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Validando e refletindo a redução dos dados documentais (março 2013)

PERSPETIVANDO NOVOS HORIZONTES

O PRIMEIRO NÍVEL DE ANÁLISE: A INVESTIGAÇÃO DOCUMENTAL

5.1. O processo de envelhecer nos cursos de licenciatura em Enfermagem: Uma análise dos planos de estudo

5.1.2. Validando e refletindo a redução dos dados documentais (março 2013)

Numa época de passagem de século, caraterizada por novas visões e descobertas, importa “provocar a reflexão sobre o fenómeno da mudança paradigmática e as repercussões na mudança de perceção da realidade, inclusive no campo social” (Nonata, 2007 p. 259).

A Enfermagem está intrinsecamente associada à mudança, esperando-se que os enfermeiros sejam capazes de delinear intervenções que ajudem a pessoa na adaptação e gestão da mudança ao longo do ciclo vital, com a finalidade de manter,

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Principalmente tendo em consideração que 58,3% das UCs não são direcionadas exclusivamente para as pessoas idosas mas também para as pessoas adultas.

80 Conceito reconhecido pela Organização Mundial de Saúde como o “processo de otimização das

oportunidades de saúde, participação e segurança, com a finalidade de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas envelhecem” (World Health Organization, 2002 p. 12).

sempre que possível, a sua saúde e qualidade de vida. Assim, torna-se fundamental que a Educação em Enfermagem se renove constantemente, no sentido de encontrar respostas efetivas e adequadas às mudanças experienciadas pela pessoa à medida que envelhece.

Educar significa investigar e experimentar. Pressupõe entender que cada pessoa é “um ser a fazer-se, uma teia a recombinar-se, a alargar-se e a enriquecer-se ao longo da sua história de vida (…) Conseguimos novas compreensões, novos conhecimentos não apenas pela assimilação/acumulação de novas informações mas, fundamentalmente, pela ativa reconstrução e redescrição das nossas compreensões prévias. Compreender, interpretar, explicar é sempre recontextualizar” (Antunes, 2001 p. 256).

O currículo, assente “nas relações que se estabelecem entre os diferentes atores, experiências e saberes, nos valores e crenças dos protagonistas da ação, nos papéis atribuídos aos diferentes sujeitos e nos que por eles são assumidos nas diversas dinâmicas, bem como na sua dimensão de intervenção e reconstrução social” (Leite, 2002 pp. 89-90) não pode ser circunscrito a tempos e espaços singulares, uma vez que se encontra em constante mudança, desenvolvendo-se e transformando-se à medida que os seus atores experienciam novas aprendizagens e refletem sobre a sua ação.

É com base nestas ideias e nos primeiros achados resultantes da análise dos planos de estudo, que considerámos importante a validação dos dados anteriormente colhidos e, seguidamente, a sua redução. Deste modo, realizámos uma nova pesquisa e análise dos planos de estudo, dez meses após a primeira colheita, com a finalidade de identificar eventuais mudanças e/ou novos sentidos curriculares.

De seguida, apresentamos os principais achados resultantes desta nova análise, realizada em março de 2013:

I. 73,17% dos cursos apresentam uma ou mais UCs com pelo menos uma das

palavras-chave identificadas, o que significa, que à semelhança da primeira análise, trinta dos quarenta e um cursos apresentam UCs com as palavras- chave identificadas.

II. Das cinquenta e nove UCs (nesta análise constatámos, no total, menos uma UC) verificou-se a presença de quarenta registos da palavra-chave “Idoso”; seguidos de sete registos da palavra-chave “Gerontologia”81

; seis registos da palavra-chave “Geriatria”82; quatro de “Pessoa Idosa”; três de “Geronte” e um

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Três das UCs são de caráter opcional.

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Um dos cursos apresenta no site uma UC opcional com esta palavra-chave, contudo não foi incluída nos nossos dados, uma vez que essa UC não é visível no plano de estudos (decreto-lei), fonte primária de análise (aparecendo apenas como UC de opção).

de “Gerontogeriatria”. Torna-se importante referir que nesta nova análise o conceito Gerontologia foi mais visível que o conceito Geriatria, o que pode ser revelador de novos sentidos curriculares.

III. Das cinquenta e nove UCs, verificou-se a presença da palavra adulto/pessoa adulta em trinta e quatro UCs, significando que 57,63% das UCs não são direcionadas exclusivamente para as pessoas idosas mas também para as pessoas adultas.

IV. 89,83% das UCs são da área científica de Enfermagem, não havendo mudanças ao nível das UCs de outras áreas, nomeadamente da Psicologia e da Medicina (seis UCs no total de cinquenta e nove).

V. 67,80% são de componente curricular teórica e estão distribuídas ao longo dos quatro anos letivos e à semelhança da primeira análise, maioritariamente no segundo ano (61,02%). Estes dados indicam um pequeno aumento da percentagem respeitante às UCs de ensino clínico.

VI. A média de horas por UC é de duzentos e quarenta e nove (248,78h) e a média de créditos nove (9,27). Apesar das mudanças pontuais em algumas UCs, as horas e os créditos dispensados a esta área do conhecimento mantiveram-se semelhantes (percentagem ligeiramente mais baixa).

VII. A palavra Saúde aparece na designação de 25,42% das UCs, representando novamente uma percentagem ligeiramente mais baixa em comparação com a primeira análise.

Analisando os novos achados, concluímos que, no panorama geral, os resultados (em termos de percentagens) foram muito similares, contudo importa referir, que diferentemente do que se poderia esperar (tendo em conta o contexto atual do nosso país, os discursos sociais, políticos, económicos e educacionais que se fizeram sentir, principalmente no decorrer do ano 2012 - Ano Europeu do

Envelhecimento Ativo e da Solidariedade entre Gerações), não houve lugar a uma

maior visibilidade do tema Envelhecer nos planos de estudos dos CLE.

Sabemos que ao longo dos dez meses que mediaram as duas pesquisas, foram publicados novos quatro planos de estudo83, sendo importante fixarmo-nos nas principais diferenças em relação à temática do envelhecer em cada um deles:

I. Diminuição do total de horas e de créditos de uma UC direcionada para o envelhecer, que era lecionada no terceiro ano e passa a ser lecionada no segundo ano.

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II. Extinção de três UCs direcionadas para o envelhecer.

III. Diminuição do total de horas e de créditos de uma UC teórica, com aumento do total de horas e de créditos de uma UC de Ensino Clínico.

IV. Aparecimento de duas UCs direcionadas para o envelhecer (opcionais) num curso que anteriormente não tinha essas UCs previstas no seu plano de estudos.

Ao compararmos os planos de estudo entre si, verificámos que alguns deles eram iguais, nomeadamente:

I. O plano de estudos do CLE da Universidade Fernando Pessoa e o plano de estudos do CLE da Universidade Fernando Pessoa - Unidade de Ponte de Lima.

II. O plano de estudos do CLE do Instituto Politécnico de Saúde do Norte - Escola Superior de Saúde do Vale do Ave e o plano de estudos do CLE do Instituto Politécnico de Saúde do Norte - Escola Superior de Saúde do Vale do Sousa. III. O plano de estudos do CLE da Universidade Católica Portuguesa de Lisboa e o

plano de estudos do CLE da Universidade Católica Portuguesa do Porto. IV. Os planos de estudos dos CLE das Escolas Superiores de Saúde Jean Piaget -

Vila Nova de Gaia, Viseu, Nordeste e Algarve.

V. Os planos de estudos dos CLE das Escolas Superiores de Enfermagem de Angra do Heroísmo e de Ponta Delgada, Universidade dos Açores.

Estes achados permitiram identificar trinta e quatro planos de estudos diferentes, sendo de realçar que desses trinta e quatro planos, vinte e sete apresentam UCs direcionadas para o envelhecer (vinte e cinco com UCs na área da Enfermagem) e que desses, sete apresentam o programa detalhado das UCs nos sites oficiais das instituições de ensino84.

Tendo em consideração que “o ensino superior tem como objetivo a qualificação de alto nível dos portugueses, a produção e difusão do conhecimento, bem como a formação cultural, artística, tecnológica e científica dos seus estudantes, num quadro de referência internacional” e que “cada instituição de ensino superior tem estatutos próprios que, no respeito da lei, enunciam a sua missão, os seus objetivos pedagógicos e científicos, concretizam a sua autonomia e definem a sua estrutura orgânica” (Decreto-Lei nº62/2007 de 10 de setembro, 2007 pp. 6358-6360), pareceu- nos pertinente proceder à redução da nossa amostra, dado que à partida, cada

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instituição de ensino portuguesa, onde é ministrado o CLE, tem uma filosofia e posição epistemológica própria, partilhada pelos diferentes atores, cursos e polos educativos.

Infundir conteúdos ao longo do currículo, por si só, não contribui para destacar o conhecimento específico da gerontologia ao mesmo tempo que acresce o risco da diluição destes conteúdos. A criação de UCs de gerontologia demonstra que as pessoas ao envelhecer são importantes e que esta área do conhecimento é fundamental para a Enfermagem (Thornlow, et al., 2006). Afiliadas a esta ideia, acreditamos que um CLE com UCs direcionadas para o envelhecer favorece o desenvolvimento do conhecimento em Gerontologia, promovendo nos estudantes momentos próprios e únicos de reflexão sobre o envelhecer. Desta forma, ponderámos, num segundo nível de análise, centrarmo-nos apenas nos cursos com UCs direcionadas para o envelhecer.

Contudo, torna-se importante referir, que mesmo que um curso apresente UCs direcionadas para o envelhecer, mas sem outros conteúdos de gerontologia integrados ao longo do currículo, o risco de compartimentação pode ser significativo e limitador (idem, 2006).

É importante considerar formas inovadoras e criativas de integrar conteúdos gerontológicos no currículo, quer através de UCs direcionadas para o envelhecer, sendo essencial uma focalização na saúde, dando oportunidade aos estudantes de interagirem com pessoas idosas saudáveis, quer através da integração de conteúdos gerontológicos no maior número possível de UCs, nomeadamente na área da Enfermagem Médico-cirúrgica, Enfermagem Comunitária, Farmacologia, Investigação, entre muitas outras (Thornlow, et al., 2006).

É por esse motivo que se torna tão importante a criação de UCs específicas de Gerontologia e simultaneamente a integração de conteúdos gerontológicos ao longo do currículo dos CLE.

Embora a redução da amostra nos tenha parecido, num primeiro olhar, uma decisão metodológica interessante, com algumas vantagens, nomeadamente ao nível da colheita e tratamento dos dados, de acordo com algumas das ideias anteriormente citadas, tornou-se essencial uma reflexão sobre o caminho a escolher.

De forma a tornar mais clara a reflexão e o caminho elegido, foi importante sintetizar as principais vantagens e desvantagens de uma possível redução dos dados (a partir da amostra), ilustrada no quadro seguinte:

Quadro 7 - Principais vantagens e desvantagens de uma possível redução dos dados (a partir da amostra).

Redução dos dados (planos de estudo iguais)

Vantagens Desvantagens

Tendo em consideração que à partida cada instituição tem uma filosofia própria e partilhada, a escolha de planos de estudos diferentes poderia diminuir a probabilidade de repetição de dados.

O facto de um plano de estudos ser igual a um ou mais cursos (embora da mesma instituição) não significa que o currículo seja o mesmo, na medida em que os atores, os contextos e naturalmente as experiências e as interações também são diferentes.

Redução dos dados (planos de estudo com UCs direcionadas para o envelhecer)

Vantagens Desvantagens

Consideramos que as designações das UCs espelham, em parte, aquilo que é valorizado e ensinado. Assim, podemos pensar que os cursos que apresentam UCs direcionadas para o envelhecer são cursos cujo currículo dá ênfase à temática do envelhecimento.

A designação de uma UC pode eventualmente não refletir a sua essência; Não podemos afirmar (porque não existe evidência suficiente nesse sentido) que o facto de um curso não ter UCs direcionadas para o envelhecer (depreensão pela sua designação) signifique que não é dada atenção à temática, podendo eventualmente a mesma estar integrada e interligada por diferentes UCs cujo foco essencial não é o envelhecer. Para além disso sabemos que parece haver benefícios numa abordagem focalizada no curso (UC própria) e uma abordagem integrada ao longo do curso (interligação e integração de conteúdos sobre o envelhecer em diferentes UCs).

Redução dos dados (planos de estudo com UCs de Enfermagem direcionadas para o envelhecer)

Vantagens Desvantagens

Valoração de uma maior especificidade disciplinar de Enfermagem.

No caso de escolhermos apenas as UCs da área da Enfermagem poderíamos, erradamente, dar a entender, que consideramos que as UCs de outras áreas do conhecimento (parte integrante dos CLE) não são reveladoras de dados acerca do currículo de Enfermagem na pessoa ao envelhecer.

Constatámos assim, que apesar da redução dos dados (a partir da amostra) nos poder vir a trazer algumas vantagens do ponto de vista da colheita e tratamento dos dados, poderia responder de forma menos satisfatória à nossa questão de partida:

Que currículo nos cursos nacionais de formação pré-graduada de Enfermagem na pessoa ao envelhecer? Na medida em que esta nova fase apenas incluiria uma parte

da realidade nacional, não sendo possível analisar, com maior profundidade, o currículo de todos os CLE portugueses, podendo originar lacunas importantes do

conhecimento em relação aos CLE que não apresentam nos planos de estudos UCs direcionadas para o envelhecer, mas que têm, naturalmente, experiências curriculares válidas e merecedoras de serem igualmente incorporadas neste estudo.

Retomando o conceito de matriz disciplinar de Kuhn, entendemos que a análise realizada até este momento apenas nos deu algumas indicações sobre o que é valorizado e partilhado por um grupo, havendo outros elementos importantes de serem desvendados acerca do currículo de Enfermagem na pessoa ao envelhecer.

Tendo em conta estes pressupostos, decidimos continuar a análise curricular dos quarenta e um CLE portugueses, acreditando que a inclusão de todos os cursos ajudaria a uma maior riqueza da análise e levaria a resultados mais consistentes e integradores.

Sinopse

Na primeira fase do estudo, caraterizada pela análise documental dos decretos-lei dos planos de estudo dos CLE portugueses, desenvolvida em dois momentos distintos85, obtivemos como principais achados:

I. No primeiro momento de análise, concluímos que 73,17% dos CLE apresentavam UCs direcionadas para o envelhecer, contudo, apenas 58,3% eram exclusivamente direcionadas para esta área do conhecimento; idoso, correspondeu à palavra-chave com maior frequência na designação das UCs; a grande maioria (90%) das UCs era da área científica de Enfermagem, essencialmente alocadas ao segundo ano dos CLE.

II. Realizámos uma nova análise, dez meses depois. Esta análise procurou identificar eventuais mudanças e/ou novos sentidos curriculares, validar os achados anteriores e decidir acerca de uma eventual redução dos dados. III. Os achados do segundo momento de análise foram muito similares ao primeiro

momento, parecendo haver uma tendência para o conceito de gerontologia em detrimento do conceito de geriatria, mas ainda sem uma expressão significativa.

IV. No tempo que mediou as duas primeiras análises, foram publicados novos quatro planos de estudo, com algumas diferenças em relação à temática do envelhecer, embora não dando lugar a uma maior visibilidade do tema.

V. Esta etapa foi rica no emergir de questões e no desenvolvimento do desenho do estudo, tendo permitido aclarar o horizonte.

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Recolhemos e tratámos os dados documentais em maio de 2012; validámos e refletimos a redução dos dados documentais em março de 2013.

CAPITULO VI