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3 CATEGORIA EDUCAÇÃO

3.2 Correntes teóricas da educação de adultos

3.2.2 A abordagem humanista e o modelo andragógico

No começo do século XX a perspectiva psicológica era dominada pelas abordagens behaviorista e psicanalítica.

A corrente behaviorista privilegiava o comportamento observável e mensurável, além de postular que o comportamento poderia ser alterado automaticamente pela aprendizagem, mediante condicionamento e reforço por meio do estímulo-resposta (FINGER; ASÚN, 2003).

O enfoque psicanalítico englobava os elementos subconscientes e irracionais do comportamento: mecanismos de defesa, necessidades e transferência. Sigmund Freud (1856- 1939), Carl Jung (1875-1961) e Erik Erikson (1902-1994) distinguiram essa abordagem.

predominavam no pensamento psicológico à época. Enquanto perspectiva realista, opôs-se à perspectiva de o comportamento humano ser determinado antecipadamente, seja pelo ambiente ou pelo subconsciente.

Carl Rogers (1902-1987) e Abraham Maslow (1908-1970) são expoentes do humanismo. Apresentavam uma “concepção otimista e positiva acerca da pessoa humana, sobre a qual defendem que possui uma forte e contínua motivação para a aprendizagem e mudança” (ALCOFORADO, 2008, p. 94).

Para Rogers (1969, p. 5), os elementos da psicologia humanista compreenderiam: (1) envolvimento pessoal – o ser humano integral, com seus sentimentos e aspectos cognitivos, englobam o evento de aprendizagem; (2) autoiniciação – ainda que o estímulo venha do ambiente, a sensação de descoberta, de compreensão é interna; (3) alcance – a aprendizagem perpassa o comportamento, as atitudes e a personalidade do aprendiz; (4) avaliação realizada pelo aprendiz – a avaliação se encontra no aprendiz; e (5) a essência é o significado – o significado é elaborado na experiência total.

Para Maslow (1970), a motivação humana estaria vinculada com a satisfação de necessidades, sendo a autorrealização a mais básica de todas. Ele percebe o objetivo da aprendizagem enquanto autoatualização: “o uso pleno de talentos, capacidades, potencialidades [...]” (MASLOW, 1970, p. 150).

O cerne da concepção da psicologia humanista poderia ser sintetizado nesta citação: “Eu gostaria de apontar uma característica final desses indivíduos quando eles se esforçam para se descobrir e se tornar eles mesmos. O indivíduo parece estar mais contente em ser um processo do que um produto” (ROGERS, 1961, p. 122).

Dessa forma, na visão de Rogers e Maslow, os indivíduos vivenciam um crescimento psicológico, livre e pleno, com autonomia e autodesenvolvimento, as realidades em transformação, numa perspectiva não diretiva do processo de aprendizagem, influenciando positivamente a autorrealização individual.

As abordagens humanista e pragmática iriam influenciar a proposição teórica de educação de adultos de Malcolm Knowles (1913-1997).

O enfoque humanista espelhado pela inspiração de Rogers (1961) e Maslow (1970) atenta, especialmente, para a autorrealização do indivíduo, além do papel do ambiente no processo de aprendizagem. A corrente pragmática traduzida nas posições de Dewey (1976, 1979) e Lindeman (2011) converge em situações e problemas como a base do aprendizado, bem como a valorização da autoatualização por meio da experiência em oposição ao ganho pela autoridade formal.

Grande parte da teoria da aprendizagem de adultos, compreendendo especialmente os conceitos de andragogia e aprendizagem autodirigida, é fundamentada em pressupostos humanistas (MERRIAM; BROCKETT, 1997).

Apontado como um dos maiores representantes no campo da educação de adultos a partir da década de 1950, Knowles (1986, p. 55) assevera que “[...] o processo de conquistar um autoconceito, ser autodirigido, começa cedo na vida e aumenta à medida que amadurecemos biologicamente, que começamos a exercer papéis de adultos e assumimos, cada vez mais, responsabilidades por nossas próprias decisões”.

O modelo andragógico baseia-se em pressupostos básicos, que o distinguem do modelo pedagógico tradicional: (1) antes de dar início ao aprendizado, os adultos precisam saber por que devem aprender algo; (2) os adultos apresentam um autoconceito como responsáveis por suas decisões, por suas vidas, desenvolvendo uma necessidade de ser reconhecidos pelos outros como capazes de se autodirigir, se ressentindo e resistindo a imposições externas; (3) os adultos acumulam experiências de vida que vão servir de fundamento e substrato de seu aprendizado futuro, o que leva a uma maior heterogeneidade dos indivíduos no grupo e a uma maior individuação do ensino e das estratégias de aprendizagem; (4) as necessidades de aprendizado dos adultos se voltam para o desenvolvimento de habilidades relacionadas com suas profissões e papéis sociais; (5) os adultos esperam uma pronta praticidade do que aprendem, diminuindo o interesse por assuntos a serem empregados somente num futuro distante; (6) os adultos optam por aprender questões relacionadas à resolução de desafios, vinculadas a contextos da vida real; e (7) os adultos respondem a fatores motivacionais externos, embora respondam melhor aos fatores intrínsecos (KNOWLES, 1980, 1986).

A partir desses pressupostos, Knowles (1986) sugere um modelo de processo andragógico para a aprendizagem, contendo os seguintes elementos: (1) estabeleça um clima que conduza à aprendizagem; (2) crie um mecanismo para o planejamento mútuo; (3) diagnostique as necessidades para a aprendizagem; (4) formule os objetivos do programa (o conteúdo) que irá satisfazer essas necessidades; (5) desenhe um padrão para as experiências de aprendizagem; (6) conduza essas experiências de aprendizagem com técnicas e recursos adequados; e (7) avalie os resultados da aprendizagem e elabore um novo diagnóstico das necessidades de aprendizagem.

Procurando desenvolver uma base conceitual para a educação e aprendizagem de adultos, os estudos de Knowles contribuíram para que esse tema fosse largamente discutido e utilizado.

Contudo, há críticas em relação à andragogia, principalmente de autores com enfoque filosófico crítico.

As filosofias do pragmatismo, do behaviorismo, do humanismo e do construtivismo direcionam suas hipóteses, notadamente em duas dimensões: o aprendiz e o processo de aprendizagem. A teoria crítica, contudo, preocupa-se com os resultados da aprendizagem, especialmente com a mudança social. Critica a andragogia por focar apenas no indivíduo e crer que a transformação de perspectiva e a aprendizagem do adulto levem automaticamente à ação social e à mudança social, bem como por não debater a relação da educação de adultos para a sociedade (MERRIAM; BROCKETT, 1997; FINGER; ASÚN, 2003).

Nada obstante, e apesar das críticas, discussões e confrontações, os princípios fundamentais da andragogia persistem, e as ideias de Knowles forneceram um discurso lógico com que puderam se identificar formadores e aprendizes, conferindo certa identidade, o que torna a andragogia um movimento global.