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CAPITULO 3. DIAGNÓSTICO DE SITUAÇÃO E OPORTUNIDADES DE

3.6. Análise à documentação dos enfermeiros

3.6.2. Ações de enfermagem relacionadas com o autocuidado

Em resposta às necessidades de cuidados identificadas nos 108 clientes, que integraram este momento do estudo, os enfermeiros documentaram 211949 intervenções, organizadas por domínio de ação de acordo com a tabela 31.

Tabela 31 - Domínio de ação das intervenções de enfermagem (1º momento de avaliação)

Domínio de ação N % Atender 76880 36,3% Observar 67803 32,0% Gerir 29770 14,0% Informar 22525 10,6% Executar 14971 7,1% Total 211949 100%

A tabela revela que os domínios de ação das intervenções de enfermagem em resposta às necessidades de cuidados, dos 108 clientes, centraram -se sobretudo no domínio do atender18 e do observar19 (36,3% e 32,0% respetivamente). As ações

18 Atender- Estar atento a, de serviço a, ou a tomar conta de alguém ou alguma coisa (ICN, 2011, p. 95). 19

181 no domínio do atender respondem às necessidades de cuidados dos clientes que na maior parte das situações carecem de uma ajuda parcial para fazer face às atividades de autocuidado, que advêm da perda de autonomia e estão relacionadas com os tipos de ação: assistir20, encorajar21 e incentivar22 e as ações de enfermagem no domínio do observar, que englobam ações específicas, como: vigiar23, monitorizar24 e supervisionar25.

Os enfermeiros documentaram 14% de ações no domínio do gerir26 que traduzem, sobretudo, ações do tipo: providenciar27 e organizar28 o material e ou as estratégias adaptativas, facilitando a aquisição de capacidades no domínio das atividades de autocuidado e promovendo a autonomia.

Um outro domínio de ação dos enfermeiros que surgiu documentado no sistema de informação em uso, mas em menor número (10,6%), foi o informar. Estas ações respondem às necessidades de cuidados dos participantes que necessitam de aceder à informação, que lhes permita adquirir ou melhorar o conhecimento e desenvolver capacidades instrumentais para utilizar estratégias adaptativas no autocuidado. Desta forma, as ações do tipo ensinar29, instruir30 e treinar31 possibilitariam um processo de gestão proativo e integrado da promoção da autonomia para o autocuidado.

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Assistir- Fazer parte do trabalho com alguém ou para alguém (ICN, 2011, p. 95). 21 Encorajar- Dar confiança ou esperança a alguém (ICN, 2011, p. 96).

22 Incentivar- Levar alguém a atuar num sentido particular ou estimular o interesse de alguém por uma atividade (ICN, 2011, p. 97).

23

Vigiar- Averiguar minuciosamente alguém ou alguma coisa de forma repetida e regular ao longo do tempo (ICN, 2011, p. 100).

24 Monitorizar- Escrutinar em ocasiões repetidas ou regulares, alguém ou alguma coisa (ICN, 2011, p. 98). 25 Supervisionar- Inspecionar o progresso de alguém ou alguma coisa (ICN, 2011, p. 99).

26 Gerir- Estar encarregado de, e organizar para alguém ou alguma coisa (ICN, 2011, p.97). 27

Providenciar- Aprontar alguma coisa para alguém (ICN, 2011, p. 99).

28 Organizar- Dar uma estrutura ordenada, por exemplo ordenar alguma coisa (ICN, 2011, p. 98). 29 Ensinar- Dar informação sistematizada a alguém sobre temas relacionados com a saúde (ICN, 2011, p. 96). 30

Instruir- Fornecer informação sistematizada a alguém sobre como fazer alguma coisa (ICN, 2011, p. 97). 31 Treinar- Desenvolver as capacidades de alguém ou o funcionamento de alguma coisa (ICN, 2011, p. 100).

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Por último, identificamos as ações no domínio do executar, com uma percentagem inferior (7,1%). Estas são ações que traduzem o “desempenhar de uma tarefa técnica” (ICN, 2011, p. 97) pelos enfermeiros e revelam a ausência de participação do cliente na ação.

Ora, sendo o autocuidado uma função humana reguladora com o seu sistema de ação, tem que ser aprendido e executado deliberadamente e continuamente pela pessoa, atendendo à sua condição de saúde (Orem, 2001). As ações do tipo executar e observar, não promovem o potencial de recuperação das pessoas dependentes para o autocuidado. Neste sentido, excluímos as intervenções nestes domínios de ação, passando a contextualizar a análise efetuada à documentação dos enfermeiros com a temática fulcral do trabalho, ou seja, tendo por base as intervenções cuja ação poderá ser promotora da recuperação funcional do cliente.

Deste modo, a tabela 32 faz referência às ações dos enfermeiros no domínio do atender, gerir e informar, em resposta às necessidades dos clientes relacionadas com a dependência para o autocuidado e respetivos domínios (conhecimento e aprendizagem de capacidades). Neste momento, apenas reportamos as ações de enfermagem associadas ao autocuidado, o que corresponde a 78512 intervenções, ou seja, 78,6% do global das intervenções de enfermagem documentadas, no domínio de ação representado na tabela 32.

Tabela 32 - Ações de enfermagem associadas ao autocuidado (1º momento de avaliação)

Domínio de ação N %

Atender 57684 73,5%

Informar 17166 21,9%

Gerir 3662 4,6%

183 A tabela 32 revela que os enfermeiros documentaram na sua maioria (73,5%) ações no domínio do atender, associadas ao assistir no autocuidado, incentivar o autocuidado e encorajar para o autocuidado.

Outro domínio de ação documentado pelos enfermeiros em resposta à necessidade de cuidados decorrentes da dependência para o autocuidado, mas este em menor percentagem do que o anterior, foram as ações no domínio do informar. Estas surgem com a intencionalidade de promover a aquisição de conhecimento ou o desenvolvimento de capacidades sobre estratégias adaptativas para que os participantes pudessem realizar atividades de autocuidado de forma autónoma, e eram sobretudo do tipo ensinar, instruir e treinar o uso de estratégias adaptativas no autocuidado.

A tabela 32 permite ainda concluir que os enfermeiros documentaram também ações no domínio do gerir, associadas ao providenciar dispositivos de apoio para o autocuidado e organizar estratégias adaptativas no autocuidado.

Seguidamente procedemos à análise dos domínios de ação documentados pelos enfermeiros associados por domínios do autocuidado: “andar”, “andar com auxiliar de marcha”, “higiene”, “vestir-se e despir-se”, “posicionar-se”, “transferir-se”, “usar o sanitário”, “alimentar-se” e “usar a cadeira de rodas” (gráfico 4).

A análise do gráfico permite concluir que os clientes foram alvo de ações dos enfermeiros do domínio atender em todos os domínios do autocuidado, com especial ênfase para: “transferir-se”; “usar o sanitário”, “alimentar-se” e “vestir-se e despir- se”, que correspondem a 49,0% das intervenções realizadas para o foco autocuidado.

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Gráfico 4 - Ações de enfermagem por domínio do autocuidado (1º momento de avaliação)

Importa referir que as atividades que concretizam os diferentes domínios do autocuidado não eram realizadas com igual frequência, pelos clientes, durante o dia, ou seja, as atividades inerentes ao autocuidado “banho”, por exemplo, eram realizadas uma vez por dia, enquanto as atividades inerentes ao autocuidado “usar o sanitário”, “transferir-se”, “alimentar-se” e “vestir-se e despir-se” eram realizadas mais do que uma vez por dia. Estes aspetos poderão, de algum modo, fundamentar as diferenças encontradas no número de vezes que os enfermeiros documentaram as ações de enfermagem em resposta às necessidades dos clientes dependentes no autocuidado.

Para promover o máximo de potencial de recuperação das pessoas no sentido de ganhos em autonomia para o autocuidado, implica implementar intervenções de enfermagem que facilitem a aquisição por parte dos clientes dependentes de um aumento do repertório de conhecimentos e o aperfeiçoamento ou aquisição de capacidades / habilidades. Desenvolver novas competências de autocuidado permite que a pessoa seja capaz de adquirir um autocontrolo e auto gestão da nova condição de saúde (Brito, 2012). Concluindo a análise à documentação gerada pelos enfermeiros, esta permitiu perceber um modelo de cuidados centrado numa lógica de distribuição da responsabilidade para realizar as atividades de autocuidado, entre o

4396 8267 8507 10521 11170 6450 6659 4539 903 1860 3212 1838 3758 3553 823 2122 2758 548 81 49 17 79 0 0 3436 47 47 Higiene Vestir/despir Alimentar-se Usar o sanitário Transferir-se Posicionar-se Usar a Cadeira Rodas Andar com auxiliar de marcha Andar

185 enfermeiro e o cliente, facto sustentado pela percentagem de intervenções do domínio de ação “atender”, documentadas pelos enfermeiros em resposta à necessidade de cuidados dos clientes. Embora esta estratégia favorecesse a promoção da autonomia para o autocuidado, a baixa percentagem de intervenções no domínio de ação “informar” levou-nos a questionar as estratégias utilizadas para o desenvolvimento da autonomia para o autocuidado, sem o reforço das intervenções no domínio “informar”, ou seja, como adquiriram os clientes conhecimentos e habilidades para desenvolverem as atividades de autocuidado?

Face ao exposto, auscultamos os enfermeiros envolvidos no percurso de IA, durante as reuniões realizadas, que confirmaram terem dado maior relevo do ponto de vista da documentação, às ações no domínio “atender” e concordaram que este foi o domínio de ação das intervenções de enfermagem mais utilizado junto dos clientes. No entanto, os enfermeiros reconhecem que informaram mais as pessoas nas suas ações diárias do que aquilo que efetivamente documentaram, assumindo a diminuta representatividade do domínio “informar” e respetivas especificações, no sistema de informação em uso. Por outro lado, salientaram que a experiência anterior em serviços de “agudos” condicionou o modelo de conceção de cuidados, facto salientado por um dos participantes que referia: “isto para nós também não é fácil,

viemos quase todos de serviços de medicina de hospital de agudos onde esta questão de informar sobre estratégias adaptativas não se colocava. Ajudamos a fazer e pronto” (NC17).