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F RENTES DE Á GUA F ATORES PARA O SUCESSO

No documento Frentes de água. Ao encontro do rio (páginas 74-76)

3.4 E SPAÇO P ÚBLICO F RENTES DE ÁGUA

3.4.2 F RENTES DE Á GUA F ATORES PARA O SUCESSO

Magalhães (2009) debate-se à volta do sucesso e impacto das requalificações de frentes de água e sugere que é fundamental reconhecer o passado como uma ferramenta de apoio para uma melhor avaliação da situação atual, permitindo o desenvolvimento de estratégias para o futuro. Neste sentido, refere alguns autores ù Hoyle, Falk e Chaline -, enunciando as diretrizes que considera essenciais para o sucesso das renovações em frentes de água.

Assim, refere Hoyle, citado por Magalhães (2009), ser pertinente considerar três formas de integração aquando da renovação de uma frente de água:

x Integração entre o passado e o presente, mantendo a herança do passado no local a intervir;

x Integração entre as intenções e os objetivos; e

x Integração entre as comunidades e as localidades em análise.

Evidencia-se aqui a importância da participação das comunidades no desenvolvimento dos projetos de reabilitação urbana, nomeadamente nos projetos relativos a zonas de frente de água.

Falk, citado por Magalhães (2009), destaca quatro elementos-chave para o sucesso das frentes de água: x Atribuir importância à opinião da comunidade;

x Apostar numa estratégia de desenvolvimento; x Criar novos usos adaptáveis; e

x Definir projetos apoiados em pesquisa e consulta.

Chaline, também mencionado por Magalhães (2009), observa que o sucesso da renovação das frentes de água está intimamente dependente de uma boa e consciente previsão dos efeitos que a renovação irá proporcionar à cidade, pelo que sugere ser indispensável ter conta a envolvente do local em estudo. A questão do sucesso das renovações de frentes de água é também um tema estudado pela organização

Project for Public Space (PPS, 2013). Esta organização estabelece nove passos que toma como

55 i. Dar prioridade ao espaço público ù ao planear uma frente de água deve-se começar por conceber uma rede de espaços públicos multiusos, devidamente ligados que partilham os interesses da comunidade em que se inserem, criando condições para que o ùtodoù resulte num espaço público global com melhor qualidade do que a mera junção dos distintos espaços públicos que venham a ser criados em intervenções avulsas.

ii. Colocar o interesse público em primeiro lugar ù as frentes de água são áreas muito valiosas, nas quais deve prevalecer o interesse público e não interesses económicos privados de curto-prazo; embora tal não signifique que o investimento privado deva ser desencorajado ù até pelo contrário, no entanto, o investimento privado deve ser uma prioridade secundária que seja consequência, principalmente, do interesse público. iii. Construir no existente e em coerência com o existente ù a frente de água deve ser

coerente com o contexto em que se insere, nomeadamente com o edificado e elementos existentes e com toda a envolvente. Neste sentido, importa garantir a preservação e promoção da identidade do local, assente numa revisão histórica sobre a função e forma que o espaço já experimentou. As construções existentes devem ser enquadradas no ùnovoù espaço público, pelo que podem ser preservados os usos de até então, ou caso contrário, poderão ser-lhes atribuídos novos usos. Dentro deste âmbito é importante também reforçar a ligação aos bairros e espaços adjacentes à frente de água, garantindo a adequada continuidade e conectividade.

iv. Criar uma visão partilhada com a comunidade ù a renovação da frente de água não deve ser um processo impositivo, mas antes uma iniciativa que estabeleça um conjunto de objetivos, cuja forma e momento de concretização pode ser adaptável no tempo, nas tecnologias e na evolução das ideias que a comunidade tem para o local. O envolvimento e a participação da comunidade neste processo garantem o sucesso do processo de renovação.

v. Criar destinos de uso múltiplo recorrendo ao conceito ùThe Power of 10 (PPS, 2013)ù - este conceito desenvolvido pela PPS propõe que para a eficácia e prosperidade de uma área, neste caso - uma frente de água, se devem criar dez destinos ùmagníficosù ao longo da mesma. Este conceito aplica-se a destinos e não a espaços públicos em geral, pelo que é necessário o envolvimento da comunidade no sentido de identificar os locais-chave e, aí, os usos e atividades que gostariam de ter em cada um desses locais. A conjugação de toda a informação recolhida possibilitará a definição de uma frente de água cuja frequência de utilização será maximizada ao longo do dia.

vi. Ligação dos destinos ao longo da frente de água ù esta premissa é de extrema importância por permitir que a continuidade do rio ou do mar se sinta também em terra. Assim, a ligação entre os diversos pontos deve ser garantida, evitando barreiras ou descontinuidade entre espaços, reforçando a unidade da intervenção. A mistura de usos e atividades e a diversidade de modos de locomoção, garantindo condições para que as pessoas alcancem a frente de água a pé ou de bicicleta, em alternativa ao automóvel, são fundamentais para quebrar a monotonia.

vii. Maximizar as oportunidades para acesso do público- o mar ou o rio tem de ser acessível para todos, na maior extensão possível, sendo muito importante para o sucesso da frente de água a continuidade da mesma. Este acesso também deve englobar a interação direta com a água (natação, pesca, etc.) ou, quando tal não é possível dadas as características do local, permitir que esse contacto se proporcione através de outros elementos, como fontes, piscinas, zonas de jogos de água, etc.

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viii. Equilibrar os benefícios ambientais e as necessidades humanas ù Sendo este um espaço de contacto com a natureza é fundamental não descurar o seu ambiente natural, promovendo a recuperação dos habitats (atuando ao nível da qualidade da água, flora e fauna nativa, por exemplo). No entanto, este cuidado com a natureza deve ser compatível com as atividades humanas. A incorporação adequada de calçadões, passarelas e passeios, painéis interpretativas, zonas de recreio e lazer ou áreas de piquenique permitem a sã convivência entre humanos e natureza.

ix. Pequenas alterações fazem grandes mudanças ù um bom espaço público não aparece de um dia para o outro. Pequenas intervenções como plantar flores ou pintar os bancos podem ser o início de uma grande transformação e, por terem efeito a curto prazo, são um excelente meio para conquistar a confiança das pessoas de que a mudança está a ocorrer, perceber a sua recetividade, além de possibilitar o recurso ao faseamento das transformações que se pretendam realizar.

Embora não possam ser considerados dimensões ou indicadores que ditem as boas frentes de água, como os referidos anteriormente relativamente ao espaço público, é importante olhar para os fatores mencionados como dicas/regras que permitem alcançar com maior certeza o sucesso nas intervenções em frentes de água. Importa salientar que estes fatores específicos de frentes de água, aliados às restantes considerações sobre o tema, serão um importante contributo para que se possa determinar que dimensões e que indicadores do espaço público deverão ser transportados para o caso específicos de espaços públicos de frentes de água.

No documento Frentes de água. Ao encontro do rio (páginas 74-76)