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PERSPETIVANDO NOVOS HORIZONTES

O SEGUNDO NÍVEL DE ANÁLISE: O QUESTIONÁRIO

6.1. Analisando os achados do questionário

6.1.6. Mudanças curriculares na área do envelhecer

Questionário 6ª Questão

Ocorreram mudanças curriculares no último ano na área do envelhecer?

Se sim, refira as suas mudanças e a sua fundamentação. Pode referir-se a mudanças referentes aos conteúdos, atividades e/ou metodologias, mesmo que não sejam visíveis no plano de estudos e/ou em outros documentos de referência.

Com esta questão, procurámos conhecer as mudanças curriculares recentes na área do envelhecer. Como referimos anteriormente, torna-se importante sabermos que mudanças ocorreram, quando, como e porquê.

A mudança leva a novas oportunidades e aprendizagens. Faz-nos sentir vivos e conscientes, ajudando a compreendermo-nos melhor como agentes capazes de escolha (Hussey, 2002). A mudança obriga ainda a uma reflexão e discussão sobre os problemas sociais e educacionais, abrindo caminho a novos conhecimentos e soluções.

Dos vinte e cinco professores, dezasseis (64%) referiram não terem ocorrido mudanças curriculares na área do envelhecer no decorrer do último ano e nove (36%) referiram mudanças nesta área do conhecimento.

A análise das respostas fez emergir duas subcategorias, que designámos de: (1) conceção formal da mudança; e (2) conceção informal da mudança.

Apresentamos, no quadro seguinte, a categoria, as subcategorias e as unidades de contexto identificadas e analisadas.

Quadro 13- Mudanças curriculares na área do envelhecer

Categoria Subcategorias Unidades de Contexto

M ud a n ç a s c urric ul a res n a á rea d o e nv e lh e c e r

Conceção Formal da Mudança Planos de estudo Conteúdos

Metodologias e estratégias Conceção Informal da Mudança Desenvolvimento dos docentes

Adequação a um novo grupo de estudantes

Conceção Formal da Mudança

As mudanças formais na estrutura e gestão curricular na área do envelhecer, envolvem, como em qualquer outra área, necessariamente uma discussão interna, entre os diferentes atores do desenvolvimento curricular e uma discussão externa com consequente avaliação. Estas mudanças são publicadas e transmitidas à sociedade em decreto-lei, no que se refere aos planos de estudo e, à partida, em manuais de referência, no que se refere aos conteúdos, metodologias e estratégias, envolvendo

diferentes tempos de reflexão e momentos de partilha, consoante a natureza mais ou menos profunda das mesmas.

A subcategoria conceção formal da mudança integra, assim, as seguintes unidades de contexto: (1) mudanças ao nível dos planos de estudo; (2) mudanças ao

nível dos conteúdos; e (3) mudanças ao nível das metodologias e estratégias.

Mudanças ao nível dos planos de estudo

As mudanças ao nível dos planos de estudo incidiram essencialmente na introdução de UCs direcionadas para o envelhecer de natureza teórica e a introdução de UCs direcionadas para o envelhecer de natureza prática.

Como já referimos nesta investigação, investir o currículo de UCs direcionadas para o envelhecer permite aos estudantes uma maior consciência acerca do envelhecer e o desenvolvimento de uma base de conhecimento e competências específicas nesta área do conhecimento.

A introdução de UCs direcionadas para o envelhecer (de caráter obrigatório e/ou opcional) decorreu de reflexões internas e de recomendações externas, nomeadamente da A3ES.

“Implementação de um novo plano de estudos (…) onde é visível (…) a introdução de unidades curriculares optativas na área da gerontologia, independentemente dos conteúdos abordados na enfermagem comunitária e na enfermagem médico-cirúrgica” (II).

“Ocorrência de um estágio com 7 ECTs em exclusivo em unidades de geriatria/gerontologia” (II). “Foi mudada toda a estrutura curricular e introduzida uma disciplina específica sobre o envelhecer – decorreu de exigência da A3ES” (XI).

“Oferecemos UCs optativas cuja população alvo é a pessoa idosa “Saúde Mental e envelhecimento” “Família e Idoso” “Enfermagem Gerontogeriátrica” (XVIII).

“Foi também criada uma unidade curricular de ensino clínico “cuidar em cuidados continuados/gerontologia” (VI).

“ (…) Em curso revisão do plano de estudos do CLE a integrar o ensino clínico aos idosos (coerência com as necessidades de saúde da população e recomendação da A3ES) ” (XIX).

Mudanças ao nível dos conteúdos

As mudanças relacionadas com os conteúdos têm, habitualmente, uma menor visibilidade em comparação com as mudanças ao nível das UCs, na medida em que não exigem uma atualização dos planos de estudo (decreto-lei). É, no entanto,

recomendável que estas mudanças sejam autorizadas pelo conselho técnico científico de cada instituição, obedecendo, naturalmente, a uma avaliação interna e discussão por pares.

As mudanças de conteúdos centraram-se essencialmente numa maior enfase nas questões ligadas ao envelhecer, uma vez mais numa perspetiva salutogénica, suportando os anteriores achados e com incidência em áreas específicas como a segurança e a sexualidade nas pessoas ao envelhecer, entre outras, como a domótica e a robótica.

“ (…) É visível o maior enfase nas questões ligadas ao envelhecimento” (II).

“Foram introduzidas temáticas no programa, nomeadamente: maus tratos à pessoa idosa e sexualidade no idoso” (VI).

“Colocou-se um enfase maior nos processos promotores do envelhecimento ativo” (XIII).

“Percebendo a sociedade tecnocrática em que vivemos foram integrados no âmbito dos curricula conteúdos relativos à domótica e robótica e ainda sobre gestão dos serviços de apoio a idosos, situação decorrente do exponencial aumento da institucionalização dos mesmos” (XVI).

“Maior destaque nos cuidados de saúde ao idoso, no âmbito da enfermagem médico-cirúrgica (assenta na evidência do envelhecimento da população, na grande incidência de doenças crónicas nas pessoas idosas, que conjugando as limitações das patologias e o seu declínio funcional, têm grande representatividade nestas áreas dos serviços hospitalares) ” (XIX).

Mudanças ao nível das metodologias e estratégias

As mudanças relacionadas com as metodologias e estratégias podem ser de diferente natureza. Constituem-se como mudanças formais, recomendando-se que sejam integradas em manuais de referência do conhecimento dos diferentes atores do desenvolvimento curricular, mas, em determinados momentos e contextos, se as mudanças não forem profundas, constituem-se como mudanças mais informais.

Os professores referiram, nos seus discursos, mudanças relacionadas com as metodologias e estratégias desenvolvidas como as experiências de campo, promotoras de um envelhecer ativo, a criação de espaços de análise partilhada com diferentes intervenientes e não apenas entre professores e estudantes, a realização de um trabalho de projeto promotor do desenvolvimento de competências específicas na área do envelhecer e a continuidade e aperfeiçoamento de metodologias e o cruzamento entre elas, tendo sido uma vez mais evidenciada a aprendizagem baseada em problemas e as sessões de educação para a saúde.

“Estimulou-se o desenvolvimento de experiências em campo pelos alunos, promotoras do envelhecimento ativo” (XIII).

“Criaram-se espaços de análise partilhada entre formandos, docentes e outros intervenientes no processo ensino aprendizagem dessas experiências” (XIII).

“Foi facultada a oportunidade dos formandos realizarem trabalho de projeto promotor do desenvolvimento de competências específicas para a Intervenção de enfermagem com as pessoas idosas integradas na comunidade” (XIII).

“No último ano ocorreu uma mudança ao nível da continuidade de atividades e metodologias relacionadas com os conteúdos sobre envelhecimento. Assim, o trabalho realizado em PBL, sobre estilos de vida saudáveis no envelhecer, serviu de base para sessões de educação para a saúde sobre a mesma temática e que foram realizadas pelos grupos em instituições para idosos na UC de Enf. III – Saúde Pública e Educação para a Saúde. Por outro lado os testemunhos dos idosos na atividade “Ouvindo os idosos” foram um contributo que integrou o próprio PBL em Enf. II” (XXIV).

Conceção Informal da Mudança

As mudanças curriculares que designámos de informais são as que decorrem em contexto de sala de aula ou de ensino clínico, fruto da sensibilidade, experiência e reflexividade dos professores e em parceria com os diferentes atores curriculares.

São menos visíveis, pelo menos publicamente, mas isso não significa que não tenham nascido de reflexões e discussões entre o grupo. Tendem, em nossa opinião, a ser esquecidas se não forem reveladas e por esse motivo ocupam um lugar de destaque nesta investigação.

A subcategoria conceção informal da mudança integra, assim, as seguintes unidades de contexto: (1) o desenvolvimento dos docentes; e (2) a adequação a um

novo grupo de estudantes.

Desenvolvimento dos docentes

A mudança determina um conjunto de competências dos professores de Enfermagem, nomeadamente nos domínios da investigação, ensino e formação científica, esperando-se novas formas de conceber e praticar a docência, a assunção de novos papéis docentes e uma reorganização curricular constante. Aos professores é-lhes requerido que se desenvolvam nos diversos contextos onde intervêm, revelando uma atitude investigativa, reflexiva e crítica, envolvendo-se na resolução de problemas pedagógicos e promovendo a responsabilidade e participação dos

diferentes atores curriculares, nomeadamente os estudantes, tendo em vista um processo de aprender e ensinar baseado na evidência e adequado às necessidades de todos (Mestrinho, 2011).

Segundo os participantes inquiridos, o investimento dos professores nesta área do conhecimento em Enfermagem tem-se repercutido em novas formas de conceber e praticar a docência no envelhecer.

“Docentes terem aperfeiçoado os respetivos conhecimentos e competências relativos ao envelhecimento, repercutiu-se no maior enfase imprimido na formação acerca do envelhecimento ativo bem-sucedido” (XIII).

Adequação a um novo grupo de estudantes

Esta unidade de contexto – A adequação a um novo grupo de estudantes, é reveladora de um ensino centrado no cuidar, onde o foco da ação docente é a aprendizagem dos estudantes, a compreensão das suas necessidades e a procura de capacidades para lhes responder adequadamente (idem, 2011).

“Adaptação às caraterísticas do novo grupo de estudantes” (XV).

Isto significa que o currículo é dinâmico, flexível e multidimensional e que em todos os anos letivos, semestres, dias e momentos pedagógicos, o professor se depara com novos desafios, que o levam a mudar conceções e práticas, por menores que elas sejam. Relembramos que apenas nove professores referiram que ocorreram mudanças curriculares no último ano letivo. Atendendo à nossa ideia de currículo, questionamos: Será mesmo assim?