações cometidas por este, que causem dano a outro membro e tenham sido detectas e não dirimidas antes do outro membro ter efetivamente de decidir por acioná-lo ou não, e o número de sucessos (acionamentos-padrão recebidos).

- O que se traduziria em m = k (r = 0), uma vez que todo grupo deveria sempre buscar maximizar seus ganhos e minimizar suas perdas na OMC e, portanto, buscar levar qualquer país/grupo em descumprimento aos normativos da OMC a convergir para a conformidade com o mesmo. Dessa forma, se um grupo deixa de receber acionamentos- padrão (r > 0) é por que algum fator inibiu a efetivação destas contestações por um segundo grupo contra este.

- No entanto, assim como no polo ativo, também no polo passivo não se espera a ocorrência de igualdade entre eventos e sucessos, pois, parcela das decisões será bloqueada por diversos fatores ligados a variáveis explicativas que serão apresentadas no próximo capítulo e resultarão, portanto, em fracasso.

- Espera-se, em geral, a ocorrência de valores intermediários de sucesso para os grupos. A pergunta adequada aqui é, de forma similar, o contrário do polo ativo. Se no polo ativo nosso interesse reside na taxa relativa de sucesso, no polo passivo nosso interesse está na taxa relativa de fracasso para os diferentes grupos de renda de países em desenvolvimento em relação aos países desenvolvidos. Igualmente, apenas diferenças estatisticamente significativas entre os grupos poderão indicar uma super ou subpassividade no sistema.

(d) A diferença entre ambas as taxas, que no polo passivo será definida como índice de inibição de efetividade (ET), deverá ser, portanto, nosso critério de avaliação do comportamento de cada grupo em relação ao grupo de referência (países desenvolvidos). Para isto, no polo passivo, o ET será expresso como:

o valor adicional de fracassos (r) obtidos por um determinado grupo de renda em seus acionamentos-padrão recebidos em relação ao grupo de referência (países desenvolvidos) dada uma mesma quantidade de decisões/eventos (m) que tenha este grupo como alvo.

- De forma análoga ao polo ativo, a depender dos valores das variáveis explicativas cada grupo de renda será alvo de uma quantidade diferente de eventos base (m) para decisão sobre acionamentos-padrão contra este. Dessa forma, utilizaremos variáveis dummy para cada um dos grupos de renda que desejamos medir o índice, que será expresso diretamente pelo efeito estimado dos coeficientes destas variáveis no nível 2 de contagem do modelo (controladas as demais variáveis em seus valores médios para todos os grupos, ou seja, dada uma quantidade igual de eventos m para todos os grupos). A notação utilizada aqui é uma simplificação para permitir uma discussão didática sobre a função e propriedades deste índice.

Uma forma esquemática do fluxo de efetividade do processo para o modelo de polo passivo descrito é apresentado na Figura 4.2 a seguir:

Figura 4.2 - Fluxo de efetividade no modelo de polo passivo

Fonte: Elaboração própria.

A ocorrência de um valor de m = 0 para um país/grupo significa que não houve nenhum momento de decisão por qualquer outro membro da OMC que ensejasse a possibilidade de acionar este país/grupo. A depender dos valores das variáveis observadas para o país/grupo em questão (tais como baixos volume de comércio e PIB), as violações das normas da OMC pelo mesmo podem ser inexistentes; poucas (com baixa probabilidade de detecção); e/ou irrelevantes (no sentido do baixo dano relativo causado a outros países potencialmente demandantes).

Dessa forma, os demais membros não chegam a tomar uma decisão sobre o acionamento ou não deste país/grupo, pois, ele está a priori fora do foco. Nestes casos, existe um efeito estrutural que exclui estes países de serem potencialmente acionados no

sistema (zero estrutural). Chamaremos este tipo de país/grupo de “não acionável”. Ao passo que o país/grupo que reúne condições estruturais para receber acionamentos (que dependerão de uma decisão para ocorrer ou não) será chamado de “acionável” (zero condicional).

Ambos os termos conforme empregados neste estudo tem unicamente o sentido estrito acima referido. Portanto, não se confundem com o conceito usado para a factibilidade de ações que causem dano possam ou não ser objeto de demanda no sistema (como nas categorias “subsídios acionáveis” e “subsídios não acionáveis” por exemplo).

A partir desta ótica, o que importa na realidade para a avaliação do comportamento dos diferentes grupos de renda é se, após o controle dos principais efeitos estruturais influentes no sistema (efeito iceberg e efeitos gravitacionais e discriminatórios), existem diferenças estatisticamente significativas dos índices de eficácia (polo ativo) e de inibição de efetividade (polo passivo) entre os diferentes grupos de renda.

Em outras palavras, se após a modelagem com o controle destes efeitos internos ao sistema pode-se observar algum efeito externo atrelado a covariáveis qualitativas ligadas aos diferentes níveis de renda (isto é: dummies para os subgrupos dos países em desenvolvimento) no comportamento dos países em desenvolvimento em comparação com os países desenvolvidos (grupo focal).