• Nenhum resultado encontrado

A ÁGUA O H OMEM

No documento Frentes de água. Ao encontro do rio (páginas 30-33)

2.2 F RENTES DE ÁGUA A ORIGEM

2.2.2 A ÁGUA O H OMEM

Como já se mencionou, a água é um bem essencial para a existência e continuidade de vida na Terra, sustentando todas as formas de vida. O homem, cujo principal constituinte é a água, pode sobreviver até cerca de 30 dias sem comer, porém, se deixar de beber água durante 4 dias não sobrevive. A não ingestão de água provoca a perda de água no corpo humano, conduzindo ao empobrecimento das características das células e ao aumento da viscosidade do sangue, dificultando o trabalho do coração. Como consequência, verificam-se tonturas, fadiga, inconsciência e, num estado extremo, a morte. Compreende-se, por isso, que a relação entre o Homem e a Água esteja relacionada, principalmente, com a sua sobrevivência (IA, 2003).

Assim, e com base no estudo de Simonds (1988), verifica-se que, num primeiro momento da história, o Homem se aproximou da água unicamente para satisfazer as suas necessidades básicas. Junto da água, o Homem saciava a sua sede, cuidava da sua higiene e capturava os peixes ou moluscos que lhe serviam de alimento. A dependência da água intensificou-se quando o Homem percebeu que água também era útil para cozinhar alimentos e ajudar na produção de utensílios e na construção.

Simonds (1988) acredita que a afinidade com a água ganhou maior dimensão quando o Homem descobriu a sua importância nos jardins e irrigação, tomando consciência que apenas na presença de

11 humidade as plantas podiam florescer e os animais prosperar. Os solos húmidos, por serem mais ricos, davam lugar a plantas ou árvores de folhagem mais viçosa e a frutos maiores e mais doces.

De modo a satisfazer as suas necessidades básicas, um dos primeiros desafios do Homem perante a água foi a sua manipulação, através da criação de redes de recolha de água das suas fontes naturais, que permitissem a chegada controlada da água a todos, tendo surgido as primeiras infraestruturas relacionadas com a água ù os poços, as fontes e os aquedutos (Patrocínio, 2006) - Figura 4.

Figura 4 - Infraestruturas relacionadas com a manipulação da água

A relação água ù homem é abrangente e toca vários campos, não se trata apenas de uma questão de sobrevivência, a presença de água num determinado espaço influencia o campo psicológico e sensorial do Homem e apresenta, também, efeitos terapêuticos.

Simonds (1988) salienta que, em locais junto a corpos de água, a brisa era apreciada por ser mais refrescante e até o canto dos pássaros era mais melódico. Justificando-se com a sensação de bem-estar que a presença de água proporciona.

Patrocínio (2006) refere que, já nas primeiras civilizações, a água surgia sob a forma de piscinas, introduzindo o carácter de lazer, embora o seu uso para fins terapêuticos também já se evidenciasse através de construções termais. Atualmente, o uso da água para fins terapêuticos é uma prática muito corrente. Em Portugal existem vários exemplos de cidades que se destacam pelas estâncias termais que abrigam, centrando o seu desenvolvimento em torno dessa característica. Como exemplo, tem-se as Termas de S. Pedro do Sul ù Figura 5 ù, sendo que estas primam por serem o maior destino de Turismo de Saúde e Bem-estar em Portugal, apresentando uma estância termal em funcionamento todo o ano, que permite aos utilizadores usufruírem de umas águas termais únicas em Portugal e na Península Ibérica, capazes de renovar a sua qualidade de vida, libertando-os de dores ou do consumo de medicamentos. As Termas de S. Pedro do Sul localizam-se perto da cidade de S. Pedro do Sul, no distrito de Viseu, região centro, e são uma verdadeira Vila Termal, que engloba dois Balneários termais, criando um ambiente de verdadeira estância de férias, que inclui diversos hotéis e residenciais. Nas margens do rio que percorre a cidade, rio Vouga, multiplicam-se diversos pontos de interesse como cafés, lojas de artesanato e recordações locais, quiosques de jornais e revistas e outros serviços úteis.

(a) Poço em San Gimignano, Itália

[Fonte:

http://luis.impa.br/photo/1112_ SanGimignano/ ]

(b) Aqueduto das Águas Livres em Lisboa [Fonte: -

http://fotosclube2008.blogspot.pt/2010/03/aqueduto -das-aguas-livres_30.html]

12

Evidenciou-se um exemplo puro de como, mesmo na atualidade, o elemento água pode tomar uma posição muito importante na organização das cidades.

Figura 5 ù S. Pedro do Sul: Vila Termal. [Fonte: http://portugalfotografiaaerea.blogspot.pt/2011/12/termas-de-sao- pedro-do-sul.html]

Alex (1995) sugere que a água pode transmitir vários sentimentos ao Homem, seja pela vista, pelo toque e sons que proporciona ou, simplesmente, pelo alcance do campo emotivo e psicológico. Relativamente ao aspeto visual e sonoro, considera que estes podem ser manipulados de acordo com que se pretende para o espaço. Alex (1995) realça a importância que os sons advindos da água têm, na medida em que tanto um pequeno som pode tornar-se muito irritante, como o som mais intenso, em especial em espaços confinados, que pode ser arrasador. Na sua opinião, o silêncio das águas paradas triunfa pela transmissão de calma e serenidade aos utilizadores (Alex, 1995). No entanto, importa salientar que esta opinião não é universal, pois há quem encontre a calma na intensa sonoridade que provocam as ondas do mar, por exemplo.

Encontram-se, ainda, diversos exemplos de manipulação do campo visual de espaços públicos em frentes de água. Em Portugal, apresenta-se como exemplo Mirandela que se destacada dentro do contexto turístico, pela imagem de excelência que apresenta, com especial contributo do Espelho de Água formado pelo açude do rio Tua e o repuxo que transformam a paisagem visual de entrada na cidade ù como se evidencia na figura 6 ù e, naturalmente, o ambiente sonoro dos espaços públicos envolventes pela acalmia que trouxe na passagem do rio Tua pela cidade (Fonte, 2003).

Segundo Branco (2010) a água pelo seu cariz reflexivo e capacidade de estimular os sentidos do Homem, possibilita a criação de energias no espaço. Não descurando ser uma fonte rica e inesgotável de recursos materiais, a água assume uma diversidade de interpretações, que se dividem entre o nível visual, táctil ou mental do indivíduo. A água permite, assim, criar espaços que se destacam por uma enorme riqueza e qualidade ambiental.

Em relação ao toque, aponta o simples toque da água na pele como uma experiência única e pessoal, em que o mergulho no mar, no rio ou num qualquer corpo de água é uma forma de escape que permite a desconexão do mundo à superfície. Evidencia o contacto emocional como aquele que ocorre quando as pessoas estão muito próximas do corpo de água, no entanto, sem que haja, ou possa haver, contacto físico. Esta dimensão importa pelo facto de ser necessário criar condições que protejam de possíveis quedas, nomeadamente, através da implementação de corrimões ou pequenas barreiras, mas com características que não obstruam a comunicação com o corpo de água.

13 Figura 6 - Fotografia do rio Tua, em Mirandela. Açude do Rio e Repuxo. [Fonte: http://olhares.sapo.pt/mirandela-

foto952679.html?nav1]

A proximidade e o contacto com corpos de água têm um efeito abrangente no Homem e podem ter interpretações bastante complexas, dividindo-se entre o bem-estar físico, psicológico e espiritual. No entanto, importa não esquecer que a água é fundamental para o Homem, mas que o contrário também se verifica. Ou seja, o Homem é fundamental para a água, na medida em que está nas suas mãos preservá-la, através de um uso e tratamento equilibrado e consciente de modo a que os benefícios associados à água possam se evidenciar em pleno.

No documento Frentes de água. Ao encontro do rio (páginas 30-33)