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2. A Educação para a Sexualidade

2.4 Falar de Educação para a Sexualidade na Escola

2.4.3 Os Professores e a Educação para a Sexualidade

Sabemos que o contributo para a educação sexual das crianças, adolescentes e jovens é tarefa e responsabilidade de todos os cidadãos. Mas, sabemos também que o papel e o contributo do professor como educador/formador é necessário e essencial neste processo. Já foi referido anteriormente que a escola desempenha um papel decisivo na construção da identidade do indivíduo. Quem, na escola, tem a responsabilidade nesta tarefa é, em primeiro lugar, o corpo docente. Ao professor, como actor de mudança e transformação, de transmissão de saberes e experiência ou, como refere Teixeira (1995), “um ser de relação numa profissão de relação”, deverá, também no campo da sexualidade humana, assumir essa responsabilidade e compromisso.

Para Cortesão (1998), os professores têm consciência que actualmente a escola não é só um espaço “para a aquisição de informação e preparação para o mundo do trabalho.” Como tal, os professores têm que estar preparados para responder como educadores profissionais às necessidades deste tempo. Para Dias et al (2002), “o professor tem de possuir uma variedade de competências e de saber adaptar-se à mudança, investindo continuamente na sua própria formação.”

O papel do professor em educação sexual não é muito diferente do papel que lhe é atribuído nas demais áreas do processo educativo. Será talvez necessário apenas um

“apoio técnico que lhe permita reflectir sobre os seus próprios valores e atitudes face à sexualidade” (ESME, 2000). Este auxílio deve ser encarado desde a formação inicial dos professores e educadores. Actualmente são “pouco relevantes os programas de formação das instituições de ensino superior em termos da Formação Pessoal e Social” (CNE, 2005). Enquanto que tal não acontece, a formação contínua deve ser encarada como uma necessidade profissional e uma exigência pessoal. A Lei nº 3/84 de 24 de Março (anexo I) no seu artigo 2º, ponto 3 é clara no diz respeito a este assunto: “Será dispensada particular atenção à formação inicial e permanente dos docentes, por forma a dotá-los do conhecimento e da compreensão da problemática da educação sexual, em particular no que diz respeito aos jovens.”

O que está a acontecer nas nossas escolas, em virtude desta fragilidade na formação, quer inicial quer contínua, é a demissão do seu papel de educador/formador, apesar de sabermos que, no que diz respeito à formação contínua já alguma coisa tem sido feita.

O Relatório Preliminar do Grupo de Trabalho de Educação Sexual apresenta a formação realizada pelos Centros de Formação de Associações de Escolas (CFAE) nas áreas ligadas à saúde e sexualidade, co-financiado pelo PRODEP, como podemos ver na tabela 4.

Regiões N.º Acções Nº de formandos Nº de Horas (Volume de Formação) Norte 23 558 20.415 Centro 100 2.735 26.903 Lisboa e Vale do Tejo 255 7.329 88.190 Alentejo 41 750 22.692 Algarve 38 967 18.793 Totais 457 12.339 176.993

Tabela nº 4 – Acções de formação realizadas no âmbito da medida 5: Educação para a Saúde/Educação

Sexual. Dados de 1 de Janeiro de 2000 a 30 de Setembro de 2005. Fonte: Sampaio, et al – Grupo de Trabalho de Educação Sexual – Relatório Preliminar, 2005.

Estes dados, juntamente com aqueles que nos foram fornecidos pelas Organizações Não Governamentais (ONGs) referidas no ponto 2.1.2.1, permite-nos saber, como refere o relatório, que, neste momento, já existe uma bolsa de professores a nível local e regional para implementarem nas escolas um programa eficaz de educação para a sexualidade.

Os dados estatísticos do inquérito sobre Educação Sexual em meio Escolar da Direcção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular – Divisão de Orientação e Apoios Educativos, realizado em 2003 apresentam-nos, efectivamente uma evolução de 30% em 2001 para 48% em 2003 de agentes educativos com formação adequada para a promoção da educação para a sexualidade (DGIDC, 2003). Nos valores apresentados pelo gráfico nº 1, somente o 1º ciclo apresenta um decréscimo.

Gráfico nº 1 – Percentagem de Escolas com agentes educativos dotados de formação adequada para

promover a Educação Sexual, por Ciclo/Nível de Ensino. Fonte: DGIDC – Divisão de Orientação e Apoios Educativos, 2003

Os dados do estudo realizado por Reis (2004) com 600 professores revelam que 27,7% dos professores já tinham participado em acções de educação sexual para alunos. Contudo, 35,4% referem que ainda necessitam de mais formação.

O objectivo da educação sexual nas escolas tem que passar, necessariamente, por “uma vivência mais informada, mais gratificante, mais autónoma e mais responsável da sexualidade", (ESME, 2000) passando pela intervenção na área dos conhecimentos, das competências e das atitudes dos alunos. No entanto, o que ainda está a acontecer é apenas isto: os professores ainda se limitam apenas aos conhecimentos biológicos, como muitas vezes acontece nas aulas de Ciências da Natureza e nas Ciências Naturais. Ou então, pior ainda: os professores deixam os conteúdos específicos ligados à sexualidade para o fim do ano, sabendo que depois não têm tempo para os poderem dar. Noutras disciplinas, os professores não encontram (ou não querem encontrar) conteúdos nas matérias que leccionam que, de alguma forma, se relacionem com a educação sexual. Mais ainda: os professores de Área de Projecto ou Formação Cívica, áreas privilegiadas para a abordagem da educação sexual, adiam constantemente para o ano seguinte essa abordagem (Fernandes e Paiva, 2005).

Deparamo-nos, efectivamente, com o pouco “à vontade” dos professores para a abordagem séria e efectiva dos conteúdos da educação sexual. Para a CNE (2005), “uma percentagem significativa de professores afirma que não está preparada para abordar a Educação Sexual porque a sua formação é débil.”

“No entanto, mesmo sem uma preparação específica, há já muitos professores cuja prática lectiva contribui positivamente para uma educação sexualizada dos seus alunos. Assim, um professor que nas aulas utiliza uma metodologia activa, que estimula nos seus alunos a aquisição de reflexão, de avaliação do seu próprio comportamento, que fomenta a inter-ajuda, o respeito mútuo, criando um clima em que os alunos se sintam activos, responsáveis e felizes, está a fazer educação sexualizada – a educação sexualizada é a educação da afectividade” (Cortesão et al, 1998). E, felizmente, ainda encontramos muitos professores com esta postura e perfil nas nossas escolas.

Será, pois, importante ter presente que, para além das competências científicas e pedagógicas, o formador/educador deverá ter um perfil onde a maturidade afectiva e humana seja realçada. Estes aspectos aliados à “fidelidade, aos valores que sustentam os projectos propostos pela escola. Só assim, poderão merecer a indispensável confiança das famílias” (CEP, 2005).

A questão do perfil do professor que deve abordar a educação para a sexualidade na escola tem sido, também, objecto de análise e discussão. Segundo Went (1985) referido nas linhas orientadoras (ESME, 2000), o perfil desejável para este professor deve assentar nos seguintes aspectos:

 Genuína preocupação com o bem-estar físico e psicológico dos outros;

 Aceitação confortável da sua sexualidade e da dos outros;

 Respeito pelas opiniões das outras pessoas;

 Atitude favorável ao envolvimento dos pais e encarregados de educação e outros agentes de educação;

 Compromisso de confidencialidade sobre informações pessoais que possam ser explicitadas pelos alunos;

 Capacidade para reconhecer as situações que requerem a intervenção de outros profissionais/técnicos para além dos professores.”

Para Dias et al (2002), o perfil deste professor deverá possuir, para além das qualidades intelectuais as afectivas e éticas. Deverá “ajudar os seus alunos a ler e a integrar o mundo onde vivem, a construir a autonomia e a gerir a relação destes com os complexos sistemas de valores que pautam as actuais sociedades democráticas.” Por outro lado deverá, também, ser um professor empenhado, saber trabalhar em equipa, abertura e capacidade de diálogo com toda a comunidade educativa e parceiros

educativos. Para estes mesmos autores, “o professor, enquanto promotor de mudança, deve perceber que, para o sucesso das intervenções educativas, a discussão sobre as estratégias de aula e a selecção de metodologias se revela aqui tão determinante quanto os conteúdos programáticos.” É obvio que este discurso se aplica a qualquer área curricular se queremos ter sucesso na educação dos nossos alunos.