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O DESENHO DA INVESTIGAÇÃO: ACLARANDO O HORIZONTE

O PERCURSO METODOLÓGICO

9. Quais são as suas principais reflexões sobre o currículo

4.3. A ética na investigação: Reflexões e práticas

Falar de ética em pesquisas qualitativas significa abrir “um leque de abordagens possíveis, correspondentes à riqueza e à diversidade de métodos que dão corpo às suas práticas (…) Nas investigações participativas, o pesquisador desenvolve uma atividade reflexiva, entendendo o outro como “parceiro intelectual no exame do fenómeno que se quer conhecer”. Este outro constitui “a referência para a abertura de perspetivas e pontos de vista que confrontam e dialogam com os pontos de vista do pesquisador. A pesquisa desdobra-se no diálogo e na confrontação de lugares sociais e culturais e na interrogação sobre diferenças e convergências que circulam o fenómeno estudado” (Schmidt, 2008 p. 47).

Tendo em conta de que se trata de uma investigação aplicada a pessoas, de natureza qualitativa e por isso participativa, assumimos a responsabilidade e o dever ético de proteger a liberdade das mesmas, assim como os seus direitos, salientando os direitos à autodeterminação, intimidade e privacidade; confidencialidade e sigilo, assim como os direitos à informação, segurança, justiça e equidade, reconhecendo a pessoa como um fim em si mesma e por isso digna de respeito.

Ainda relativamente às pessoas, nossas parceiras na investigação, tivemos em conta certos princípios como: (1) a busca de interlocução e diálogo, visando compreender o sentido e os significados das suas experiências57; (2) a negociação e atendimento das suas preferências58; (3) o rigor nas transcrições para texto59; (4) a disponibilidade para esclarecimento de dúvidas e/ou informação adicional60; (5) a antevisão e preocupação com eventuais eventos ideológicos e hegemónicos61; (6) a abertura para rever, em conjunto com os parceiros, as transcrições realizadas62; (8) a garantia do sigilo e divulgação dos resultados63 (idem, 2008).

Investigar envolve constantes reflexões éticas, sendo importante lembrar que os aspetos éticos devem ser tidos em conta em todas as etapas do processo de

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Tivemos em conta a experiência singular de cada parceiro, valorando o seu contributo na construção da matriz referencial proposta.

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Mostrámos disponibilidade para agendar ou reagendar prazos de entrega do instrumento de colheita de dados, no que se refere ao questionário. Fomos ao encontro dos parceiros, evitando prejuízo para os próprios, na data e no local escolhido pelos mesmos para o momento da entrevista.

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Realizámos a transcrição total das entrevistas e fomos fiéis ao que foi escrito pelos professores no questionário.

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Mostrámos disponibilidade para esclarecer quaisquer dúvidas e/ou dificuldades por parte dos parceiros. Demos a conhecer os nossos contatos e respondemos a todas as questões e necessidades de informações adicionais. Enviámos, a pedido de alguns parceiros, o projeto e o instrumento de colheita de dados para avaliação por parte das suas comissões de ética.

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Realizámos somente questões com interesse para o estudo, respeitando a não resposta de alguns parceiros e o não envio de alguns documentos inacessíveis.

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Devolvemos aos parceiros as transcrições das entrevistas para serem validadas.

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Assegurámos o sigilo, quer relativamente aos parceiros, quer relativamente às instituições. Garantimos a divulgação dos resultados, quer no decorrer da investigação, quer no seu término.

investigação “sobretudo se entendermos que a Ética se refere à qualidade das técnicas de investigação no que diz respeito ao cumprimento de obrigações profissionais, legais ou sociais para com os sujeitos do estudo” e ainda “à qualidade dos procedimentos, desde o início da pesquisa, desde a escolha da técnica adequada até à pertinência e validade dos resultados para o desenvolvimento do conhecimento” (Nunes, 2005 p. 1).

Passaremos de seguida a expor, de forma sucinta, algumas das principais reflexões éticas tidas em conta no processo de investigação, para além das já mencionadas.

A identificação do problema obrigou à primeira reflexão ética, na medida em que uma investigação só tem sentido se der resposta a uma problemática. Consideramos a nossa problemática pertinente e útil ao desenvolvimento da disciplina e profissão de Enfermagem, contribuindo para uma Educação em Enfermagem promotora do cuidar na pessoa ao envelhecer.

A primeira etapa metodológica do estudo (análise documental) foi sustentada por reflexões éticas, uma vez que não é adequado questionar pessoas tendo em vista a apropriação de informações publicadas e acessíveis. Assim, tendo em conta o valor máximo da proteção de cada ser humano, aprofundámos, num primeiro nível, o objeto em estudo, utilizando material publicado (fidelidade à fonte) e só posteriormente inquirimos as pessoas, realizando uma colheita de dados rigorosa, sistemática e geradora de respostas às nossas questões de investigação. Tivemos em conta a mudança curricular, analisando a informação dos planos de estudo em dois momentos distintos, assegurando desta forma a veracidade dos dados.

A segunda etapa metodológica do estudo (os questionários) foi igualmente sustentada por reflexões éticas, na medida em que adequámos o instrumento ao pretendido e atendemos ao rigor na sua construção e utilização.

Ainda nesta etapa, tivemos em conta o respeito pelos direitos de autor de todos os documentos analisados, tendo particular atenção para os inacessíveis e que foram identificados e fornecidos pelos parceiros, tendo sido imprescindível o consentimento livre e esclarecido por parte dos representantes das instituições de ensino e professores responsáveis pela coordenação dos CLE64.

A terceira etapa metodológica do estudo (as entrevistas) também obrigou a novas reflexões éticas. Para além de todos os aspetos referidos, optámos pela não colocação dos verbatins das entrevistas em apêndice dada a grande probabilidade dos entrevistados poderem ser identificados. Respeitámos os princípios da técnica de

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Ainda assim, optámos por não apresentar na íntegra os documentos referentes a CLE específicos, na medida em que poderia levar a uma eventual identificação dos participantes/instituições parceiras.

amostragem “bola de neve” não identificando o perito que recomendou o perito entrevistado, atendendo, uma vez mais, ao anonimato dos participantes.

Realçamos, fortalecendo as nossas afirmações, que os documentos construídos, na segunda e terceira etapas65, espelham claramente a informação pertinente sobre o estudo e o comprometimento das investigadoras relativamente às questões éticas.

Antes de aprofundarmos os aspetos metodológicos, importa salientar que considerámos relevante, em todo o percurso, a fidelidade ao sentido, procurando respeitar, na hermenêutica, o propósito do autor.

A metodologia deve ser adequada às questões e objetivos da investigação e em relação a ela muitos são os aspetos que deverão ser tidos em conta, nomeadamente os critérios de qualidade que asseguraram a validade (referente à capacidade dos métodos responderem aos objetivos delineados) e a confiabilidade (referente à garantia que uma investigação similar leva a resultados semelhantes). Nesta investigação tivemos em conta os seguintes critérios: (1) a triangulação; (2) a reflexividade; (3) a construção do corpus de pesquisa; (4) a descrição clara, rica e detalhada; (5) a surpresa; (6) e o feedback dos informantes (Júnior, et al., 2011).

A triangulação (critério de validade e confiabilidade) foi uma metodologia de investigação elegida neste estudo, uma vez que nos propusemos “observar de diferentes pontos de vista” o mesmo fenómeno, com recurso a diferentes instrumentos, enriquecendo assim, a sua compreensão (Sousa, 2009 p. 172).

Combinámos a triangulação de dados e a triangulação metodológica:

a) Triangulação de dados: Recolhemos dados de diferentes fontes e em diferentes momentos. Salientamos as distintas fontes documentais pesquisadas e analisadas desde o início até ao término da investigação. b) Triangulação metodológica: Aplicámos diferentes métodos (investigação

documental e inquérito) e diferentes técnicas (análise documental, questionário e entrevista).

A reflexividade (critério de confiabilidade) “diz respeito ao antes e ao depois do acontecimento, gerando transformação no pesquisador, uma vez que vai se tornando uma pessoa diferente por considerar as inconsistências do estudo ao longo do processo permanente de realização” (Júnior, et al., 2011 p. 198). No decorrer do estudo muitas foram as reflexões individuais e em grupo sobre as fragilidades e/ou as incoerências e a procura pelas suas transformações em forças e harmonias.

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Carta de apresentação da investigação; consentimento informado, livre e esclarecido; pedido de autorização para colheita de dados e guião da entrevista.

A construção do corpus de pesquisa (critério de validade e confiabilidade) “é equivalentemente funcional à amostra representativa e ao tamanho da amostra, porém com objetivo distinto de maximizar a variedade de representações desconhecidas” (idem, 2011 p. 199). Salientamos os questionários realizados, que procuraram incluir um professor por cada instituição de ensino, possibilitando um olhar o mais abrangente possível e as entrevistas, que foram finalizadas somente após a saturação de dados.

A descrição clara, rica e detalhada (critério de validade e confiabilidade) também foi alvo da nossa preocupação, na medida em que procurámos explicitar as escolhas e os caminhos, adotando uma postura transparente e verdadeira.

Uma descrição minuciosa sobre o fenómeno confere credibilidade ao estudo, ajudando a transmitir as situações reais que foram estudadas e, até certo ponto, o contexto que as rodeiam (Shenton, 2004).

A surpresa “como contribuição à teoria e ao senso comum” (critério de validade), tem “uma importância para essa tradição tanto no que diz respeito à descoberta de evidências inspiradoras a novas formas de pensamento sobre determinado tema, quanto à mudança de mentalidade já cristalizada em torno do fenómeno, padrões esses carentes de serem revistos ou aprofundados sob diferentes prismas para a teoria, para o método ou mesmo para o conhecimento popularmente difundido na sociedade” (Júnior, et al., 2011 p. 202). Este estudo permitiu, em nosso entender, a descoberta de novos dados inspiradores sobre o fenómeno em estudo. Possibilitou a passagem de um conhecimento tácito a um conhecimento explícito e trouxe novas formas de pensamento e novos contributos ao desenvolvimento da Educação em Enfermagem na pessoa ao envelhecer.

O feedback dos informantes (critério de validade). “Corresponde à confrontação de fontes e obtenção de sua concordância ou consentimento” (idem, 2011 p.203). Realçamos neste estudo a atenção constante à mudança e inovação, nomeadamente no que se refere à revisão da literatura; a capacidade para ouvir os nossos inquiridos, procurando partilhar os seus significados e experiências; a realização do pré-teste do questionário; as reuniões com a orientadora e colegas investigadores, também professores de Enfermagem. As comunicações e publicações realizadas durante o percurso66, o feedback dos ouvintes e as discussões geradas também contribuíram para refinar o desenho da investigação.

Todos estes critérios permitiram chegar a resultados importantes, que em nosso entender, constituem uma possível fotografia do fenómeno.

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Comunicações orais, posters, artigos e capítulo de livro sobre diferentes temas relacionados com a Tese de Doutoramento.

A ética envolve todas as etapas da investigação, incluindo a publicação e divulgação dos resultados, pelo que nos comprometemos a publicar e a divulgar este trabalho, incluindo o feedback aos seus participantes, contribuindo assim para o desenvolvimento do conhecimento da disciplina e profissão de Enfermagem.

A parte II desta tese – Desenho de Investigação: Aclarando o Horizonte, integrou o percurso metodológico, explicitando as escolhas suportadas em valores que apontaram para o caminho traçado.

Descrevemos a natureza e o tipo de estudo e as três etapas da investigação, cada uma desenhada com base nos achados da anterior.

Aprofundámos cada uma das etapas: (1) Investigação Documental (pesquisa e análise documental), apresentando o primeiro inventário de fontes documentais; (2) Inquérito – Questionário (análise estatística descritiva simples e análise categorial temática), fundamentando o instrumento de colheita de dados, incluindo o seu desenho e utilização; e (3) Inquérito – Entrevista (análise crítica de discurso), abordando as caraterísticas principais da entrevista, suportadas na AD e no modelo tridimensional do discurso da autoria de Norman Fairclough e que seguimos nesta investigação67.

Referimo-nos à ética na investigação, tornando claras as principais reflexões e práticas no decorrer do percurso e concluímos esta parte do trabalho, apresentando um esquema alusivo ao desenho metodológico.

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O desenho da presente investigação, como resposta à problemática identificada, foi apresentado numa comunicação intitulada Aprender e ensinar o envelhecer na formação inicial em Enfermagem, no Seminário Internacional Entre a teoria, os dados e o conhecimento: Investigar práticas em contexto, que decorreu a 30 de outubro de 2014, organizado pela Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal. O resumo da comunicação encontra-se disponível em

http://www.si.ips.pt/ese_si/web_gessi_docs.download_file?p_name=F1668178533/C1.pdf, aguardando-se

Fig.4 – Desenho Metodológico68

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O presente desenho metodológico (figura 4) é adaptado do póster realizado pelas investigadoras, intitulado O Desenho metodológico de um projeto de investigação, apresentado no VII Encontro Luso-

Brasileiro de Enfermagem – Saúde, Espiritualidade e Qualidade de Vida, organizado pela Universidade

Católica Portuguesa Porto – Instituto Ciências da Saúde, que decorreu nos dias 29 e 30 de outubro de 2012.

PARTE III