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2 CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE

3.2 A Regra Actor Sequitur Forum Executionis: Art 88,

O inciso II, do art. 88, do CPC estabelece a competência concorrente dos tribunais brasileiros em relação às ações que envolvam obrigação a ser cumprida no Brasil, o que não comporta muitas divergências. Não importa a nacionalidade das partes, seu domicílio ou o fato de o contrato ter sido firmado no estrangeiro. Para que incidam as normas em questão, basta que a obrigação tenha que ser cumprida no Brasil, sendo irrelevante também a natureza da ação em causa. 205

HELIO TORNAGHI afirma que o ato de liberalidade do devedor que pagou no Brasil parte da obrigação, apesar de o local de cumprimento ser em outro país, não autoriza o credor a ajuizar ação no Brasil para receber o restante de seu crédito. O referido autor também entende que não basta existir no contrato a previsão de cumprimento de uma obrigação no Brasil, sendo necessário que aquela obrigação específica, objeto da lide, que foi descumprida, tivesse de ser aqui prestada.206

A questão adquire outra complexidade, nos casos em que o local do cumprimento da obrigação é indeterminado. JATAHY faz uma análise do assunto:

A regra de competência do art. 88, II, que já vem do art. 12 da Lei n° 4.657, adota o critério objetivo, considerando a relação controvertida em si e por si e não em relação às partes. Como tal, ainda que nenhum dos litigantes tenha domicílio no território nacional, desde que neste deva ser satisfeita a obrigação, fica a demanda sujeita à jurisdição brasileira. Firmada esta, já para efeito de competência interna, cuida-se da aplicação da norma contida no art. 94, § 3°. Não importa, no caso, o lugar onde a obrigação foi contraída, mas sim que o Brasil seja o locus destinatae solutionis, isto é, importa a convenção para que aqui ela seja cumprida. Por outro lado, se o devedor vier a saldar parte da dívida no território nacional, embora lugar não previsto para a solução do

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“Com ressalva do disposto no art. 89, II, que alude a processo com objeto especificamente discriminado,

tampouco importa, para a determinação da competência internacional, a natureza da ação em que se tem vista. P. ex.: que se trata de obrigação a ser cumprida no Brasil, não interessa que o autor queira instaurar processo de conhecimento, de execução ou cautelar; nem, no primeiro causo, que o procedimento adequado seja o ordinário ou qualquer outro. Também é indiferente que se pleiteie a condenação do réu a cumprir a obrigação (ou alguma prestação devida em razão do descumprimento), ou se pretenda obter sentença que altere de qualquer forma o conteúdo daquela, ou que simplesmente lhe declare a existência ou a inexistência.” MOREIRA, José Carlos

Barbosa. Op. cit., p. 145.

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contrato, a liberalidade não autoriza, por si só, que o credor venha a acionar a justiça brasileira para haver o restante da dívida.207

O escólio de HELIO TORNAGHI é no sentido de que o lugar do cumprimento da obrigação não prorroga competência internacional para decidir sobre a validade do contrato do qual a mesma resulta. Não basta também que alguma obrigação contratual deva ser cumprida no Brasil. É necessário que o objeto da ação seja a obrigação específica a ser cumprida em nosso território.208

Não se pode olvidar que, quanto à qualificação do lugar do pagamento, deve-se aplicar a lei brasileira do processo, lex fori. E, nos termos do art. 950 do CC, considera-se este o domicílio do devedor, salvo se outro for estipulado por vontade expressa das partes ou presumida em função do caso concreto.

JATAHY afirma que “A regra do art. 88, II, pode ter interpretação extensiva em homenagem ao princípio da preferência pela jurisdição nacional, especialmente aplicado nas lides envolvendo o direito de família.”209

Na verdade, o dispositivo deve ser interpretado, no caso concreto, com base no arcabouço principiológico que embasa a matéria, devendo-se, nos casos omissos envolvendo o artigo 88, II do CPC, buscar-se elementos de conexão, sem, contudo, perder a perspectiva dos princípios da competência internacional, para se estabelecer a competência.

O inciso em cotejo, por seu turno, não tem gerado tanto debate na jurisprudência, que se restringe, normalmente, a reconhecer a concorrência de competência quando a obrigação tem de ser cumprida no Brasil.

Vale mencionar, contudo, dois entendimentos interessantes dos tribunais superiores sobre o contrato acessório de fiança. No primeiro caso, fixou-se o entendimento de que se no Brasil deve ser cumprida a obrigação consubstanciada no contrato principal, o contrato de fiança, acessório, ainda que firmado alhures por empresas estrangeiras, poderá ser executado no Brasil, com base

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JATAHY. Op. cit., p. 89.

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TORNAGHI, Hélio. Op. cit., p. 305-306. Já BATALHA preceitua que se a obrigação tiver de ser cumprida no Brasil distingue-se a hipótese de o réu ter ou não domicílio ou residência no Brasil. Na primeira hipótese, o juiz competente internamente será o da localidade onde ele é domiciliado ou reside; no segundo caso, mantém-se a competência internacional brasileira em virtude de a obrigação ter que ser cumprida no país, mas o que vai determinar internamente a competência especial é o local onde o autor tem domicilio ou residência. Por fim, se nem autor e réu forem domiciliados ou residentes no Brasil, mas incidir a parte final do art. 12 da LICC( e o inciso II do art. 88 do CPC), a ação pode ser proposta internamente perante qualquer juiz brasileiro, preferindo-se o do local do cumprimento da obrigação. BATALHA, Wilson. Op. cit. p. 294

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no art. 88, II do CPC. 210 O segundo julgado selecionado, ainda sobre contrato de fiança, estipulou que:

[...] de nada importa que o contrato principal tenha sido ajustado, em outro país, por pessoas jurídicas estrangeiras; ainda que lá assumida, a fiança dada em garantia do respectivo cumprimento por brasileiros aqui residentes, com bens situados no território nacional, pode ser executada perante o judiciário brasileiro.”211

Ou seja, se o contrato de fiança for celebrado por empresas estrangeiras, mas o contrato principal tiver de ser cumprido no Brasil, competente a jurisdição nacional para executar o contrato de fiança (o acessório segue o principal) e, se o contrato de fiança for prestado por uma empresa domiciliada no Brasil, ainda que afiançando um contrato principal firmado alhures, também terá competência concorrente a jurisdição nacional. Aqui, levou-se em consideração o princípio da proximidade razoável e da efetividade da decisão.