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2. A Educação para a Sexualidade

2.4 Falar de Educação para a Sexualidade na Escola

2.4.2 Sobre a eventual disciplina de Educação para a Sexualidade

A forma como irá ser implementada a educação para a sexualidade nas escolas portuguesas ainda é, neste momento, uma incógnita. Várias são as opiniões sobre a forma como se deve articular a educação sexual com as demais disciplinas do currículo

escolar. No ponto 2.4.1, tabela 3, fizemos referência à experiência, nesta matéria, de alguns países da União Europeia. Entre nós, pensamos ser consensual a abordagem transdisciplinar da educação para a sexualidade.

As conclusões do Relatório Preliminar do Grupo de Trabalho de Educação Sexual sugerem “o estudo, reorganização e revitalização dos curricula das disciplinas do 1º, 2º e 3º ciclos do Ensino Básico na perspectiva da Educação para a Saúde. Esta revitalização deverá ter carácter obrigatório com implicações a nível do desenvolvimento curricular, das disciplinas do projecto de turma e da avaliação dos alunos. Propõe-se, também em cada agrupamento/escola, o aproveitamento das áreas curriculares não disciplinares (“área de projecto”, “estudo acompanhado”, “formação cívica” e “opção de escola”), para a abordagem da Educação para a Saúde em função das características da escola e dos docentes disponíveis com formação adequada.” Este espaço curricular deverá ser de carácter obrigatório e com avaliação dos alunos (Sampaio, 2005).

Este mesmo grupo de trabalho aponta para a eleição de um professor responsável pela “área de Educação para a Saúde” e ainda a criação de um “espaço tutorial” onde os alunos possam ter um atendimento personalizado e individualizado. As parcerias com os centros de saúde locais é outra das recomendações dadas. Sugerem ainda que, “dada a importância do grupo de pares na formação e desenvolvimento dos alunos e a maior abertura de muitos estudantes à informação transmitida por quem está mais próximo geracionalmente, recomenda-se o recurso a jovens mais velhos para intervenções na área de Educação para a Saúde, recrutados a partir de escolas superiores em áreas relevantes (Medicina, Enfermagem, Psicologia, Farmácia, Biologia, entre outras), após formação adequada.”

Nas conclusões do parecer da Comissão Nacional de Educação, (CNE, 2005) “a educação sexual em meio escolar é uma componente da área de Formação Pessoal e Social, que se enquadra na educação em valores e para os valores.”

Este grupo de trabalho aponta para o modelo “transdisciplinar da Educação Sexual, desde que existam orientações para a integração desta área de Formação Pessoal e Social nas actividades curriculares. A ambiguidade curricular que se verifica necessita de ser devidamente ponderada. A Educação Sexual é uma educação para os afectos e, quando se sai da informação científica, será necessário pensar devidamente o como fazer, já que é uma área aberta ao pensar e aos valores. A complexidade desta decisão jamais pode ser ultrapassada pelo recurso ao saber livresco e a um modelo disciplinar.

Decidir sobre a Educação Sexual no âmbito da Formação Pessoal e Social, não sendo plausível e recomendável que transforme cada uma destas áreas numa disciplina.

A Educação Sexual é transversal aos conteúdos e actividades desenvolvidas no seguimento do cumprimento dos planos curriculares dos ensinos básico e secundário, nomeadamente ao nível dos conteúdos programáticos, das experiências de aprendizagem formais e informais e das relações interpessoais que ocorrem em contextos escolares.

Criar uma nova área curricular não disciplinar, que integra diversas áreas da Formação Pessoal e Social, incluindo a Educação para a Sexualidade, a Educação para a Saúde (não podendo ser ignorada a problemática da saúde pública ao nível da gravidez precoce e das doenças sexualmente transmissíveis) e a Educação Cívica. Esta medida deve ser inscrita numa política de avaliação das actuais áreas curriculares não disciplinares. As orientações curriculares e o perfil de formação dos docentes devem ser objecto de homologação por parte do Ministério da Educação.”

Apontam ainda outras sugestões como, “ancorar” a educação para a sexualidade no Projecto Educativo de Escola, de acordo com a legislação em vigor, e ainda “manter a política de flexibilização das cargas horárias semanais em cada um dos anos de escolaridade” podendo a escola gerir essa carga horária em função das prioridades apontadas pelo Projecto Educativo, “sem que isso signifique o aumento da carga horária dos alunos.”

Para Vaz et al (1996), a abordagem da educação para a sexualidade apresenta vantagens e inconvenientes ora se trate interdisciplinarmente ou através de uma área de conhecimento específico.

Para estes autores, a integração da educação para a sexualidade em várias disciplinas “é mais congruente com a temática da sexualidade, que exige na sua abordagem o contributo de várias áreas de conhecimento.” No entanto, isto implica uma equipa muito bem formada neste domínios e no trabalho em conjunto. Porque, se assim não for, o processo educativo fica sujeito a diversos riscos: “a responsabilidade de se diluir nas diferentes áreas e comprometer a formação em determinados temas essenciais; a parcialização da educação (inconsistência dos métodos, incoerência na sequenciação de conteúdos), resultante de deficiências na coordenação entre tempos das diferentes áreas.”

Desta forma, estes autores argumentam que a integração da educação para a sexualidade numa área disciplinar ou disciplina é mais viável. A razão é simples: “ser contraproducente exigir ao sistema educativo e a todos os professores a preparação sistemática das suas aulas considerando que têm de fazer educação sexual formal.” Para a CEEC (2005) a transversalidade também oferece bastantes dúvidas “pela inevitável

desorientação resultante da multiplicidade de mentalidades e de critérios dos professores em matéria onde, apesar de uma matriz cultural comum, as visões são plurais.”

Esta opção pela integração da educação para a sexualidade numa “área específica pode de facto assegurar a aprendizagem formal de acordo com os seguintes princípios:

 Garantir unidade espácio-temporal de objectivos e conteúdos;

 Considerar uma perspectiva multidisciplinar;

 Centralizar as responsabilidades de programação e implementação;

 Sensibilizar as outras áreas ou disciplinas para a educação sexual incidental;

 Organizar a colaboração das outras áreas disciplinares na educação sexual intencional, ao nível de temas específicos” (Vaz et al,1996).

Resta-nos, neste momento, aguardar pelas novas medidas da política educativa que o Ministério da Educação se prepara para implementar nesta matéria.