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2. A Educação para a Sexualidade

2.2 A Educação para a Sexualidade na Adolescência

2.2.1 A Adolescência

Talvez a forma mais “simplista” de respondermos às sempre inquietantes e preocupantes questões: “Afinal o que é ser adolescente?” ou “O que é adolescência?” colocadas pelos adolescentes seria a que Samantha Rugen (2005) arranjou, quando questionada por uma adolescente:

“Quando chegas à adolescência a tua vida não é agradável. As glândulas sebáceas descontrolam-se

e irrompe uma imensidão de pêlos! A roupa deixa de te servir… e o teu estrogénio entra em acção,

ficas coberta de borbulhas, depois vêm-te os impulsos sexuais!

Segue-se então o soutien, o desodorizante e a gilette e de repente notas uma mudança no comportamento. Quando as tuas hormonas acalmarem,

não tardarás a descobrir que ser adolescente não é na verdade um frete!”

Efectivamente, a adolescência, como comportamento instável e intermitente, foi e é das etapas da vida humana que mais tinta tem feito correr.

A palavra adolescência advém da palavra latina adolescere que significa “estar em crescimento”.

Se recorrermos a um dicionário vulgar, podemos definir a adolescência como sendo o período de desenvolvimento humano entre o início da puberdade, isto é, desde que começam a aparecer os caracteres sexuais secundários e o estado adulto.

Na Wikipédia podemos encontrar a seguinte definição “A adolescência é uma fase do desenvolvimento psicológico e físico do ser humano, entre a infância e a maturidade plena. O adolescente, em geral, ainda não consegue firmar-se emocional e economicamente na sociedade. A adolescência engloba a pré-adolescência (10 aos 15 anos de idade), a adolescência propriamente dita (15 aos 20 anos) e a pós-adolescência (21 aos 26 anos)”.

O dicionário de psicologia menciona que é o período de crescimento e desenvolvimento humano que decorre entre a puberdade e a idade juvenil. A sua aparição está marcada pela puberdade, mas o surgir deste fenómeno biológico é somente o começo de um processo contínuo e mais geral, tanto no plano somático como no psíquico, e que decorre ao longo de vários anos até à formação completa do adulto. Para além do aspecto biológico deste fenómeno, as transformações psíquicas estão profundamente influenciadas pelo ambiente social e cultural, inclusive podem faltar por completo em alguns povos primitivos. Certas culturas reconhecem um período de transição de uma década ou mais entre a infância e a idade adulta, enquanto que noutras consideram que essa transição ocorre no decurso de um breve ritual de iniciação que pode durar alguns dias ou horas (Pagès-Poly e Pagès, 1997).

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a adolescência ocorre desde a idade de 10 anos até aos 19, existindo notável diferença, sob o ponto de vista da saúde, entre a etapa precoce – que vai dos 10 aos 14 anos – e a tardia – que abarca dos 15 aos 19 anos (Velasco 1998).

Para Pagès-Poly e Pagès (1997), a adolescência propriamente dita inicia pelos treze ou catorze anos. Até à “maturidade sexual” (aparecimento dos ciclos menstruais regulares na rapariga e a ejaculação no rapaz), fala-se de “pré-adolescência”.

Para López e Fuertes (1999), a adolescência é referida como sendo “um período da vida no qual se produz um conjunto de alterações biofisiológicas, psicológicas, intelectuais e sociais que situam o indivíduo perante uma nova forma de se encarar a si próprio e tudo o que o rodeia.”

Fleming (1993) apresenta-nos a adolescência nestes termos: “Após um longo período de imaturidade, dependência e protecção, o filho do homem conhece, num curto período de tempo, um surto rápido de crescimento – a puberdade – que pelas mudanças biológicas, fisiológicas, cognitivas e outras, o prepara finalmente para a autonomia. No entanto, uma longa moratória o aguarda antes do reconhecimento do seu status de adulto.”

No entanto, Braconnier e Marcelli (2000) afirmam que definir a adolescência é “certamente uma diligência vã, falaciosa e ilusória”. Isto, porque, na opinião destes autores, a adolescência encerra, em si, uma série de paradoxos. Daí que a adolescência, para estes autores, “consiste talvez em fazer a experiência de tais paradoxos, em desenvolver a paciência e a tolerância face ao sofrimento que daí advém, até que estes paradoxos encontrem pouco a pouco, com a entrada na idade adulta, senão a resolução, pelo menos a sua aceitação.”

Não existe uma certeza quando foi introduzido o termo adolescência. No entanto, a noção de adolescência tem as suas raízes na Grécia Antiga. Aristóteles considerou os adolescentes como: "Apaixonados, irascíveis, capazes de serem arrebatados pelos seus impulsos e altas aspirações (Günther, s/d).

Na nossa cultura o conceito é relativamente recente. Alguns autores associam-no às transformações que tiveram lugar nos finais do século XX. Este conceito está associado, como refere Martí et al (1996), a certos factores que se interligam como, por exemplo:

• O impacto que os progressos tecnológicos tiveram no mercado de trabalho, atrasando a entrada no mundo laboral do jovem, adiando a sua independência económica e o processo de autonomia pessoal a ela associada. Em França, antes de 1831, trabalhava-se a partir dos dez anos e até essa época deixava- se a família para ser colocado como criada ou aprendiz.

• O facto dos jovens permanecerem mais tempo na escola, decorrente do aumento da escolaridade obrigatória, que nos países ocidentais se situa entre os 16 e os 18 anos. Este facto, associado à característica anterior, e ao papel passivo do estudante na estrutura social, vai-se prolongando até à idade que até há bem pouco tempo era considerada própria da idade adulta.

“Estas circunstâncias e o impacto das teorias evolucionistas começaram a criar interesse pelo estudo da adolescência como uma fase específica do desenvolvimento humano, pretendendo caracterizá-la como uma época de trânsito para a vida adulta (…)” (Martí et al, 1996) ou a idade do movimento (Giordano et al, 1999).

Para Velasco (1998) a adolescência é caracterizada pelo desenvolvimento físico, mental, emocional e social da pessoa. É um período crítico para a formação de valores e padrões de conduta, distinguindo-se por uma maior rebeldia, busca de independência e visão diferenciada da vida.

Nesta etapa da vida, o adolescente vive, pessoalmente, na busca de definição e de identidade pessoal, agitado por duas ordens de forças: internamente pelo intenso e perturbador funcionamento glandular e exteriormente condicionado por diversas coordenadas sociais que o envolvem. Este violento desentranhar e afirmar das próprias virtualidades imanentes, facilmente gera conflitos internos e sociais (Bernardo, 1987). Anna Freud, filha de Sigmund Freud, vai mais longe: “É normal que o adolescente se comporte de maneira inconsciente e imprevisível. Lutar contra os seus impulsos e aceitá- los; amar os seus pais e odiá-los; ter vergonha de os assumir perante os outros e querer conversar com eles; identificar-se e imitar os outros enquanto procura uma identidade própria” (Pereira e Freitas, 2001). É, sem dúvida, um período de transição e de intensa

crise, de tensão e desequilíbrio. Como afirmam Braconnier e Marcelli (2000), é a fase dos paradoxos.

A nossa experiência na educação leva-nos a afirmar que os adolescentes, apesar de viverem interiormente este período como um turbilhão, são pessoas com quem se pode conviver e partilhar uma série de experiências. Têm uma energia impressionante e chegam a dar ideias com as quais se romperia qualquer paradigma. São muito sensíveis ao sentido da justiça, aos valores estéticos, da simplicidade e generosidade, apreciando a verdade e a coerência, embora experimentem quanto isso é difícil. E note-se que os seus critérios sobre estes valores só ocasionalmente coincidem com os dos adultos (Bernardo, 1987). Mas também há momentos na vida do adolescente que poderíamos concluir como desagradáveis. Este processo de autonomia e necessidade de independência está muitas vezes associado a certos traços de rebeldia (Martí et al, 1996) com consequências, muitas das vezes, nefastas para o próprio adolescente. Mas, essencialmente, o que o adolescente necessita, e que muitas vezes nós os adultos esquecemos, é de uma dose especial de afecto.

Na forma como lidamos com os adolescentes, muitas vezes esquecemo-nos que já não são mais crianças, mas continuamos a exigir-lhes que continuem sendo, ou, por outro lado, os adolescentes ainda não são adultos e, no entanto, exigimos-lhes que o sejam. São, certamente, as contradições do mundo adulto.