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PRINCÍPIO DA IGUALDADE DE TRATAMENTO PROCESSUAL artigo 835 do CPC

PENHORA ON LINE EM CONTA CORRENTE DE ESCRITÓRIOCOMERCIAL DE ENTE DE DIREITO PÚBLICO EXTERNO.

10.7 PRINCÍPIO DA IGUALDADE DE TRATAMENTO PROCESSUAL artigo 835 do CPC

As cortes devem garantir tratamento isonômico e oportunidades razoáveis aos litigantes estrangeiros. Esse tratamento inclui a proibição de qualquer tipo de discriminação, seja com base na nacionalidade, sexo, raça, cor, religião, opinião política, lugar de residência ou domicílio, língua, opiniões de todo tipo, origem social, bens, nascimento, orientação sexual, etc.

As cortes devem ainda, no intuito de garantir a igualdade, levar em conta as dificuldades naturais encontradas por litigantes estrangeiros para participar do processo. As cortes não devem impor um ônus desproporcional aos litigantes estrangeiros para o acesso à corte.

Vale notar que vetusta determinação interna, bastante comum aos ordenamentos jurídicos mundiais, é a necessidade de “caução do processo” para partes estrangeiras como garantia necessária para cobrir as eventuais custas decorrentes do processo, em caso de perda de causa. Tais disposições violam o princípio da igualdade de tratamento das partes e devem ser desconsideradas.148

No Brasil, o art. 835 do CPC tem causado bastante polêmica doutrinária. ADA PELLEGRINI, por exemplo, proclama a inconstitucionalidade do referido artigo. O Protocolo de Las Leñas dispensa a aplicabilidade do artigo a países do Mercosul.

Tais dispositivos devem ser afastados pelos magistrados uma vez que não se coadunam com a moderna tendência internacional do processo civil; representam um nítido obstáculo ao acesso à justiça, além de serem arbitrariamente discriminatórios.149

Os princípios do processo civil transnacional (principles of transnacional civil procedure), fruto de um trabalho conjunto da American Law Institute-ALI e UNIDROIT-The International Institute

for the Unification of Private Law, através dos professores Geoffrey C. Hazard Jr. e Michele

Taruffo, preveem em seus dispositivos, uma síntese geral das considerações antes referidas: 3.. PROCEDURAL EQUALITY OF THE PARTIES

148

SILVA NETO. Orlando Celso da. Direito Processual Civil Internacional Brasileiro. São Paulo: Editora LTr, 2003.

149

Nesse sentido ver GLENN, H. Patrick. The ALI/UNIDROIT Principles of Transnactional Civil Procedure as Global Standards for Adjudication? Revista Decita n. 04. Fundação Boiteux. 2005 pp. 26-60.

3.1 The court should ensure equal treatment and resonable opportunity for litigants to assert or defend their rights.

3.2 The right to equal opportunity includes avoidance of any kind of illegitimate discrimination, particularly on the basis of nationality or residence. The court should take into account difficulties that might be encountered by a foreign party in participating in litigation.

3.3 A person should not be required to provide security for costs, or security for liability for pursuing provisional measures, solely because the person is not a national or resident of the forum state.

3.4 whenever possible, venue rules should not impose an unreasonable burden of access to court on a person who is not a habitual resident of the forum.

O artigo 4º da Constituição da República representa uma afirmação e reconhecimento pelo Brasil de princípios básicos integrantes do Direito Internacional. Note-se que, ao se referir à igualdade entre os Estados e à cooperação entre os povos, a Constituição traz para o âmbito normativo interno a obrigação de que o aplicador do direito observe, necessariamente, os referidos princípios.

Ainda, a Constituição ao estabelecer os direitos humanos como fundamento da República, fixa, imediatamente, a proibição da denegação da justiça, permitindo o amplo acesso, sem nenhuma discriminação entre nacionais e estrangeiros. Por outro lado, o reconhecimento dos princípios da igualdade e cooperação, por sua vez, são testemunhos firmes de que a norma delineadora da jurisdição deve ser redigida atentando para a existência de outras jurisdições potencialmente capazes de regular um litígio transnacional e, em função das características do último, talvez em melhores condições que a própria jurisdição nacional. Deve ainda observar os valores e princípios em que se assenta a comunidade nacional, afastando foros exorbitantes de jurisdição.

FLÁVIA PIOVESAN, a partir dos direitos humanos - que pressupõe uma igualdade - revela a necessidade de flexibilização e relativização do Direito Internacional e do conceito de soberania :

O artigo 4° da Constituição simboliza a reinserção do Brasil na arena internacional. Até então, as Constituições brasileiras anteriores à de 1988, ao estabelecerem tratamento jurídico às relações internacionais, limitavam-se a assegurar os valores da independência e soberania do país – tema básico da Constituição imperial de 1824 – ou restringiam-se a proibir a guerra de conquista e a estimular a arbitragem internacional – Constituição republicana de 1891 e de 1934 – ou atinham-se a prever a possibilidade de aquisição de território, de acordo com o Direito Internacional Público – Constituição de 1937 – ou, por fim reduziam-se a propor a adoção de meios pacíficos para a solução de conflitos – Constituições de 1946 e de 1967.

(...) a Carta de 1988 inova, ao realçar uma orientação internacionalista jamais vista na história constitucional brasileira. Esta orientação internacionalista se traduz nos princípios da prevalência dos direitos humanos, autodeterminação dos povos, do repúdio ao terrorismo e o racismo e da cooperação entre os povos para o progresso da humanidade, nos termos do artigo 4°, incisos II, III, VII e IX.

(...) A partir do momento em que o Brasil se propõe a fundamentar suas relações com base na prevalência dos direitos humanos, está ao mesmo tempo reconhecendo a existência de limites e condicionamentos à noção de soberania estatal. Isto é, a soberania do Estado brasileiro fica submetida a regras jurídicas, tendo como parâmetro

obrigatório a prevalência dos direitos humanos. Rompe-se com a concepção tradicional de soberania estatal absoluta, reforçando o processo de sua flexibilização e relativização em prol da proteção dos direitos humanos.150

O que se observa é um reconhecimento da existência de limites e condicionamentos à noção de soberania estatal. Isto é, passa-se a considerar todas as regras juridicas a partir de um mesmo pano de fundo que são os valores e diretrizes fundamentais, como a dignidade da pessoa humana. Rompe-se com a concepção tradicional de soberania estatal absoluta, reforçando o processo de sua flexibilização e relativização em prol de valores maiores, como a justiça. Este processo é condizente com as exigências do Estado Democrático de Direito constitucionalmente pretendido.