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PERSPETIVANDO NOVOS HORIZONTES

O SEGUNDO NÍVEL DE ANÁLISE: O QUESTIONÁRIO

6.1. Analisando os achados do questionário

6.1.9. Principais reflexões sobre o envelhecer

Questionário 9ª Questão

Quais são as suas principais reflexões sobre o currículo de Enfermagem na área do envelhecer?

Neste espaço pode discursar sobre o que considera relevante acerca do tema e que eventualmente não teve oportunidade de partilhar no decorrer do questionário.

Após a análise dos achados, concluímos que os professores consideram relevante uma reflexão permanente sobre o desenvolvimento curricular na área do envelhecer, sendo importante referir que vinte e três, dos vinte e cinco professores (92%) discursaram acerca das suas principais reflexões.

Estas reflexões foram desenvolvidas em torno de duas grandes dimensões: “O

agora” e “o depois” e por esse motivo, emergiram duas subcategorias de análise, que

designámos de (1) reflexão profissional – a situação atual; (2) reflexão profissional –

O currículo de Enfermagem na pessoa ao envelhecer foi discursado, pelos professores, sob três diferentes perspetivas: (1) perspetiva micro, referente à própria instituição e CLE; (2) perspetiva meso, referente à ligação da instituição/CLE com a comunidade envolvente; e (3) perspetiva macro, referente ao contexto social e político, compondo as nossas unidades de contexto. Estas três perspetivas não são estáticas, encontrando-se em perfeita relação e complementaridade.

Apresentamos, no quadro seguinte, a categoria, as subcategorias e as unidades de contexto identificadas e analisadas.

Quadro 16- Reflexões sobre o currículo de Enfermagem na área do envelhecer

Categoria Subcategorias Unidades de Contexto

Refl e x õe s s ob re o c urríc ul o de e nfe rma g e m n a á rea d o e nv e lh e c er Reflexão Profissional: A situação atual Perspetiva Micro Perspetiva Meso Perspetiva Macro Reflexão Profissional: Perspetivando o futuro Perspetiva Micro Perspetiva Meso Perspetiva Macro

Reflexão Profissional: A situação atual

O professor é o protagonista do desenvolvimento curricular, dependendo os resultados obtidos do seu empenho. Espera-se que o mesmo seja capaz de assumir um papel prático e de reflexão, valorizando criticamente o trabalho que desenvolve e atendendo às necessidades dos estudantes. Exige-se-lhe que reúna as capacidades de um profissional amplo, constituindo-se como o principal construtor, arquiteto e investigador do currículo (Pacheco, 2001).

Por esse motivo, procurámos conhecer as principais reflexões dos professores sobre o currículo de Enfermagem na área do envelhecer, tornando-se importante os seus discursos sobre o tema.

Atendendo que “o currículo, enquanto processo contínuo de decisão, é uma construção que ocorre em diversos contextos a que correspondem diferentes fases e etapas de concretização e que se situam, entre as perspetivas macro e

microcurricular” (idem, 2001 p.68), apresentamos um esquema que envolve estas perspetivas e sobre as quais iremos incidir a nossa análise.

Fig. 5 – Análise dos referenciais na formação inicial em Enfermagem na perspetiva Macro, Meso e Micro.

Perspetiva Micro

A perspetiva micro foi revelada pelos professores, quando discursaram sobre o projeto curricular e didático dos CLE que representam, circunscrito ao espaço escolar.

Nos discursos emergiram respostas a questões como:

O que se ensina?

Uma formação holística, centrada na pessoa, que experiencia processos de saúde-doença e que carece de intervenções de enfermagem adequadas e promotoras de um envelhecer ativo e bem-sucedido.

“O 1º ciclo de estudos em enfermagem conferente do grau de licenciado em Enfermagem, habilita os licenciados para a obtenção do título de enfermeiro. Assim, a formação é essencialmente holística, focalizada na pessoa, grupos e comunidade, habilitando aqueles que a concluem para prestar cuidados de enfermagem na situação de saúde ou doença, de forma autónoma ou interdependente” (XIII).

“ O curso perspetiva a intervenção do enfermeiro ao longo do ciclo de vida contemplando o envelhecer. Aborda diferentes dimensões e fatores determinantes do envelhecimento ativo e bem-

sucedido e são também analisados os principais focos de intervenção do enfermeiro junto da pessoa que sofre processos de doença (XIII).

Atende-se aos processos de transição, que podem gerar uma maior vulnerabilidade da pessoa ao envelhecer, como a perda de redes familiares e sociais, a dependência, entre outros.

“Procuramos refletir sobre os aspetos significativos e preocupantes para os idosos como a solidão, o sentido de perda dos contactos familiares e sociais, a carência de recursos económicos ou de suporte social, a perda de autonomia (condicionante da sua incapacidade e dependência) ” (XII).

Quando e como se ensina?

São ensinados conteúdos sobre o envelhecer, permitindo-se simultaneamente o desenvolvimento de competências nesta área do conhecimento.

“ (…) Além dos conteúdos expressos no currículo, esta instituição tem permitido o desenvolvimento de competências aos estudantes dirigidas para o envelhecimento” (V).

Os conteúdos são ministrados de uma forma transversal, como constatado anteriormente nesta investigação.

“São ministrados conteúdos desta área no 1º ano, no 3º ano e no 4º ano e, de uma forma transversal noutros anos nomeadamente na Enfermagem médico-cirúrgica (2º ano) ” (VI).

São explicitadas formas de fazer aprender que não têm sido, no entender dos professores, as mais adequadas, merecendo reflexão e planeamento futuro.

“A abordagem inicial desta etapa de vida é feita no 2º ano, 1º semestre, sendo que o estudante avalia os idosos numa perspetiva de desenvolvimento de promoção de saúde; no semestre seguinte inicia-se a abordagem da pessoa doente (independentemente da etapa da vida): Penso que as especificidades do idoso ficam um pouco “perdidas” pelo estudante, face à importância e estatuto que facilmente atribuem à doença e à experiência da execução dos procedimentos que iniciam nesta fase” (IV). “É um currículo muito pobre com poucas horas distribuídas para esta temática e sem terem uma realidade prática no trabalho com idosos a não ser nos idosos doentes em contexto CSD. Tentamos colmatar esta falha com a monografia de fim de curso abordando estas temáticas. Encontramo-nos neste momento a rever o plano de estudos” (XX).

Porque se ensina?

Porque estamos cada vez mais velhos e porque estamos perante uma área relevante e emergente, que merece atenção e investimento constantes.

“Considero esta área relevante e emergente nos currículos do curso de enfermagem, o que se tem vindo a melhorar e a enriquecer na nossa instituição (VI).

Perspetiva Meso

A perspetiva Meso emergiu nos discursos dos professores quando estes relembraram a importância dos encontros intergeracionais, já abordados anteriormente nesta investigação, que compreendem uma metodologia atual, onde a escola abre as suas portas à comunidade, promovendo a partilha de saberes e experiências, levando a uma visão mais positiva sobre o envelhecer e a uma desmitificação de mitos e estereótipos. Nestes encontros, na escola ou na comunidade, os estudantes realizam sessões de educação para a saúde, de acordo com as necessidades sentidas pelas pessoas, famílias, grupos e comunidade, desenvolvendo competências e promovendo o conhecimento e a capacitação de quem assiste e participa nas sessões.

“ Aqui realço o facto de se desenvolverem atividades de aproximação aos idosos à Escola e aos estudantes, induzindo a partilha de saberes intergeracionais que por um lado, desmistifiquem alguns conceitos sociais sobre os idosos e o envelhecimento, por outro, valorizam o seu papel ativo na sociedade em que se encontram” (V).

“ Nesta linha de interação, tem-se trabalhado na adequação de programas educacionais direcionados, em função das necessidades ao longo do processo de envelhecimento e dos mecanismos de apoio exigidos. EPS aos idosos” (V).

Perspetiva Macro

O currículo corresponde a um instrumento com significado social e político, envolvendo intenções e estratégias determinadas por critérios ideológicos e pelas necessidades reconhecidas como socialmente válidas (Pacheco, 2001). Refletir sobre questões curriculares, implica necessariamente atender a conceitos como a sociedade, a cultura e a ideologia.

Neste sentido, a perspetiva macro espelha a relação entre diferentes instituições e suas comunidades envolventes, inseridas num contexto histórico, social, cultural, económico e político que exerce influência no pensamento e na ação dos diferentes atores do desenvolvimento curricular.

Os discursos apontaram para a influência do sistema de saúde e organizações, assim como os valores sociais dominantes no agir dos enfermeiros.

“Nos atuais contextos de trabalho, os enfermeiros não são influenciados exclusivamente pelas suas representações de enfermagem, uma vez que dependem também, do sistema de saúde e da sua organização, que por sua vez são influenciados pelos valores sociais dominantes e consequentemente pelas representações sociais das pessoas a quem prestam cuidados” (I).