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CAPITULO 1. A PROMOÇÃO DA AUTONOMIA DA PESSOA

1.2. A investigação sobre o autocuidado

1.2.3. Intervenções de enfermagem promotoras do autocuidado

Os profissionais de saúde são considerados um potencial na aplicabilidade de modelos de identificação e de gestão de estratégias que promovam a autonomia e que minimizem os fatores que condicionam de forma inibidora essa mesma autonomia (Chou &William, 2004). Identificar, relacionar e considerar os fatores com influência no autocuidado, deverá ser um aspeto essencial da base da decisão da efetividade de um modelo de intervenção promotor da autonomia da pessoa dependente (Blair, 1999).

Sendo o autocuidado uma função humana reguladora com o seu sistema de ação tem que ser aprendido e executado deliberadamente e continuamente, em conformidade com as entidades reguladoras do indivíduo, associados ao seu estado de saúde ou características especiais de saúde, aos níveis de consumo de energia e aos fatores ambientais (Orem, 2001). Deste modo, e segundo Orem, o défice no autocuidado

49 exprime a relação entre as capacidades de ação do indivíduo e as suas necessidades de cuidados, orientando para a seleção dos sistemas de ação dos enfermeiros, que podem ser produzidos para pessoas que formam uma unidade de cuidar dependente, para grupos de pessoas que possuem necessidades de autocuidado semelhantes, ou para famílias (Orem, 2001).

Desta forma, Orem, através da teoria dos sistemas de enfermagem, determina de que modo as necessidades de autocuidado dos clientes podem ser resolvidas pelos enfermeiros, pelo cliente ou até por ambos, ou seja, quando existe um défice de autocuidado, a forma como a pessoa e o enfermeiro se relacionam para compensar esse desequilíbrio origina o sistema de enfermagem, que são métodos de ação concebidos e produzidos pelos enfermeiros e englobam conceitos de ação deliberada, incluindo a intencionalidade e operações de diagnóstico, prescrição e regulação. Neste sentido, a relação entre a ação do cliente e a do enfermeiro pode ser classificada em três sistemas, reunidos ou não para um só cliente:

 No sistema totalmente compensatório - a pessoa é incapaz de manter um papel ativo nas ações do autocuidado, ela necessita que todos os cuidados sejam assumidos pelo enfermeiro;

 No sistema parcialmente compensatório - representa a situação na qual a distribuição das atividades de autocuidado são repartidas entre a pessoa e o enfermeiro, ou seja, ambos partilham os cuidados. A pessoa tem capacidade para efetuar algumas ações de autocuidado;

 No sistema de apoio-educação - a pessoa consegue realizar todas as ações do autocuidado, mas não pode fazer isso sem assistência e supervisão do enfermeiro. Estas exigências de ajuda estão, assim, confinadas à tomada de decisão, ao controle de comportamento e à aquisição de conhecimentos e habilidades, sendo o papel do enfermeiro promover o cliente como um agente do autocuidado (Orem, 2001).

A condição que valida a existência de uma exigência em enfermagem para um adulto é a ausência de capacidade para manter continuamente a quantidade e a qualidade do autocuidado (Orem, 2001).

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O empowerment3 subjacente ao conceito de autocuidado aplicado às pessoas portadoras de doença crónica e com défice funcional tem sido uma medida adotada por vários países face às alterações demográficas da sociedade atual (Department of health, 2006). A evidência mostra que os programas de intervenção promotores do autocuidado são baseados na teoria da autoeficácia de Bandura (1986) onde o modelo de intervenção se baseia no incentivo da performance e da força, da energia e da capacidade individual para realizar as atividades básicas da vida diária, e as pessoas sujeitas a estes programas demonstram níveis superiores de bem-estar, auto estima positiva, sentido de autoconfiança e qualidade de vida (Chang, Crogan, & Wung, 2007; Wilkinson & Whitehead, 2009). Neste sentido, consideramos a promoção da autoeficácia como um indicador de processo que contribui para a avaliação do desenvolvimento da mestria dos clientes.

Promover a autonomia para o autocuidado exige do profissional de saúde programas de efetividade onde imperem: a atenção e o respeito pelos clientes; as atitudes de autodeterminação e tomadas de decisão partilhadas; mais supervisão; maior disponibilidade à informação e à deliberação baseada nas necessidades e prioridades do cliente e família; e uma avaliação sistematizada dos indicadores de processo capazes de traduzir as mudanças ocorridas, ao longo de todo o processo(Jaarsma et al., 2000; O`Hara, Loraine de Souza,& Ide, 2002; Borg et al,2006; Backman et al., 2007; Chang, 2009; Pryor, 2009).

Os estudos incluídos na presente revisão revelam ainda que o modelo de abordagem por parte dos enfermeiros no sentido de promover a capacidade para o autocuidado necessita de incluir uma combinação do sistema educativo e assistencial com o uso de estratégias e comportamentos que promovam o aumento: da autoestima, da autoeficácia; da responsabilidade individual e familiar; da habilidade instrumental de autogestão orientada para as novas dificuldades pessoais e ambientais; e da efetividade da continuidade dos cuidados (Blair, 1999; Jaarsma et al., 2000;

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Em saúde promover o empowerment é ajudar a pessoa a aumentar e a usar a sua própria capacidade, inata, para obter mestria. O enfermeiro que utiliza abordagens baseadas no empowerment encontra-se imbuído de estratégias que o leva a distinguir-se dos outros, não pelo que faz, mas pela forma como o faz e pela intencionalidade com que o faz. O seu papel é principalmente de facilitador e recurso, enquanto expert no processo (Anderson & Funnell, 2010).

51 Roelands, Paulette, Buysse, & Depoorter, 2002; Chang, Crogan, & Wung, 2007; Wilkinson & Whitehead, 2009).

Da revisão realizada resulta também que o autocuidado é entendido como a perceção, a capacidade e a motivação dos indivíduos para realizarem atividades práticas destinadas a promover e manter a saúde, a prevenir e gerir as doenças. Ficou também demonstrado que o autocuidado é um resultado de saúde sensível às intervenções de enfermagem, sendo que enfermeiros têm uma ação decisiva na promoção do autocuidado e no bem-estar das pessoas, através do aumento do seu reportório de conhecimentos e habilidades. O autocuidado é um conceito fundamental para a vida do ser humano e para o sistema de saúde, com ampla abrangência nos diferentes contextos da relação de cuidados (Chou &William, 2004; Bridget et al., 2009). Dos estudos encontrados alguns deixaram como advertência a necessidade de desenvolver modelos de intervenção adequados com recurso à investigação experimental (dentro do possível, face à natureza ética do objeto da profissão de enfermagem), por forma a testar a efetividade e eficiência dos cuidados, e desta forma, poder encontrar os melhores resultados face às necessidades das pessoas decorrentes da dependência para o autocuidado, pelo que nos pareceu urgente, a partir desta compreensão, e por via da investigação em enfermagem, evoluir para a construção da ação através de modelos de intervenção que se traduzam em resultados positivos na saúde e no bem-estar das pessoas (Holguín, 2010; Spichiger, et al., 2011).