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F RENTES DE ÁGUA U MA FORMA DE PENSAR

No documento Frentes de água. Ao encontro do rio (páginas 76-78)

3.4 E SPAÇO P ÚBLICO F RENTES DE ÁGUA

3.4.3 F RENTES DE ÁGUA U MA FORMA DE PENSAR

Todo o contexto abordado e estudado, na procura de respostas sobre como se devem concretizar as frentes de água tendo como objetivo último a sua configuração como espaço público que é desejado, visitado e vivido por todos, conduziu a uma esquematização das atitudes que se entendem fulcrais para orientar o raciocínio na senda do sucesso das intervenções dessa natureza.

Figura 18 ù Uma forma de pensar. Esquema representativo de atitudes a considerar para o sucesso das intervenções em frentes de água. [Fonte: Pacheco, L.]

ESPAÇO PÚBLICO COMUNIDADE Compreender Olhar Pensar Concretizar Atrair Conquistar Manter

57 Esse esquema assenta na interação de dois atores principais ù o espaço público e a comunidade - podendo evidenciar-se segundo o ciclo que se apresenta na figura 18.

Considera-se como ponto de partida ser necessário olhar para os dois atores.

Esta primeira atitude deve incorporar a recolha de toda a informação possível sobre o espaço público em estudo e sua envolvente, permitindo caracterizar o seu estado atual, incluindo, naturalmente um aprofundado trabalho de campo. Importa, também, olhar para a comunidade em que se insere por forma a caracterizá-la relativamente ao enquadramento histórico, socioeconómico e demográfico, identificando os interesses principais que se possam refletir no espaço público ou que possam motivar a sua transformação/requalificação. Segundo Lourenço(2011), é necessário ter em consideração as características do ordenamento do território, a paisagem e a sustentabilidade não deixando de dar importância ao passado do local, à memória, à identidade, à história e, claro está, à sua essência. Feito o levantamento e caracterização, é necessário compreender a relação entre o espaço público e as pessoas que o ùusamù, ou seja, é essencial compreender de que forma o estado de um determinado espaço público condiciona a sua utilização e se mostra ou não atrativo para os seus utilizadores, descobrindo o que lhes despertaria interesse e como gostariam que essa transformação se processasse. Como refere Bettencourt (2010), é necessário compreender não só como os diferentes elementos constituintes da cidade se organizam, interligam e interagem, mas também, como são apreendidos, sentidos e utilizados pela população.

Olhando para o espaço físico a intervir e compreendendo o que a comunidade espera da intervenção, é altura de pensar como se poderá efetivamente transformar o espaço público existente num espaço público de sucesso. Reajustando o foco para as frentes de água, é fundamental estabelecer objetivos que incorporem as características consideradas necessárias e que vão de encontro às expectativas da população. Esta atitude talvez corresponda ao maior desafio, pois constituirá o definir de todo o processo de renovação, nomeadamente, serão estabelecidas as bases para a solução ideal do espaço, atendendo ao estudo da situação atual, do público-alvo e das ùregras/indicadoresù que definem a qualidade do espaço público. Nesta etapa do processo é interessante dar liberdade à comunidade para interagir com os técnicos e investidores, para que a concretização do espaço ou da respetiva requalificação/renovação reflita a sua comunidade, a sua identidade e carácter, permitindo-lhe alcançar o sucesso, sem descurar eventuais impactes que possa vir a ocasionar na cidade e na envolvente mais imediata (Chaline, citado em Magalhães (2009)).

Encontrada a solução ideal para o espaço público é necessário materializá-la, nomeadamente, dar arranque ao processo de conceção e execução do novo espaço público, ou seja, concretizar o novo espaço público. É uma fase de criação e realização por excelência! Consiste na aplicação prática da solução delineada, das ideias transmitidas pela comunidade, das intenções dos investidores e do município; é a concretização final da imagem considerada como a ideal, para aquela frente de água. Estão então aliadas a conceção e a construção e/ou reconstrução do espaço, nestas novas condições, que, em princípio, irão de encontro ao esperado pela comunidade em geral (município, utilizadores e investidores).

Não interessa ter um excelente espaço público se este não for usado pelas pessoas. Por isso, é fulcral que este tenha capacidade de atrair as pessoas. Banerjee (2001) refere que ùOlhar, contemplar e ver

fazem parte do nosso comportamento normal de procura de estímulosù, concluindo, por isso, que os

locais que permitam o passeio e que tenham vistas agradáveis têm uma maior capacidade de atração. Alves (2003) entende que ùa cidade é a segunda grande casa que descobrimos depois da infância nos

nossos lares, uma espécie de referência territorial em relação ao Universo que ùconstruímosù; é, assim, algo que nos fascina e surpreende, que nos estimula e desafia a cada momento.ù. Nesse

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sentido, é essencial conceber espaços públicos especiais o suficiente para que produzam estímulos nos utilizadores capazes de atraí-los e fazer com que regressem.

O espaço deve ser atrativo por si só, mas também é importante dá-lo a conhecer, torná-lo evidente na cidade, salientar as suas características, os usos e as atividades que proporciona, podendo ser usados para este fim, por exemplo, meios como redes sociais ou a organização de eventos.

Atrair as pessoas para visitar um espaço público é um passo fundamental para que este seja conhecido

e visitado por um número cada vez maior de indivíduos. No entanto, o novo espaço público tem de conquistar o visitante, quer seja habitante da cidade quer turista. Apenas os visitantes satisfeitos darão referências positivas desse espaço e desejarão voltar, eventualmente, trazendo alguns amigos. Bettencourt (2010) defende que a solução encontrada para um espaço público deve garantir que o indivíduo ganhe um sentimento de pertença e de identidade, através dos vários elementos que o compõe.

A ùúltima etapaù considerada está relacionada com a gestão do espaço público, uma vez que é necessário manter a imagem de um espaço público bem cuidado e o interesse dos visitantes. Magalhães (2009) entende, baseando-se em Banerjee (2001), que um pequeno descuido com o espaço público pode ser suficiente para que este entre em declínio e, consequentemente, ocasione o afastamento das pessoas. Como atitudes simples relativas à manutenção dos espaços públicos destacam-se:

x Limpeza frequente dos espaços públicos;

x Tratamento continuado das áreas verdes e canteiros;

x Mobiliário urbano deve ser robusto e sofrer manutenção imediata caso seja, por exemplo, alvo de vandalismo ou outra situação que o danifique;

x Manutenção de campanhas de divulgação das qualidades dos espaços públicos disponíveis para visita e fruição

x Entre outras.

Entende-se fazer sentido que os momentos considerados no processo de renovação ou na concretização de espaços públicos de frente de água possam ser representados por um ciclo, porque o espaço público, bem como os seus utilizadores não são peças rígidas, estão em constante mudança. Os espaços públicos devem refletir essa evolução de conceitos, de mentalidades e de formas de estar, logo, as atitudes definidas no ciclo podem, e devem, ser constantemente reequacionadas.

De referir que o esquema apresentado não tem de implicar grandes mudanças, pode ser ùusadoù para estabelecer pequenas intervenções. Assim, a tarefa de manter o espaço público cuidado e aprazível pode desencadear o início de um novo ciclo: olhar ù compreender ù pensar ù concretizar ù atrair ù

conquistar ù manter.

No documento Frentes de água. Ao encontro do rio (páginas 76-78)