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Modelagem multinível na academia brasileira de ciência política e relações internacionais

Capítulo 5 – Revisão da Literatura e Seleção de Variáveis Explicativa

5.2. Modelagem multinível na academia brasileira de ciência política e relações internacionais

Uma revisão da literatura de estatística/econometria aplicada a ciências humanas e sociais mostra que na literatura internacional nas últimas duas décadas tem havido uma adoção crescente do uso de modelagem multinível para o tratamento de dados de contagem, que são variáveis comuns nas observações de fenômenos políticos e sociais. Na presença de problemas hierárquicos na estrutura dos dados, modelos multiníveis tem sido adaptados à grande área de estudo da ciência política com grande sucesso (por exemplo: MORTON, WILLIAMS, 2010; BECK et al., 1998; BRAMBOR et al., 2006; FLOM, STRAUSS, 2003; GELMAN, 2004; Ibid, 2011; GELMAN, HILL, 2007).

O uso de modelos multiníveis para dados binários nas ciências humanas e sociais tem sido sistematicamente mais adotado em estudos nas áreas de educação, economia/desenvolvimento e psicologia, onde entender aspectos contextuais da estrutura hierárquica dos dados são cruciais. Adicionalmente, com a popularização de ferramentas estatísticas mais robustas e a difusão de softwares de análise, o uso de modelos hierárquicos se espalhou para uma grande diversidade de áreas da pesquisa social (CARRINGTON et al., 2005; STEVENS, 2009).

Na academia brasileira é possível observar o uso deste tipo de ferramental especialmente nas áreas de economia (por exemplo: FÁVERO, CONFORTINI, 2010), educação (por exemplo: BARBOSA, FERNANDES, 2000), psicologia (por exemplo: PUENTE-PALACIOS, LAROS, 2009) e com especial destaque ciências da saúde (por exemplo: ZANINI, 2007). A área de saúde, e mais frequentemente as subáreas de epidemiologia e saúde pública, parece ser a principal área de pesquisa a incorporar o uso dos modelos hierárquicos longitudinais para o estudo da relação entre fenômenos biológicos e hábitos, o meio e outras restrições contextuais, na pesquisa acadêmica brasileira.

No âmbito da acadêmica nacional na área de ciência política e relações internacionais, conforme definida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), foi possível identificar apenas cinco trabalhos em nível de pós- graduação que tenham utilizado algum tipo de metodologia estatística de regressão multinível/multidimensional/hierárquica em seu desenvolvimento. Esta identificação foi feita a partir do cruzamento de informações entre:

i) os resultados de pesquisa obtidos no banco de dados de teses e dissertações da CAPES (CAPES Banco de Teses3), utilizando argumentos de pesquisa especificados4 (com buscas unitárias para cada argumento) no campo de busca por "Resumo" dos trabalhos nas áreas de ciência política e relações internacionais; e

ii) os dados disponíveis nos repositórios institucionais dos programas de pós-graduação com nível de Doutorado na grande área em questão.

Os repositórios institucionais esquadrinhados foram aqueles cujos programas de pós-graduação pertencentes às áreas de ciência política e/ou relações internacionais possuíssem o nível de Doutorado e estivessem ativos no ano de 2015, conforme dados

3 CAPES Banco de Teses. Disponível em <http://capesdw.capes.gov.br/?login-url-success=/capesdw/>. Acesso em outubro de 2015.

4 Argumentos de busca (busca individual por cada argumento): “condicional” ou “condicionais” ou “longitudinal” ou “longitudinais” ou "nível" ou "níveis" ou "multinível" ou "multiníveis" ou "dimensional" ou "dimensionais" ou "multidimensional" ou "multidimensionais" ou "hierárquico" ou "hierárquica" ou "hierárquicos" ou "hierárquicas" ou “generalizado” ou “generalizados” ou “generalizada” ou “generalizadas” ou “misto” ou “mistos” ou “mista” ou “mistas” ou “estimação” ou “estimações” ou “EEG” ou “GEE” ou “MLG” ou “GLM” ou “MLGM” ou “GLMM” ou “linear” ou “lineares” ou “não-linear” ou “não-lineares” ou “efeito” ou “efeitos” ou “aleatório” ou “aleatórios”.

da Plataforma Sucupira5. A escolha por reduzir a pesquisa aos repositórios institucionais com nível de Doutorado foi feita para reduzir o grande número de trabalhos a serem levantados e pelo fato de que o nível de modelagem em questão é de alta complexidade e dificilmente seria objeto de um trabalho em um programa exclusivamente de Mestrado.

Portanto, dos 42 programas de pós-graduação stricto sensu (profissionalizante, mestrado e doutorado) elencados na Plataforma Sucupira na grande área em questão, foram considerados os repositórios institucionais de teses de 18 programas elencados no Quadro 5.1 a seguir:

Quadro 5.1: Repositórios institucionais de teses de Doutorado da área de ciência política e relações internacionais

PROGRAMA INSTITUIÇÃO REPOSITÓRIO

RELAÇÕES

INTERNACIONAIS UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP) http://www.iri.usp.br/index.php?option=com_k2&view=item&layout=item&id=412&Itemid=352 CIÊNCIA POLÍTICA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP) http://www.fflch.usp.br/dcp/html/tesesd.html

CIÊNCIA POLÍTICA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS

GERAIS (UFMG) http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/handle/1843/547 CIÊNCIA POLÍTICA UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE

JANEIRO (UERJ) http://www.bdtd.uerj.br/tde_busca/resultado-tdes-prog.php?ver=43&programa=43&ano_inicio=&mes_inicio=& mes_fim=&ano_fim=2015&grau=Todos

CIÊNCIA POLÍTICA UNIVERSIDADE FEDERAL DE

PERNAMBUCO (UFPE) http://www.repositorio.ufpe.br/handle/123456789/119 CIÊNCIA POLÍTICA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA (UNB) http://repositorio.unb.br/handle/10482/574

RELAÇÕES

INTERNACIONAIS UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA (UNB) http://repositorio.unb.br/handle/10482/577 RELAÇÕES

INTERNACIONAIS PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO DE JANEIRO (PUC-RIO) http://www.dbd.puc-rio.br/bibliotecas_puc_rio.php#BC CIÊNCIA POLÍTICA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE

CAMPINAS (UNICAMP) http://www.ifch.unicamp.br/pos/cienciapolitica/index.php?texto=producaocientifica&menu=menupcientifica CIENCIA POLITICA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO

CARLOS (UFSCAR) http://www.bdtd.ufscar.br/htdocs/tedeSimplificado/tde_busca/resultado-tdes-prog.php CIÊNCIA POLÍTICA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO

GRANDE DO SUL (UFRGS) http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/1 POLÍTICAS PÚBLICAS UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO

GRANDE DO SUL (UFRGS) http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/1 RELAÇÕES

INTERNACIONAIS UNESP - UNICAMP - PUC-SP http://www.santiagodantassp.locaweb.com.br/novo/dissertacoes-e-teses.html RELAÇÕES

INTERNACIONAIS: POLÍTICA

INTERNACIONAL

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA

DE MINAS GERAIS (PUC/MG) http://www.sistemas.pucminas.br/BDP/SilverStream/Pages/pg_ConsAreaConhecimentoDet02.html

CIÊNCIA POLÍTICA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

(UFF) http://www.bdtd.ndc.uff.br/tde_busca/resultado-tdes-prog.php?ver=54&programa=54&ano_inicio=&mes_inicio=& mes_fim=&ano_fim=2015&grau=Todos

CIÊNCIA POLÍTICA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

(UFPR) http://dspace.c3sl.ufpr.br:8080/dspace/handle/1884/39760

5 CAPES - Plataforma Sucupira. Disponível em

<https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/consultas/coleta/programa/listaPrograma.jsf>. Acesso em outubro de 2015.

ECONOMIA POLÍTICA

INTERNACIONAL UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO (UFRJ) http://146.164.2.115/F/63N8MSMMU1LU8X2ETCM3VKABHRKRT3HPGX3BQTV96FNK2P469N-45164?func=find-b- 0&local_base=CCJE

ESTUDOS ESTRATÉGICOS INTERNACIONAIS

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO

GRANDE DO SUL (UFRGS) http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/1

Fonte: elaboração própria.

A partir deste cruzamento e da leitura dos resumos dos trabalhados que atendessem aos critérios de busca, foram identificados cinco registros de trabalhos que tenham se utilizado de algum tipo de metodologia de regressão multinível/multidimensional/hierárquica no campo. Todos se tratam de teses apresentadas a programas de pós-graduação em ciência política, sendo duas temáticas de pesquisa, no entanto, afetas às relações internacionais:

NETO, Manoel Galdino Pereira. (2011) Determinantes da Adesão a Tratados de Patentes 1970-2000: Convenção de Paris e Tratados de Cooperação de Patentes. Tese de Doutorado em Ciência Política – Universidade de São Paulo – Faculdade de Filosofia,

Letras e Ciências Humanas. São Paulo – SP. Disponível em

<http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8131/tde-19062012-132734/pt-br.php>. Acesso em outubro de 2015;

CAVALCANTE, Pedro Luiz Costa. (2012) A Política faz a diferença? Uma análise comparada dos determinantes políticos do desempenho dos governos municipais no Brasil. Tese de Doutorado em Ciência Política – Universidade de Brasília – Instituto de

Ciência Política. Brasília – DF. Disponível em

<http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/10612/1/2012_PedroLuizCostaCavalcante.pdf>. Acesso em outubro de 2015;

RIBEIRO, Pedro Feliu. (2012) Comportamento Legislativo e Política Externa na América Latina. Tese de Doutorado em Ciência Política – Universidade de São Paulo – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo – SP. Disponível em <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8131/tde-13032013-110702/pt-br.php>. Acesso em outubro de 2015;

CENEVIVA, Ricardo. (2011) O nível de governo importa para a qualidade da política pública? O caso da educação fundamental no Brasil. Tese de Doutorado em Ciência Política – Universidade de São Paulo – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências

Humanas. São Paulo – SP. Disponível em

<http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8131/tde-25052012-094817/pt-br.php>. Acesso em outubro de 2015; e

MACHADO, Carlos Augusto Mello. (2012) Condicionantes das coligações para o cargo de prefeito no Brasil. Tese de Doutorado em Ciência Política – Universidade Federal de Minas Gerais – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Belo Horizonte – MG. Disponível em < este trabalho não está disponível no repositório da UFMG / razão não

especificada >.

A maioria dos resultados encontrados pelas buscas, não elencados acima, referiam-se a modelagens simples de regressão linear ou de regressão logística. Não foi encontrado, no entanto, nenhum trabalho que tenha se utilizado de combinações das seguintes técnicas: modelagem multinível x distribuição binomial negativa x correção por inflação de zeros.

5.2.1. Considerações finais sobre nossa proposta de modelagem

Conforme discutimos na seção 5.1.2 o uso de modelos ZINB para estudo do sistema de solução de controvérsias da OMC é um fenômeno recente e que ainda carece de um estudo compreensivo que o sistematize como uma proposta de abordagem padrão para análise do OSC. O presente trabalho procurar contribuir para este objetivo de consolidar na literatura a metodologia aqui apresentada.

Ademais, a modelagem proposta no presente trabalho foi desenvolvida com o foco específico de analisar diferenças no comportamento dos países em desenvolvimento (em diferentes subgrupos de renda) em relação aos países desenvolvidos advindas de diferenças relativas de nível de desenvolvimento de forma isolada dos demais efeitos do modelo, o que ainda não foi feito por estudos prévios.

Dessa forma, o presente trabalho se baseará na proposta de Sattler e Bernauer (Ibid) para a definição de efeitos gravitacionais relacionados ao tamanho da economia e estrutura de comércio como as principais variáveis explicativas de nosso modelo. As demais variáveis em geral serão dadas em proporção destas. No entanto, seguindo a desagregação de polos proposta por Copelovitch e Pevehouse (Ibid), construiremos dois modelos “monadic”, um para o polo ativo e outro para o polo passivo.

Assim, poderemos captar o comportamento médio agregado das variáveis de subgrupos de renda cujo efeito desejamos testar, tanto no polo ativo independentemente das características específicas do pareamento do reclamante com o acionado, quanto no polo passivo de forma independente das características do reclamante respectivo. Por fim, é importante ressaltar que o processo binomial negativo (contagem) e a inflação de zeros são duas etapas cruciais da elaboração teórica em nosso modelo de polos separados.

Estes conceitos necessários não apenas para a estimação do modelo face a propostas alternativas, mas para a própria construção lógica de nosso argumento sobre a interpretação dos índices EC e ET introduzidos no capítulo anterior e, por conseguinte, do comportamento dos países em desenvolvimento nos polos ativo e passivo do OSC em relação aos países desenvolvidos.

Ou seja, ao contrário dos dois estudos em questão, onde a modelagem ZINB é tratada apenas como uma proposta alternativa de modelagem a ser testada contra outras possíveis, a determinação das diferentes categorias de ocorrência em nosso modelo (evento com resultado positivo, evento com resultado nulo e não evento) tem implicações teóricas e analíticas fundamentais. Contrariamente aos resultados reportados por Copelovitch e Pevehouse (Ibid), conforme veremos no próximo capítulo, nossos resultados não suportam teórica ou metodologicamente equivalência com um modelo Poisson com correção por inflação de zeros.