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Ações Relativas a Imóveis Situados no Brasil A Regra Forum Rei Sitae: Art 89,

2 CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE

4.1 Ações Relativas a Imóveis Situados no Brasil A Regra Forum Rei Sitae: Art 89,

Esse inciso trata das ações relativas a imóveis situados no Brasil, repetindo a regra do parágrafo 1° do artigo 12 da L.I.C.C, consagrando assim, o princípio quase universal da forum rei sitae.

SILVA NETO, Orlando Celso da. Direito Processual Civil Internacional Brasileiro. São Paulo: LTr, 2003. BARROSO, ao analisar acórdão do Tribunal de Justiça de São Paulo que negou jurisdição em ação de inventário de bens situados fora do Brasil, com fundamento de que competiria à jurisdição nacional apenas inventariar bens situados no País, assim se manifestou: “A presente decisão interpreta esse dispositivo (CPC, art. 89, II) no sentido

de que se o bem a inventariar e partilhar não estiver situado no Brasil, então não cabe à Justiça brasileira fazê-lo, mas sim à alienígena, do local onde está situado o bem. Sabe-se que os arts. 88 e 89 do CPC contêm normas de direito processual internacional, pois determinam em que hipóteses a autoridade judiciária brasileira será competente para conhecer de um litígio que tenha um elemento estrangeiro. Tais regras são diretas, pois estabelecem de plano, sem remeter à legislação alienígena, as situações em que o juiz brasileiro tem competência internacional; e unilaterais, pois só fixam a competência internacional da autoridade judiciária brasileira, não da estrangeira. Em matéria de direito processual – ramo do direito público – não se aplica a Lei de outro país; logo, não devem ser bilateralizadas as normas processuais. A bilateralização das regras dos dispositivos citados criaria hipóteses de competência da justiça alienígena, o que somente a legislação estrangeira pode fazer, pois a atividade jurisdicional é uma função ligada à soberania do Estado. Observe-se, entretanto, que esta posição do TJSP, embora tecnicamente incorreta, não é isolada: nossos tribunais tem bilateralizado normas sobre competência internacional, recusando-se a conhecer de litígios envolvendo sobretudo bens imóveis situados no exterior, com base numa errônea interpretação a contrario sensu do art. 89, I. O juiz brasileiro pode eventualmente recusar-se a conhecer de um litígio que envolva imóveis no exterior – mesmo quando o réu tem domicilio no Brasil ( art. 88, I) – com base no princípio da efetividade, caso constate que sua decisão não será exeqüível no outro pais; nesta hipótese, não julgará o litígio – mas o fundamento dessa recusa não é o art. 89, I (que só deve ser aplicado para fixar a competência exclusiva da autoridade judiciária brasileira), e sim aquele principio, cujo corolário determina que não se deve proferir uma decisão que não possa ser executada. BARROSO, Luis Roberto. Boletim de Direito

Internacional, n. 6, jul. 2000 APUD SILVA NETO, Orlando Celso da. Direito Processual Civil Internacional

Brasileiro. São Paulo: LTr, 2003. p. 127.

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O STF possui decisão ampliando as hipóteses de competência absoluta, nesse sentido conf. SEC n. 7420/RFA, TRIBUNAL PLENO, Min. Relator NELSON JOBIM, julgado em 19.08.2004, DJ 16.12.2005.

OSCAR TENÓRIO ao comentar o retro citado artigo da L.I.C.C, ensina que:

Pensamos que se trata de uma norma originariamente consuetudinária internacional, cuja vitalidade tem resultado de disposições internas uniformes. Na ausência mesmo de regra escrita, deve ser aplicada a que estabelece a competência do foro da situação do imóvel.229

No mesmo sentido HÉLIO TORNAGHI observa que:

O foro da situação da cousa (forum rei sitae) pode considerar-se universalmente adotado. É norma consuetudinária para o Direito Internacional Público, e norma interna aceita nas legislações, para o Direito Internacional Privado. Em outras palavras: Direito interno e Direito Internacional coincidem neste ponto.

A adoção do forum rei sitae decorre de razão de ordem prática, a da quase inutilidade do processo movido fora do país em que o imóvel esteja situado, pois a execução da sentença teria sempre de operar-se nele, e após a necessária homologação...Não seria possível a um Estado admitir a competência de outro para decidir questões relativas a imóveis sem abrir mão da própria soberania.230

Essa exclusividade deriva, portanto, da soberania de cada Estado, uma vez que os imóveis são parte de seus territórios, só reconhecendo assim, as sentenças sobre eles, quando proferidas pelas autoridades judiciárias nacionais, sendo irrelevantes as decisões alienígenas.

Uma questão que merece atenção, diz respeito à divergência de entendimento sobre a amplitude da norma, alcançaria ações obrigacionais? Como entender sua abrangência? A doutrina diverge.

Para PONTES DE MIRANDA somente as ações reais sobre imóveis seriam exclusivas:

Surgem, porém, alguns problemas: o dono do bem imóvel situado no Brasil, o doou ou o vendeu a alguém, no estrangeiro; e foi proposta no estrangeiro, ação de invalidade do negócio jurídico, e foi decretada a invalidade, ou a validade. Basta a homologação da sentença estrangeira? Sim, o art. 89, I, falou de ações relativas a imóveis situados no Brasil e havemos de entender de ações reais relativas a imóveis situados no Brasil.231 No mesmo sentido, TORNAGHI afirma que “por ações relativas a imóveis devem aqui entender- se as que se referem a direitos reais ou à posse. Não basta, portanto, que o litígio verse sobre a matéria relacionada com imóveis.”232

Contudo, defendendo tese oposta, CELSO BARBI explica:

O texto é amplo, não se restringindo a ações reais, isto é, fundadas em algum direito real; a lei abrange qualquer ação relativa a bem imóvel, vale dizer também as fundadas em direito obrigacional como, v.g., a locação, a promessa de venda e outros casos semelhantes. Não se importa o tipo de ação, isto é, o ser ela condenatória, declaratória

229

TENORIO, Oscar. Lei de introdução ao Código Civil Brasileiro. Rio de Janeiro: Editor Borsoi, 2ª ed., 1955, p. 389.

230

TORNAGHI, Hélio. Comentários ao Código de Processo Civil. V. I. São Paulo: 1974, p. 308.

231

MIRANDA, Pontes. Op. cit. p. 225.

232

ou constitutiva; o que prevalece é a relação entre o direito alegado e um imóvel. Existindo essa vinculação, a competência da justiça brasileira afasta qualquer outra.233

Para a professora MARIA HELENA DINIZ, a interpretação deve ser a mais abrangente, tendo em vista o que dispõe o Código de Bustamante, em seu art. 325, no sentido de que "para o

exercício de ações reais sobre bens imóveis e para o das ações mistas de limites e divisão de bens comuns, será competente o da situação dos bens".234

SERPA LOPES sustenta que a expressão "relativa a imóveis" deve ser compreendida num sentido racional, nem muito amplo, nem muito restrito. Considera aí incluídas todas as ações possessórias por perseguirem a execução no lugar da situação da coisa, o que se coaduna com as razões determinantes da regra de competência internacional, excluindo as ações relativas ao direito obrigacional.235

Em matéria de imóveis situados no Brasil, a jurisprudência consagrada no STF é no sentido de que a competência exclusiva da autoridade judiciária brasileira abrange não apenas as ações reais, mas todo o tipo de ação.

Nesse sentido, destaca-se o acórdão proferido pelo Pleno do STF no agravo regimental interposto contra decisão do Ministro XAVIER ALBUQUERQUE, que confirmou a negativa de homologação à sentença estrangeira n. 2.492, proveniente da Alemanha. Um dos fundamentos para se negar a homologação foi o de que toda e qualquer ação, inclusive de falência, relativa à imóvel situado no Brasil, é da competência exclusiva da autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra, nos termos do art. 89, inciso I do CPC.236

Outro entendimento rechaçado pelo STF é o desenvolvido por alguns tribunais no sentido de se possibilitar a aplicação a contrario sensu do art. 89, inciso I do CPC para derrogar a competência nacional. Ou seja, alguns tribunais entendiam que se o imóvel, objeto da demanda, se localizasse em território estrangeiro estaria afastada a jurisdição nacional. Como visto, as normas sobre competência internacional são unilaterais. O Brasil não pode determinar os limites e a extensão

233

BARBI, Celso Agrícola. Comentários ao Código de Processo Civil. Rio de Janeiro, Forense, 1998, v. I, p. 243. Neste mesmo sentido, BARBOSA sustenta que: “a questão é controvertida: alguns adotam aquele mesmo

entendimento, outros sustentam, ao nosso ver com maior acerto, que o dispositivo abrange quaisquer ações.”

MOREIRA, Barbosa José Carlos. Op. cit. p. 147.

234

DINIZ, Maria Helena. Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro Interpretada, 5ª ed., São Paulo, Saraiva, 1999, p. 314

235 LOPES, Serpa. Op. cit. p. 121 a 124. 236

da jurisdição de países estrangeiros, sob pena de violar a soberania dos mesmos.237De modo que o art. 89, I do CPC não se trata de norma derrogatória de competência e sim, de norma atributiva de jurisdição.