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CAPITULO 2. ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO

2.2. A Investigação-acão como opção metodológica

A investigação-ação (IA) é uma metodologia de investigação, tendo tido alguma controvérsia acerca da sua origem, nos Estados Unidos da América e Grã-Bretanha na década de quarenta do século passado. O conceito de investigação-ação tem a sua origem no modelo de Kurt Lewin (1946) que descrevia uma nova forma de investigação no âmbito das ciências sociais. Os contextos desta investigação eram sempre contextos do sistema social com programas de intervenção onde era possível obter em simultâneo avanços teóricos e mudanças do próprio sistema, e cada participante e investigador colaborava no sentido de encontrar novos caminhos com vista à mudança desejada (Mckay & Marshall, 1999), ou seja, tratava-se de uma proposta para a construção de um modelo de investigação que gerava condições de aprendizagem e análise da realidade com o desígnio de tomar decisões para a mudança, desenvolvendo simultaneamente uma atitude de reflexão e crítica (Sousa, 2006).

A IA, classicamente, carateriza-se por se centrar num problema, num contexto específico, ser participativa e envolver intervenção no contexto da mudança, com o

83 objetivo de gerar melhores resultados. É um processo baseado na interação contínua entre a investigação, a ação, a reflexão e avaliação (Hart, 1996). Os objetivos da IA podem ser orientados, entre outros, para a implementação de uma mudança e para gerar teoria (Greenwood, 1994) recorrendo à colaboração entre os intervenientes (do contexto e da investigação) para encontrar uma solução para o problema, implementar uma mudança na prática e desenvolver uma teoria (Greenwood, 1994; Hart, 1996).

A revisão da literatura permite encontrar consensos sobre IA em quatro características comuns: um problema identificado; uma ação e uma orientação para a mudança; um processo orgânico envolvendo etapas sistemáticas e por vezes interativas e colaboração entre os participantes para encontrar soluções para os problemas práticos no campo da ação social (Baskerville, 1999; Streubert & Carpenter, 2002; Máximo-Esteves, 2008). Como nos refere Silva (2006):

A enfermagem é simultaneamente uma disciplina prática e um fenómeno social, assim a IA é particularmente adequada para resolver problemas de enfermagem. Esta abordagem coloca enfase no desenvolvimento, os enfermeiros estão envolvidos no processo de investigação e nele colaboram, escolhem, e registam os objetivos. O investigador está envolvido como facilitador e catalisador, cuja contribuição para o processo de tomada de decisão é legitimado (Silva, 2006, p. 50).

Face ao tipo de estudo que pretendíamos realizar, interessava-nos uma metodologia que permitisse descrever a realidade da prática de enfermagem, encontrando soluções para uma área problemática, a partir da investigação mas numa situação real que simultaneamente permitisse produzir conhecimento relevante para a disciplina e para a prática de enfermagem, ou seja, pretendíamos evoluir com um modelo de investigação que implicasse conhecer e analisar a realidade; diagnosticar e encontrar soluções promotoras de desenvolvimento da prática; e que permitisse produzir conhecimento novo para a disciplina de enfermagem. Deste ponto de vista, e tendo em consideração o carácter de dualidade do envolvimento do investigador na investigação e nos processos de mudança, a IA apresentou-se como opção metodológica adequada.

Conceptualmente, a IA pode ser representada por um processo cíclico duplo: em que um ciclo se relaciona com os interesses e responsabilidades da investigação para o

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investigador; e o segundo se relaciona com os interesses e responsabilidades da resolução do problema, isto é, a IA apresenta um carácter de dualidade, descrito como justaposição de “ação e investigação” e de “teoria e prática” (Mckay & Marshall, 1999, p. 603).

No ciclo da IA centrado na investigação, que apresentamos na figura seguinte (fig.2), o investigador parte de uma ideia, objetivos ou questões a investigar; identifica a sua área de interesse; empenha-se na procura de literatura relevante para clarificar os assuntos e identificar modelos e teorias relacionadas com a investigação; planeia e desenha a investigação que melhor responderá às questões colocadas; implementa a ação mantendo a sua perspetiva teórica; monitoriza as ações em termos do interesse investigativo; avalia o efeito das intervenções tendo em consideração as questões de investigação; termina a intervenção se as questões são respondidas e satisfatoriamente resolvidas, ou, caso contrário, melhora o seu plano e desenho, entrando num novo ciclo de IA.

Figura 2 - Interesse da IA: a investigação

Fonte: Mckay & Marshall,1999, p. 602

Deste modo, um dos interesses e responsabilidades da IA é a resolução do problema (fig.3). O investigador, após a identificação do mesmo, deverá clarificar a natureza e o contexto desse problema. Seguidamente e utilizando a colaboração

85 dos participantes do processo, planeia e implementa as estratégias para resolver o problema, monitoriza e avalia: a eficácia das intervenções implementadas e o impacto das intervenções na resolução do problema. O término da ação ocorre se os resultados forem satisfatórios ou em alternativa terá de melhorar a aç ão planeada produzindo mudanças adicionais no contexto identificado, entrando num novo ciclo de IA.

Figura 3 - Interesse da IA: a resolução de problemas

Fonte: Mckay & Marshall, 1999, p. 601

O estudo inseriu-se no contexto da IA com o propósito de unir teoria e prática, tendo isso uma dupla finalidade: gerar benefícios para o “cliente” da investigação e, simultaneamente, gerar conhecimento relevante para a disciplina de enfermagem. Deste modo, recorremos às cinco fases da IA de acordo com o representado na figura 4 como uma abordagem de natureza cíclica: diagnóstico, plano de ação, implementação, avaliação e a identificação do adquirido (Mckay & Marshall, 1999), onde as infraestruturas do sistema e a ação do investigador mantêm e regulam todas as fases do processo.

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Figura 4 - Fases do ciclo de IA

Fonte: Mckay & Marshall, 1999

Neste seguimento definimos dois ciclos característicos de IA:

 Ciclo orientado para construir uma solução, que gerasse benefícios para o “cliente” da investigação;

 Ciclo orientado para a investigação de forma a gerar conhecimento relevante para a disciplina de enfermagem.

Partimos da sensibilização para a necessidade de uma mudança, na forma como os enfermeiros concebiam os cuidados às pessoas em situação de dependência. O papel do investigador centrou-se na transferência de conhecimento ao grupo que é sujeito e objeto da investigação. Era necessário que os enfermeiros tivessem a possibilidade de clarificar as suas práticas, dado que eram eles que tinham a solução para a resolução do problema.